Nació en São Paulo em 1931. Es diplomático de carrera y, como tal, há desempenado diversos cargos em Lisboa, Caracas, Washington, Madrid, Lagos, República Popular de Benin, Portugal...
Pertenece a uma generación de amplio registro, la de 1950, en que figuran, entre otros, Mario Faustino, Ferreira Gullar, Walmir Ayala. Entre sus libros de poemas destacamos: O Parque (1953), O Tecelão (1962), Alberto da Costa e Silva carda, fia, dobra e tece (1962), Livro de Linhagem (1966), As linhas da Mãos (1979) e A Roupa no Estandal, o Muro, os Pombos (1981).
Membro da Academia Brasileira de Letras. Filho do grande poeta Da Costa e Silva. Prêmio Camões (Portugal, 2014).
Agradecimento: trabalhei no Consulado do Brasil em Caracas, no final da década de 70 do século passado, na biblioteca como bolsista, e o responsável pela nossa representação diplomática era justamente Alberto da Costa, figura humana extraordinária com que convivi e de quem aprendi muito. Graças a ele, rodei no mimeógrafo do consulado uma edição artesanal, com trabalhos de um artista plástico, alguns exemplares de meu poemário “Versos Itinerantes. Amazônia”, distribuídos entre amigos e enviados aos Centros de Estudos Brasileiros.
Ouçamos o fluir deste curso de rio entre velhos muros imóveis de fadiga
não apenas meras lajes limitadas e cinzentas
mas pedras tristes e calmas
entre as quais escorre o límpido silêncio
da água que flui sobre a nudez
pura da morte
em nenhuma outra fonte, o cansaço
de ser manhã quando a noite se debruça
sobre nós, sofreremos
pois tão estranhos seremos ao murmúrio
de suas águas veladas
à música que nada anuncia a não ser primaveras
como agora, sôfregos, nos reclinamos
sobre o líquido móvel deste rio que leva
para o mar distante e irrevelado
estas formas maduras e tranqüilas
este sopro perfeito
daquilo que foi apenas o fugidio e precário pó.
A despedida da morte
Falo de mim porque bem sei que a vida
lava o meu rosto com o suor dos outros,
que também sou, pois sou tudo o que posto
ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,
cicia apenas —Oteu tempo é a trava
que te impede de ter a calma clara
do chão de lajes que o sol recobre,
este esperar por tudo que não corre,
nem pára e nem se apressa, e é só estado,
e nem sequer murmura:—O que te trazem
é o riso e o lamento, o ser amado
e o roçar cada dia a tua morte,
que não repõe em ti o, sem passado,
ficar no teu escuro, pois herdaste
e legas um sussurro, um som de passos,
uma sombra, um olhar sobre a paisagem,
memória, cálcio, húmus, eis que o mundo
nada rejeita, sendo pobre e triste
no esplendor que nos dá. A madrugada.
Soneto
Uma ausência de mim por mim se afirma.
E, partindo de mim, na sombra sobre
chão que não foi meu, na relva simples
outro ser que sonhei se deita e cisma.
Sonhei-o ou me sonhei? Sonhou-me o outro
— e o mundo a circundar-me, o ar, as flores,
os bichos sob o sol, a chuva e tudo-
ou foi o sonho dos demais que sonho?
A epiderme da vida me vestiu,
ou breve imaginar de um ócio inútil
ergueu da sombra a minha carne, ou sou
um casulo de tempo, o centro e o sopro
da cisma do outro ser que de mim fala
e que, sonhando o mundo, em mim se acaba.
Imitação de Botticelli
Como a luz numa caixa de laranjas,
ou a chuva sobre a mesa de verduras no mercado,
desce a manhã neste jardim, descalça,
e as flores que traz, na involuntária beleza,
parecem, contra seu corpo de verão enfunado,
musgo, limo, ferrugem, as feridas que os pássaros
abrem na casca lisa e perfeita de um fruto.
Soneto a Vermeer
De luto, a minha avó costura à máquina,
e gira um cata-vento em plena sala.
