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TECNOPOESIA

Conceituação na tese de
Jorge Luiz Antonio

Jorge Luis Antonio defendeu tese de doutorado sobre Poesia Eletrônica na Pontificia Universidade de São Paulo (PUC/SP) em 2005 e adaptou o texto acadêmico em livro publicado em 2008, com prefácios do português E. M. de Melo e Castro e Chris Funkhourser, dois renomados especialistas no assunto. Já publicamos nesta página o magnífico prefácio do Melo e Castro que deve ser lido. MAS RECOMENDAMOS a leitura de todo o livro, por ser a mais ampla e atualizada, se não única, fonte de conhecimentos sobre a poesia em sua relação com a tecnologia em nossa língua, pelo menos a mais atualizada. Imperdível para quem quiser conhecer e/ou atualizar-se sobre o tema:

TECNOPOESIA

De
Jorge Luiz Antonio
POESIA ELETRÔNICA
negociações com os processos digitais

São Paulo: FAPESP; Itu, SP: Autor; Belo Horizonte,
 MG: Veredas e Cenarios, 2008. Livro e cd-rom.

ISBN 978-85-61508-02-9

[fragmentos da parte introdutória da obra]

“Há um elemento essencial em comum entre essa poesia e os tipos anteriores (poesia oral, manuscrita, impressa, tridimensional, performática, por exemplo): é a palavra, signo plurissignificativo e transgressor que lhe dá a motivação predominante, mas há determinados traços que a diferenciam das demais, especialmente quanto ao suporte e às relações que tem com eles.” (ANTONIO, p. 18)

Além da problemática que envolve o termo, há a questão do conceito de poesia eletrônica, cujas fronteiras podem ser delineadas:

a) a poesia impressa passa a circular nos meios eletrônico-digitais, mas pouco (configuração de espaço, forma de leitura) se transforma, porque utiliza o novo meio como forma diferenciada de armazenamento de dados e facilidade de divulgação; (...)
e) a crescente utilização do hipertexto e surgimento da WWW marcam um novo espaço para a realização e divulgação da poesia eletrônica, espaço esse que vem sendo enriquecido com o desenvolvimento constante da realidade virtual, do uso conjunto de palavras, imagens, sons e movimentos no ciberespaço, o que tem sido visto como uma vocação natural da poesia: o signo verbal aponta para o visual, para o sonoro, para o cinético, ou seja, aquilo que Barthes denominou de função utópica da literatura (BARTHES, 1995, P. 22-23)” (ANTONIO, op. cit. p. 19)


Dentre as hipóteses apresentadas pelo autor:

“5) Ocorre a mudança de predomínio da linguagem (JAKOBSON, 1975): a linguagem científica e/ou tecnológica (função referencial) passa a ser poética (função poética). “(op. cit. p. 20)

“É dentro desse panorama que se desenrola o presente estudo, que enfoca as negociações semióticas da poesia com os processos digitais.” (Op. cit, p. 21)

 

 

A mediação dos signos e códigos verbais e não verbais possibilita a existência de uma linguagem poética, essencialmente verbal, não mais apenas potencializadora, indicial e icônica das linguagens não verbais, mas agora uma linguagem híbrida ou interagente.

 

Assim, a palavra/ essência da poesia, negocia: com a imagem e os grafismos da letra e da palavra manuscrita ou manipulada graficamente e interfere neles, para a produção da poesia visual; com o som, para produzir efeitos sonoros (poesia sonora); com a animação, para produzir movimentos de palavras, letras e imagens (poesia animada); com o espaço físico, para a poesia tridimensional.

A poesia interfere na simulação realizada pela tecnologia computacional e chega a tecnopoesia/ que passa a ter existência no espaço simbólico do computador/ individualmente, ou dos computadores em rede. (Opus cit, p. 24)

“Poesia e computador realizam um ato semiótico, em que a primeira é a representante de uma tradição da arte da palavra, e o segundo, um aparelho eletrônico/ uma maquina programável que estoca e recupera dados e executa operações lógicas e matemáticas numa grande velocidade, mas que também oferece possibilidades de mediação, intervenção e transmutação, produzindo signos, significações.

 

A semiose é o resultado desse "encontro", e as significações que poesia e tecnologia computacional produzem é o que denominamos de tecnopoesia, com o objetivo de firmar a idéia de que é a poesia que produz significados e não a tecnologia computacional em si mesma, como se costuma pensar quando se fala no assunto. Embora seja feita com o auxílio de uma maquina, a tecnopoesia não é uma poesia maquínica, mas sim urna atitude reflexiva, urna manifestação

a respeito da tecnologia computacional, sob o ponto de vista do poeta. E a poetização da tecnologia computacional.

