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Foto Brito: Ao centro o ator Juan Pagés e em primeiro plano Francisco Alfaro

A ORIGEM DE TU PAÍS ESTÁ FELIZ
por Antonio Miranda



Não pretendo dissertar sobre as qualidades de meu texto porque esta tarefa cabe a outros e não ao autor. Quero apenas relatar a gênese do texto e seus desdobramentos.

Os primeiros versos do poemário foram escritos no Rio de Janeiro, onde eu vivia, entre 1958 e 1966 (ano em que decidi "asilar-me" - voluntariamente - na Venezuela, graças à generosidade de uma bolsa oferecida pela Universidad Central de Venezuela - a U.C.V.). Estudava Biblioteconomia na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas o clima político no Brasil era sombrio e asfixiante, além de constituir um perigo real para mim porque estava colaborando com um jornal do Partido Comunista do Brasil, ainda que sob o pseudônimo de Da Nirham Eros. O jornal havia sido empastelado por militantes de direita.

Uma das edições do livro-programa com os textos da peça

Havia uma extraordinária efervescência cultural em Caracas, ressonância do que acontecia no mundo, no período pré e pós 1968, ano divisor do movimento estudantil em nível internacional. Havia uma reação contra o dogmatismo e uma certa rebeldia contra os postulados marxistas, principalmente depois dos episódios de Praga e também o anti-americanismo provocado pelo desgaste com a guerra do Vietnã. E a reação não vinha apenas das elites intelectuais da Europa, mas também de vanguardas nos Estados Unidos da América, com a figura-símbolo de Herbert Marcuse, de cujas leituras extraí muitas das respostas que buscava para o meu senso de independência ideológica.

Entre 1966 e 1970, estive empenhado na obtenção da licenciatura em Bibliotecologia mas também na tradução de meus textos e na escritura - ainda tímida - diretamente em espanhol, de novos trabalhos. No período citado, publiquei várias edições artesanais, tanto em mimeógrafo quando na Gráfica Remar - ver a seção "Obras publicadas" na presente página web - e comecei a divulgar alguns dos poemas que depois foram reorganizados no roteiro do espetáculo musical de Tu Pais está Feliz. Eu havia convencido o amigo Eduardo Gil, diretor do Teatro Universitário da U.C.V., a organizar o I Festival de Poesia e Canção de Protesto e recitei na oportunidade os textos dos poemas "Jesucristo estava loco" e "Tu País está Feliz". Os colegas do grupo de teatro universitário pareciam apreensivos por causa de minha inexperiência em técnicas teatrais e sobretudo por causa do meu forte sotaque de estrangeiro, mas entrei quase que "na marra" no palco. O teatro estava repleto. A irreverência dos versos causou um impacto muito positivo e consegui uma ovação consagradora. Uma das atrações do Festival foi a (ainda novata - hoje artista consagrada internacionalmente) a cantora Soledad Bravo. Repetimos a façanha em Mérida, na Universidad de los Andes.

A cantora Soledad Bravo em festival na Universidad Central de Venezuela organizado por Eduardo Gil e Antonio Miranda.

Logo que terminei meus estudos, depois de uma prolongada greve, fui primeiro trabalhar na Biblioteca Nacional de Caracas e depois na Biblioteca Pública Paul Harris, no bairro Califórnia Sur. Ali imaginei a montagem de um espetáculo como parte das atividades de animação cultural da referida biblioteca. Coloquei um anúncio à entrada do prédio convidando leitores para os ensaios. Na primeiríssima hora participaram das primeiras leituras do texto Gustavo Gutierrez, José Ramon Ortiz, Francisco Alfaro (que trabalhava na Biblioteca Nacional, Leopoldo Regnault e Enrique Serrano, todos eles jovens estudantes secundaristas ou novatos na universidade. Foi Gustavo quem me levou à casa da família de Xulio Formoso, em Chacaito e começamos de imediato as composições musicais. Eu ia dando as pautas, a idéia do "clima" da cena e Xulio ia vertendo em melodia, num improviso que durou menos de dois dias para compor a primeira dúzia de músicas!!! Havia um entusiasmo no grupo, sem falar da solidariedade e do apoio dos pais dele, de origem galega. Também foi de Gustavo a iniciativa de conversar com Carlos Giménez que dirigia a peça "Don Mendo", de Miguel Otero Silva, no Ateneo de Caracas. As tentativas com outros diretores haviam fracassado e eu seguia sozinho com o propósito de montar uma espécie de jogral.

