PARNASIANISMO / POETAS PARNASIANOS
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FRANCISCA JÚLIA DA SILVA
(1871-1920)
Francisca Júlia da Silva Munster nasceu na antiga Vila de Xiririca, hoje Eldourado, no vale do Ribeira, São Paulo. Poeta do Impassível, valendo-se de uma linguagem e de figuras mitológicas e históricas próprias de um gosto parnasiano, encantou os seus contemporâneos. Seus últimos poemas já denotam algumas tendências ao simbolismo. Sobre seu túmulo está a estátua da “Musa Impassível”, de Victor Brecheret, em homenagem a um de seus poemas mais famosos.
Obra poética:Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfinges (1903), Alma Infantil (com Júlio César da Silva, 1912), Esfinges - 2º ed. (ampliada, 1921),
Poesias (organizadas por Péricles Eugênio da Silva Ramos, 1962).
Escultura de Brecheret para o túmulo de Francisca Júlia.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
A POESIA NA ESCOLA. Coletânea das poesias sugeridas pelos programas de Ensino primário elementar. Belo Horizonte: Secretaria de Educação, Estado de Minas Gerais, Imprensa Oficial, 1956. 177 p. 14x21 cm. "Para distribuição gratuita às escolas primárias do Estado." Col. bibl Antonio Miranda
Poesia infantil recomendada para leitura em classe
– 1ª. SÉRIE:
O PATINHO
Poema de FRANCISCA JÚLIA
O pintainho do pato,
galante, amarelo e novo,
mal saiu da casca do ovo,
busca as águas do regato.
Todo ele, tão lindo e louro,
enquanto nas águas boia,
tem a graça de uma joia
feita em ouro.
https://pixabay.com/pt/photos/pato-patinho-animal-bico-penas-5433618/
A BONECA
Poema de FRANCISCA JÚLIA
Nenê, a rede embalando,
quer provocar a soneca
à sua linda boneca
nuns versos que vai cantando:
"Bonequinha, bonequinha,
tão lourinha,
por que ficas a sorrir,
sem dormir?
https://br.images.search.yahoo.com/search/images
*
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A FLORISTA
Suspensa ao braço a grávida corbelha,
Segue a passo, tranqüila... O sol faísca...
Os seus carmíneos lábios de mourisca
Se abrem, sorrindo, numa flor vermelha.
Deita à sombra de uma árvore. Uma abelha
Zumbe em torno ao cabaz... Uma ave, arisca,
O pó do chão, pertinho dela, cisca,
Olhando-a, às vezes, trêmula, de esguelha...
Aos ouvidos lhe soa um rumor brando
De folhas... Pouco a pouco, um leve sono
Lhe vai as grandes pálpebras cerrando...
Cai-lhe de um pé o rústico tamanco...
E assim descalça, mostra, em abandono,
O vultinho de um pé macio e branco.
MUSA IMPASSÍVEL I
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave o idílico descante.
Celebra ora um fantasma angüiforme de Dante;
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
Mármores (1895)
MUSA IMPASSÍVEL II
Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora,
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca!
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o Impassível mora.
Leva-me longe, ó Musa impassível e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O áureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.
Transporta-me, de vez, numa ascensão ardente,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares,
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,
E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo,
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.
Mármores (1895)
VÊNUS
Branca e hercúlea, de pé, num bloco de Carrara,
Que lhe serve de trono, a formosa escultura,
Vênus, túmido o colo, em severa postura,
Com seus olhos de pedra o mundo inteiro encara.
Um sopro, um quê ele vida o gênio lhe insuflara;
E impassível, de pé, mostra em toda a brancura,
Desde as linhas da face ao talhe da cintura,
A majestade real de uma beleza rara.
Vendo-a nessa postura e nesse nobre entono
De Minerva marcial que pelo gládio arranca,
Julgo vê-la descer lentamente do trono,
E, na mesma atitude a que a insolência a obriga,
Postar-se à minha frente, impassível e branca,
Na régia perfeição da formosura antiga.
