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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte/fuente:http://www.listal.com/viewimage/4011490h

JULIO CORTÁZAR
 (1914-1984).

Um dos mais importantes escritores argentinos de seu século,  publicou inicialmente o livro de sonetos Presencia.  Em 1949 aparece sua obra dramática Los Reyes, e em seguida  Bestiario. Escreveu ainda, entre outros, Los Premios,  Rayuela, 62/Modelo para Armar, Último Round e Libro de Manuel.

 

 “No cerne das imagens labirínticas e dos enredos aparentemente desconcertantes de Cortázar, havia a consciência do caráter analógico que está na raiz da poesia e que confere ao literário um campo de infinitas combinações e surpresas. Para além da representação do mundo, ainda que sob uma perspectiva autoral, existe a possibilidade de recriar os fatos, ou simplesmente instaurar novas dimensões do real, em permanente construção.”

 

Poesia como outro lado da moeda da prosa, “região onde as coisas renunciam à sua solidão e se deixam habitar” (Cortazar) , que pode ser “uma casa tomada”, um “bestiário”, um “octaedro”.  REYNALDO DAMAZIO

 

“(...) conceito de “ubiquidade dissolvente”, que tantos desdobramentos teve no interior de sua obra ficcional, e que foi tomado precisamente de Keats para definir o modo de ser do poeta como uma espécie de camaleão movido por uma ânsia de viver que o leva a amoldar-se mimeticamente ao modo de ser de outro a cujo espaço se transporta com facilidade a ponto de nele se fundir, adotando pelos olhos alheios outro modo de olhar. Ser que anseia ser, o poeta seria capaz dessa posse do outro pela linguagem, perseguidor radical de uma plenitude ontológica que o obriga à busca e à rebeldia diante de um mundo degradado que não corresponde às suas aspirações.”  DAVI ARRIGUCCI JR, in

http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-58/cartas-julio-cortazar/misteriosa-entrega-e-mudanca-de-si-mesmo


TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS

CORTÁZAR, POETA
por

ANTONIO MIRANDA

 
 http://issuu.com/antoniomiranda/docs/cort__zar?e=1077420/32542613


OS AMANTES
 
        Tradução de José Jeronymo Rivera
 
 Quem os vê andar pela cidade
 se todos estão cegos?
 Eles se tomam as mãos: algo fala
 entre seus dedos, línguas doces
 lambem a úmida palma, correm pelas falanges,
 e acima a noite está cheia de olhos.
 
 São os amantes, sua ilha flutua à deriva
 rumo a mortes na relva, rumo a portos
 que se abrem nos lençóis.
 Tudo se desordena por entre eles,
 tudo encontra seu signo escamoteado;
 porém eles nem mesmo sabem
 que enquanto rodam em sua amarga arena
 há uma pausa na criação do nada
 o tigre é um jardim que brinca.
 
 Amanhece nos caminhões de lixo,
 começam a sair os cegos,
 o ministério abre suas portas.
 Os amantes cansados se fitam e se tocam
 uma vez mais antes de haurir o dia.
 
 Já estão vestidos, já se vão pela rua.
 E só então,
 quando estão mortos, quando estão vestidos,
 é que a cidade os recupera hipócrita
 e lhes impõe os seus deveres quotidianos.

 
 LOS AMANTES
 
 ¿Quién los ve andar por la ciudad
 si están todos ciegos?
 Ellos se toman de la mano: algo habla
 entre sus dedos, lenguas dulces
 lamen la  húmeda palma, corren por las falanges,
 y arriba está la noche llena de ojos.
 
 Son los amantes, su isla flota a la deriva
 hacia muertes de césped, hacia  puertos
 que se abren entre sábanas.
 Todo se desordena a través de ellos,
 toda encuentra su cifra escamoteada;
 pero ellos ni siquiera saben
 que mientras ruedan en su amarga arena
 hay una pausa en la obra de la nada,
 el tigre es un jardín que juega.
 
 Amanece en los carros de basura,
 empiezan a salir los ciegos,
 el ministerio abre sus puertas.
 Los amantes rendidos se miran y se tocan
 una vez más antes de oler el día.
 
