POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
MO MO
Mo Mo é o pseudônimo adotado por Zhu Weiguo (Shanghai, 1964), poeta que iniciou sua produção literária na década de 1980. Colaborou com Meng Lang e Chen Dondong em várias iniciativas artísticas e editoriais.
POESIA SEMPRE Número 27 – Ano 14 – 2007 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Volta para casa
Há muito não volto para casa, erram os pés
mil lis ao dia entre vento e pó sem conseguir expulsar a solidão
esqueci de voltar para casa, o coração errante
tudo pensei, tudo fiz
o sonho me leva pela mão a errar,
tão longe de casa
terras sem estradas, sem homens, eu as atravessei todas
enfim, perdi a estrada e cheguei à porta de casa.
A porta aborrecida me dá as costas
a fénix na maçaneta já se gastou
não consigo encontrar a chave
eu a perdi faz tempo
num bosque de bétulas por onde desaparecia silenciosa a luz
não consigo encontrar um sentimento sufocado entre soluços
atrás dos raios de sol a janela salpicada de manchas
me reconhece mas não me acolhe,
volto e permaneço longamente diante da casa
lágrimas indescritíveis
ergo as mãos, mas fico longamente sem bater
não consigo chamar pelo teu nome que move o coração
Amada, quantas armadilhas, quantos insondáveis complôs eu venci
quantos pântanos atravessei, amada, quanta sedução irresistível
com quantos escorpiões volteadores lutei, amada, e quantas pontes
vi subitamente
destruídas
Hoje finalmente voltei a teu lado
aquece de novo meus dedos tão frios
Voltei para casa, magro como um precipício
como quem tudo venceu
como quem tudo perdeu
que mais dizer?
Nas tuas faces vermelhas se espelha o brilho das lágrimas
Finalmente descubro, amada, finalmente descubro.
amada, que te amo acima de tudo
que mais dizer?
Comer, dormir, beijar-te com saciedade
quero vagar esta noite em teu seio abandonar-me como flor caída na
corrente
até que a rotação terrestre
já não consiga mover outra vez esta casa pensante
Página publicada em fevereiro de 2019
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