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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Foto: https://rascunho.com.br 

MARCELINO FREIRE

( Brasil – Pernambuco )

 

Nascido em Sertânia, no estado de Pernambuco, muda-se com a família para Paulo Afonso, Bahia, em 1969. Lá permanece por seis anos, até voltar para Pernambuco e radicar-se na capital, Recife, onde começa a fazer teatro. Em 1981, escreve os primeiros textos do gênero e participa juntamente com artistas plásticos e escritores Adrienne Myrtes, Denis Maerlant, Jobalo, Pedro Paulo Rodrigues e Regi So Ares, do grupo POETAS HUMANOS, fundamental para sua formação artística. Ao longo da década de 1980, trabalha como bancário e inicia o curso de Letras na Universidade Católica de Pernambuco, sem concluí-lo. Em 1989, freqüenta a oficina literária do escritor Raimundo Carrero e, dois anos depois, é premiado pelo governo do Estado de Pernambuco. Decide mudar-se para a cidade de São Paulo em 1991 e publica, de forma independente, seus dois primeiros livros: AcRústico, de 1995 e EraOdito, de 1998. Em 2000, publica o livro de contos Angu de Sangue.

Em 2002, Marcelino idealizou e editou a Coleção 5 Minutinhos, inaugurando com ela o selo eraOdito editOra. É um dos editores da PS:SP, revista de prosa lançada em maio de 2003, e um dos contistas em destaque nas antologias Geração 90 (2001) e Os Transgressores (2003), publicadas pela Boitempo Editorial.

Livros publicados: EraOdito (aforismos, 2ª edição, 2002); Angu de Sangue (contos, Ateliê Editorial, 2000); BaléRalé (contos, Ateliê Editorial, 2003); Contos Negreiros (contos, Editora Record, 2005); Rasif - Mar que Arrebenta (contos, Editora Edith, 2008); Amar é crime (contos, Editora Edith, 2010); Nossos ossos (romance, Editora Record, 2013); Bagageiro (ensaios, Editora José Olympio, 2018).

Biografia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelino_Freire

 

FREIRE, Marcelino.   Mar que arrebenta.  Gravuras: Manu Maltez. Rio de Janeiro:          Record, 2008.  133 p.  capa capa dura.  ISBN 978-85-01-07252-8                                       Ex. bibl. Antonio Miranda



Imagem de SERTÂNIA – Pernambuco

 


O FUTURO QUE ME ESPERA

       Tenho saudades de Sertânia.  
  
Saudades de Catolé, Canindé. Saudades
 de Sairé. Saudades de batucajé.  Do acarajé.
 De Nazaré da Mata.  
      
Saudades do tumbança. Do papangu,
 do maracatu de lança. Saudades do Carnaval.
 Do fandango e da ciranda.
       Do malungo. Saudades do malonga.
 Tenho saudades da Mãe Valéria. Saudades
 da macumba. Saudades de macauã.
 Da macaxeira-pacaré. Saudades do lelê
 ou lelelé.
       Saudades do jurupari. Da jurema.
 Saudades ddo goiamum Saudades do
 cramondongue. Saudades de Caruaru.
 Do ponche de caju.
       Saudades da Princesa Magalona.
 Da piripiroca. Saudade da moloca.
 Do queijo coalho. Saudades da tapioca.
 Saudades do quilombo. Da quimbanda.
 Do reco-reco. Saudades da rapadura.
 Saudades da meladura. Da moqueca.
       Tenho saudades da pitomba. Da canjica.
 Saudades da macambira. Saudades da bodega.
 Saudades da pacaia. Da trepaça. Daquela
 bangafumenga. Saudades da banguela.
       Daquela coisa brega. Chinfrim. Saudades
 de Quixeramobimm. De Paulo Afonso. Saudades
 da pirraia. Do bruguleo. De dona Carminha
 e seu Antonio. Do cobogó e da cocada.
 Tenho saudades de uma noite de festa.
       Mateus e Catirina. Do azul e do encarnado.
 Saudades do canário. Do galo-de-campina.
 Do boi-barroso. Do arco de pelouros.
       Saudades da bernúncia. Saudades
 da zabumba. Do Zé do Vale e Zé Pereira.
 Do Zé Limeira. Saudades do violão e da viola.
 Saudades da graviola. Pitanga, umbu.
 Cajá, maracujá.
       Saudades da Lia. Da lua de Itamaracá.
 Saudades do Cariri, Sertão do Pajeú. Saudades
 do açude. Do lodo da cachoeira. Saudades
 da beleza pura. Da tardinha. Do pender do sol.
       Saudades do amanhecer. Pra que pressa,
 pra quê? Saudades da tipoia. Barraca de folhas.
 Do trânsito de carros de boi. Da procissão
 que se foi. Maria-vai-com-as-outras.
       Saudades de tantas coisas. Que eu costurei
 a mala, levantei as paredes da caixa. Disse
 olhando os prédios de São Paulo. E a fumaça.
 Vou-me embora agora mesmo, de hoje não
 passa. Aqui nunca foi a minha terra.

       Saudades do futuro que me espera.
 

PARA IEMANJÁ

       Oferenda não é essa perna de sofá.
Essa marca de pneu. Esse óleo. Esse breu.
Peixes entulhados. Assassinados. Mina Rainha.
       Não são oferenda essas latas e caixas.
Esses restos de navio. Baleiras encalhadas.
Pinguins tupiniquins. Mortos e afins.
Minha Rainha.
       Não fui eu quem lançou ao mar essas
garrafas de Coca. Essas flores de bosta.
Não mijei na tua praia. Juro que não fui eu.
Minha Rainha.
       Oferenda não são os crioulos da Guiné.
Os negros de Cuba. Na luta. Cruzando a nado.
Caçados e fisgados. Náufragos. Minha Rainha.
       Não são para o teu altar essas lanchas
e iates. Esses transatlânticos. Submarinos de
guerra. Ilha de Ozônio. Minha Rainha.
       Oferenda não é essa maré de merda.
Esse tempo doente. Deriva e degelo.
       Neste dia dois de fevereiro. Peço perdão.
Minha Rainha.
       Se a minha esperança é um grão de sal.
Espuma de sabão. Nenhuma terra à vista.
Neste oceano de medo. Nada. Minha Rainha.

 

Poesia visual? Não importa a resposta. Marcelino colhe ditados populares, lugares-comuns e extrai deles, ou melhor, destaca letras dos textos para completar, contradizer, ironizar, irreverentemente, com humor e malícia, o sentido original... O projeto gráfico de Silvana Zandomeni evidencia a forma, induzindo a releitura. Texto extraído do texto.  O livro está nas livrarias:  era O dito  (São Paulo: Ateliê Editorial, 2002) ISBN 85-7480-094-5






 

 

 
 
 
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