DEFININDO POESIA DIGITAL
Resenha de Antonio Miranda
ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia digital: teoria, história, antologias. São Paulo: Navegar
Editora; FAPESP, 2010. 78 p. Inclui DVD.
Jorge Luis Antonio é o nosso maior especialista no tema da poesia digital e eletrônica, através de um estudo sistemático, a partir de um doutorado na prestigiosa PUC SP, no período de 2000 a 2005 . Anos de estudo levaram-no a dois livros capitais para o entendimento do tema em sua atualidade. O primeiro, de 2009, foi
ANTONIO, Jorge Luiz. Poesia eletrônica: negociações com os processos digitais. Belo
Horizonte: Veredas & Cenários, 2008. 198 p. ilus. Inclui DVD ISBN 978-85-7926-015-5
O título mais recente, de 2010, avança na análise e revelação de um tema que vem ganhando crescente interesse da comunidade científica e dos amantes da poesia e da tecnologia. Jorge Luiz Antonio* encontra-se numa situação privilegiada para acompanhar a evolução da prática e da teoria da poesia visual e de vanguarda, a partir de uma biblioteca pessoal das mais representativas, pelas relações que mantém com teóricos e realizadores do setor (E.M. de Melo e Castro, Augusto de Campos, para citar apenas dois...) e por participar de eventos nacionais e internacionais em que se discute a questão. Agora está outra vez em pesquisa, no pós-doutorado na mesma Unicamp, na tentativa de acompanhar as transformações constantes na área da poesia experimental.
Cabe assinalar uma diferença de procedimentos: os estudos sobre poesia experimental estão mais no âmbito das tecnologias do que das teorias, desde que nos descolamos dos cânones da poesia concreta na entrada do século 21. Os manifestos, as teorias e os “ismos” que consubstanciavam práticas a partir de propostas conceituais deram lugar a uma práxis mais fluida, aplicada, de experimentações e práticas acopladas e dependentes de tecnologias da informação, no mais das vezes. Lógico que poesia sempre dependeu das tecnologias de seu tempo. É o caso do uso de letras set, de normógrafos, de tipografias e colagens ao alcance dos criadores. Mas agora existe o fator da “convergência tecnológica” que integra digitalmente animação, imagem, voz e texto numa plástica amalgamada, dependente de programas e aplicativos, de suportes e canais específicos. Mutantes.
Jorge Luiz Antonio fez o esforço extraordinário de traçar os antecedentes deste processo tecnológico da poesia desde os precursores até o estado da arte atual, sabendo que isso vai exigir um esforço contínuo de atualização.
As definições cabem em duas categorias: as ontológicas, tentando universalizar conceitos, e as consuetudinárias, que definem a partir do objeto, dependendo de seu estado e estágio de desenvolvimento, como no caso da poesia digital. O que se estende a toda prática contemporânea, não apenas à poesia experimental, que é um reflexo e um aplicativo das tecnologias disponíveis, sem descartar novas teorias e experimentações como vêm ressaltando Antonio Risério e Roland de Azevedo Campos, sem esquecer dos mestres Décio Pignatari, Wlademir Dias-Pino e Philadelpho Menezes, entre tantos.
Celebrando o novo livro de Jorge Luiz Antonio, que faz uma atualização e dá um aporte significativo no entendimento do fenômeno, cabe destacar a tentativa de definição a que chegou:
Ao fim de um levantamento de denominações de poesia digital, pudemos chegar a um conceito geral:
A poesia digital, em suas diferentes fases, é composta por uma linguagem tecno-artística-poética e é sob esse viés que ela pode ser lida e apreciada.
A poesia digital é um tipo de poesia contemporânea -formada de pala
vras, formas gráficas, imagens, grafismos, sons, elementos esses animados ou não, na maior parte das vezes interativos, hipertextuais e/ou hipermidiáticos e constituem um texto eletrônico, um hipertexto e/ou uma hipermidia. Ela existe no espaço simbólico do computador (internet e rede), tendo como forma de comunicação poética os meios eletrônico-digitais que se vinculam a esses componentes. De um modo geral, ela só existe nesse meio e só se expressa, em sua plenitude, por meio dele. (p.41)
Não foi possível chegar a uma denominação geral, capaz de abranger todos os fenômenos, mas sim escolher uma delas e delimitar o objeto de estudo a partir dessa seleção. E que cada denominação traz consigo um componente tecnológico de um determinado momento e, de certa forma, traz poucas semelhanças com outro componente que surgirá em seguida. Assim, adotamos a denominação de poesia digital por diversas razões: é mais abrangente, pois engloba experimentações poéticas com outros processos eletrônico-digitais; é a mais aceita por poetas, grupos de poetas e pesquisadores; é tema central de congressos, títulos de livros e antologias; etc. (p. 59)
Entender e apreciar a poesia digital como uma das manifestações artísticas da cibercultura é uma forma de podermos compreender o mundo contemporâneo em suas mais variadas expressões, à semelhança do que fazemos ao estudar as manifestações poéticas do séculos anteriores. (p. 59)
*Cabe assinalar que JLA já publicou outros livros a partir de suas pesquisas no campo da poesia, destacando-se os títulos dedicados à poesia de Augusto dos Anjos e Cesário Verde:
ANTONIO, Jorge Luiz. Ciencia, arte e metáfora na poesia de Augusto dos Anjos. São Paulo: Navegar Editora, 2004. 137 p.
ANTONIO, Jorge Luiz. Cores, forma, luz, movimento: A Poesia de Cesário Verde. São
Paulo: Musa Editora / FAPESP, 2002. 349 p. (Col. Musa infopoesia, 3). |