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JULIA PRILUTZKI FARNY

JULIA PRILUTZKY FARN                                (1912-2002)

Escritora argentina (nascida na Ucrânia), com diversificada obra publicada desde 1936. Sua Antología del Amor, saída em 1977, tem merecido sucessivas reedições. Data de 1983 a 21.ª edição.  

TEXTOS EN ESPAÑOL  /  TEXTOS EM PORTUGUÊS


I

Y un día, será el fin. El fin incierto:
las selvas arderán, pira salvaje;
será el fácil momento del pillaje,
la hora del terror, del desconcierto.

Ninguna nave llegará a su puerto,
y cubrirá ciudades el oleaje.
Desgarrarán las vírgenes su traje,
huirán las caravanas al desierto.

Y entonces, será el fin: rumor de enjambre
habrá, y olor de mirtos y de sangre
y un estallar creciente de querellas,

manos crispadas, bocas encendidas...
Sobre la airada cima, suspendidas,
continuarán marchando las estrellas.

2

Este miedo de ti, de mí... De todo,
miedo de lo sabido y lo entrevisto,
temor a lo esperado y lo imprevisto,
congoja ante la nube y ante el lodo.

Déjame estar. Así. ¿No te incomodo?
Abajo ya es la noche, y hoy has visto
cómo acerca el temor: aún resisto
pero me lleva a tí de extraño modo.

Déjate estar. No luches: está escrito.
Desde lejos nos llega, como un grito
o como un lerdo vértigo rugiente.

Me darás lo más dulce y más amargo:
una breve alegría, un llanto largo...
Sé que voy al dolor. Inútilmente.

3

Este miedo de estar consigo mismo,
esta necesidad de otra presencia.
Este afiebrado huir de toda ausencia,
este opaco vivir, sin heroísmo.

Sentirse triste así, pero asimismo
culpablemente triste en la apetencia:
impaciencia que busca otra impaciencia,
egoísmo que encuentra otro egoísmo.

Esta tremenda soledad lograda
frente a otra soledad inesperada,
este silencio en el silencio largo:

esta tremenda soledad furtiva
frente a su soledad definitiva:
este amor sin amor, disfraz amargo.

4

Tanto llanto de amor, llorado en vano;
tanta pasión impar, tanta premura,
tanta ansiedad inútil de aventura,
tal cansancio sabido de antemano.

Tanta fadiga de extender la mano
para alcanzar al fin tanta amargura;
tanta inquietud constante, tan oscura
esencia primordial. Tanto desgano.

Andado y desandado fue el camino,
-el corazón, inmóvil peregrino-
y así la vida, toda fue entregada.

Hoy, tal vez ni el recuerdo del olvido,
tanto fuego en ceniza convertido
y en las manos: arena, espuma... Nada.

5

No quiero esto de andar enamorado,
estar triste y alegre sin motivo,
saberse generoso y vengativo,
dormirse sin dormir. Y estar cansado.

Y sin embargo, es el acostumbrado
milagro de estar trémulo y altivo,
tanto más libre cuanto más cautivo,
tanto más rico cuanto más se ha dado.

Esto de respirar bebiendo el aire,
sentirse rey, temblar frente al desaire,
con el gesto indeciso y la mirada

más cerca o más allá del horizonte,
sufrir el sol, tratar que no tramonte,
mirar sin ver. Y ver, sin mirar nada.

6

Yo no sé todavía cómo existe,
cómo ha venido a mí y está creciendo
la indócil llamarada que no enciendo
y esta emoción que tiembla y que persiste.

No sé si estar alegre o estar triste,
ya no entiendo la voz sino el acento,
ya no busco ni espero ni presiento:
apenas sé que estoy. Que está. Que existe.

Pero cómo saber si es sólo un juego:
neblina, soledad, engaño, fuego.
¿Es un juego? Pues bien, hay que jugarlo

con una dulce complacencia esquiva
o una total entrega fugitiva.
¿Y si fuera el amor? Hay que aceptarlo.
--------------------------------------------------------------------TEXTOS EM PORTUGUÊS

Tradução de Anderson Braga Horta

I

E, um dia, será o fim. O fim incerto:
as selvas arderão, pira selvagem,
será o fácil momento da pilhagem,
a hora do terror, do desconcerto.

As naves vagarão no mar aberto,
sucumbirão cidades na voragem.
Rasgar-se-ão as virgens, farão viagem
de fuga as caravanas ao deserto.

E, então, será o fim: nos ares, langue
rumor de enxame, olor de mirto e sangue
e um estalar crescente de querelas,

crispadas mãos, bocas em fogo, pranto.
Além, no irado céu, prossegue, entanto,
a marcha inexorável das estrelas.

