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WALMIR AYALA
Walmir Félix Solano Ayala (Porto Alegre RS, 1933 - Rio de Janeiro RJ, 1991) Quando vivia no Rio de Janeiro, em minha juventude, encontrava-me com Walmir Ayala em eventos culturais da cidade, principalmente nos vernissages das gelerias de arte de Copacabana. Lia as críticas dele assiduamente. E seus poemas, de vez em quando, na imprensa literária. Não chegamos a ser amigos, infelizmente. Eu fui para a Venezuela e ele para o céu, como dizem. Agora eu volto a ele, através de sua poesia e compartilho minha admiração com os leitores. Ele merece. A.M.
Extraídos do livro Estado de Choque; a poesia de Walmir Ayala. São Paulo: Galeria Parnaso; Massao Ohno Editores, 1980. s.p.;
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De AYALA, Walmir. Águas como espadas. Poesia. São Paulo: LR Editores, Ltda., 1983. 72 p. 14x21 cm. “Prêmio Bienal Nestlê de Literatura Brasileira” 1982”. Desenho da capa: Octávio Araújo. Planejamento gráfico: Rogério Ramos. Col. A.M. (EA)
BAILE DE CARNAVAL
TODO O MAR Ferve a água no âmbito restrito
A CAÇA
Os caçadores de homens varam a noite com seus olhos de punhal. Levam os punhos cerrados cerrados e um desejo ardente de agressão. Irmãos dos delinqüentes eles vasculham os ninhos poluídos e esmagam com os saltos das botas as ninhadas perplexas.
Os caçadores e sua caça estão sobrepostos como camadas contíguas de uma mesma era de terror.
ROTA
Quem elabora estas inúteis palavras com que as coisas se ataviam, e são indagações, gritos, silêncios reticentes?
Quem, me pergunta agora sobre a hora que eu não quis habitar de qualquer signo, infladas do nada do vento? Direção cujo gosto apenas eu percebo: silenciosamente recortado, recrio o labirinto.
PASSEIO
Passeio com meu filho pelo mundo e é pouco para amá-lo este percurso. Toco seus olhos de cristal escuro e ele me vê robô, cavalo, urso. Ele me vê raiz, me desafia, briga e ama num elo conseqüente com tudo os que é real, e me anuncia.
Passeio com meu filho à luz do di, e a luz fecunda a noite que nos une num sonho latejante de silêncio. Concentro-me de amá-lo com a urna guarda a alucinação de seu perfume, e penso, piso a terra, restituo em dom de amar a amarga antecedência do filho que eu não fui e que construo.
De Poemas
O CORPO
Girasol com manga rosa pequeno corpo acendido no corpo imenso do mundo cornamusa sonorosa.
Manga rosa, manga rosa, rosa do clamor profundo rosa, de fruto e de flor.
Eu de pedra, tu de incenso. Tu de lume, eu de amargor.
Girasol com manga rosa, muletas de mudo amor, cada espádua madurando sumos •— e a rosa cravando no sono arestas do rosa na doce manga aflorando.
Girasol com manga rosa, repousa, que repousando vão os andores da santa rosa, e que te vão levando pela doçura da manga, pequena rosa que gira, sol a pino, gira, rosa mortal te dilapidando.
Girasol com manga rosa, qual o verão? Onde? Quando?.
PROTESTO
Não é no teu corpo que se imola para a ceia dos meus sentidos a vítima núbil, a áurea mola que cinge o amor recente aos idos.
Mas é também no teu corpo que corre o sangue que o meu sangue socorre.
Não é no teu corpo que se ergue a guerra fria dos meus nervos.
nem nasceram tuas transparências para a cegueira dos meus dedos.
Mas é também no teu corpo insano que perscruto meu desconforto humano.
Não é no teu corpo, nos teus olhos de fauno, que colho as minhas ditas, nem o jasmim de tua boca flore para a visão que me solicita.
Mas é também no teu corpo único que o amor à forma do Amor reúno.
Não é no teu corpo que concentro minha sede (esta sede ferina que morre de seu farto alimento e vive de quanto se elimina)
Mas é também teu corpo a medida destas águas sobre a minha ferida.
