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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ANGÉLICA FREITAS

ANGÉLICA FREITAS

(Pelotas, 1973) é uma poeta e tradutora brasileira. Publicou o livro Rilke shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007). Participou de vários encontros de poetas e festivais internacionais, como o Festival Latino-americano de Poesía Salida al Mar (Buenos Aires), o Poquita Fé, em Santiago do Chile, e é uma das convidadas do Poesie Festival em Berlim, dedicado em 2008 à poesia lusófona. Seus poemas foram publicados em várias revistas impressas e eletrônicas, como Inimigo Rumor (Rio de Janeiro, Brasil), Diário de Poesía (Buenos Aires/Rosário, Argentina), águasfurtadas (Lisboa, Portugal), Hilda (Berlim, Alemanha) e Aufgabe (Nova Iorque, Estados Unidos), e figura na antologia Cuatro Poetas Recientes del Brasil (Buenos Aires: Black & Vermelho, 2006). É co-editora, com os poetas Marília Garcia, Fabiano Calixto e Ricardo Domeneck, da revista de poesia Modo de Usar & Co. Traduziu poetas argentinas como Susana Thénon e Lucía Bianco.
Fonte da biografia: www.myspace.com


TEXTO EN ESPAÑOL     /     TEXTO EM PORTUGUÊS

FAMÍLIA VENDE TuDO

 

família vende tudo

um avó com milito uso

um limoeiro

um cachorro cego de um olho

família vende tudo

por bem pouco dinheiro

um sofá de três lugares

três molduras circulares

família vende tudo

um pai engravatado

depois desempregado

e uma mãe cada. vez mais gorda

do seu lado

família vende tudo

um número de telefone

tantas vezes cortado

um carrinho de supermercado

família vende tudo

uma empregada batista

uma prima surrealista

uma ascendência italiana & golpista

família vende tudo

trinta carcaças de peru (do natal)

e a fitinha que amarraram no pé do júnior

no hospital

família vende tudo

as crianças se formaram

o pai faliu

deve grana para o banco do brasil

vai ser uma grande desova

a casa era do avó

mas o avó tá com o pé na cova

família vende tudo

então já vii

no fim da quinhentos contos

pra cada um

o júnior vai reformar a piscina

o pai vai abrir um negocio escuso

e pagar a vila alpina

pro seu pai com muito uso

família vende tudo

preços abaixo do mercado

 

 

february mon amour

janeiro não disse a que veio
mas fevereiro bateu na porta
e prometeu altas coisas
'como o carnaval', ele disse.
fevereiro é baixinho,
tem 1,60 m e usa costeletas
faria melhor propaganda
do festiva) de glastonbury.)
pisquei ligeira nas almofadas:
'nem tô, fevereiro
abandonei o calendário'.
'você é um saco', ele disse
e foi cheirar no banheiro.

 

l'enfance de l'art

porque eu perdia a pose mamãe me deu uma cadeira
elegante de veludo burgundy. três anos no balé tutus e
tafetás e ainda perdia a pose.

mamãe disse vou comprar uma cadeira para que pelo
menos sente elegantemente, papai chegava tarde e ao
me ver sentada lendo pedro nava suspirava e tirava
trollope da estante, «leia os clássicos,

é importante.» era o entendimento de papai o self-made
man o marido de mamãe a de quatro sobrenomes.

daí minha aversão a heráldica e estofados.

daí por que nunca li chaucer antes.

 

não consigo ler os cantos

vamos nos livrar de ezra pound?
vamos imaginar ezra pound
insano numa jaula em pisa enquanto
les américains comiam salsichas
e peanut butter nas barracas
dear ezra, who knows what cadence is?
vamos nos livrar de mariane moore?

 

FREITAS, Angélica.  Um útero é do tamanho de um punho.  São Paulo: Cosac Naif, 2012.   96 p.  11,5X21 Imagens da capa e abertura do miolo: Anna Maria Miolino.   ISBN  978-95-405-0251-2  Col. A.M.

 

  a mulher pensa

 

a mulher pensa com o coração

a mulher pensa de outra maneira

a mulher pensa em nada ou em algo muito semelhante

a mulher pensa será em compras talvez

a mulher pensa por metáforas

a mulher pensa sobre sexo

a mulher pensa mais em sexo

a mulher pensa: se fizer isso com ele, vai achar que

                                                           [faço com todos

a mulher pensa muito antes de fazer besteira

a mulher pensa em engravidar

a mulher pensa que pode se dedicar integralmente

                                                           [à carreira

a mulher pensa nisto, antes de engravidar

a mulher pensa imediatamente que pode estar

                                                           [grávida

a mulher pensa mais rápido, porém o homem

                                                           [não acredita

a mulher pensa que sabe sobre homens

a mulher pensa que deve ser uma "supermãe" perfeita

a mulher pensa primeiro nos outros

a mulher pensa em roupas, crianças, viagens,

                                                           [passeios

a mulher pensa não só na roupa, mas no cabelo,

                                                           [na maquiagem

a mulher pensa no que poderia ter acontecido

a mulher pensa que a culpa foi dela

a mulher pensa em tudo isso

a mulher pensa emocionalmente

 

 

 

FREITAS, Angélica.  Um útero é do tamanho de um punho. 2ª. Edição.  São Paulo: Companhia das Letras, 2017.   95 p.     12,5x18 cm  (Poesia de bolso) Capa, ilustração e projeto gráfico: Elisa von Randow.  ISBN 978-85-359-2982-9  

       

        a mulher é uma construção

        a mulher é uma construção
         deve ser

         a mulher basicamente é pra ser
         um conjunto habitacional
         tudo igual
         tudo rebocado
         só muda a cor

         particularmente sou uma mulher
         de tijolos à vista
         nas reuniões sociais tendo a ser
         a mais malvestida

         digo que sou jornalista

         a mulher é uma construção
         com buracos demais

         vaza

         a revista nova é o ministério
         dos assuntos cloacais
         perdão
         não se fala em merda na revista nova)

         você é mulher
         e se de repente acorda binária e azul
         e passa o dia ligando e desligando a luz?