 

E por isso que podemos afirmar que a tecnopoesia é o procedimento do poeta sintonizado com as tecnologias do seu tempo, e isso pode ser estudado também sob o viés histórico.´´(op. cit, p. 25)

 

“Trata-se, pois, de uma poesia que se serve dos recursos eletrônico-digitais da informática para ambientar a palavra no contexto potencial da sua verbo-voco-moto-visualidade.” (op. cit, p. 25)

 

0 tecnopoeta se coloca, qual o poeta romântico, como um tecno-demiurgo. A reação do poeta romântico contra a Revolução Industrial, criando um mundo subjetivo, ideal, paradisíaco, se assemelha a do tecnopoeta que, face ao tecnopolio que se mostra avassalador, transforma o mundo tecnocentrista em linguagem poética. A questão central é subverter a linguagem tecnológica, transformá-la em

tecnopoética. Assim, a cultura não se rende a tecnologia, mas sofre a intervenção do poeta, que faz dela uma outra forma de comunicação poética. Ocorre, assim, uma poetização da tecnologia computacional.

 

Para procurar entender a tecnopoesia, apropriamo-nos do conceito de operadores da poesia experimental (semântico, fônico/ morfogênico e visual ou icônico) (PADIN, 2000, p. 209-223), que se baseou nos operadores semânticos e fônicos da poesia verbal (J. COHEN, 1974), para considerá-lo como operadores tecnopoéticos, ou seja, trocas, relações, interrelações, contribuições/ conversões/ transposições, migrações, mediações, adaptações, configurações, transmutações e intervenções

realizadas entre as linguagens poéticas, artísticas e tecnológicas, sob o enfoque predominante da (tecno)poesia ou poesia eletrônica.”  (op. cit, p. 26)

 

“Essa vivência na sociedade tecnológica oferece ao poeta signos verbais e não verbais que passam a fazer parte do seu universo pessoal e, depois, poético. A linguagem das máquinas oferece novas interfaces que motivam o poeta a criar novas relações, novos signos, em suma, novas negociações semióticas.” (...)
“ A atitude do poeta é a de quem vai transformar as linguagens interagentes da poesia e da tecnologia em elementos estruturais comuns por meio da mediação sígnica, campo no qual o poeta vai intervir e produzir a tecnopoesia.” (op. cit, p. 27

 

Jorge Luiz Antonio fez perguntas aos tecnopoetas do universo de sua pesquisa e chegou ao seguinte resultado quanto às motivações do uso da tecnologia:

 

 

a) ele é, acima de tudo, poeta, com ou sem a tecnologia;

 

b) a tecnologia se apresenta corno recursos que auxiliam a criação poética;

 

c) a tecnologia possibilita a realização de muitas potencialidades da poesia;

 

d) a tecnologia é novidade que oferece novas formas de pensar e de fazer poesia;

 

e) a rapidez e a facilidade de atualização que a tecnologia oferece trazem novos leitores potenciais para a poesia;

 

f) a tecnologia oferece a possibilidade de realizar, num mesmo (ciber)espaço, a vocação "natural" da poesia: a fusão da palavra, da imagem, do som e da animação, elementos potenciais na poesia verbal;

 

g) a tecnologia possibilita a interdisciplinaridade antes conseguida com muito mais estorço, pois o poeta, por exemplo, teria de estudar pintura para criar um poema que abrangesse as duas áreas, ou estabelecer uma parceria para fazer uma poesia com um pintor, músico ou escultor.” (op. cit. p. 35

 

 

“As palavras, imagens, sons e animações são linguagens verbais, visuais, sonoras e cinéticas que expressam diferentes artes individualmente: a arte da palavra, artes plásticas, artes sonoras, artes cinéticas. No caso da tecnopoesia, essas  linguagens se apresentam em conjunto, mas há o predomínio da linguagem poética (verbal) sobre as outras.” (op. cit., p. 36)

“A relação entre esses componentes não é referencial, ilustrativa ou definidora, porque o conjunto sugere a compreensão de muitos outros significados. É intencionalmente polissêmica. Traz o conceito einsensteniano de montagem e produz novos contextos: “A simples combinação de dois ou três pormenores de tipo material produz uma representação perfeitamente acabada de uma outra espécie — psicológica” (EISENSTEIN, 1986)” (op. cit, p. 38)

 

 

Aqui apresentamos apenas alguns fragmentos do livro. Outros capítulos ampliam e aprofundam a discussão da relação entre poesia e tecnologia, até concentrar-se no objeto focal da Poesia eletrônica, apoiada em exemplos expostos no CD. Uma obra imprescindível para quem deseje entender essa prática poética contemporânea.   A.M.

 

Veja mais:

 

Jorge Luiz Antonio
Brazilian Digital Art and Poetry on the Web
www.vispo.com/misc/BrazilianDigitalPoetry.htm
Poesia eletrônica / Electronic Poetry
http://jlantonio.blog.uol.com.br

 

 

 

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