Canto VI
(De Brasil, Brasis )
Poema de Antonio Miranda
Do Brasil que historiamos
saem heróis e estátuas eqüestres.
Inconfidentes, videntes,
vedetes. Santos barrocos,
piás, jangadeiros,
campeões de fórmula um.
E se fosse pouco,
inventamos o avião
e a micarecandanga.
No relicário as figas,
as ligas, o vigário,
os incensos, os incestos,
proliferam os sicários,
operários. As carpideiras deploram.
Os impostos
e os impostores nivelam-se
em céu de brigadeiro. Emblemático.
Para não dizer que não falei de flores,
venham as mulatas em seus andores.
Margaridas, diacuís.
Rosa profana.
Novelas, programas de auditório.
Do promontório de Sagres
se avistou tamanho mar
e tanta felicidade!
Tantas dunas, sertão afora,
cerradão.
Do Planalto Central emanam leis,
saem bandeiras, assessores,
nos aviões, nas infovias,
nas ondas da Radio Nacional.
Porque o é muitas vezes,
é muito mBrasilais, é isso aí,
é aquele abraço,
é o jeito e trejeito,
é a hóstia e o despacho.
‘'E pau, é pedra,
é o fim do caminho...”,
é o fim da picada,
pau a pique, sol a pino,
imigrante, nordestino,
é o jogo do bicho,
e a propina.
Na rodada do milênio,
a terra da promissão,
Dom Bosco, Alto Paraiso,
suco de graviola, santo daime,
loteria, o Capiberibe e o Beberibe
formando o Oceano Atlântico.
É tudo isso, e acho pouco!
Extraído do livro BRASIL BRASIS (Brasília: Thesaurus, 1999).
Antonio Miranda diante de escultura de cimento colorido, obra de sua autoria, exposta na Chácara Irecê, Goiás.
Fotografia de Juvenildo Barbosa Moreira.
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