Fonte: www.50anos.ufrn.br
DIÓGENES DA CUNHA LIMA
Nasceu em Nova Cruz, Rio Grande do Norte, Brasil, a 20 de junho de 1937. "Lua 4 vezes sol" (1967) é seu livro de estréia e publicou "Instrumento dúctil", Corpo breve" e "Natal, poemas e canções". Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras, atual presidente; Medalha João Ribeiro, pela Academia Brasileira de Letras.
(página em construção)
JESUS, UM NORDESTINO
Eu penso que Jesus
Devia de nascer em Belém
Na Paraíba, perto de Guarabira
E vizinho a Pirpirituba.
E se não bastasse a vizinhança
A indicar rima e caminho, Nova
Cruz.
Era filho caçula de Dona Maria
Uma mulher dona da beleza
E que germinava bondade nas
pessoas
Era um menino moreno muito
esperto,
Embalado em rede de algodão
cru.
Tinha sandália com currulepo
entre os dedos
e cajus, em dezembro, a lhe
matar a sede.
O seu pastor fora um vaqueiro
nordestino
De gibão e perneira e
guarda-peito
Pra livrar as suas carnes da
jurema.
E vieram adorar o Deus-menino
Os Santos Reis, entrelaçados de
bom jeito
Um negro, um índio e um
branco português.
Seria fácil encontrar espinhos
para a fronte
Divina coroar, e um caminhão
Que ia por São José do Egito
Pra levar Jesus, o retirante,
Até São Paulo,
Um santo feito para as grandes
secas.
Meu Deus, meu Deus, por que
Nos abandonaste, exclamaria
Enquanto repartia com o povo
nu as suas vestes
Multiplicadas como pães ou peixes.
Criança, era carpinteiro como seu
pai
fazendo caixões azuis para os anjos do lugar.
Brincaria de castanha, um
castelo,
Como convém a sua alta
nobreza.
Academia, pulava num pé só
E proezas faria num cavalo de
pau.
O seu jumento era mais magro
certamente.
E nem serviria pra carne de
jabé
Era um menino desnutrido
como os outros
De região a fazer o bem,
mudar.
Aqui as coisas só vão na base
do milagre
Ou da força parida da vontade.
Eu penso que Jesus
Devia de nascer em Belém
Na Paraíba.
de NATAL, POEMAS E CANÇÕES
LIMA, Diógenes da Cunha. Os pássaros da memória. 77 poemas minimalistas. s.l.: Lidador, 1994. 71 p. 13c20,5 cm. Capa e projeto gráfic: Nei Leando de Castro/ Ruy de Carvalho. Ilustrações: Mem de Sá Bico-de-pena da contracapa (retrato do autor): Tarcisio Mota. Col. A.M.
Através de um desejo de perfeição, Diógenes da Cunha Lima "recolhe o mel das palavras", adoça o seu imaginário e, com arte, reduz tudo à linguagem, podendo assim mudar a “órbita do planeta" e abrir para o leitor o espaço encantado de sua poesia. Gilberto Mendonça Teles
(fragmentos)
TEMPO CRONOLOGIA
No silêncio do corpo
Pulsa o relógio
No pulso do morto.
O relógio
A te olhar
Teu necrológio.
É todo santo dia
Todavia o seu santo
Não é tanto todo dia.
(...)
A beata sozinha
Devora as horas
E cospe ladainhas.
(...)
A fome é o que resta
Aqui a terra é boa
Mas o céu não presta.
Soma de ciência e fé
Toda ciência é aparência
Só a poesia é.
(...)
TEMPO ETILÍRICO
O bêbado sobre o monte
Mijando estrelas
Na linha do horizonte.
Beba seja o que for
Bebida transparente
O que faz mal é a cor.
O bêbado faz promessas
Que beber é morte lenta
Mas ele não tem pressa.
LIMA, Diógenes da Cunha. Livro de Respostas (Face ao Livro de las Preguntas de Pablo Neruda). São Paulo: Massao Ohno Editor, 1996. 214 p. 14x21 cm. Capa: Colóquio, óleo de Maria Villares. Ex. col. Antonio Miranda
XIV
(perguntas de Pablo Neruda)
XIV
(respostas de Diógenes da Cunha Lima)
¿ Y qué dijeron los rubíes
ante el jugo de las granadas?
