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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HOMERO HOMEM
(1921-1990)

Quem viveu aqueles tempos sabe do que estou falando... O livro “O país do não chove” é o melhor exemplo do que eu intitulo “cordel engajado”. A publicação não tem data mas deve ter sido editada no segundo semestre de 1961, ou início de 1962. Dedicado ao Presidente João Goulart, por ter “talvez a última chance histórica de recuperar o Nordeste preterido, expoliado e pré-separatistas]”.  Mas Homero Homem não pode ser taxado de populista na poesia. Defendia a revolução social e também a estética “como necessidades permanentes do Homem”, fazia pregação política mas sem descuidar seu “dedo estético”, como dizia.

Certamente que sua obra ajudou a fazer história, na transição de nossa poesia que, em seu tempo, debatia-se entre os estertores do nosso melhor modernismo e os mais ativos vanguardismos e experimentalismos. É certo que já havia o trabalho independente de João Cabral de Melo Neto, com seu verso seco, a pautar a relação do modernismo (e de um certo surrealismo) com o cordel nordestino, como modelo para toda uma geração. E Homero Homem não escapava à regra mas buscava caminhos estéticos próprios. Os dois poemas escolhidos são, a nosso critério, os melhores do livro e merecem ser lidos pelas novas gerações. Sem dúvida, “Sobre Cacilda Preta. Por fome” é o melhor de todos, digno de constantes releituras.                 Antonio Miranda

Homero Homem de Siqueira Cavalcanti nasceu no Rio Grande do Norte.  

 

“HOMERO nunca existiu?
Este existe — é fato vero —
e tanto fisga a poesia
como boto, pampo ou mero”.

          Carlos Drummond de Andrade



TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

HOMEM, Homero.  O país do não chove: poesia com endereço.   s.l.: s.e., s.d.  16x24           cm.  Col. A.M. (EA)

 

 

Sobre Cacilda. Preta. Por Fome.

 

Cacilda. Preta. Por fome

(essa fome nordestina

sergipe de tão comum)

 

Cacilda preta, por fome

de comida se dá toda.

Por amor só da a um.

 

Mau comércio de Cacilda.

Cacilda dorme com todos

mas acorda sem nenhum.

 

Vigarice de Cacilda

pelas Lapas do sol posto

cavando seu desdejum:

 

se espoja em cama de vento

apaga a vela a Ogum.

O corpo vira cem pratas.

Com vinte de safadeza

Mais dez de semvergonhice

Cacilda compra pimenta.

Meia-noite janta atum.

 

Ah profissão de Cacilda

que deita por feijão preto

e nana por gerimum.

 

Deita, Cacilda. Deitada

a fome quebra o jejum.

 

Cacilda preta expedita

polvilha pele e axila.

 

Com talco leite de rosa

desodoriza o bodum.

 

Cacilda preta expedita.

Sempre fatura algum.

 

Cacilda negrinha à toa

Mulher de Cosme e Doum.

 

Com fome se dá a todos.

Jantada, só dá a um.

 

 

 

Sobre os Meios de Produção e Transporte

no País do Não Chove

 

No País do Não Chove, meu país

o principal transporte é a alpercata

no pé do rompe-légua. Quando a seca

- malino bel zebu de corno aceso

e descarnado rabo de tatu –

põe-se a chupar o chão pelo canudo

de língua fulminante de mil voltes,

morre no calcanhar do retirante

a esperança hidrelétrica do povo

chorando um São Francisco que não vem.

 

               Isso na seca. Se chove

               de Aracati a Goiana

               pela vasante dos rios

               circula a cana caiana

                puxada a carro de boi

                ou pela tração humana.

 

Já renasce a gramínea em campo verde.

Soa longe o zambê bem compassado

do trator no trabalho. Moto-bomba

cantando seu martelo agalopado

esparge o alvo lençol de uma ribeira

pelos vales e leiras e o alagado

onde singra o comício de marrecos

grasnando a uberlândia dessa várzeas

ao simplestrondo vivificador

                             do corisco invernado.

 

                 Assim é o brejo chovido

                 como o sertão lavrador.

                 Mas na costa faça sol

                 Ou verta o céu, meu senhor

 

                 - em cima de cinco paus

                 anda por mar baralhado

                 de ventos e temporais

                 um coringa pau mandado

                 sem profissão definida

                 que nasce morre na lida

                 chamada de pescador.

