O HAITI SOMOS NÓS
Poema de Antonio Miranda
Para Zilda Arns,
in memoriam*
Todos os furacões açoitaram o Haiti!!
E o Haiti é o nosso paradigma de liberdade!
Todos os ditadores devastaram o Haiti!
E o Haiti é nosso exemplo de iluminismo!
Espelho de Bolivar e admiração de Washington!
Todos os terremotos abalaram o Haiti!
Alejo Carpentier sabia ser ali, sem dúvida,
"el reino de este mundo", a Bastilha da América!
Reflexos, vestígios de uma herança maldita.
Devemos manipular magicamente
os elementos, para exorcizá-los. Vudú.
Diante das imagens terríveis dos destroços,
vêm as perguntas de respostas já sabidas!
De horror, de indignidade, de indiferença.
Diante das imagens terríveis dos escombros,
a mesma pergunta que o Papa fez
quando visitou os campos de extermínio:
"Onde estava Deus?" Onde estamos nós?!
Janeiro de 2010
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*Ela foi vítima do terremoto logo depois de fazer uma palestra sobre a Pastoral da Criança, em Porto Príncipe, em um edifício em frente a uma igreja. “Viveu como santa, morreu como mártir”, registrou a revista VEJA na oportunidade.
Haiti foi o primeiro país das Américas a abolir a escravidão, em 1794, e a tornar-se independente, em 1804, e passou a ser vítima de um bloqueio sistemático dos países europeus, temerosos de que o exemplo fosse exportado a toda a região. Entrou em decadência e passou a viver sob regimes ditatoriais que o levaram de uma nação, entre as mais prósperas, a transformar-se numa das mais pobres do mundo. |