A CELEBRAÇÃO DOS 35 ANOS DE CUATRO TABLAS
Aniversário de Cuatro Tablas: 35 anos. O grupo teatral peruano, liderado pelo diretor Mário Delgado, abriu as portas da nova sede da instituição (Jeronimo Balarejo, 383, Chorrillos) para a celebração. Convocou os atores fundadores, os das novas gerações, jornalistas, críticos, amigos. A sal de atos era pequena para tanta gente.
A programação incluía uma leitura dramática dos poemas de TU PAÍS ESTÁ FELIZ pelos atores novos e primevos, reconstituindo algumas canções de Xulio Formoso.
Mário Delgado abriu a sessão contando a história da agremiação, nos idos de 1971. Inicialmente, com o projeto de uma companhia teatral profissional, com Carlos Gimenez montando El Cementerio de Automóviles, de Arrabal, mas já anunciando Tu País está Feliz como o segundo espetáculo (pois já estava em cartaz em Caracas, montado pelo mesmo Carlos Gimenez, com enorme sucesso). O empreendimento da Arena foi um
escândalo, sofreu repressão oficial, causou muita polêmica com as declarações de Carlos, consideradas insultantes pelas autoridades, e dissolveu-se. Mário estava decidindo entre voltar à Venezuela, com Carlos, ou resistir no Peru, apesar das condições adversas. Decidiu formar um grupo de jovens atores e músicos para a montagem de Tu País está Feliz. Mesmo sendo uma versão mais simples, foi um tremendo sucesso. A crítica foi muito favorável, fizeram sucessivas temporadas em vários teatros de Lima, com um público que vinha várias vezes assistir ao espetáculo. Seguiram-se excursões a muitas cidades do interior.
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[Estive em Lima, em 1972, para a última função, num teatro de arena repleto. Fui direto para o local, depois de ler no jornal a notícia. Ninguém sabia de minha presença na cidade e foi emocionante conhecer o grupo naquelas circunstâncias...]
Depois montaram Oye, quando se cria o grupo Cuatro Tablas mas reconhecendo-se o 16 de setembo, da montagem de Tu País está Feliz, como a data inicial.
Mário Delgado, saudando os visitantes, leu o poema Autobiografia tardía, texto que havia sido incorporado ao espetáculo depois da estréia. Seguidamente, os atores começaram a leitura coletiva de vários poemas e reconstruíram, tentado recordar as melodias, algumas canções originais. Surpreendentemente, os jovens atores de Cuatro Tablas — que não conheciam o texto integralmente — entraram logo no espírito do espetáculo, “puxados” pelos mais experientes. Ao final, de forma entusiástica, foram aplaudidos e aplaudiram pela celebração. Então, Mário pediu para que eu lesse poemas recentes de minha autoria. Apresentei os textos de “Adiós” (em homenagem a Pedro Almodóvar) e “In Memoriam”, em um tom mais dramático do que de costume, animado pelo clima propício. Por último, o próprio Mário encerrou o ato lendo o derradeiro poema de meu livro “Perversos”.
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O resto da noite foi de abraços, depoimentos, de performances de atores presentes, apresentando monólogos, entoando canções de “Oye” e do repertório tradicional peruano. No início da madrugada, quando já estávamos muito cansados, chegou um estrepitoso e animado grupo de mariachis, como de costume na região, para culminar a celebração do evento, com rancheras em que todos começaram a dançar. Uma noite verdadeiramente memorável.
Antonio Miranda. Lima, Peru, 16 de setembro de 2006.
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