Giménez, um dos fundadores de Rajatabla.

Carlos Giménez tinha seu próprio grupo - El Juglar, proveniente de Córdoba, Argentina e já havia feito suas turnês pela América Latina e pela Europa, com montagens de García Lorca e de outros clássicos modernos. Fora o centro de um verdadeiro escândalo com o espetáculo "La Orgia". Um enfant terrible. Maria Teresa de Otero Silva, hoje Maria Teresa Castillo, tinha-o na conta de um verdadeiro gênio, o que veio a demonstrar nos anos seguintes à frente das montagens do Ateneo que ela presidia (e continua presidindo)- a maior instituição cultural da Venezuela.

Todo mundo sabe qual foi a reação de Carlos diante de nossa proposta. Ele mesmo revelou sua primeira impressão no prefácio do folheto-programa do espetáculo. Ficou fascinado e ao mesmo tempo apreensivo diante do desafio de "povoar o tablado" com poesia e música, numa concepção teatral fora dos padrões conhecidos.

Os ensaios começaram de imediato. Fez uma seleção de atores e incluiu gente de El Juglar para consolidar o elenco da peça lírico-musical.

Eu fazia parte da Diretoria do Ateneo, na área de Biblioteca, a convite de minha amiga Blanca Alvarez, que fora minha professora na UCV e era diretora da Biblioteca Nacional, com quem trabalhava. Assim foi mais fácil chegar até à Presidência da Casa e solicitar o teatro para umas poucas apresentações do espetáculo. Maria Teresa, a Presidente, via com simpatia mas com pouca crença na potencialidade da proposta. Fazer teatro para jovens num país onde os jovens não freqüentavam muito o teatro - apesar da efervescência de grupos de teatro com jovens atores -, era um empreendimento de risco. O meu argumento era simples: o público jovem não via porque não havia uma programação voltada para ele: ou eram espetáculos para a burguesia adulta ou eram trabalhos experimentais de difícil absorção... Nós queríamos chegar aos jovens de uma forma mais direta, com os temas que os afligiam, com as caras deles no tablado, com os símbolos e signos próprios de seu contexto. Era uma fórmula arriscada mas acreditávamos que funcionaria. Eu achava que iria bem mais longe, que conseguiria empolgar, a exemplo do que acontecera com o Festival da UCV e com minhas apresentações públicas de poesia, cujos textos faziam parte do espetáculo Tu País está Feliz.

Xulio Formoso, um dos fundadores de Rajatabla.

Havia pouco tempo para a montagem e os ensaios seguiram-se em horários de grande sacrifício, nos intervalos das atividades da agenda superlotada de Carlos Gimenez, que estava com viagem marcada para Lima. Ia ao Peru a convite do jovem Mário Delgado para encenar uma peça.

