ARMANDO FREITAS FILHO
De
MADEMOISELLE FURTA-COR
oito poemas eróticos
de
ARMANDO FREITAS FILHO
ilustrados
por
RUBENS GERCHMAN
Florianópolis: Editora Noa Noa, 1977
impressa em off set sobre papel jornal
Edição rara, apesar da tiragem de 1.ooo exemplares., devido à fragilidade e rusticidade do papel, mas é muito disputada por colecionadores, pela excelência do texto e das ilustrações, de dois grandes artistas (da palavra e do desenho).
Sem dúvida, estamos diante de textos de um dos maiores poetas da atualidade. Sua sensualidade não está apenas nas imagens, está na sonoridade e intimidade com e entre as palavras, palavras-coisa expressando uma relação estética e amorosa com o texto.
Por esta fresta te espreito
Por esta fenda te desvendo
Por esta fresta
cravo
sonda contra esponja,
e babo
e te penetro
teso e reto, e por inteiro
o seu corpo se entreabre:
porta e perna, caixa e coxa.
Por esta fenda
tenda
de pele que se franze,
e rasga
eu me adentro
feito de espera e de esperma:
e espremo – te aperto – e exprimo
toda a cor da carne do amor que escrevo.
Por esta fresta me espreito
Por esta fenda me desvendo.
***
Eu conheço o seu começo:
ponto e novelo,
meada de mel e langor
de lentos elos
que a minha língua lambe
no calor despido,
no meio das suas pernas:
anéis de cabelos,
anelos e nós se desmancham
em nada ou nódoa
por todo o lençol do corpo
nu e amarrotado:
nós aqui somos todos laços
e nos rasgamos
devagar – poro por poro;
rumor de sedas
ou de uma pele toda feita
de suor e suspiro:
eu soluço a cada susto seu
que nos dissolve.
***
Eu avanço, te abocanho,
a cama range, o corpo ruge
vermelho!
vivo num relance as nuances
de um arco-íris de tafetá
ferido no espaço do instante
de seu veloz delírio:
e caço o seu rosto em cada cor
em cada gama
a cada gomo que esmago e engulo
eu te provo, e bebo
as gotas do seu gosto
e mastigo o teu sabor
calcando sob mim
o gesto escancarado
do seu sangue sem som,
mas que, entretanto, em entretons
grita.
Página publicada em fevereiro de 2010
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