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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RAÚL GUSTAVO AGUIRRE

(1927-1983)

Poeta argentina adscrito al grupo del invencionismo, mostró una cierta influencia surrealista. Traductor celebrado de Apollinaire. Obras principales: Cuerpo del horizonte (1951), Antología de una poesía nueva (1952), La danza nupcial (1954), Alguna memoria (1960) y Señales de vida (1962). Creó y dirigió la revista "Poesía Buenos Aires", con treinta números editados entre 1950 y 1960.

 

TEXTOS EN ESPAÑOL   -   TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

La sombra

Solamente este olor a pólvora, desgarrada, aqui, en la mano
donde tú comías, pajarito triste, inventor del mundo.

          (De Señales de vida, 1954)

Aumenta la celeste dimensión

La noche vive sobre tu cuerpo luminoso,
sobre tu cuerpo giran bandadas de cometas,
orquídea solitaria en el centro del mundo,
unos ojos que van a morir te contemplan.

Para estos ojos la claridade está rota
en miles de relámpagos que sólo a te crean.
Estos ojos dementes en un astro fantasma
que gira alrededor de ti mientras se aleja.

          (De Señales de vida, 1955)


Buenas relaciones

Los prisioneiros se detestan
pero a pesar de su rencor
se tratan con educación

Los prisioneiros se detestan
pero no obstante, por dignidad,
jamás conversan con el guardián.

Los prisioneiros se detestan
pero de noche mantienen diálogos
fingiendo que hablan solos.

          (De Señales de vida, 1959)

Virelai

Yo confio en que un rostro
entre los silbidos del tempo
llegará a ser el tuyo.

Yo espero
en el borde de uma tormenta
el día de tu nombre.

Yo quiero atravesar
este recuerdo sin imagen
entre el lejano rodar
de las piedras mudas al sol.

Yo me desasiré de la magia
para volverme y descubrirte
detrás de la desierta construcción
de las sombras del día.

Yo no seré cobarde
ni te perderé en el caminho
ni em ninguna ribera.

Aceptaré tu sonrisa
tu vestido claro
la hierba de mi vida
entre las ramas del crepúsculo.

Y si desapareces
em la larga llanura
temida por los pájaros
no diré que te has ido para siempre
sino que yo te amaba
y he muerto.

          (Inédito, 1962)

Razones para escribir

Cazar palavras em el humo
y, como quien ordena sus negócios antes de morir,
ponerlas
em su justo lugar, para que el Outro
(el que no se conforma con nada) uma vez má
se engane con la idea de que todo
por fin quedó aclarado para siempre
y duerma un poco, aunque después
se despierte aterrado
en médio de la noche sin palavras.

          (Inédito, 1963)

          Y uno les ruega a las palavras...

          Y unos les ruega a las palavras
          que no se porten mal, que não levanten
          su reja ante nosotros. Uno les ruega
          que nada digan si no pueden
          más que decir, decir, ruido y miseria
          querendo hablar lo que no importa,
          lo que ya se torció, lo que está frio,
          y roto, y negramente terminado
          tan sólo porque un día Adán habló.
          ¿Se puede? Uno quisiera entrar, quedarse
          em el silencio de antes, para siempre.
         
Y sangrar sin adornos.

                    (Inédito, 1963)

         

TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução: Antonio Miranda

 

          A sombra       
       

 

Apenas este cheiro de pólvora, desgarrada, aqui,
na mão
          onde tu comias, passarinho triste, inventor do mundo.

                    (De Señales de vida, 1954)

            Amplia-se a dimensão celeste

          A noite vive sobre teu corpo luminoso,
          sobre teu corpo giram bandos de cometas,
          orquídea solitária no centro do mundo,
          uns olhos que vão morrer te contemplam.

          Para estes olhos a claridade está esfacelada
          em milhares de relâmpagos que só a ti criam.
          Estes olhos dementes em um astro fantasma
          que gira arredor de ti enquanto se afasta.

                        (De Señales de vida, 1955)

 
           
Bom relacionamento

          Os prisioneiros se antipatizam
          mas não obstante seu rancor
          se tratam com educação.

          Os prisioneiros se antipatizam
          mas no entanto, por dignidade,
          jamais conversam com o guarda.

          Os prisioneiros se antipatizam
          mas de noite dialogam
          fingindo que falam sozinhos.

                    (De Señales de vida, 1959)

            Virelai

            Eu confio em que um rosto
          entre os assovios do tempo
          chegará a ser o teu.

          Eu espero
          às margens de uma tormenta
          o dia de teu nome.

          Eu quero atravessar
          esta lembrança sem imagem
          entre o distante rolar
          das pedras mudas ao sol.

          Eu me desfaço da magia
          para volver-me e descobrir-te
          detrás da deserta construção
          das sombras do dia.

          Eu não serei covarde
          nem te perderei no caminho
          nem em ribeira alguma.

          Aceitarei teu sorriso
          teu vestido claro
          a erva de minha vida
          entre os ramos do crepúsculo.

          Y se desapareces
          na vasta planície
          temida pelos pássaros
          não direi que foste para sempre
          senão que eu te amava
          e que morri.

                    (Inédito, 1962)

          Razões para escrever
         
          Buscar as palavras na neblina
          e, como quem organiza seus negócios antes de morrer,
          dispô-las
          em seu justo lugar, para que o Outro
          (o que não se conforma com nada) uma vez mais
          se engane com a ideia de que tudo
          afinal ficou aclarado para sempre
          e durma um pouco, embora depois
          desperte desesperado
          no meio da noite sem palavras.

                    (Inédito, 1963)
           
 
           
E a gente roga às palavras...

         E a gente roga às palavras
          que não se comportem mal, que não levantem
          sua grade diante de nós. A gente roga
          para que nada digam se não mais podem
          mais que dizer, dizer, ruído e miséria
          querendo falar o que não importa,
          o que já se enroscou, o que está fio,
          e roto, e sombriamente terminado
          tão somente porque um dia Adão falou.
          É possível? Quisera partir, ficar
          no silêncio de antes, para sempre.
          E sangrar sem adornos.

                    (Inédito, 1963)



Página publicada em fevereiro de 2016           


 

 

 

 
 
 
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