JUVÊNCIO MARTINS COSTA
Juvêncio Martins Costa (Florianópolis, 6 de julho de 1850 — Florianópolis, 7 de outubro de 1882) foi um jornalista e político brasileiro. Poeta. Filho de Venceslau Martins Costa e de Ana Inácia Medeiros Costa. Foi deputado à Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina na 23ª legislatura (1880 — 1881). É patrono da cadeira 25 da Academia Catarinense de Letras.
PITSICA, Paschoal Apóstolo. Juvêncio Martins Costa e sua obra poética Flores sem perfume: conferência. Florianópolis: FCC Edições, 1986. 106 p. 14x21 cm. Col. A.M.
SONETO (I)
Na dor do coração a morte leio,
(Azevedo)
Na alvorada da vida — o sofrimento
Me punge o coração enternecido,
E concentro no peito esvaecido
Os suspiros e ais do sentimento!
Bem como a flor votada a esquecimento
Assim é meu amor constante e fido. . .
Ninguém perscruta meu penar sentido,
A cisma que me aflue ao pensamento!
Fenece â crença, me maltrata a lida
De um presente cruel, e a sorte odeio,
Detesto os sonhos da ilusão perdida!
E a esperança, que é luz — d'ela descreio!
Maldigo o meu porvir, e odiando a vida
— Na dor do coração a morte leio.
SONHO (II)
Tranquilo o coração adormecera
Na doce languidez de um beijo ardente. . .
Entre sonhos de flor beijara a crença
A perfumar minh'alma incandescente.
E amei a vida, respirei das auras
O tépido frescor, banhando a fronte
Da formosa mulher, por quem meu peito
Estremece de amor, tão puro, insonte.
E amei o sonho desfolhando risos,
Almo prenúncio d'almo encantamento;
E minh'alma jaze o imersa em gozo,
N'uma luta febril com o pensamento.
E a sonhar vi a imagem predileta
Por entre sombras de uma luz fulgente;
Nus os seios tremendo de volúpia,
E no lábio a brincar beijo inocente.
E a voz tremente balbucia um termo, —
Repassado de aromas e ambrósias,
Termo tão doce como sons de arpa
Desprendendo ignotas harmonias.
Esse termo exprimira a majestade
De um profundo sentir, d'alma arrancado:
Amor em cujos elos se enlaçara
O coração do vate apaixonado.
Termo tão doce a revelar carinhos,
Desprendido de lábios sedutores;
Termo a deslumbrar meu lindo sonho,
Ventura a reviver n'um céu de amores!
Ouvi a frase rebentar dos lábios:
En sou o teu amor, amo-te tanto!
Não sei o que senti: em doce arroubo
Contemplei a mulher, celeste encanto!
Era um anjo: sobre a nívea espádua
Vi roçar seu cabelo brandamente. . .
Nos seus olhos o brilho que cintila
Fogo de amor que queima e não se sente!
Ai! cedo se turvou a crença d'alma,
Breve se transformou o encantamento. . .
Acordei-me do sonho e não vi nada.
E sinto arder em febre o pensamento!
RECUERDO
A Alfredo Costa
em brilhante coxim d'ouro franjado,
Pendente a fronte em mole travesseiro
Um tipo de mulher — anjo fagueiro —
Dormitava sereno, sossegado.
De quando em vez no lábio nacarado
Brincava a flux um riso feiticeiro,
E entre as sombras de um sonhar faceiro
Pensava ver o bem idolatrado. . .
Mas, fugace ilusão! tremente, esquiva
Ela acorda em soluços, delirante,
Vergada ao peso de uma dor, cativa. . .
Procura embalde o desditoso amante
Que a mente despertou lembrança viva
Do passado de amor, perdido, errante!
Página publicada em março de 2013
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