NÉSTOR PERLONGHER
(1949-1992)
Nasceu na periferia de Buenos Aires, em 1949. Em 1982, terminada sua licenciatura em Sociologia, mudou-se para São Paulo, ingressando no Mestrado de Antropologia Social, na Universidade Estadual de Campinas, onde se tornou professor em 1985. Além da participação em antologias, Nestor Perlongher publicou vários livros de poesia: Áustria-Hungria (Buenos Aires: Ed. Tierra Baldia, 1980); Alambres (Buenos Aires: Ed. Último Reino, 1987), que obteve o prêmio Boris Vian de Literatura Argentina do ano; em 1989 publicou Hule (Buenos Aires, Ed. Último Reino) e lanço uma fita cassete – Cadáveres – com poemas gravados. Em 1990, publicou em Buenos Aires (Ed. Sudamericana) o livro Parque Lezama; em 1991, Aguas Aéreas (Buenos Aires: Ed. Último Reino), e, em 1992, El Chorro de las Iluminaciones (Caracas, Pequeña Venecia). Afora os poemas, o autor publicou os seguintes ensaios: O Negócio do Michê – Prostituição Viril em São Paulo e O que é AIDS, ambos pela Editora Brasiliense (São Paulo, 1987). Morreu em São Paulo no dia 26 de novembro de 1992, em São Paulo.
Página elaborada por Salomão Sousa para o Portal de Poesia Ibero-americana.
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
De
LAMÊ
Antologia bilíngüe espanhol-português
Seleção e prólogo Roberto Echavarren
Tradução Josely Vianna Baptista
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1994.
(Coleção Matéria de Poesia)
COMO REINA QUE ACABA
Como reina que vaga por los prados donde yacen los restos
de un ejército y se unta las costuras de su armiño raído
con la sangre o el belfo o con la mezcla de caballos ly
bardos que parió su aterida monarquía
así hiede el esperma, ya rancio, ya amarillo, que abrillantó
su blondo detonar o esparcirse — como reina que abdica —
y prendió sus pezones como faros de um vendaval confuso,
interminable, como sargazos donde se ciñen las marismas
Y fueran los naufragios de sus barcas jalones del jirón
o bebederos de pájaros rapaces, pero en cuyo trinar
arde junto al dolor ese presentimiento de extinción
del dolor, o una esperanza vana, o mentirosa, o aún más
la certidumbre
de extinción de extinción como un incendio
como una hoguera cenicienta y fatua a la que atiza apenas el
aliento de un amante anterior, languidecente, o siquiera
el desvío de una nube, de un nimbo
que en el terreno de estos pueriles cielos equivale a un amante,
por más que este sea un sol, y no amanezca
y no sé dé a la luz más que las sombras donde andan las arañas
las escolopendras con sus plumeros de moscas azules y
amarillas
(Por un pasillo humedecido y hosco donde todo fulgor
se desvanece)
Por esos tragaluces importunas la yertez de los muertos, su
molicie, yerras por las pirâmides hurgando entre las
grietas, como alguien que pudiera organizar los sismos
Pero es colocar contra el simún tu abanico de plumas,
como lamer el aire caliente del desierto, sus hélices
resecas
TEXTOS EM PORTUGUÊS
COMO RAINHA QUE ACABA
Tradução Josely Vianna Baptista
Como rainha que erra pelos campos onde jazem os restos
de um exército e besunta a costura de seu surrado arminho
com o sangue ou o beiço ou a mistura de cavalos e
bardos que pariu sua álgida monarquia
assim fede o esperma, meio ranço, meio amarelo, que poliu
seu louro detonar ou esparramar-se — como rainha que abdica —
e inflamou seus mamilos como faróis de um vendaval confuso,
interminável, como sargaços onde se abraçam as marismas
E foram os naufrágios de seus barcos os trapos do estandarte
ou bebedouros de pássaros rapaces, só que em seus trinos
arde com a dor esse pressentimento de extinção
da dor, ou uma esperança vã, ou mentirosa, ou sobretudo
a certeza
de extinção de extinção como um incêndio
qual cinzenta e fátua fogueira apenas pelo alento
de outro amante atiçada, malemolente, ou ao menos
o desvio de uma nuvem, de um nimbo
que no solo destes deus infantis é o mesmo que um amante,
por mais que este seja um sol, e não amanheça
e não assome à luz mais do que as sombras onde andam as aranhas,
as centopéias com seus penachos de moscas azuis e
amarelas
(Por um corredor umedecido e fosco onde o fulgor todo
se dissolve)
Por essas clarabóias importunas a rigidez dos mortos, sua
languidez, erras pelas pirâmides vasculhando as
brechas, como alguém que pudesse ordenar os sismos
Mas é colocar contra o simum o teu leque de plumas,
como lamber o ar quente do deserto, suas ressequidas
hélices.
CANTO DA ILUSÃO
Tradução de Josely Vianna Baptista
Escamas, redemoinhos, fervores me rodeiam...
"Mariri", mãe da ilusão, em remoinhos te aproxima...
Estou na "mareação" com prazer, já fui embora, não desanimo, vou
com gosto, vou te fazer ver, vou te fazer vir, vem sem medo,
na mesma ilusão de prazer, que te faz ver coisas lindas.
A força que me faz ver almas como pó cai do meu lado...
Sente-se como um pássaro que perde suas penas...
Na casa da sucuri, na casa da sucuri, na casa da sucuri, o tigre pequenino
atirado do monte vem cair, atirado do monte vem cair, entra, o tigre,
o tigre na casa da sucuri, cai, entra, cai, entra, parece cabeças
verdes, cabeças verdes, cabeças verdes...
ÁGUAS AÉREAS
(fragmento XXI)
Tradução de Cláudio Daniel
O JOGO DO CLARO-ESCURO na folhagem largada, como um
decalque, estampava de ramalhetes pontilhistas a oscilação das
marombas. Havia o perigo da grande serpente fluvial, a ameaça sombria
da raia, o sorriso desconfiado dos jacarés e a roída sombra da tartaruga ao
submergir entre os sulcos alvoroçados. Tudo tão leve e ao mesmo tempo
tão quente, tão exausto. Nos amolece com sua imensidão o céu como um
casaco celeste inspirado em Femirama21. Uma sutil feminilidade cinzela
com delicadeza os corpos trabalhados (com tachas) dos que remam e seus
gestos ágeis como panteras no maconhal. Não é fácil abstrair-se no
celeste quando estas superfícies bronzeadas nos deslumbram com seu
acento de canto. Sem dúvida, estende-se ao sublime, sublime resplendor.
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