 

                 Com cem braças de linha

                 tecida de uma sede

                 de sangue em seu anzol

                 sonha arpoar o sol

 

                 - badejo malfazejo

                 arraia purpurina

                 moréia flamejante

                 cação descomunal –

 

                  e ir vende-lo em posta

                  nos portos desta costa

                  d´África nordestina

                  que é o nosso litoral


MINHA FILHA

 

         A Maria Elisa

 

 

Minha filha nasceu de madrugada.

Com seu canto,

um pássaro flertava a estrela-dalva

e assim nascia o dia – e minha filha.

 

Botão de rosa, pétala de choro

Ferindo cerne mãe, roseira mansa

Em ofego e trileno enraizada,

Minha filha nasceu. Pajem da aurora

 

entre roupagens lívidas, assépticas,

meu braço rude aconchegou seu grito,

claro fragor no vidro da manhã.

 

Minha filha nasceu de madrugada,

corola pequenina aberto ao próprio

pólen do pranto, selo de existir.

 

 

                   SONETO PARA ANA MARIA INFANTE

 

                   Não o leite que sugas. Nem o pão

que ainda não precisas.

Desajeitadamente minhas, são

apenas duas mãos que te seguram.

 

Apenas duas mãos, servas da gleba

e pajens de uma aurora que persigo.

Apenas duas mãos e são os leves

dados do jogo que ensaio contigo.

 

Apenas duas mãos. Mas sendo minhas

são ternuras caladas, envoltórios

e antenas de captura de teu sono.

 

Apenas duas mãos. São teus pomares

entre terras que fogem, que recolho,

que liberto de mim e que te ensino.

 

 

CANTAR DE AMOR

 

Como te louvar, Merecedora

se a teu lado

consigo apenas solfejar:

                                      te amo.

 

Te amo, digo simplesmente e estéreo-afônico

fico a repetir, te amo.

Ah, silêncio,

caverna musical dos namorados.

Dentro de ti, escrínio de meu eco

e estalactite tomba pingo a pingo

e balbucia murmura:

                            te amo.

 

Ah signo de existir.

Modulação-sonar de maravilhas

frescas e eternas como flauta & vento

muro serpe macã homem mulher;

numa casa-jardim, antigamente

alguém, inaugurando a lei da transgressão

disse a alguém — “te amo”

e tudo começou e recomeça.

Milionário da repetição,

te amo, pois, repito eternamente.

 

E esses pobres sons

audíveis só em nós, mas carregados

de luz intensa da Revelação,

são meu cantar de amor

                   ou tua voz?

 

 

HOMEM, Homem.  Rei sem sono e outros poemas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966.  100 p.  (Coleção Temposesia, 5)  11,5 x 18,3 cm.   Capa de Rubens Gerchman.

 

 

 

CANTO DO MAR

 

          A Haroldo Barbosa.

 

Sou (fui) um oceano.

Tive ilhas remotas encantadas

E golfos os mais persas: tive sórdido

Paul, área interdita

Ao comércio do peixe e da gaivota.

Memória de outro céu (Deus era esponja)

Em meu dorso de brisas circulava

Recém criado azul mediterrâneo.

Deflorava na praia a lua nova

Nasciam sernambis e pitangolas.

Meu fichário de águas guarda ainda

Atlântico cemitério onde repousam

Bujarronas, velames e sextantes

Ânforas de barro reacendendo a vinho

Espadas de Toledo

                    Torres do Tombo

                                     Ouro dos Brasis.

 

Sou (fui) um oceano:

'Rinha naval do choque de espadartes

Ravina mineral (chão da enchova)
Manjedoura do peixe cachalote         
Jardim com seus repúdios de golfinho  

Casa do parto anterior ao homem

Com suas garatéias e noticias.

 

 

 

 

HOMEM, Homero. O Luar potiguar. Poesia. 1ª. edição comemorativa do luar de  agosto.  Rio de Janeiro: Presença ; Natal: Fundação José Augusto, 1983. 
89 p.   14x21 cm. Inclui duas introduções críticas à obra poética de Homem Homem”, por Wilson Martins e  Gilberto Mendonça Teles. 

 

                      13

                       A Nilo Scatzo

 

Chegou agosto, quero ver seu rosto

de lua cheia me sorrir no ar.

Chegou agosto. Quero ver a rua

 

Toda de branco, como a madrugada

com sua entrega do leite e do pão,

na copa branca onde faz luar.

 

Chegou agosto. Quero ir ao parque

dojasmineiro que vestiu esfola

de pétala e renda e perfuma o ar.