 Ya están vestidos, ya se van por la calle.
 Y es sólo entonces
 cuando están muertos, cuando están vestidos,
 que la ciudad los recupera hipócrita
 y les impone los deberes cotidianos.

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Z I P   S O N N E T

         Soneto de JULIO CORTAZAR

 

de arriba abajo o bien de abajo arriba
de cima abaixo ou já de baixo acima
este camino lleva hacia sí mismo
este caminho é o mesmo em seu tropismo
simulacro de cima ante el abismo
simulacro de cimo frente o abismo
árbol que se levanta o se derriba
árvore que ora alteia ora declina

quien en la alterna imagen lo conciba
quem na dupla figura assim o imprima
será el poeta de este paroxismo
será o poeta deste paroxismo
en un amanecer de cataclismo
num desanoitecer de cataclismo
náufrago que a la arena al fin arriba
náufrago que na areia ao fim reclina

vanamente eludiendo su reflejo
iludido a eludir o seu reflexo
antagonista de la simetría
contraventor da própria simetria
para llegar hasta el dorado gajo
ao ramo de ouro erguendo o alterno braço

visionario amarrándose a un espejo
visionário a que o espelho empresta um nexo
obstinado hacedor de la poesía
refator contumaz desta poesia
de abajo arriba o bien de arriba abajo
de baixo acima ou já de cima abaixo

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(Contraversão com várias licenças
por Haroldo de Campos)

Publicado originalmente na revista ATRAVÉS. 2,
Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1978, p.104
onde o autor descreve e justifica a tradução.

De
Julio Cortázar
ÚLTIMO ROUND – tomo I

Trad. Ari Roitman e Paulina Wacht
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009

ISBN 978-85-200-0639-9

 

Os deuses

 

Os deuses caminham entre coisas pisoteadas, segurando

as pontas dos seus mantos com gesto de asco.

Entre gatos podres, entre larvas abertas e acordeões,

sentindo nas sandálias a umidade dos farrapos corrompidos,

os vômitos do tempo.

 

 

Em seu céu despido já não moram, lançados

fora de si por uma dor, um sonho turvo,

estão feridos de pesadelo e lama, parando

para recontar seus mortos, as nuvens ao contrário,

os cães de língua quebrada,

 

a espreitar invejosos o abismo

onde ratos eretos disputam chiando

pedaços de bandeiras.

 

 

VIAGEM INFINITA

para quem com seu incêndio te ilumina,
cósmico caracol de azul sonoro,
branco que vibra um címbalo de ouro,
último trecho da lâmina fina.


a mão que te busca na penumbra
se detém na tépida encruzilhada
onde musgo e coral guardam a entrada
e um rio de pirilampos te alumbra,


sim, portulano, da esmeralda o fulgor,
sirte e fanal nua mesma bandeja
quando a boca navegante beija
a poça mais profunda do teu dorso,


suave canaibalismo que devora
sua presa que o dança no abismo ermo,
oh, labirinto exato de si mesmo
onde o pavor das delícias mora


água para a sede de quem te viaja
enquanto a luz que junto ao leito vela
desce às tuas coxas sua úmida gazela
e por fim a trêmula flor escacha

 

 

 

El niño bueno

 

No sabré desatarme los zapatos y dejar que la ciudad me muerda los pies

no me emborracharé bajo los puentes, no cometeré faltas de estilo.

Acepto este destino de camisas planchadas,

llego a tiempo a los cines, cedo mi asiento a las señoras.

El largo desarreglo de los sentidos me va mal. Opto

por el dentífrico y las toallas. Me vacuno.

Mira qué pobre amante, incapaz de meterse en una fuente

para traerte un pescadito rojo

bajo la rabia de gendarmes y niñeras.

 

 

 

O bom menino

Trad. de Antonio Miranda

 

Não saberei desamarrar os sapatos e deixar que a cidade morda meus pés
não me embriagarei debaixo de pontes, nem cometerei gafes de estilo.
Aceito este destino de camisas engomadas,
chego a tempo nos cinemas, logo cedo lugar às senhoras.
A grande desordem dos sentidos me cai mal. Opto
pela pasta de dente e as toalhas. Me vacino.
Veja que pobre amante, incapaz de meter-se numa fonte
para trazer-te um peixinho vermelho
com a raiva de vigilantes  e babás.

