LUIZ CANÉ
Poeta argentino, celebrado pela originalidade e fina de sus “romances”.
OSVALDO ORICO
ROMANCE DA MENINA NEGRA
Toda vestida de branco,
muito limpinho e engomada,
estava a menina negra
junto à porta da morada.
Um laçarote de fila
torna-lhe a fronte garrida;
e, dando volta ao pescoço,
muita conta colorida.
As meninas de seu bairro
brincavam sempre na viela;
as meninas de seu bairro
nunca brincavam com ela.
Toda vestida de branco,
muito limpinho e engomada,
no seu silêncio sem lágrimas
ela chorava calada.
II
Toda vestida de branco,
muito limpinha e engomada,
em seu caixãozinho pobre
ei-la agora repousada.
À presença do Senhor
leva-a um anjo diligente.
Não sabe a menina negra
se há-de estar triste ou contente.
Deus, fitando-a docemente,
a cabecita lhe afaga.
Com um lindo par de asas brancas
as desventuras lhe paga.
Logo uns dentes de tapioca
brilham na boca singela.
Deus chama todos os anjos
e lhes diz: «Brincai com ela”.
ROMANCE DA MENINA DE SANTIAGO DE CHILE
No por negocios de cobre
ni para mercar salitre,
a través de las montañas,
desde mis llanuras vine.
Vine desde mis llanuras
a rodar tierras de Chile,
y me he quedado en Santiago
mirando tus ojos tristes.
¡Ay , la niña de Santiago,
la de Santiago de Chile,
que se va a pie al San Cristóbal
para rezarle a la virgen…!
Altiva, pero con gracia,
dulce, pero sin melindre;
te enseña el cielo a ser clara,
las montañas a ser firme.
Hablando en diminutivos
todo a tu encanto se rinde,
y el caudal de tu ternura,
el corazón no resiste.
¡Ay, la niña de Santiago,
la de Santiago de Chile,
desde el cerro San Cristóbal
te guarde siempre la Virgen:
transparente como el cielo,
como tus montañas, firmes !
ROMANCE DE LA NIÑA QUE SALE DE COMPRAS
de LUIS CANÉ (aparecido en el Romancero de niñas, de 1932)
La niña sale de compras,
de compras sale la niña;
porque ella sale de compras
se pone más lindo el día.
Las calles de Buenos Aires
la esperan en las esquinas
y la saludan al paso
con impacientes bocinas,
mientras muelen con el freno,
su lentitud, los tranvías.
Ella va de tienda en tienda,
-(¿Qué busca?... ¿Qué necesita?...)-
pregunta el precio de todo,
revuelve las mercerías,
y al azar de su capricho
toda la ciudad se agita,
tiembla el comercio y la industria
y el tráfico se complica.
A la hora del regreso,
por el cansancio encendida,
la niña vuelve de compras
con medio metro de cinta.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traducción de OSVALDO ORICO
ROMANCE DA MENINA NEGRA
Toda vestida de branco,
muito limpinho e engomada,
estava a menina negra
junto à porta da morada.
Um laçarote de fila
torna-lhe a fronte garrida;
e, dando volta ao pescoço,
muita conta colorida.
As meninas de seu bairro
brincavam sempre na viela;
as meninas de seu bairro
nunca brincavam com ela.
Toda vestida de branco,
muito limpinho e engomada,
no seu silêncio sem lágrimas
ela chorava calada.
II
Toda vestida de branco,
muito limpinha e engomada,
em seu caixãozinho pobre
ei-la agora repousada.
À presença do Senhor
leva-a um anjo diligente.
Não sabe a menina negra
se há-de estar triste ou contente.
Deus, fitando-a docemente,
a cabecita lhe afaga.
Com um lindo par de asas brancas
as desventuras lhe paga.
Logo uns dentes de tapioca
brilham na boca singela.
Deus chama todos os anjos
e lhes diz: «Brincai com ela”.
ROMANCE DA MENINA DE SANTIAGO DE CHILE
Não por negócios de cobre
nem para comprar salitre,
eu vim de minhas planícies
percorrer estas montanhas.
Eu vim de minhas planícies
correndo terras do Chile
e me fiquei em Santiago
fitando teus olhos tristes.
(Ai, menina de Santiago,
de Santiago do Chile,
que sobe a pé S. Cristóvão
e ali vai rezar à Virgem...)
Altiva, porém com graça,
doce, porém sem melindre,
o céu te ensina a ser clara
e as montanhas a ser firme
Falando em diminutivos,
aos teus dons tudo se rende
e ao poder de tal ternura
o coração não resiste.
Ai, menina de Santiago,
de Santiago do Chile:
do morro de S. Cristóvão
que te guarde sempre a Virgem,
transparente como o céu,
como estas montanhas firme.
ROMANCE DA MENINA QUE VAI ÀS COMPRAS
A menina vai às compras,
às compras vai a menina;
e porque ela vai às compras
se põe mais bonito o dia.
As ruas de Buenos Aires
esperam-na nas esquinas
e a festejam na passagem
com estridulas buzinas,
enquanto, movendo o freio,
os bondes param nos trilhos.
Ela vai de loja em loja,
— (Que busca?... que necessita?...)
pergunta o preço de tudo,
e ao jogo de seu capricho
toda a cidade se agita,
treme a loja, treme a indústria
e o tráfego se complica.
À hora justa do regresso,
pelo cansaço rendida,
a menina vem das compras
com meio. metro de fita.
Página publicada em março de 2019
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