Vejo seu rosto, sombra que a janela
corrompe contra um pátio amarelado
de sol e de mosaicos. Sobre a mesa,
a tesoura, um esquadro, alguns retalhos
e a imóvel solidão. A minha avó,
com os seus olhos azuis, o tempo acalma.
A minha avó é jovem, mansa e apenas
a limpidez de tudo. Sonho vê-la
no seu vestido negro, a gola branca
contra o corpo de cão, negro, da máquina:
a roda, de perfil, parece imóvel
e a vida não se exila na beleza.
SILVA, Alberto da Costa e. Ao lado de Vera. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 101 p. 10,5x17,5 cm ISBN 85-209-0835-7 “ Alberto da Costa e Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
MURMÚRIO
Vou pedir a meu pai
que me esqueça menino.
CONVALESCENÇA
de novo
roçou meu rosto o invisível ramo
de folhas tão suaves que parecem a plumagem
do peito de um pombo
e tão matinal
quanto a úmida brisa que certo mar cicia
lento porque eterno
hera ou relva que cobre e distancia
a forma das pedras
os gestos dos homens
e algum riso
que em nós ficou da perfeição
de um ontem
quando éramos longe
dos dias
e das mortes
SILVA, Alberto da Costa e. As linhas da mão. Rio de Janeiro: Difel; Brasília: INL, 1978. 155 p. 14x21 cm. Inclui ao final o texto: “Da Costa, poesia e infância”, por Antonio Carlos Villaça. Reune 30 anos da poesia do autor. “ Alberto da Costa e Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
TRISTE VIDA CORPORAL
Se houvesse o eterno instante e a ave
ficasse em cada bater d'asas para sempre,
se cada som de flauta, sussurro de samambaia,
mover, sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte,
salsa que se parte. . . Os grilos devorados
não fossem, no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne e triste a nossa vida
corporal, faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.
O POETA, AO POETA
E tinha de ser eu,
um ser ausente a tudo,
um enviado da terra,
reduzido a cansaço,
quem apenas diria
o que fora ditado,
posto só no escuro,
pelo céu ou o acaso.
Entre a sombra e o lume
de seu tempo desfeito,
voltaria de mim.
para a espera, que anulo,
deste deus que não fui
no menino, que, preso
nos seus gestos de então,
recompõe no mais puro
exílio, toda a febre,
a carne que lhe deram,
a palavra e o choro,
as sobras do infinito,
o seu sonho partido
entre o dormir e o medo.
Eram belas as vozes
de que fui o segredo
e que ouvi, longe em num,
a contar-me o que cedo
ao órfão, ao desditoso,
ao coberto de fezes
— alguém que vai profundo,
sendo êxtase e beijo,
no corpo que me serve,
e me vê no que vejo.
SILVA, Alberto da Costa e.Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Biblioteca Nacional, 2000.180 p. 14x21 cm. ISBN 85-209-1088-2 “ Alberto da Costa e Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
A BILHA
Assim o barro, em tuas mãos pequenas
e machucadas, ergue um voo, povo:
é um ai de terra, sem nenhum tormento,
um ai de rir e flora; de macio coito
de porcos, quase asa de garça, quase
paina de jatobá, esta moringa aberta
ao frescor que há no sol, charque, avoante,
forma de prenha mulher, quartinha, pote.
Inverso estio moldas em ferra e água,
cor de palha e de mel, meu povo, sem distâncias
de serras com que sonhas junto ao cacto,
mas que entorna a noite de seu bojo.
Se o colas ao rosto, vêm as brisas
dos regatos e à boca chegam barro
e ondas de um rio que são choros de parto,
breve esperar, sentido amor, memória
da meninice em tuas mãos que moldam
casa, banco, alguidar, bilros, cancela,
anjos toscos, na fome de teu corpo.
