MANIFESTO PROPOSIÇÃO - 1967
PROPOSIÇÃO
QUANTIDADE+QUALIDADE
SÓ O CONSUMO É LÓGICA.
CONSUMO IMEDIATO COMO ANTINOBREZA
FIM DA CIVILIZAÇÃO ARTESANAL (INDIVIDUALISTA)
SÓ O REPRODUTÍVEL ATENDE, NO MOMENTO EXATO.
ÀS NECESSIDADES DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO
DAS MASSAS.
A MANIFESTÇÃO SERIAL E INDUSTRIAL DA
CIVILIZAÇÃO TÉCNICA DE HOJE.
TÉCNICA
HUMANISMO FUNCIONAL PARA AS MASSAS.
A TÉCNICA JÁ CRIANDO NOVA LINGUAGEM UNIVERSAL
(E NÃO LÍNGUA) - NOVO HUMANISMO
COM O RACIONAL NÃO HAVERÁ FOME NO MUNDO
FORMA ÚTIL
NOVAS POSSIBILIDADES PARA CADA NOVO MATERIAL.
VISUALIZAÇÃO DA ESTRUTURA / LEITURA DO
PROCESSO.
NÍVEL TÉCNICO IGUAL A EVOLUÇÃO: O DESUSO DO
OBJETO ÚNICO
OPERATÓRIO
NÃO SE BUSCA DEFINITIVO.
NEM "BOM" NEM "RUIM", PORÉM OPÇÃO.
OPÇÃO: ARTE DEPENDENDO DE PARTICIPAÇÃO.
O PROVISÓRIO: O RELATIVO.
ATO: SENSAÇÃO DE COMUNICAÇÃO, CONTRA O
CONTEMPLATIVO
ATO: OPERAÇÃO DAS PROBABILIDADES.
PERMUTAÇÃO SEM SUAS FACILIDADES
INTEGRAÇÃO COM O OBJETO: OPOSTO DE ALIENAÇÃO.
ÉPOCA
AS IMAGENS COTIDIANAS TRANSFORMANDO-SE EM
SIGLAS:
POESIA PARA SER VISTA E SEM PALAVRAS
(SEMIÓTICA)
PINTURA SÓ ESTRUTURA (GEOMETRIZAÇÃO-SER1AL).
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E HUMOR, SEM LEGENDAS.
QUADROS SERVINDO DE PADRÕES TÊXTEIS.
RUÍDO (INDUSTRIAL) LEVADO À CATEGORIA DE MÚSICA.
COMPUTADOR ELETRÔNICO: COMO PESQUISA
MUSICAL.
Fonte:
GALVÃO, Dácio. Da poesia ao poema: leitura do poema-processo. / Dácio Tavares de Freitas Galvão. Natal, RN: Zit Gráfica e Editora, 2004. 188 p. ISBN 85-89907-60-0 Dissertação de mestrado, Departamento de Letras da UFRN. Col. A.M.
Comentários p. 35-36:
“O manifesto Proposição-67 salientava no estatuto teórico marcas complexas, sob as quais se produziriam, dentre diversos itens, "poesia para ser vista e sem palavras (semiótica)", e "história em quadrinhos e humor sem legendas". Ou seja, a absoluta prevalência do poema gráfíco-visual — "a palavra considerada como elemento dispensável ao poema"— e a posição não contemplativa do leitor diante do artefato artístico.
A Proposição-67 pontuava cinco itens básicos: QUANTIDADE X QUALIDADE; TÉCNICA; FORMA ÚTIL; OPERATÓRIO e ÉPOCA. Em cada um deles, desdobramentos teóricos apontavam assertivas a serem desenvolvidas pelos poetas. Trazia o coletivismo criativo e propugnava o fím do individualismo. Concluía-se, portanto: "o processo do poeta é
individualista". Contudo, a massificação era o alvo predileto: "o que interessa, coletivamente, é o processo do poema". Era imperiosa a informação serial e industrial, para as massas, na participação de versões de poemas estimados a nascer na era da civilização técnica. A obra reprodutível, a efemeridade da própria, colocaria na prática a perspectiva de derrocada da tradição de unicidade do objeto.*
Em seu caráter propugnador, a Proposição-67 acreditava na eficácia da arte tendo a interferência participativa e sendo os resultados vislumbrados num
horizonte do precário, do relativo.
*A propósito, lembramos que Walter Benjamim, em seu célebre texto sobre a reprodutibilidade das obras artísticas, já afirmava que “Seria impossível dizer, de modo geral, que as técnicas de reprodução separam o objeto reproduzido do âmbito da tradição”; contudo, a atualidade permanente possibilitada pela reprodução acontece em estreita correlação com um “abalo considerável da realidade transmitida — a um abalo da tradição, que se constitui na contrapartida da crise por que passa a humanidade e sua renovação atual”. A discussão sobre a derrocada da unicidade do objeto remonta, pois, à discussão sobre a noção de aura: “na época das técnicas de reprodução, o que é atingido na obra é a sua aura” [“A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução.” In: BENJAMIN, Walter et al. Textos escolhidos. Traduções de José Lino Grunewald et al. ... 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 3-28]
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