         (você gosta de ser brasileira?)
         de se chamar virginia woolf?)

         a mulher é uma construção
         maquiagem é camuflagem

         toda mulher tem um amigo gay
         como é bom ter amigos

         todos os amigos têm um amigo gay
         que tem um uma mulher
         que lhe chama de fred Astaire

         neste ponto, já é tarde
         os psicólogos do café freud
         se olham e sorriem

         nada vai mudar —

         nada nunca vai mudar —

         a mulher é uma construção

 

         metonímia

        alguém quer saber o que é metonímia
         abre uma página da wikipedia
         se depara com um trecho de borges
         em que a proa representa o navio

         a parte pelo todo se chama sinédoque

         a parte pelo todo em minha vida
         este pedaço de tapeçaria
         é representativa? não é representativa?

         eu não queria saber o que era
         metonímia, entrei página errada
         eu queria saber como se chegava
         perguntei a um guarda

         não queria fazer uma leitura
         equivocada
         mas todas as leituras de poesia
         são equivocadas

         queria escrever um poema
         bem contemporâneo
         sem ter que trocar fluídos
         com o contemporâneo

         como roland barthes na cama
         só os clássicos

 

        mulher de um homem só

        lá vem a mulher
         de um homem só
         só pela rua deserta
         em sua bicicleta
         sem bagageiro

         está passando
         a mulher de um homem só
         só pela rua deserta
         em sua bicicleta
         sem bagageiro

         acabou de passar
         a mulher de um homem só
         só pela rua deserta
         em sua bicicleta
         se bagageiro

         silêncio       

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 Traducción de Cecilia Pavón.

 

 

FAMILIA VENDE TODO

 

familia vende todo

un abuelo con mucho uso

un limonero

un perro ciego de un ojo

familia vende todo

por muy poco dinero

un sofá de tres cuerpos

tres molduras circulares

familia vende todo

un padre encorbatado

luego desempleado

y una madre que engorda

a su lado

familia vende todo

un número de teléfono

tantas veces cortado

un carrito de supermercado

familia vende todo

una empleada bautista

una prima surrealista

una ascendencia italiana & golpista

familia vende todo

treinta esqueletos de pavo (de navidad)

y la cintita que ataron en el pie de júnior

en el hospital
familia vende todo

los niños estudiaron

el padre quebró

le debe plata al banco de brasil

va a ser un gran desove

la casa era del abuelo

pero el abuelo está con un pie en la fosa

familia vende todo

entonces ya ves

quedarán quinientos billetes

para cada uno

júnior va a reformar la piscina

el padre va a abrir un negocio oculto

y pagarle la villa alpina

a su padre con mucho uso

familia vende todo

precios por debajo del mercado

 

 

 

Extraído de: CAOS PORTATIL – POESÍA CONTEMPORÁNEA DEL BRASIL
 – EDICIÓN BILINGUE. Selección de Camila do Valle y Cecília Pavón. Traducción de Cecilia Pavón. México:  Edicones El Billar de Lucrecia, 2007.  ISBN 978-970-95317-2-5
Apoyo del Fondo Nacional para la Cultura y las Artes.

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De
 Heloisa Buarque de Hollanda

Otra línea de fuego - Quince poetas brasileñas         ultracontemporáneas.
Traducción de Teresa Arijón. Edición bilingüe.
Málaga:  Maremoto;  Servicio de Publicaciones, Centro de Edciones de la Diputación de Málaga, 2009.  291 p
ISBN  978-84-7785-8

 

l'enfance de l'art

porque perdía la pose mamá me dio una silla
elegante de terciopelo burgundy. tres años en el ballet tutús y
tafetas y todavía perdía la pose.

mamá dijo compraré una silla para que por lo
menos aprendas a sentarte con elegancia, papá llegaba tarde y al
verme sentada leyendo pedro nava suspiraba y bajaba
a trollope del estante, «lee los clásicos,

es importante», era el criterio de papá el self-made
man el marido de mamá la de cuatro apellidos.

de allí mi aversión a la heráldica y los acolchados.

de allí que no haya leído a chaucer antes.

 

no consigo leer los cantos

¿vamos a libramos de ezra pound?
¿vamos a imaginar a ezra pound
loco en una jaula en pisa mientras
les américains comían salchichas
y peanut butter en las barracas
dear ezra, who knows what cadence is?
¿vamos a libramos de mariane moore?

 

 

Página publicada em maio de 2009; ampliada e republicada em dezembro de 2010; ampliada em outubro de 2017

 



 

 

 
 
 
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