ESCREVO DE PÉ ANDANDO
Poema de Antonio Miranda
Foto de JUVENAL BARBOSA
assim mesmo, sim, cabisbaixo
declamo frases prontas, teorias
na passarela, coisa de mostruário
(a vida pulsa nas calçadas e
o vento nos envolve — indistinta
mente — , portas entreabertas)
pássaros sem asas, telefones mudos
caminhos sem destino, inquietação
— estamos no umbral sem fundo.
janelas sem paisagens, muros
cariados, estamos sendo devorados
e festejamos nosso conformismo
acho que estão nos filmando
e disfarço, busco o gesto adequado
— vou ser visto, lido — um horror!
a palavra imortaliza, mas eu passo.
eu tergiverso, busco as engrenagens
e antecipo a morte — liquefaço.
deixo um rastro de palavras ocas
ecos de vozes instigantes, que cobram
atropelam— eu fluo e fujo, as vezes
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