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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AFFONSO SCHMIDT

Imagem: /www.novomilenio.inf.br

 

AFFONSO SCHMIDT

 

Afonso Frederico Schmidt (Cubatão, 29 de junho de 18903 de abril de 1964), mais conhecido como Afonso Schmidt, foi um jornalista, contista, romancista, dramaturgo e ativista anarquista brasileiro.

Em Cubatão fundou o jornal Vésper, e na cidade de São Paulo fez parte da redação dos importantes periódicos libertários, A Plebe e A Lanterna, ao lado de figuras lendárias do movimento anarquista brasileiro como Edgard Leuenroth e Oreste Ristori. Ocupou ainda posições na redação dos jornais Folha e O Estado de São Paulo. Na cidade do Rio de Janeiro, fundou o jornal Voz do Povo, que a seu tempo tornou-se o órgão de imprensa da Federação Operária.

Foi diversas vezes preso por expressar o que pensava. Ganhou destaque também pelas diversas campanhas que realizou contra o fascismo e o clericalismo, através de panfletos ou de livros, peças teatrais e artigos de jornais. Escrevendo intensamente por toda sua vida, foi autor de uma vasta obra poética e literária reunida em mais de quarenta livros. Envereda por crônicas históricas, e fantasia, sendo também um pioneiro da ficção científica no Brasil.

Obra poética: Lírios Roxos (1907); Miniaturas; Janelas Abertas (1911); Mocidade (1921); Garoa (1932); Lusitania; Poesias (1934); Poesia (1945)

 

 

 Vejam:  MODERNISMO : TRADIÇÃO E RUPTURA, por IVAN JUNQUEIRA, ensaio extraordinário (!!!) publicado originariamente na revista POESIA SEMPRE, da Fundação Biblioteca Nacional, em 1993. IMPERDÍVEL. Inclui texto sobre o poeta AFFONSO F. SCHIMIDT:    http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/modernismo_tradicao_e_ruptura.html

 

 

JANELLAS ABERTAS

De
Affonso Schmidt
JANELLAS ABERTAS
edição augmentada
São Paulo: Edição de "A Fornalha", 1923

(Com a ortografia atualizada:)

 



CARAS SUJAS


Ao longo destas avenidas,
Recordação de velhas lendas,
Cantam as chácaras floridas
Com suas líricas vivendas.

Lá dentro, há risos, jogos, danças,
Crastinas, módulas fanfarras,
Um pandemônio de crianças,
Um zagarreio de cigarras.

Fora, penduram-se na grade
Os pobre, como gafanhotos;
Têm dos outros a mesma idade,

Mas estão pálidos e rotos.
Chora a injustiça da cidade
Na cara suja dos garotos.



OS VAGABUNDOS

Perdidos pela estepe enegrecida e rasa,
Nessa planície igual que a distância arredonda,
Que o inverno enregela e que o verão abrasa,
Dos vagabundos passa a maltrapilha ronda.

As miragens do céu são como pétrea onda...
E o vento forasteiro essa visão arrasa,
Quebrando torreões de arquitetura hedionda,
Catedrais de marfim e florestas de brasa!

Eles passam cantando uma canção dolente,
E vão deixando atrás, por sobre a terra ardente,
Dos seus inchados pés os passageiros rastros...

E quando a noite desce aos desertos medonhos,
Deitam-se sobre a terra e sonham lindos sonhos.
Na solidão da estepe e na mudez dos astros!

 

 

 

 

SCHMIDT, AffonsoPoesia. Edição definitiva.  São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1945.  221 p.  14x19 cm.  “ Affonso Schmidt “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

GAROA

 

Que pó de arroz espiritual empoa

o halo dourado e móv.el destas urnas,

destes lampiões

                   nas solidões

                                  noturnas?

 

Que cabeleira prateada Voa

e se enrosca nas árvores despidas,

crucificadas,

                      pelas avenidas?

Que agudo lápis, manejado à-toa,

risca de branco a descorada tela

que por moldura tem minha janela?

 

Que som suave é este que nem soa,

mão de sonho que bate na vidraça,

como quem quer entrar e depois passa?

 

Que multidão meu silêncio povoa?

 

Que véu de noiva minha face beija

e que umidade meu olhar mareja?

—A garoa...

 



 

TORRES, Francisco Rodrigues.   Afonso Schmidt – Escritor da alma brasileira.  Francisco Rodrigues Torres; Wellington Ribeiro Borges, orgs.  São Paulo: Nooovha América, 2006.  40 p.  (Coleção grandes nomes)  23x21 cm.  Ilus. Col.  Biografia e documentação sobre o autor. ISBN 85-7673-085-5  " Affonso Schmidt " Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Imagem extraída  de
DIAS-PINO, WlademirA lisa escolha do carinho (Rio de Janeiro: Edição Europa, s.d. 
            20,5x20,5 cm.  33 f. ilustradas  (Coleção Enciclopédia Visual).   Inclui versos de
            poetas brasileiros

HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS

 

1924

OS LIBERTADORES

Sombras azuis da Paranapiacaba,
Ilhas do sol, com eclosões de espuma,
Campos de ouro, onde a terra não se acaba
E a distância os tons vividos esfuma;
Cidades cujas chaminés vermelhas
Escrevem frases sobre a ardósia azul;
Multidões que trabalham com abelhas...
São bem assim as regiões do Sul.

No entanto, vêde: o litoral faminto,
A serra abandonada, os campos largos
E desertos, chorando o sonho extinto,
Sob o pavor dos dias mais amargos;
Nas cidades, o povo curte fome
Como em Pequim, como em Jerusalém...
O governo voraz tudo consome...
Ninguém escuta a multidão. Ninguém!

Súbito, um grito... Vemos um soldado
Filho do povo, povo como o povo,
Vir colocar-se, heroico, ao nosso lado;
Do Brasil velho surge o Brasil Novo!
Desde logo as nação respeita e ama
E segue esse espírito de escol,
Na ânsia de um povo a naufragar na lama
Que estende a mão para invocar o sol.

Rugem de raiva bandos oligarcas,
Organizam-se exércitos de judas,
Caim esconde do homicídio as marcas,
As vozes da nação quedam-se mudas;
São Paulo, o berço azul da liberdade,
Recebe ensanguentada punição:
Crianças mortas juncam a cidade,
O Herodes brasileiro usa canhão.

Toda a gente bendiz esse que luta
Pela libertação do povo escravo;
Se nossos lares o governo enluta
O paulista se mostra inda mais bravo;
Isidoro! Vivemos ao teu lado!
Somos as mariposas dessa luz
Que hoje circunda teu perfil amado
Como os dos Santos, como o de Jesus.  

                    São Paulo, julho 1924.

*

VEJA E LEIA outros poetas de SÃO PAULO em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/sao_paulo.html

 

Página ampliada em outubro de 2021

 



Página publicada em maio de 2010. Ampliada e republicada em março de 2015.
Ampliada e republicada em junho de 2018.

 

 

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