Rubros rubis em Granada
disseram que as romãs
nasceram em Serra Nevada.
¿ Pero por qué no se convence
el Jueves de ir después del Viernes?
Porque o sábado já findo
não se transforma em domingo.
¿ Quiénes gritaron de alegría
cuando nació el color azul?
O azul nasceu de um grito
do mar. Do ar. No infinito.
¿ Por qué se entristece la tierra
cuando aparecen las violetas?
Porque a flor só se encanta
na cor da semana santa.
LIMA, Diógenes da Cunha. Natal. Poemas e canções. 2ª. Edição. Natal, RN: Fundação José Augusto, 2013. 107 p. ilus. (Coleção Cultura Potiguar, 34) Ilustrações Newton Navarro. A edição inclui um CD. “Diógenes da Cunha Lima”
LIMA, Diógenes da Cunha. Memória das águas. Rio de Janeiro: Lidador, 2005. 118 p. 14x21 cm. “Diógenes da Cunha Lima “ Ex. bibl. Antonio Miranda
A POSSE
Foi exatamente quando
os músculos não mais estavam elásticos
e da memória restou
uma visão nutrida de um retrato fosco;
foi exatamente quando
para habitar outras formas plásticas
os desejos e sonhos se mudavam;
foi o momento exato
em que as mãos repousaram
sobre o lençol grosseiro
sem mais experiência táctil;
rapidamente, a nudez deixou de ser
notada
(tão frágil e transparente estava), ela surgiu
revoada branca de silêncios
e se apossou de tudo!,
o corpo, a cama, o quarto, o chão,
que tanto pode a força do invisível.
PIRANGI
(Este poema foi musicado
por Chico Elion)
Água clara, mar azul,
suave ser, alegria contida,
moças florescem no azul
da manhã recém-nascida.
Voam velas, luze a luz,
gente e paisagem: harmonia.
Pirangi, praia do amor,
nos dá lição de alegria.
O coração ritmado
nos lábios sorriso breve,
o vento arrepia a pele,
respiro o ar leve, leve.
Nas casas cinzento
perde a sisudez merecida,
o sol dourando a manhã
limpa as vidraças da vida.
GONZAGA, Thiago, org. A Arte poética de Diógenes da Cunha Lima. Natal, RN. CJA Edições, 2015. 106 p. 14,5 x 21 cm. Ilus. Foto da capaÇ Leila T. da Cunha Lima Almeida. Antologia poética. “Diógenes da Cunha Lima “ Ex. bibl. Antonio Miranda
CORPO BREVE
Descubro
No teu corpo cálido
A textura do pássaro —
O teu corpo ave
Qualquer coisa de voo
Muita coisa do leve
Prestes a voar
O teu corpo breve —
A PELE
Visto a minha pele
com arte:
a vida compele ao
disfarce —
O LIVRO DE REVELAÇÕES: Matrizes do afeto — o pensamento vivo de escritores. Coordenação de Diógenes da Cunha Lima. Natal, RN: Baobab, 2013. 357 p. capa dura; 15,5x2,5 cm. ISBN 978-85-6318-11-0 Edição: Mário Ivo Cavalcanti. Capa e projeto gráfico Dimetrius de Carvalho Ferreira. Impressão: Unigráfica. O volume inclui respostas de escritores em geral e de poetas em particular. Alguns temas relacionados com a Poesia: A poesia é útil?; Fronteira entre Poesia e Prosa; Autores canônicos favoritos (poesia)Úm verso; destacando-se alguns poetas como Cyro de Mattos, Ives Gandra, José Inácio Vieira de Melo, Marco Lucchesi, etc. “Diógenes da Cunha Lima”
Página publicada em junho de 2010, ampliada e republicada em fev. 2013. Ampliada e republicada em junho de 2014. Ampliada e republicada em março de 2016, ainda em construção. |