Mármores (1895)
EGITO
No ar pesado, nenhum rumor, o menor grito;
Nem no chão calvo e seco o mais pequeno adorno;
Um velho ibe somente arranca um raro piorno
Que cresce pelos vãos das lájeas de granito.
A aura branda, que vem do deserto infinito,
Arrepia, ao de leve, a água do Nilo, em torno.
Corre o Nilo, a gemer, sob um calor de forno
Que, em ondas, desce do alto e invade todo o Egito.
Destacando na luz, agora o vulto absorto
De um adelo que passa, em caminho da feira,
Dá mais um tom de mágoa ao vasto quadro morto.
Bate na areia o sol. E, num sonho tranqüilo,
Pompeia, ao largo, a alvura uma barca veleira,
A tremer, a tremer sobre as águas do Nilo.
Mármores (1895)
EM SONDA
Quieta, enrolada a um tronco, ameaçadora e hedionda,
A boa espia ... Em cima estende-se a folhagem
Que um vento manso faz oscilar, de onda em onda,
Com a sua noturna e amorosa bafagem.
Um luar mortiço banha a floresta de Sonda,
Desde a copa da faia à esplêndida pastagem;
O ofidiano, escondido, olhos abertos, sonda ...
Vai passando, tranqüilo, um búfalo selvagem.
Segue o búfalo, só ... mas suspende-lhe o passo O
ofidiano cruel que o ataca de repente,
E que o prende, a silvar, com suas roscas de aço.
Tenta o pobre lutar; os chavelhos enresta;
Mas tomba de cansaço e morre ... Tristemente
No alto se esconde a lua, e cala-se a floresta ...
Mármores (1895)
A UM ARTISTA
Mergulha o teu olhar de fino colarista
No azul: medita um pouco, e escreve; um nada quase:
Um trecho só de prosa, uma estrofe, uma frase
Que patenteie a mão de um requintado artista.
Escreve! Molha a pena, o leve estilo enrista!
Pinta um canto do céu, uma nuvem de gaze
Solta, brilhante ao sol; e que a alma se te vaze
Na cópia dessa luz que nos deslumbra a vista.
Escreve!... Um céu ostenta o matiz da celagem
Onde erra o sol, moroso, entre vapores brancos,
Irisando, ao de leve, o verde da paisagem...
Uma ave banha ao sol o esplêndido plumacho...
Num recanto de bosque, a lamber os barrancos,
Espumeja em cachões uma cachoeira embaixo...
OS ARGONAUTAS
Mar fora, ei-los que vão, cheios de ardor insano;
Os astros e o luar — amigas sentinelas —
Lançam bênçãos de cima às largas caravelas
Que rasgam fortemente a vastidão do oceano.
Ei-los que vão buscar noutras paragens belas
Infindos cabedais de algum tesouro arcano...
E o vento austral que passa, em cóleras, ufano,
Faz palpitar o bojo às retesadas velas.
Novos céus querem ver, miríficas belezas,
Querem também possuir tesouros e riquezas
Como essas naus, que têm galhardetes e mastros...
Ateiam-lhes a febre essas minas supostas...
E, olhos fitos no vácuo, imploram, de mãos postas,
A áurea bênção dos céus e a proteção dos astros...
DANÇA DE CENTAURAS
Patas dianteiras no ar, bocas livres dos freios,
Nuas, em grita, em ludo, entrecruzando as lanças,
Ei-las, garbosas vêm, na evolução das danças
Rudes, pompeando à luz a brancura dos seios.
A noite escuta, fulge o luar, gemem as franças;
Mil centauras a rir, em lutas e torneios,
Galopam livres, vão e vêm, os peitos cheios
De ar, o cabelo solto ao léu das auras mansas.
Empalidece o luar, a noite cai, madruga...
A dança hípica pára e logo atroa o espaço
O galope infernal das centauras em fuga:
É que, longe, ao clarão do luar que empalidece,
Enorme, aceso o olhar, bravo, do heróico braço
Pendente a clava argiva, Hércules aparece...
RAINHA DAS ÁGUAS
(a Alberto de Oliveira)
Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabeleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Na esguia concha azul orladurada de ouro.
Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro;
Vão à frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.
Crespas, cantando em torno, as vagas, à porfia,
Lambem de popa à proa o casco à concha esguia,
Que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana;
E, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bela soberana.
MAHABARATA
Abre esse grande poema onde a imaginativa
De Vyasa, num fragor ecoante de cascata,
Tantas façanhas conta, e dessa estrênua e diva
Progênie de Pandu tantas glórias relata!
Ora Kansa, a suprema encarnação do Siva,
Ora os suaves perfis de Krichna e de Virata
Perpassam, como heróis, numa onda reversiva,
Nas estrofes caudais do grande Mahabarata.
Olha este incêndio e pasma; aspecto belo e triste!
Caminha agora a passo este deserto areoso...
Por cima o céu imenso onde palpitam sóis...
Corre tudo, ofegante, e, finalmente, assiste
À ascensão de Iudhishthira ao suarga luminoso
E à apoteose final dos últimos heróis.
SONHO AFRICANO
(a João Ribeiro)
Ei-lo em sua choupana. A lâmpada, suspensa
Ao teto, oscila; a um canto, um velho e ervado fimbo;
Entrando, porta dentro, o sol forma-lhe um nimbo
Cor de cinábrio em torno à carapinha densa.
Estira-se no chão... Tanta fadiga e doença!
Espreguiça, boceja... O apagado cachimbo
Na boca, nessa meia escuridão de limbo,
Mole, semicerrando os dúbios olhos, pensa...
Pensa na pátria, além... As florestas gigantes
Se estendem sob o azul, onde, cheios de mágoa,
Vivem negros reptis e enormes elefantes...
Calma em tudo. Dardeja o sol raios tranqüilos...
Desce um rio, a cantar... Coalham-se à tona d'água,
Em compacto apertão, os velhos crocodilos...
PAISAGEM
Dorme sob o silêncio o parque. Com descanso,
Aos haustos, aspirando o finíssimo extrato
Que evapora a verdura e que deleita o olfato,
Pelas alas sem fim das árvores avanço.
Ao fundo do pomar, entre as folhas, abstrato
Em cismas, tristemente, um alvíssimo ganso
Escorrega de manso, escorrega de manso
Pelo claro cristal do límpido regato.
Nenhuma ave sequer sobre a macia alfombra
Pousa. Tudo deserto. Aos poucos escurece
A campina, a rechã sob a noturna sombra.
E enquanto o ganso vai, abstrato em cismas, pelas
Selvas adentro entrando, a noite desce, desce...
E espalham-se no céu camândulas de estrelas...
PROFISSÃO DE FÉ
Os superbum conticescat
Simplex fides acquiescat
Dei magisterio.
Ouço e vejo o teu nome em tudo: ou nos ressolhos*
do vento, ou no fulgor das estrelas, radiante;
tudo é cheio, Senhor, desse perdão constante
Que sai da tua boca ou desce dos teus olhos...
Tu és sempre o mistério, a luz que tenho diante
do olhar, quando te imploro a piedade, de geolhos;*
és, a noite, o luar que bate nos escolhos,
iluminando o bom caminho ao navegante.
Ante o perigo não vacilo: acho-me calma;
porque te amo, Senhor, com essa fé singela,
mas forte e intensa, que me vem de dentro d´alma.
Para marcar o mau caminho há sempre indícios;
não há sombra que esconda a escura e hiante goela
dos teus antros sem fundo e dos teus precipícios.
*palavras arcaicas: ressolhos (??) e geolhos (joelhos).
SILVA, Francisca Júlia da. Esphinges. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia Editores, s.d. 168+LVII p. Desenhos de F. Prado. Ao final, inclui textos sobre a autora. Contém uma dedicatória de 1924. “ Francisca Julia da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
(ortografia revista, atualizada :)
IX
A UM VELHO
Por suas próprias mãos armado cavalheiro,
Na cruzada em que entrou, com fé e mão segura,
Fez um cerco tenaz ao redor do Dinheiro,
E o colheu, a cuidar que colhia a Ventura.
