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Foto: stoesergipe.blogspot.com

 

ALBERTO CARVALHO

(1932-2002)

 

Nasceu no dia 3 de novembro de 1932, na cidade de Itabaiana onde iniciou seus estudos, transferindo-se para Aracaju onde completou o curso técnico em Contabilidade na Escola Técnia de Comércio e curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de Sergipe.

Autor de oito livros, patrono da cadeira 1 da Associação Itabaianense de Letras e compositor do hino da Associação Olímpica de Itabaiana.

 

 

 

         POEMA DA INTERROGAÇÃO DO MINUTO

 

       Olho meu relógio amarelo.
Inexorável, o ponteiro dos minutos
Fecha um círculo de tempo.
Como parar este minuto na minha vida?
O tempo não para e eu, abúlico, o vejo passar.
Como reaver este minuto que já são dois,
Já vem um terceiro, um quarto, enquanto olho
Meu relógio amarelo.
Vêm outros mais.
Muitos outro virão, eu sei.
Num minuto poderia estar minha revelação,
Poderia haver o orgasmo no maior amor
A mais profunda inspiração, a visão, mesmo fugaz,
De tudo.
Num minuto o homem  poderia ser libertado.
Segue o tempo nos minutos
(Visíveis fantasmas)
Ponte cronometrada ente eu e o Nada.
Como conseguir o minuto parado?

         (De Em busca do verso, 1959)

 

 

 

 

VINÍCIUS, 9 DE JULHO DE 198O

 

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

Certo deste Inferno saiu

Mas o Céu não mais existe

O Limbo há muito fechou

E o Purgatório, sem Dante, faliu.

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

Quintana, sem dúvida, diria:

Foi para os anéis de Saturno!

Mas os astros hoje perderam

Toda a aura de poesia.

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

Foi para as mulheres etéreas

Jurar com a voz mais comovida

Fidelidade e amor total

"Por toda a minha vida".

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

Dizer que o amor é coisa de momento

E de infinito só tem a duração

Sua verdade muitas vezes repetida

A mulheres que o amaram sem tormento.

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

De uma coisa ele ficou certo

Já pagamos o enterro e as flores

Para quem só morreu de amores

E deixou tanta poesia aqui por perto.

Aonde foi o "Poetinha"

Com o copo de uísque na mão?

Foi receitar formas de beleza

Em outras bocas e seios repousar

Miramar, cantar baladas de tristeza

E os males deste mundo denunciar.

 

Fico por aqui pedindo apenas
Bêbado de álcool, música e poesia
Que a Elizete cante o amor demais
Do nosso "poetinha" Vinícius de Moraes.

 

 

                        (O livro   Textamento -1981)

 

 

      

MONOTONIA

 

 

Les sanglots longs
Des violons de l'automne
Blessent mon couer
D'une langueur
Monotone".

        Verlaine. "Chanson d'automne"

 

 

A voz rascante e monótona
Atravessava a parede
Do meu quarto de pensão
Onde solitário e monotonamente
Vivia.

Não lia, não conseguia ler
Com a voz rascante e monótona.
Saí para monotonia das ruas
Dos cinemas, das putas
E das comidas cruas.
Voltei.

Tentei não ouvir e até não querer.
Mas quis. Peguei meu revólver
Paroxítono

E no quarto vizinho dei quatro tiros
Como se fossem quatro batidas secas
Na porta da desgraça. (Perdão Carnus)
Agora na cela onde me encontro
Ainda ouço a voz rascante e monótona
Na vida que levo, monotonamente.
E Verlaine achava monótonos
Os trinos dos violinos de outono.

 

                                    (1997)

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2020.

 


 

 

 
 
 
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