Caracol estrelado
Deslizaste depois da chuva
Depois da chuva de prata
As estrelas com seus ossos
Sós construíram-te uma casa
Aonde levas sobre uma toalha
O tempo capenga te persegue
Para alcançar-te para esmagar-te
Estende os chifres caracol
Te arrastas por uma face gigante
Que jamais hás de fitar
Direito para a boca do nada
Retorna à linha da vida
À minha palma de mão sonhada
Enquanto não é tarde demais
E deixa-me como herança
A toalha mágica de prata
Belgrado
Osso branco entre nuvens
Brotas de tua fogueira
Do túmulo rearado
Da poeira dispersa
Brotas do teu sumidouro
O sol te guarda
No alto em sua arca
Áurea acima do ladrara dos séculos
E leva-te aos esponsais
Do quarto rio do Paraíso
Com o trigésimo sexto rio terrestre
Osso branco entre nuvens
Osso de nossos ossos
(1965-1971)
Canção porta-paz
Guerreiros limpam armas
E vangloriam-se da batalha
Que venceram amanhã
Que vencerão ontem
Cantoras brindam a canção com vinho
De dentro da nuvem de glória
Sóbria a nação resiste
Queixa-se para si mesma
Cantores são pedra preciosa na canção
Guerreiros serpente de fogo
Que pacifica e gera e devora
A canção é vento na canção
Derradeiro vento porta-chamas
Guerreiros com cantores voam
Na nuvem ébria de glória
E entoam a canção que não ouvem
1963
Dragão no ventre
Dragão de fogo no ventre
Dentro do dragão caverna rubra
Dentro da caverna cordeiro branco
Dentro do cordeiro céu amigo
Alimentamos o dragão sem terra
Quisemos domá-lo
E roubar o céu amigo
Ficamos sem terra
Não sabíamos mais aonde ir
Montamos na cauda do dragão
O dragão fitou-nos furioso
Revimos assustados nossas faces
Nos olhos do dragão
Saltamos na goela do dragão
Agachamo-nos atrás do seus dentes
E esperamos que o fogo nos salvasse
O sol da meia-noite
Do ovo negro gigante
Brotou um sol qualquer
Reluziu-nos nas costelas
Escancarou o céu
Em nosso peito órfão
Não se pôs
Tampouco despontou
Tudo em nós aurificou
Nada esverdeou
Em torno de nós
Em torno do ouro
No coração vivo
Tornou-se nossa lápide
PÁGINA ABERTA – REVISTA DE LITERATURA, ARTES E CIÊNCIAS. 1 / 2010 Diretor: Arnaldo Paiva – Editor: Rosalvo Acioli Júnior. Maceió, Alagoas: 2010. 62 p.
Ex. bibl. Antonio Miranda
O pão do poeta
Apenas nos conhecemos
Dom José Luís me perguntou
como se dizia pão em minha língua.
Juntava talvez alimentos
de todos os meridianos
para algum novo poema.
Ou queria sentir em seus lábios
o gosto da crocante palavra eslava.
Quando depois de muitos anos
voltamos a encontrar-nos em algum parte
repetiu triunfante a palavras.
Teria o rosto iluminado do homem
que havia olhado a áurea moeda oculta
na migalha de um pão universal.
Buenos Aires, 1987
(Tradução de Rosalvo Acioli Jùnior)
*
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Página publicada em abril de 2023