POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
SVETLANA MAKAROVIC
Svetlana Makarovič , poeta eslovena , escritora , atriz , ilustradora e chansoner , nasceu a 1 de janeiro de 1939 , Maribor .
Na Eslovênia, é famosa como autora para adultos e adolescentes. Seus textos de juventude tornaram-se parte dos clássicos contemporâneos e cânones da juventude, que têm um lugar especial na história da literatura juvenil eslovena.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista semestral de poesia. Ano 8 Numero 13 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional. Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. Editor executivo: Ivan Junqueira. Ex. bibl. Antonio Miranda
Traduções de Jasmina Markic:
Serpente
Dois não são duas vezes um só.
Dois não são mais. São duas vezes menos.
Esta multidão que sorri,
esta multidão que apedreja,
esta multidão de dois em dois
nas caldeiras da cunhadia do diabo,
nos ninhos de ódio das fêmeas,
nos óvulos inchados das mulheres.
E você observa a terra e o céu,
talvez não seja assim,
mas com olhos de serpente você
vê como repta e espreita,
como achata e se amassa, ameaça,
olha a serpente, segura-a, mata-a, despedaça-a,
e volta a dissimular, morde a terra
suplicando as sobras da mesa
e reza e rende graças
esta multidão, esta multidão
que gritava crucifica-o.
A manhã
Caminhas cuidadosamente entre os fragmentos do sonho.
As estrelas, grandes, pálidas e doces,
desvanecem-se no úmido amanhecer.
Umas mãos pálidas desembrulham a noite.
Timidamente sorves prata
da copa da madrugada.
Os rostos cinzentos da noite cinza,
rostos cegos encaram a cor cinza
e morrem
apoiados no teu ombro.
Caminha com cuidado.
Exalam algo amargo
as ervas da manhã.
Janeiro
Enormes são os poliedros do silêncio
em cima dos telhados mortos.
O silêncio do ar congelado
entre as ruas inconscientes.
O silêncio das caveiras brancas entre a ramagem.
Pela goteira caiu
uma mão de prata.
Endurecida, aponta para a morte.
Os pombos dormem, miúdos,
detrás de centelhantes cortinas de medo.
Página publicada em junho de 2018
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