Não é no teu corpo, mas é tanto no teu corpo meu último refúgio, que amoroso e em pânico me insurjo contra a fonte que és: júbilo e pranto.
Mas é também no teu corpo o tudo da solidão em que me aclaro e escudo.
De O COMEDOR
Não sei que posição tomar sentado à mesa. O cadáver aberto à minha frente, a salsa, o azeite e o olhar de quem me chamará de hiena.
O cadáver de meu irmão, olhos vazados, posição hirta, e eu como trincar assim, todo enredado de piedade?
Garfo e faca. A lâmina se estira e nem ruído fará na polpa. Ah, bom tempero, sei de teu gosto intacto nas mandíbulas minhas, já tão cansadas desta fome.
A parte mais amorfa me contenta a que eu não saiba coxa, orelha, lombo... que te come voraz, vendo que hesito e gritarão quando cravar dente em teu corpo macio, irmã Vitela..
Saio daqui, da mesa, onde te expões nadando o molho do teu próprio sangue. Eu me recuso, pois teu osso como um cetro esmagará meu crânio deglutido, e eu, teu devorador, sendo engolido pelo acéfalo tempo, mais banquetes manterei nestas mesas imaturas.
O REINO A José Olímpio Vasconcelos Época de goiabas — no meu quarto
de estação sobrenadam o hausto farto
Assim meu quarto esta estação de aroma
e tenho para reino os meses quatro ================================================================
De
CLAVE
Quem empunha a chave Por tantos cativos? Quem meus olhos crave Vivos? Por romper a crosta por romper o vidro por sondar a asa que me sonda o ouvido.
Quem, por esta chave Me houvesse seguido.
Mas não, quanta côdea De pão preterido, Quanta água celeste Do tempo chovido! De ti, do teu nardo, Nem menor gemido.
Por isso sozinho, Amor, bebo e escuto Meu cruel desamor Não suprido.
INVENÇÃO
Se a rosa não houver imaginemos no copo uma armadura de silêncio e remos. Uma arma pousada, um frio em brasa. Se a rosa não houver cantemos: breve noite entre o pensado e o que vemos. Ali A rosa há da cor fervente chá de brasa e neve um todo ali será Se a rosa não houver cantemos. LEOPARDO
Falar de morte e haver no ar este leopardo! alvar, feroz, em seu resíduo – e rugir. e estar presente no rugido a longa triste larga floração da morte.
Falar no tempo e abrir-se a asa do infortúnio. e termos como azul a juventude, e termos o punhal do lado certo, e termos a paixão e estarmos tontos desta estação da morte que nos funda no mais alto dos pálios madureza.
Falar de morte e estar detido este leopardo
AYALA, Walmir. Êste sorrir, a morte. Poemas . Rio de Janeiro, RJ: “Organizações Simões” Editora, 1957. 48 p. 11,7x17,5 cm. “ Walmir Ayala “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília
CISMA Não era esta a face. Era a lã Tinha abaixo um rasgo Não era esta a face. Hoje esta lança, Era de lã... não como agora, Trazia-a sobre a mão, cristal de riso, Hoje soçobra em mim, por empedrados
BACK, Sylvio. Cinquenta anos. Díário do Paraná. Edição fac-similar. Capa : Guilherme Mansur. Reprodução fotográfica: Cadi Busatto. Coordenação gráfica: Rita de Cássia Solieri Brandt. Projeto gráfico: Adriana Salmazo Zavadniak. Curitiba, Paraná: Itaipu Binacional, 2011. S. p. Inclui 7 folhas dobradas 94 x 1,26 cm., com imagens de páginas do suplemento literários dos anos 1959 – 1960, acomodadas numa caixa de papelão 35x 48 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Horóscopo E se existo é que ordenam
Poema publicado em 2 de setembro de 1959
WALMIR AYALA Trad. Pilar Gómez Bedate
Extraídos de la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA, Tomo IV, septiembre 1965, número 4, p. 312-321. Edición de la Embajada de Brasil en Madrid, España.
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