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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

ROBÉRIO VIANA

 

Nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 29 de dezembro de 1963.

Formado em Letras pela Universidade Federal de Sergipe

 

 

Poemas do livro Hiato, de 1986:

 

 

        EPITÁFIO

 

        Silêncio

           Por favor

                         Silêncio
Um instante de silêncio
que a minha vida se despede:
meu passado se contempla nas vitrines
minhas lembranças posam pra fotografias
— uma mulher parte e não regressa.

 

Mas

quero um silêncio completo:
calem as buzinas, o grito de alegria;
calem a cor verde, o dia de amanhã;
Calem todos os bares, os lares aglomerados;
calem as flores e os cantos;
vedem os champagnes;

desinventem o amor dos homens e das mulheres;
reinventem a morte, o suspiro de dor...

 

Quero o silêncio dos túmulos,

das andorinhas ciganas e crepusculares.

Quero o silêncio das igrejas abandonadas,

do feto absconso.

Quero o silêncio do escuro,

de mãos suprimidas.

Quero o silêncio da minha face orvalhada,
das águas lúbricas do mar.
Quero o silêncio da fome,
do choro nos hospitais.
Quero o silêncio do poeta ante o branco lascivo do papel.

 

Quero um silêncio profundo,
profundamente inútil e
vago

pelo silêncio que se fez em mim.

 

Eu só não quero

                        Por favor

                                     Não quero

o silêncio da palavra: Voz

 

***

 

CATARSE NUPCIAL

 

Enfim o sol;

a exaustão em nossos corpos

reticências em nossas vidas

a solidão cúmplice das nossas roupas sonolentas

escorregando pelos móveis

desmaiadas pelo chão

teu pescoço colorido de carmim

emerge uma coluna de volúpia saciada

teus seios túmidos ainda lançam

um último olhar de pirâmide ao céu

nossas mãos atilhadas

descansam a avidez das viagens

 

A luz da manhã fere nossas pupilas
Nossos beijos trôpegos rolam as escadas
e osculam as ruas

nossos braços sôfregos refugiam as esquinas

nossos gritos gemidos acordaram a cidade

nosso gozo se derrama pelos regos sub e terrâneos
das avenidas

e as nossas pernas atravessam

a última ponte do poema

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2020

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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