SILVA, Alberto da Costa e. A Voz do Poeta Alberto da Costa e Silva. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, s. d. CD (Coleção Multimidia, v. 4) Ex. bibl. Antonio Miranda
ANTOLOGIA POÉTICA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Alberto da Costa e Silva. Antonio Carlos Secchin. Antonio Cícero. Carlos Nejar. Domício Proença Filho. Geraldo Carneiro. Geraldo Holanda Cavalcanti. Marco Lucchesi. Brasília: Câmara dos Deputados, 2020. 204 p. ISBN 978-65-87317-06-9 Ex. bibl. Antonio Miranda
Elegia
Sofrer esta infância, esta morte, este início,
As cousas não param. Elas fluem, inquietas,
como velhos rios soluçantes. As flores
que apenas sonhamos em frutos se tornaram.
Sazonar, eis o destino. Porém não esquecer
a promessa de flores nas sementes dos frutos,
o rosto de teu pai na face de teu filho,
as ondas que voltam sobre as mesmas praias,
noivas desconhecidas a cada novo encontro.
As cousas fluem, não param. As folhas nascem,
as folhas tombam longe, em longínquos jardins.
Em silêncio, vives a infância de teus olhos
e, morto, és tão puro que te toras menino.
Soneto de Natal
Como esperar que o dia pequenino,
com a mesa, a cama, o copo, as cousas simples,
desate em nossas mãos os lenços cheios
de canções e trigais e ninfas tristes?
Menino já não sou. Como de novo
conversar com os pássaros, o peixes,
invejar o galope dos cavalos
e voltar a sentir os velhos êxtases?
A linguagem dos grãos, do manso pêssego,
a bem-amada ensina e novamente
sinto em mim o odor de esterco e leite
dos currais onde a infância tange as reses,
sorve a manhã e permanece neste
cantor da relva mínima e dos bois.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de Carlos Germán Belli
SILVA, Alberto da Costa e. Poemas. Palabras liminares y traducción de Carlos Germán Belli. Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1986. 112 p. (Tierra Brasileña. Poesía) 10x19 cm. “ Alberto da Costa e Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
FIumen, fluminis
Escuchemos el fluir de este curso de río
entre viejos muros inmóviles de fatiga
ni siquiera meras lajas limitadas y cenicientas
sino piedras tristes y tranquilas
entre las que se escurre el límpido silencio
del agua que fluye sobre la desnudez
pura de la muerte
en njnguna otra fuente, el cansancio
de ser mañana cuando la noche se inclina
sobre nosotros, sufriremos
pues tan extravíos seremos el murmurio
de sus aguas veladas
a la música que nada anuncia que no sean primaveras
como ahora, anhelantes, nos reclinamos
sobre el líquido móvil de este río que lleva
hacia el mar distante e ignorado
estas formas maduras y tranquilas
este soplo perfecto
de eso que fue apenas el huidizo y precario polvo
La despedida de la muerte
Hablo de mí porque sé que la vida
lava mi faz con sudor de los otros,
que también soy, pues todo aquello soy
que alrededor se calla, y piedra o agua
murmura apenas: —Tu tiempo es la traba
que te impide tener la calma clara
del suelo de lajas que el sol recubre,
este esperar por todo lo que no corre,
ni para ni apura, y sólo es estado,
y ni aún murmura: —Lo que te traen
es la risa y el lamento, el ser amado
y el rozar cada día tu morir,
que no repone en ti el, sin pasado,
yacer en tu oscuro, pues heredaste
y legas susurro, ruido de pasos,
una sombra, un contemplar el paisaje,
memoria, caldo, humus, y he aquí que el mundo
nada rechaza, siendo pobre y triste
en el lustre que nos da. La madrugada.
Soneto
Una ausencia de mí por mí se afirma.
Y, partiendo de mí, en la sombra sobre
el suelo no mío, en el césped simple
el otro ser que soné se echa y sueña.
¿Lo soñé o me soñé? Me soñó el otro
—y el mundo que me circunda, aire, flores,
las bichos bajo el sol, la lluvia y todo-
o fue el sueno de los demás que sueño?
Me vistió la epidermis de la vida,
o breve imaginar de un ocio inútil
se irguió de la sombra a mi carne, o soy
un capullo de tiempo, centro y soplo
del otro ser absorto que de mí habla
y que, sanando el mundo, en mí se acaba.