 

Chegou agosto. Quero ver seu dente

de peixe-serra sacudir a linha

do horizonte e pular no ar.

 

Chegou agosto, quero ver seu dorso,

a barbatana, a nadadeira branca

furar a onda e se liquefazer.

 

Chegou agosto. Quero ver de novo

o peixe raro, claro de doer,

que traz nos olhos pneus de banda branca,

 

Sangra luz de farol pelas escamas.

E cada ano, a trinta e um de agosto,

numa praia deserta vai morrer.

 

 

 

 

 

HOMEM, Homero.  O Livro de Zaíra Kemper e Poesia reunida.  Rio de Janeiro: Editora  José Olympio, 1972.  201 p.  14x21 cm.  “Em convênio com o Instituto Nacional de Livro/MEC.”  Col. A.M.

 

A PASSAGEM DOS PEIXES

Em novembro no mar a calmaria
flutua em água azul uma gaivota
que por falta de vento se extenua
à passagem dos peixes e das horas.

Em novembro se faz minha jornada
vinte milhas ao sul, fora da barra
ao secreto parcel das águas claras,
mar do marlim, morada da albacora.

Em novembro do mar quando retorno
à praia carregando meu ocaso
de peixes já contados e demoras,

vinte milhas ao sul fora da barra
lanço ao mar minha tábua de marés
e me recolho a ti por uma aurora.


 

Veja também o E-BOOK: http://issuu.com/antoniomiranda/docs/homero_homem/1

HOMEM, Homero. Homero Homem.  Jaboatão, PE: Editora Guararapes, 2015.  28 p.  ilus. col.   20x13 cm. Inclui: Apresentações de Antonio Miranda e Rubens Nogueira. E o texto de Homero Homem ”Sobre Cacilda. Preta. Por fome.” Editor: Edson Guedes de Morais. Edição artesanal, tiragem muito limitada.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

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TEXTOS EN ESPAÑOL

 

POEMAS EXTRAÍDOS

de la  REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA

(N.42, DICIEMBRE 1976)

Embajada de Brasil en Madrid.

 

Traduções de HILDON ROCHA

 

MI HIJA

 

         A Maria Elisa

 

 

Mi hija nació al amanecer

en su canto,

un pájaro flirteaba com la estrella del alba.

Y así nacieron el día y mi hija.

 

Botón de rosa, pétalo de llanto,

hiriendo carne madre, rosal manso

em ahogos  y trinos enraizada,

nació mi hija, pajé de la aurora,

 

entre ropajes lívidos, asépticos,

mi rudo brazo abrigo su grito,

claro fragor em el cristal del alba.

 

Mi hija nació al amanecer,

corola pequeñita abierta al próprio

polen del llanto, marca de existência.

 

                               SONETO PARA ANA MARIA INFANTE

 

                   No es leche lo que chupas. Ni es el pan,

                   que aún no precisas:

                   desastradamente mias, son

                   apenas dos manos que te prenden.

 

                   Apenas dos manos, siervas de la gleba

                   y pajés de una aurora que persigo,

                   son apenas dos manos, son los leves

                   dados del juego que ensayo contigo.

 

                   Apenas son dos manos. Mas, por mías,

                   son calladas ternuras, envoltorios

                   y antenas de captura de tu sueño.

 

                   Son apenas dos manos. Son tus huertos

                   entre tierras que huyen, que recojo,

                   que libero de mi y que te muestro.

                  

 

                     CANCIÓN DE AMOR

 

                   !Como alabarte, Merecedora,

                   si a tu lado

                   apenas consigo solfear:

                   !te amo!

 

                   Te amo, digo simplemente; y, estereofônico*,

                   Sigo repitiendo: te amo.

                   Oh! Sslencio,

                   caverna musical de los enamorados.

Dentro de ti, estruche de mi eco,

la estalactita cae, gota a gota,

y murmura:

te amo.

                              

                               Oh! señal de existência.     

sonora modulación de maravillas

frescas y eternas como flauta y viento,

muro, sierpe, manzana hombre-mujer;

en una casa-jardín, antigumente,

alguien, inaugurando la ley de la transgresión

le dijo a alguien: “te amo”

y todo comenzó y aún recomienza.

Millionario de la repetición,

te amo, pues, repito eternamente.

 

Y esos pobres sonidos

sólo audibles en nosotros, mas cargados

de la intensa luz de la Revelación,

son mi cantar de amor

         ¿o son tu voz?

 

 

Página ampliada e republicada em novembro de 2007. Ampliada e republicada em maio de 1014.

 

 



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