MARA RUBIA LOPES
Nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 6 de maio de 1951.
Estudou Letas na Universidade Federal de Sergipe.
TALVEZ NUM SONHO
Talvez num sonho
alguma voz tenha me dito
coisas encorajadoras
para que se possa
produzir alguma arte
nessa porcaria de vida
que se esgota
na menopausa
das experiências
fugidias
válidas e fracassadas.
Aposentada na arte?
Mal amada ou mais
poeticaliticamente correto
desamada?
Totalmente só
ou fragilmente diluída
em depressões?
A cabeça não comporta
mais coisas tortas
marijuanas meladas
vícios ácidos
mas que não se poluem
com os escárnios dos caretas.
NEM TUDO QUE A POESIA PINTA É REAL
Estava quase decidida
a contar(te)
os meus parciais segredos
quando redescobri,
a realidade é mais profunda
do que a poesia pinta.
Por isso o meu "eu" poético
não quer fabricar poemas
sobre grandes temas
o meu "eu" é aético
também não é técnico.
Minha poesia não quer saber
de intelectual metido a besta
quer socializar o conhecimento
que vem a ser
a real e profunda sintonia
com a natureza
e os seres:
ressalvando-se os seus espaços SociaiS
(1996)
ADMITO QUE.
Admito que
nada foi compartilhado:
comi só o pão
dos amargurados pela fome.
Não o dividi
com ninguém.
Deixei-o jogado
e dormido.
De que serve o pão esquecido
se não matou a fome
de alguém?
Para que servem
os poemas e as canções
se elas não conseguem
dar um sinal,
atingir um público-alvo?
Ferir um sentimento?
Ai de quem não se fez encontro
nos labirintos da paixão...
Página publicada em janeiro de 2020
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