POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
PÉRSIO
Aulo Pérsio Flaco (em latim: Aulus Persius Flaccus; Volterra, 4 de dezembro de 34 d.C — Roma, 24 de novembro de 62 d.C.), também conhecido apenas como Pérsio, foi um poeta satírico da Roma Antiga, adepto do estoicismo.
De origem etrusca, mostrou em suas obras, poemas e sátiras, uma visão de mundo estoica, aliada a um senso crítico forte contra os abusos de seus contemporâneos. Seus textos, que foram especialmente populares na Idade Média, só foram publicados após a sua morte, por seu amigo e mentor, o filósofo estoico Lúcio Aneu Cornuto.
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POESIA – 1º. Volume. Seleção e prefácio de Ary de Mesquita. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc., 1952. 392 p. (Clássicos Jackson, volume XXXVIII) capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
SÁTIRA IV
(Tradução de Martins Ramos)
Governas a república, ó aluno
De Péricles famoso! (O sábio mestre
De intonsa barba, que expirando a taça
Propina da cicuta, crê te fala).
Em que confias? Sabes, tem prudência
Prematura, lugar às coisas dando?
Conspira o povo, acomodá-lo sabes,
Erguendo a régia destra, e o mundo empregas?
Depois que dizes! Meus romanos julgo
Isto bem, mau aquilo, estoutro belo.
Sabes pôr na balança o justo meio;
Dos mares falha ou não a regra,
Formando sem escrúpulo a sentença
Com fatal Teta ao depravado crime?
Dessa beleza vão todo ocupado,
Por que da plebe buscas o sufrágio
Atrair desde já? Melhor fizeras,
Co´ heléboro em purgar a insânia tua,
Para ti o Bem Sumo em que consiste?
Farto viver, de unguentos delibuto,
E ao sol o corpo anunciar mimoso?
Isso mesmo te diz aquela velha.
De Dinómaques sou formosa prole,
De impostura arrotando, enche as bochechas:
Quanto ao saber estás no mesmo estado
Que a esfarrapada Baucis, que aos serventes
Manjericões lascivos apregoa.
Ninguém quer ver em defeitos próprios!
Mas no alforje repara que outro leva!
Perguntas: sabes de Vetídio os prédios?
Ah! tem ele uma herdade entre os sabinos,
Que um milhafre não vê voando um dia.
É um avaro, a si infesto e aos deuses:
Nas festas compitais, largando o arado,
Chora de abrir da antiga talha o vinho,
Dizendo: — que me faça bom proveito; —
Com casca e sal devora uma cebola,
De migas e panela não falece
Que gostosos os servos muito aplaudem;
De um mau vinagre ledo esgota as borras.
De unguento odoroso, ao sol deitado,
Se tranquilos estiveres, um estranho
Virá que os podres te descubra e os vícios
Sem compaixão avilte os mais arcanos:
“Que cometendo os mais impuros actos;
De perdida mulher o sexo imitas:
De óleo cheiroso penteando as barbas,
No mais só queres parecer infante.
Sem que essa habilidade atletas cento,
Nem do mundo as torqueses e os arados
Sejam bastantes por cumprir-te os votos”.
Ferimos, lugar dando a que nos firam.
Ferimos, lugar dando a que nos firam.
Tal é do mundo a sorte! Assim te vemos!
Oculta chaga as vísceras te rasga,
Mas de ouro o rico e largo cinto a cobre;
Nega o mal teu; ilude-te se podes.
Se a vizinhança em teu louvor se esmera!
Vil: se a cor mudas, de dinheiro á vista;
Se entregue vives à torpeza infame;
Se os devedores teus oprimes tanto;
Debalde aquistarás do povo encómios.
Não sejas impostor, e à vil canalha,
Deixa infame o louvor: volve em ti mesmo,
E acharás de virtude quanto és pobre.
Página publicada em agosto de 2020
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