Poucas horas antes da estréia, de comum acordo comigo, Carlos apresentou aos atores uma proposta ousada e desconcertante: que todos aparecessem nus na cena da canção Viajo tu cuerpo. Era uma proposta ousada para a época (estávamos no início da década de 1970) e com o agravante de que a estréia seria assistida sobretudo por convidados, por familiares do atores, namoradas, colegas de trabalho ou de escola, vizinhos... Havíamos vendido muitas das entradas do espetáculo, com antecedência, para garantir público na abertura... A capacidade de convencimento de Carlos vinha de seu carisma e de sua autoridade. Causava admiração e medo, fascínio e pavor por seu temperamento explosivo e seu nervosismo criador. Ele conseguiu persuadir as resistências dos atores mais jovens - os de seu grupo El Juglar já estavam catequizados por sua forte liderança - com a garantia de que as luzes seriam discretas, mascarando um pouco o impacto. Na apresentação deu-se exatamente o contrario: as luzes foram reforçadas e a cena, muito longa, causou estupor. A genialidade de Carlos levou-o a prever um "apagão" (blackout) em seguida à cena do desnudo, para quebrar o impacto, e a catarse veio em forma de uma esplêndida ovação no anonimato da escuridão.

As críticas nos jornais foram consagradoras. Todos os grandes críticos e articulistas devotaram páginas de elogios ao espetáculo, de forma entusiástica, desde os grandes jornais como El Nacional e El Universal até as revistas de frivolidades. Críticos como Sofia Imbert, Ruben Monastérios, Guillermo Korn e José Vicente Rangel (atual vice-presidente da Venezuela, à época jornalista e crítico combativo) publicaram textos laudatórios que são recolhidos na presente página em continuação ao presente Testemunho.

Carlos Gimenez viajou para Lima e Mário Delgado, que havia assistido à estréia de Tu País... decidiu montar, para a fundação de seu grupo teatro CUATRO TABLAS, o mesmo espetáculo (Tu Páis Está Feliz), mas com músicas recompostas por um compositor local, de sonoridade mais andina Obteve também um grande êxito de público e de crítica, como assinalaremos mais adiante.

As apresentações de Tu País está Feliz no Ateneo sucederam-se com renovado sucesso, atraindo um grande público. Passou dos horários alternativos (era apresentado aos sábados mas tarde da noite, depois das apresentações de Don Mendo, com um público que ficava à espera, no café do Ateneo e nas imediações, até a abertura da sala). Houve também apresentações ao domingos pela manhã, um horário que coincidia com o costume dos caraquenhos de visitarem museus na área, naquele horário, completando o trajeto para sessões de teatro infantil, com os filhos, às 11 horas...

Como estava previsto, grandes filas de jovens disputavam as entradas para as sessões e, surpreendentemente, vinham ver o espetáculo mais de uma vez... Voltavam com amigos, alguns durante semanas seguidas. Era como um ponto de encontro, como um movimento de idéias. Participavam das apresentações, gritavam e, não raras vezes, subiam ao palco para ler manifestos e para protestar contra tudo, até contra o "aburguesamento" do Ateneu... Os tempos eram de contestação e protesta, depois de 1968. As ortodoxias marxistas estavam em crise, a repressão era violenta contras as guerrilhas, o patrulhamento ideológico das esquerdas era generalizado. A direita e a extrema esquerda viam o espetáculo com grandes reservas... Era uma ruptura de valores, a mensagem ia ao encontro dos anseios de abertura e mudança de mentalidade que não eram exclusivos da Venezuela, que eram uma constante no mundo da época. Eram anos rebeldes, de quebra de valores e de demolição de tabus e também de ismos políticos hegemônicos.

Uma estratégia considerada simpática e efetiva foi a publicação de um programa contendo o texto do espetáculo - poemas e canções -, a preço acessível, impresso por minha conta e risco mas em benefício do grupo. Saíram várias edições consecutivas, uma delas em Porto Rico, quando da participação em festival de teatro de que saímos vencedores.

Os convites para viagens e apresentações ao interior da Venezuela foram constantes nos anos de 1971 e 1972, incluindo Maracaibo, San Cristóbal, Mérida, Valencia, La Guayana, Barquisimeto, etc. com o mesmo público jovem de sempre mas, também, público de todas as idades. Não obstante a cena do desnudo total e de alguns versos mais ou menos transgressores dos valores cristãos e morais da época, o espetáculo não sofreu censura e até crianças eram levadas a vê-lo por pais mais progressistas.





 

 

 
 
 
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