Moço, no seu viver errante e aventureiro,
O peito abroquelou dentro de uma armadura;
Velho, a paz vê chegar do dia derradeiro
Entre a abundância do ouro e o tédio da fartura.
No amor, de que é rodeado, adivinha e presente
O interesse que o move, o anima e o faz ardente;
Foge por isso ao mundo e busca a solidão.
O passado feliz o presente lhe invade,
E vive de gozar a pungente saudade
Das noites sem abrigo e dos dias sem pão.
XV
RÚSTICA
Da casinha, em que vive, o reboco alvacento
Reflete o ribeirão na água clara e sonora.
Este é o ninho feliz e obscuro em que ela mora;
Além, o seu quintal, este, o seu aposento.
Vem do campo, a correr; e úmida do relento,
Toda ela, fresca do ar, tanto aroma evapora,
Que parece trazer consigo, lá de fora,
Na desordem da roupa e do cabelo, o vento...
E senta-se. Compõe as roupas. Olha em torno
Com seus olhos azuis onde a inocência boia;
Nessa meia penumbra e nesse ambiente morno,
Pegando da costura à luz da claraboia,
Põe na ponta do dedo em feitio de adorno,
O seu lindo dedal com pretensão de joia.
SILVA, Francisca Júlia da. Poesias. Introdução e notas por Péricles Eugênio da Silva Ramos. Sâo Paulo: Conselho Estadual de Cultura, Comissão de Literatura, 1961. 225 p. 13X18 cm. “ Francisca Júlia da Silva. Ex. bibl. Antonio Miranda
A FONTE DE JACÓ
Na velha Samaria era Sicar situada;
Ora, em Sicar, Jacó, filho de Isac, um dia,
Velho já, tarda a mão, à sua gente amada
Uma fonte rasgou d'água límpida e fria.
O Mestre, certa vez, a essa borda abençoada,
(No tempo de Jesus a fonte inda existia)
À hora sexta quedou-se, a fronte angustiada
De dor, a ver passar gentes de Samaria.
Uma Samaritana, acaso, à fonte veio;
E ao passar por Jesus, com seu cântaro cheio,
O alto busto ondulou numa graça lasciva.. .
— Água! pediu Jesus, mata-me a sede e a mágoa!
Do cântaro, que tens, dá-me uma pouca d'água
Que, em troca, eu te darei da fonte d'água, viva.
Manuscrito do poema de Francisca Julia, em imagem publicada no livro:
CAMARGOS, Marcia. Musa Impassível. A poetisa Francisca Júlia no cinzel de Victor Brecheret. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: EMURB, 2007. 132 p. ilus. col. formato 18x27
Imagem: https://pt.wikipedia.org/
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTÓRIA DO BRASIL – POEMAS
Antônio Carlos Gomes (Campinas, 11 de julho de 1836 — Belém, 16 de setembro de 1896) foi o mais importante compositor de ópera brasileiro
CARLOS GOMES
Essa que plange, que soluça e pensa
Amorosa e febril, tímida e casta,
Lira que raiva, lira que devasta,
E que dos próprios sons vive suspensa.
Guarda na cordas uma escala imensa,
Que, quando rompe, espaço fora, arrasta
Ora do mar as queixas ora a vasta
sussurração de uma floresta densa.
Ei-la muda, mas tal intensidade
Teve a música enorme do seu choro
O dilúvio orquestral dos seus lamentos,
Que muda assim, rotas as cordas há de
Para sempre vibrar o eco sonoro
Que sua alma lançou aos quatro ventosd.
(ESFINGES – Monteiro Lobato & Cia. S. Paulo -
s/d. )
*
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http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/brasil.html
Página ampliada em outubro de 2021
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TEXTOS EN ESPAÑOL
FRANCISCA JÚLIA
TRADUCCIÓN Y NOTA INTRODUCTORIA DE
ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO
MUSA IMPASIBLE
¡Musa! ¡Jamás un gesto de dolor o de sincero
Pesar alter tu cándido semblante!
Ante un Job conserva el mismo orgullo, y ante
Un muerto igual mirada y ceño austero.