Imitación de Botticelli
Como la luz en una caja de naranjas,
la lluvia sobre la mesa de verduras en el mercado,
desciende la mañana en este jardín, descalza,
y las flores que, trae, en la involuntaria belleza,
parecen, contra su cuerpo de verano hinchado,
musgo, limo, herrumbre, las heridas que los pájaros
De Alberto da Costa e Silva Le linee della mano - antologia poética. Milano: All´Insegma del pesce d´Oro, 1986. 175 p.
VERA CANTA
Dissesse agora o sonho sobre o mar
em que garimpo as ondas e os luares,
saltimbancos de azul e alvos bordados
de touros, sóis e pãs descabelados,
compreenderias que ouço a tua voz
de avena clara e pão, que os bichos voltam
de suas solidões para o teu canto
e vêm pastar nesta planície enorme,
que te vejo na flor, na lã, no cacto,
sentada, interrogando as tuas mãos
e aquário, peixes, câncer... lua e sol,
que não te crio para um sonho raro,
pois és bela, real, mais do que a fábula,
ó dinamene, ó macieira, ó prado!
VERA CANTA
Raccontassi ora il sogno sopra il mare
dove setaccio le onde e i chiardiluna,
azzurri saltimbanchi e ricami
bianchi di tori, e soli e Pan discinti,
sapresti che io ascolto la tua voce
di bionda avena e pane, che le fiere
lascian le solitudini al tuo canto
per pascolare in questa piana immensa
che ti vedo in flore, lana, cactus
seduta a interrogare le tue mani
e acquario, pesei, cancro... luna e sole,
che non ti creo per un sogno raro,
perche sei bella, vera, più che favola
o mio melo, o prato, o dinamene!
(traduzione di Luciana Stegagno Piacchio)
O PARQUE
O tempo a fonte estanca e o torso apaga.
Este de formas puras de pedra, quase carne,
despojado de ternura e de tristeza, imóvel
entre as sombras das árvores e o silêncio,
o fluir das águas frescas da fonte tão próxima
e a doce transfiguração da noite em morte.
Nas antigas lajes os passos dos meninos
gravados no passado remoto e, bem marcado,
o trotar dos burricos que flores carregavam.
As águas correm e, contudo, permanecem.
Quantas palavras não guardaram as cousas!
Quantos gestos nas pedras se perderam?
Os cântaros jamais recolherão as águas
pelas outras fontes abandonadas como
esquecemos um pouco de nós por toda a parte.
Este rumor tão distante e tão próximo
que as nossas mãos acariciam, cuidadosas,
é o mesmo fluir do chafariz antigo,
o mesmo soluço nos recantos de sombra
do inviolável jardim, a mesma chegada
infantil das bicicletas nos domingos brancos.
A fonte, embora o tempo exista, existe
ainda e, embora seca, o seu rumor ouvimos,
tão distinto, tão perfeito, tão diverso.
IL PARCO
Trad. Adelina Aletti
II tempo la fonte stagna e il torso spegne.
Questo di pure forme di pietra, quasi carne,
spoglio di mestizia e tenerezza, immobile,
fra le ombre degli alberi e il silenzio,
il fluire delle acque fresche della fonte accanto
e la dolce trasfigurazione della noite in morte.
Sulle antiche lastre i passi dei bambini
incisi nel passato remoto e, ben segnato,
il trottare degli asini carichi di fiori.
Le acque scorrono e, tuttavia, permangono.
Quante parole le cose han conservato!
Quanti gesti nelle pietre si son perduti?
Gli orci mai più raccoglieranno le acque
dalle altre fonti abbandonate come
quel po' di noi ovunque dimenticato.
Questo rumore così distante e accosto
nella carezza delle nostre mani, attente,
è lo sfesso fluire della fonte antica,
il singhiozzo stesso nei recessi d'ombra
dell'inviolabile giardino, lo stesso infantile
arrivar di biciclette in candide domeniche.
