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A FOTO OXIDADA
Antonio Miranda
1
Longe de mim
comigo mesmo.
Vejo-me outro
- tal qual fui
numa fotografia
oxidada:
- vestígios de mim
irreconhecíveis
irreconciliáveis.
Não sou eu
aquele jovem gazela
sobre a bicicleta
mergulhando no mar
atrirando-se no abismo.
Ou fui, se é que fui.
Do distanciamento
da paisagem e do tempo
o desvendamento impossível:
pouco resta do que fui
nesta arqueologia do ser.
2
Se fui, já não sou
- mas aí está a foto
inclemente
acusando-me
por comparação.
E que terrível
é ver-se outro:
verso e reverso.
Sim, o tempo oxida
a foto
e a pessoa
sem clemência.
Não me julgo, nem
me entendo.
Aquele jovem
de olhar indagativo
- ele tinha as respostas
que eu não mais
tenho.
3
Impossível revê-lo
sem julgá-lo
ou condená-lo.
O corpo é que
faz o julgamento.
Como forças divisórias
com pesos e
medidas
de variada bitola.
Aquele menino da foto
não mais existe
- existo eu
que o contradigo.
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Texto do livro PERVERSOS (Brasília: Thesaurus, 2003). Também publcado na antologia 25 POEMAS DE ANTONIO MIRANDA (Campo Grande, MS, ed. UNIDERP, 2004)
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