 

 

 

“Te quiero por ceja”

 

Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores

blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz,

te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz,

voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago

y cintas que dormían en la lluvia.

 

No quiero que tengas una forma, que seas

precisamente lo que viene detrás de tu mano,

porque el agua, considera el agua, y los leones

cuando se disuelven en el azúcar de la fábula,

y los gestos, esa arquitectura de la nada,

encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.

 

Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo,

pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco

con ese pelo lacio, esa sonrisa.

 

Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino

es también la luna y el espejo,

busco esa línea que hace temblar a un hombre

en una galería de museo.

 

Además te quiero, y hace tiempo y frío.

 

 

Amo-te por sobrancelhas

 

Amo-te por sobrancelhas, por cabelo, debato-te em corredores

branquísimos onde se jogam as fontes da luz,

Discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,

vou pondo no teu cabelo cinzas de relâmpago

e fitas que dormiam na chuva.

 

Não quero que tenhas uma forma, que sejas

precisamente o que vem por trás de tua mão,

porque a água, considera a água, e os leões

quando se dissolvem no açúcar da fábula,

e os gestos, essa arquitectura do nada,

acendendo as lâmpadas a meio do encontro.

 

Tudo amanhã é a ardósia onde te invento e desenho.

pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco

com esse cabelo liso, esse sorriso.

 

Procuro a tua súmula, o bordo da taça onde o vinho

é também a lua e o espelho,

procuro essa linha que faz tremer um homem

numa galeria de museu.

 

Além disso quero-te, e faz tempo e frio.

 

(Tradutor: desconhecido, mas deve ser um português por causa da ortografia: “arquitectura”)

 

 

 

EL BREVE AMOR

O Amor Breve

Con qué tersa dulzura

Com quê tersa doçura

me levanta del lecho en que soñaba

Me levanta do leito onde sonhava

profundas plantaciones perfumadas,

Profundas plantações perfumadas

me pasea los dedos por la piel y me dibuja

Passeia os dedos na minha pele, me desenha

en el espacio, en vilo, hasta que el beso

No espaço, suspenso, até que o beijo

se posa curvo y recurrente

Repousa curvo e recorrente

para que a fuego lento empiece

Para que o fogo lento comece

la danza cadenciosa de la hoguera

A dança compassada da fogueira

tejiédose en ráfagas, en hélices,

Tecendo-se em rajadas, em hélices

ir y venir de un huracán de humo-

Ir e vir de um furacão de fumaça

(¿Por qué, después,

(Por quê, depois,

lo que queda de mí

O que resta de mim

es sólo un anegarse entre las cenizas

É só um inundar-se entre as cinzas

sin un adiós, sin nada más que el gesto

Sem um adeus, sem nada mais que o gesto

de liberar las manos ?)

De liberar as mãos?)

Tradução Aline Fagundes. Nov 2013
Fonte: http://ritmodasletras.wordpress.com/2013/11/19/poema-el-breve-amor-o-amor-breve-autor-julio-cortazar/

 

Não me deixe só diante de ti,
não me livre à noite desnuda,
à lua afiada das encruzilhadas,
a não ser mais que estes lábios que te bebem.
Quero ir a ti desde tu mesma
com  esse movimento que fustiga teu corpo,
estende-o em pleno sol com um velame negro.
Quero chegar a ti desde ti mesma,
mirando-te desde os teus olhos,
beijando-te com essa boca que me beija.
Não é possível que sejamos dois, não é possível
que sejamos
dois.

 

(Tradução: Antonio Miranda)

 

Foto extraída de:

MORDZINSKI, Daniel. A literatura na lente de Daniel Mordzinski. Textos de Adriana Lisboa e Victor Andresco. São Paulo: SESI-SP editora, 2015. 412 p. ilus. col. ISBN 978-82075-604-2 Textos em português e castelhano.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Página ampliada e republicada em novembro de 2009 - ampliada e republicada em outubro de 2014; ampliada em novembro de 2017

 

 

 

 

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