La fonte, anche se il tempo esiste, persiste
e, ancorché estinta, udiamo il suo rumore,
così distinto, perfeito, cosi diverso.
RITO DE INICIAÇÃO
§ meu pai dizia as mangas que enverdeçam
para que o sal lhes dê um novo gosto
cortava o sol em fatias o sumo o rosto
sujava de luar de mate ou pouca
luz que fundeia na sombra da jaqueira
chegava à carne do fruto à rude juba
que arma em fera a pele do caroço
§ à margem do curral mergulho aberto
do tamarindo meu pai dizia fazes
o desgosto compões cada segredo
a cresciúma os ninhos nos alpendres
o adeus com flores os ombros dos mendigos
a sustentar a curva porta os cegos
a cavalo e os porcos nos açougues
§ o azul é rouco e teu meu pai dizia
este silêncio de viração furtada
outras monções com cheiro de goiaba
§ sabor só soturno soterrado
dá a manga o trotar o alaúde
me pai dizia o sol é sal e o solo
nada cultiva em nós nem a descalça
morte rastro leve na farinha.
RITO Dl INIZIAZIONE
Trad. Adelina Aletti
§ mio padre diceva che i manghi rinverdiscano
perché il sale dia loro un nuovo gusto
tagliava il sole a fette il succo il volto
sporcava di chiardiluna di mate o poca
luce alla fonda nell'ombra della jaqueira
arrivava alla carne del frutto alla ruvida
giubba che inselvatica la pelle del nocciolo
§ al margine del recinto tuffo aperto
del tamarindo mio padre diceva fa
quel che non ti piace componi ogni segreto
l´erba i nidi sotto il portico
l'addio con fiori le spalle del mendichi
a reggere la curva porta i ciechi
a cavallo e i porei ai mattatoio
§ l'azzurro è roco e tuo mio padre diceva
questo silencio di brezza rubata
altri monsoni olezzanti di goiaba
§ sapore solo scuro sotterrato
dà il mango il trotto il liuto
mio padre diceva il sole è sale e il suolo
nulla in noi coltiva neppure la scalza
morte lieve traccia nella farina.
POESIA SEMPRE. Revista Semestral de Poesia. Ano 3 – Número 5 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex.bibl. Antonio Miranda
Commiato Della Morte
("A despedidla da morte'")
Parlo di me perché so che la vita
mi lava il volto col sudore di altri,
che pure io sono, perché sono tutto
quel che intorno mi tace e è pietra, o, acqua,
bisbiglia solo: — Il tuo tempo è l'impaccio
che non ti lascia aver la calma chiara
del lastricato che il sole ricopre,
quest'attesa del tempo che non scorre,
e non sta e non s'affretta, e è solo stato,
e non sussurra: — Quello che ti portano
è riso ed è lamento, essere amato
e sfiorare ogni giorno la tua morte,
che in te non pone il, senza passato,
restare nel tuo buio, ché ereditasti
e lasci un mormorio, suono di passi,
un 'ombra, uno sguardo al paesaggio,
memoria, calcio, humus; ecco, il mondo
nulla rigetta, lui povero e triste
nello splendore che ci dona. L 'alba.
Traduzione di Giuliano Macchie
Preghiera Del 23 Novembre
("Prece de 23 de Novembro")
Padre mio, che sei in cielo,
nel cielo che vedo,
questo cielo che respiro e mi veste
(e non già quello fatto di sconfitta,
in cui l'eterno copre il sogno breve),
volgi lo sguardo
a me, a me che invecchia
la tua mancanza
(la tua mancanza cresce
e disfa l 'astio di questa certezza:
il corpo duole pure in morte), veglia
sull'uomo che facesti e che, bambino,
si accuccia contro l'angolo dei muri,
il mento sui ginocchi,
lo sguardo cieco
ad altro tempo che non sia ancora
puro, immobile, esatto,
come te,
come te, che sto essendo
nella carne che, in me,
è il tuo esilio.
Traduzione di Giuliano Macchie
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