O CERRADO
Poema de Antonio Miranda
Ilustração “Canela de Ema”
de ÁLVARO NUNES
Antes era o Cerrado
desterrado
no planalto insondável
ou indomável,
era a vastidão ondulante
e enorme. Inescrutável.
Informe a terra aos seus desígnios,
buritis errantes sobre os ermos
charcos isolados,
plantados sob nuvens passageiras.
Nuvens como plumagens derradeiras
chovendo a intervalos.
Interstícios, vestígios vegetais.
Redemoinhos elevam-se
nos horizontes minerais
sinais montes trilhas.
Jamais.
Um resto de umidade
no ar,
flores secas
queimadas
lambendo horizontes
reiteradamente.
Do alto desde Planalto Central
mil vertentes, entranhas,
cavernas de luzes escondidas,
animais.
Dessas águas emendadas
nas direções dos pontos cardeais
em demanda de todos os brasis.
Infinitos.
Riachos temporários, subterrâneos,
Pedregosos, resvaladouros, solitários.
Solo de bandeirantes,
retirantes.
Dos encontros impossíveis,
das monções e entradas ancestrais,
dos refúgios e abandonos.
Haveremos de rever
a sua rochosa ossatura,
registros prematuros de Varnhagen.
Visões e revisões
Geopolíticas.
Sertões.
Nesses paralelos de mel e de leite
da Terra Prometida.
Nos confins de serras cristalinas,
meridianos estivais,
paisagens marinhas de artifícios,
como ondas petrificadas,
sacrifícios.
Passagens nacionais
em todas as direções:
tropeiros, mascates,
garimpeiros.
Passa um, passa boiada,
passa tempo
cavalhada
cavaleiros coloniais.
Goiás. Brasil.
De CANTO BRASÍLIA. Brasília: Thesaurus, 2002.
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