Yo no queiro la lágrima en tus ojos; no quiero
Em tud boca el suave e idílico desencanto,
Ya expreses un fantasma anguiforme del Dante,
O la sombra marcial de un guerrero de Homero.
Dame el hemistiquio de oro, la imagen atractiva;
La rima cuyo son, de quebrada armonía,
Le cante al alma la estrofa limpia y viva;
Los versos que recuerden con sus bárbaros ruidos,
Ya el áspero rumo de roca que se quiebra
O ya el sordo rumor de los mármoles rotos.
Extraído de la obra
VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA
Goiânia: Editora Oriente, s.d.
MUSA IMPASIBLE (i)
Trad. de Ángel Crespo
Musa, ¡ un gesto siquiera de dolor o sincero
Luto jamás te afee el cándido semblante!
Ante un Job conserva el mismo orgullo; y ante
Un muerto, igual mirada y el mismo gesto austero,
En tus ojos no quiero la lágrima; no quiero
En tu boca el ligero devaneo cantante.
Celebra ora un fantasma anguiforme de Dante,
Ora el rostro marcial de un guerrero de Homero.
Dame el hemistiquio áureo, la imagen atractiva;
La rima, cuyo son, de armonía iterada,
Al alma solo cante; la estrofa limpia y viva;
Y versos que recuerden, con sus bárbaros ruídos,
Ora el seco rumor de una piedra quebrada,
Ora el sordo rumor de mármoles partidos.
VÉNUS
Grave y blanca, en un bloque de mármol de Garrara,
Que le sirve de trono, esta hermosa escultura,
Vénus, turgente el seno, en severa postura,
Con sus ojos de piedra el mundo entero encara.
Un soplo, algo de vida el génio le insuflara;
E impasible, de pie, ostenta en su blancura,
Desde el rostro a la linea que entalla la cintura,
La majestad real de una belleza rara.
Al veria en tal postura y con tan noble entono
De Minerva marcial que con el gladio arranca,
Creo vería bajar lentamente dei trono,
Y, en la misma actitud, mostrar de orgullo llena,
Parada frente a mí, indiferente y blanca,
De la hermosura antigua la perfección serena.
Traduções de ANGEL CRESPO
publicadas originalmente en la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA, n. 17 Junio 1966 – Editada por la Embajada del Brasil en Madrid, España.
LA REINA DE LAS AGUAS
Trad. de Francisco Soto y Calvo
Mar afuera, do ríe el mágico tesoro
Soltando y sacudiendo la ondeante cabellera,
Del mar corta la pampa que se desdobla entera
En una azul estepa con la gran franja de oro.
Reina a popa un tritón de escámeo dorso moro :
Van al frente delfines: y nadando en hilera
Y en las olas siguiendo la alba estela ligera
Las Piérides cantando van a compás y en coro . . .
Crespas cantan en torno las ondas en sordina
Y lamen popa y proa de la nao que camina
Noble en la mar afuera su altiva ruta ufana . . .
Y en alto el flavo sol que asoma entre desmayos,
Saluda el otro sol de corruscantes rayos
Que forma alba la frente de la alba soberana.
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traducción de Jaime Tello:
OTRA VIDA
Sí el día de hoy es idéntico al día que me espera
después de resta, en tanto, el consuelo incesante
de sentir a mis pies, a cada avante,
que se muda mi suelo al suelo de otra esfera.
No rehuyo el dolor, ni maldigo la fiera
ley que me condeno a tortura constante;
porque en todo adivino la muerte a cada instante,
abro el seno, risueña, al puñal que lo hiera.
Existe en mi ambiente tinieblas de su luto;
en mi soledad triste su clara voz disfruto
y siento, contra el mío su hálito tan frío.
¡Breve es el viaje, oh muerte, y mi fin está cerca!
Feliz, me iré contigo, sin mirar el desierto
que detrás de mi dejo, vago, inmenso, vacío…
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_infantil/poesia_infantil_index.html
Página publicada em outubro de 2022
Página republicada em junho de 2008; ampliada y republicada em dez. 2008; ampliada e republicada em abril de 2015.
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