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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

VASKO POPA

 

Vasko Popa, cirílico sérvio: Васко Попа, (Grébenatz, atual Sérvia, Voivodina, 29 de junho de 1922 — Belgrado, 5 de janeiro de 1991), foi um dos mais representativos poetas da Iugoslávia, muito reconhecido na Europa, e admirado por poetas e teóricos como Sophia de Mello Breyner e Octavio Paz. Segundo Haroldo de Campos, é “um dos maiores poetas da Iugoslávia e figura marcante no cenário poético internacional".   Mais na Wikipedia.

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE. Número 29.  Ano 15.  No. 29. 2008.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional,  2008.     Editor: Marco Lucchesi. ISSN 0104-0626.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                   Tradução de ALEKSANSAR JOVANOVIC

 


Caracol estrelado

         Deslizaste depois da chuva
Depois da chuva de prata

         As estrelas com seus ossos
Sós construíram-te uma casa
Aonde levas sobre uma toalha

         O tempo capenga te persegue
Para alcançar-te para esmagar-te
Estende os chifres caracol

         Te arrastas por uma face gigante
Que jamais hás de fitar
Direito para a boca do nada

         Retorna à linha da vida
À minha palma de mão sonhada
Enquanto não é tarde demais

         E deixa-me como herança
A toalha mágica de prata

 

         Belgrado

        Osso branco entre nuvens

Brotas de tua fogueira
Do túmulo rearado
Da poeira dispersa

         Brotas do teu sumidouro

         O sol te guarda
No alto em sua arca
Áurea acima do ladrara dos séculos

         E leva-te aos esponsais
Do quarto rio do Paraíso
Com o trigésimo sexto rio terrestre

         Osso branco entre nuvens
Osso de nossos ossos

                                               (1965-1971)

 

            Canção porta-paz

        Guerreiros limpam armas
E vangloriam-se da batalha
Que venceram amanhã
Que vencerão ontem

         Cantoras brindam a canção com vinho
De dentro da nuvem de glória

         Sóbria a nação resiste
Queixa-se para si mesma

         Cantores são pedra preciosa na canção
Guerreiros serpente de fogo
Que pacifica e gera e devora

         A canção é vento na canção
Derradeiro vento porta-chamas

         Guerreiros com cantores voam
Na nuvem ébria de glória
E entoam a canção que não ouvem

                                                                  1963

 

            Dragão no ventre

        Dragão de fogo no ventre
Dentro do dragão caverna rubra
Dentro da caverna cordeiro branco
Dentro do cordeiro céu amigo

         Alimentamos o dragão sem terra
Quisemos domá-lo
E roubar o céu amigo

         Ficamos sem terra
Não sabíamos mais aonde ir
Montamos na cauda do dragão

         O dragão fitou-nos furioso
Revimos assustados nossas faces
Nos olhos do dragão

         Saltamos na goela do dragão
Agachamo-nos atrás do seus dentes
E esperamos que o fogo nos salvasse

 

         O sol da meia-noite

        Do ovo negro gigante
Brotou um sol qualquer

         Reluziu-nos nas costelas
Escancarou o céu
Em nosso peito órfão

         Não se pôs
Tampouco despontou

         Tudo em nós aurificou
Nada esverdeou
Em torno de nós
Em torno do ouro

         No coração vivo
Tornou-se nossa lápide

PÁGINA ABERTA – REVISTA DE LITERATURA, ARTES E CIÊNCIAS.  1 / 2010             Diretor: Arnaldo Paiva – Editor: Rosalvo Acioli Júnior.  Maceió, Alagoas: 2010.  62 p. 
Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

                O pão do poeta

Apenas nos conhecemos
Dom José Luís me perguntou
como se dizia pão em minha língua.

Juntava talvez alimentos
de todos os meridianos
para algum novo poema.

Ou queria sentir em seus lábios
o gosto da crocante palavra eslava.

Quando depois de muitos anos
voltamos a encontrar-nos em algum parte
repetiu triunfante a palavras.

Teria o rosto iluminado do homem
que havia olhado a áurea moeda oculta
na migalha de um pão universal.

Buenos Aires, 1987


(Tradução de Rosalvo Acioli Jùnior)

*

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/poesiamundialportugues.html

 

Página publicada em abril de 2023


 

 

Página publicada em julho de 2018

 


 

 

 
 
 
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