II

Este medo de ti, de mim... De todo
o mundo, e do sabido e do entrevisto,
temor ao esperado e ao imprevisto...
Esta angústia ante as nuvens e ante o lodo.

Deixa-me estar. Assim. Não te incomodo?
Aperta o cerco a noite, e já tens visto
como vem o temor: ainda resisto,
porém me leva a ti de estranho modo.

Deixa-te estar. Não lutes: está escrito.
De longe ele nos chega, como um grito
ou uma lerda vertigem rugiente.

Dar-me-ás o mais doce e o mais amargo:
uma breve alegria, um pranto largo...
Sei que vou para a dor. Inutilmente.

III

Este medo de estar com o próprio abismo,
esta necessidade do outro. A urgência
desta fuga febril de toda ausência.
Este opaco viver, sem heroísmo.

Sentir-se triste assim, e, em paroxismo,
culposamente triste na apetência:
impaciência que busca outra impaciência,
egoísmo que encontra outro egoísmo.

Esta tremenda solidão lograda
ante outra solidão inesperada,
este silêncio no silêncio largo:

esta tremenda solidão furtiva
diante da solidão definitiva:
este amor sem amor, disfarce amargo.

IV

Tanto pranto de amor, em vão chorado;
na alma, tanta paixão, tanta tortura,
tanta ansiedade inútil de aventura,
tal cansaço de tudo antecipado.

Fadiga de estender a mão -frustrado
gesto- e afinal colher tanta amargura;
tão constante inquietude, tão escura
essência prima. Andado e desandado,

às raias do fastio, é o destino,
-o coração, imóvel peregrino-
e assim a vida inteira consumada.

Nem memória haverá do próprio olvido:
tanto fogo hoje em cinza convertido,
e ao fim, nas mãos - areia, espuma... nada.

V

Não quero isto de andar enamorado,
estar alegre e triste sem motivo,
saber-se generoso e vingativo,
se adormir sem dormir. E estar cansado.

Não quero. E, sem embargo, é o costumado
milagre de estar trêmulo e altivo,
tanto mais livre quanto mais cativo,
mais rico quanto mais se tenha dado.

Isto de respirar bebendo os ares,
sentir-se rei, tremer ante os desares,
com o gesto indeciso e a fronte alçada

mirando um pranto incerto no horizonte,
sofrer o sol, cuidar que não transmonte,
mirar sem ver. E ver, sem mirar nada.

VI

Não sei, não sei ainda como existe,
de que modo me veio e vai crescendo
a chama sem razão que não acendo
e esta emoção que treme e que persiste.

Não sei se estar alegre ou estar triste,
já não entendo a voz, senão o acento,
não busco, não espero e já não tento:
apenas sei que estou. Que está. Que existe.

Porém como saber se é só um jogo:
neblina, solidão, engano, fogo?
Será jogo? Pois bem, há que jogá-lo

com uma doce complacência esquiva
ou uma total entrega fugitiva.
E caso fosse o amor? Há que aceitá-lo.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Tradução de Ivan Doretto

 

 

                            (SEM TÍTULO)

 

                            Tão cinza. Não estás e eu estou triste                        

                            de uma tristeza quase inexplicável

                            por palavras, e de uma imperturbável

                            solidão, que por ti nasce e resiste.

        

                            Em cinza só meu coração consiste:

                            poeira e fumo, cinza abominável

                            e essa envolvente bruma irrenunciável

                            que havia ontem. Hoje. E que persiste.

 

                            Cinza em redor. Defronte a minha mão

                            espessa nuvem vai-se abrindo em vão

                            porque o fogo que sou dorme impotente

 

                            e há névoa no que vejo e no que toco.

                            Ah! eu não sei... Talvez te odeie um pouco

                            porque está cinza e chove e estás ausente.

                                     

 

                                               *****

                                 

                                              

                            Como dizer, amor, em que momento

                            te esfumas docemente entre meus dedos,

                            sem queixas, sem lembranças, sem segredos

                            e talvez sem temor nem sofrimento.

 

                            Como tornar a amar, que sentimento

                            de elementos divinos ou profanos

                            pode reverdecer nos desenganos,

                            nesta quadra final do desalento.

 

                            Pergunta ao coração por que não crê,                                                              pergunta a meu olhar que coisas lê,

                            e ao lábio cruel, por que beijar lhe pesa,

 

                            e te dirão, por certo, da fadiga

                            do amor fiel ou da paixão mendiga,

                            da falta de esperança ou de surpresa.

 

 

 

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