Um corpo nu e ensangüentado
jaz sobre os lençóis alvos de linho
- um belo jovem degolado e triste –
os cabelos em desalinho, dedo em riste
diante da morte trágica e solerte.
Estampado na foto, morbidamente.
Morto de surpresa depois de amar
desorbitadamente. Amante incauto.
Braços fortes, veias e músculos
inflados e hirsutos em seus recortes
de estatuária viril e varonil
expostos à contemplação alheia
como numa ceia – natureza morta.
Pernas lisas, lustrosas, louçãs
em escultórica e vigorosa compostura
ainda rijas, denotando reação
ao prazer cessante ou ao pavor
rompante, súbito, e derradeiro.
Um sexo flácido e enorme prostrado
e vencido, indiferente e inculpado
da celebração de que participa,
inocente do que se lhe imputa.
A matéria escrita cita o nome
da que o desfrutara na alcova
-a quem seduzira ou por quem fora seduzido
tendo ido ou tendo sido levado-,
sobrenome de um senhor abastado
(cornígero marido, como diria Camões)
provável mandante da cena de horror.
Um caso a mais e apenas circunstante
na rotina vã de uma delegacia
não fosse pela beleza e qualidade
ou felicidade – valha-me Deus!!!- da fotografia.
(19.2.2005)
*heterônimo de Antonio Miranda.
**Obra "Oscura descarga " de Carmen Fulle.
Outros trabalhos da autora em seu site:
http://www.geocities.com/carmenfulle/index.html
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