AMÉLIA TOMÁS
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Era um adolescente quando a conheci, durante as férias, na cidade serrana de Cantagalo. Ainda havia trem, passando pelas montanhas empinadas de Petrópolis, cruzando as avenidas de Nova Friburgo. Cantagalo era o ponto final, onde eu me hospedava em casa do Geraldo, um colega de internato onde estudávamos. Amélia Tomas era, então, a célebre professora e poetisa, admirada e reconhecida. Aprendiz de poeta, vibrava em companhia dela, ouvindo versos e ensinamentos sobre a poesia. Logo depois, em 1955, ela publicou o seu terceiro livro e me autografou um exemplar, com letra caprichosa e paciente. “Ao caro amigo Antonio Miranda, com a amizade da velha amiga Amélia Tomás. Cantagalo, 15 de outubro de 1957. Ano do Centenário da cidade de Cantagalo! Nunca mais regressei a Cantagalo e perdi contato para sempre com a autora. Ao reencontrar o seu livro na estante, encardido pelos anos, senti o impulso de relê-lo e de homenageá-la, com toda a justiça. Figura admirável!
Antonio Miranda
“Muitos dos seus sonetos alexandrinos mereciam figurar em antologias, tais as virtudes emocionais e técnicas.”
Elmo Elton (Pen Clube do Brasil)
“No hay duda — como bien lo apunta la crítica: —es usted una de las primeras golondrinas, que señalan la vuelta a la primavera del clasicismo, de la armonía del ritmo y de la rima, del fondo y de la forma. Que és quizá la verdadera poesía. O sea: la única.”
Idel Becker
Livros de poesia: Jardim Fechado (1942), Fonte de Aroma (1952) e Rosa de Jericó (1955).
Capa de Honório Peçanha
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
AMOR
Outr'ora eu te buscava na confiança
De achar em ti, Amor, o bem superno,
E o jovem coração, todo esperança,
Por que te cria um deus, julgou-te eterno.
Mas, de mudança andar para mudança,
De um inferno rolar para outro inferno,
Descrente acreditei que tudo alcança
Quem te pode evitar, veneno interno.
Hoje, que empós do Ideal, de tal maneira,
Que mais parece célere corrida,
Vou na insânia infeliz desta canseira,
Eu te olho e te abençôo agradecida,
Como a ilusão melhor, mais verdadeira,
Entre as fugazes ilusões da vida ...
PARÁFRASE DE UM PENSAMENTO DE TSÁO CHANG LIANG
Noite amena, aproxima-te quietinha,
Vem a meu quarto ouvir o meu pedido:
Estou triste, calada anda a voz minha,
Não há canto que agrade a meu ouvido.
Noite serena, outr'ora, alegre, eu vinha
Implorar-te que o ouro mais polido
Das estrelas que, em véus, teu seio aninha,
Jorrasses no meu verso comovido.
Hoje, noite querida, eu não te imploro
O sono de meus olhos, nem te exoro
Dar repouso sereno aos meus cansaços.
Peço-te apenas isso: O' noite! Escuta!
— Sossega o coração que sofre e luta
Adormece-o, cantando nos teus braços!
PANTEISMO
Vem abrir para o sol os teus olhos contentes
Diante da natureza e, em profano ritual,
Alma! às árvores conta a estranha ânsia que sentes
Em cada ondulação de cada vegetal!
Onde um rumor de vento entre as folhas pressentes,
Ouves um coração que te segreda e é tal
A alta repercussão dessas forças latentes,
Que vês na árvore um templo e na folha um missal.
Talvez, há muito tempo, em séculos distantes,
Por capricho de um deus foste árvore; de então
Guardaste a compreensão dos galhos soluçantes...
E de transmigração para transmigração,
No teu sangue ainda flui, em átomos errantes,
A angústia vegetal que há no teu coração ...
Amélia Tomás, Ao fundo, imagem de Euclides da Cunha, conterrâneo de Cantagalo, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro.
INTERROGAClÓN
No sé de onde me viene esa amargura
Que me subyuga, sorprende y me castiga,
Que ignoto lazo, al sufrimiento liga,
Mi alma pobre, que subir procura.
Sígueme paso a paso la senda dura,
La tristeza invernal, extraña y antigua
Que a su lado hiéreme, la desventura
Y me conforta también serena y amiga.
¿Por qué padezco, si no amo? Siento
Del dolor, el peso, que no hay quien venza,
Que trayendo el corazón exento.
Trazo mis ojos al infinito; los inmersos,
Ah! como duele el tedio, de quién piensa
Es el estraño sufrir de quién hace versos.
Traducción de Román Fontan Lemes: (Apud Esquemas Líricos) - Montevideo
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