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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto extraído https://tokdehistoria.com.br/

 

 

AUGUSTO SEVERO NETO

 

(1922-1991)

 

 

O poeta, cronista e memorialista Augusto Severo Neto (1921-1991) nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, e teve 14 livros publicados, entre 1959 e 1991. Jornalista, foi colaborador de diversos jornais de Natal e Recife, entre outros. Formou-se pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza (1973), depois incorporada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da qual também foi professor, abordando a comunicação por meio da arte, uma das suas paixões. Destaca-se ainda como promotor da cultura francesa, atuando como professor e vice-diretor da Aliança Francesa em Natal. É assim que Severo Neto inscreve-se, de modo marcante, entre os membros da sua geração, privando da amizade e da convivência dos principais intelectuais da cidade das décadas de 1950 a 1990. É, portanto, significativa presença na vida social e cultural da cidade do seu tempo.

Texto extraído do pdf: https://repositorio.ufrn.br/

 

 

 

 

 

SEVERO NETO, Augusto. Obras inéditas / Augusto Severo Neto. – Natal, RN: EDUFRN, 2017.    247 p. : il. ; PDF; 78.1 Mb

Modo de acesso: ISBN 978-85- 425-0733- 1

 

 

 

A titulo de porque

 

 

Não apenas de ausências

nem tão pouco itinerário somente

uma mistura

antes

de redizeres

de recaminhos

de monodiálogos

de pavanas

de circunavegação e travessia

de aboios

búzios

e trompas

e arco-íris e pontes

de promontórios e ilhas

e,

mais ainda

´

 

como essência

cerne

e núcleo do que sou,

a constatação alumbranda da permanência da

                                   [Bem-Amada em mim

como causa e efeito

inspiração e tema

musa e canção

é por ela

simplesmente

que já avistando inverno

ainda carrego em mim tanta primavera

 

 

 

 

Soneto do abandono

 

Fiz minhas mãos de impossíveis rastros

gastei-me em rastos, em ilhas de outono

limo de cais, quilha partida, sono

cama vazia, despanados mastros

 

Apascentei meus olhos pelos astros

nasci-me, gasto, estepes de abandono

flauta quebrada, búzio absono

nave ascendente vomitando lastros

 

De impreciso sabre fino gume

cortou a rosa, o mar, o vento e a noite

que se abriu, sangrando estrelas e luas

 

da rosa que caiu resta o perfume

do mar a espuma, do vento um açoite

e dos meus pés um rasto pelas ruas

 

 

 

 

Soneto de busca

 

Por que essa angústia para anular o efeito

se o gérmen, a causa mesma, continua

por que esse insatisfeito estar na rua

se a própria rua me prolonga o leito

 

Por que morrer-me no imutável eito

de um impossível desejar a lua

por que ser solidão estéril e nua

se isso me estua e esteriliza o peito

 

É preciso voltar, olhar o rio

sentir o sal, o sol, o mar, o porto

colher a rosa, rir, andar a esmo

 

É necessário encher esse vazio

de algum destino que não esteja morto

na interminável busca de mim mesmo

 

JORNALZINHO SEBO VERMELHO.   ANO I  No. 8 JUNHO  1991
Natal, RN: 1991                              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

BALADA DAQUELA CASA

Era uma casa sozinha
sem gritos
sem gargalhadas
sem vozes dentro das salas
sem louças batendo louças
sem passos pelas escadas

Havia um cheiro abafado
um cheiro assim bolorento
talvez por falta de vento
talvez por falto de luz
as janelas quando abertas
e as portas estava coladas
gritavam tintas quebradas
mais ainda que as janelas
que para abrir uma delas
fiquei com as mãos machucadas
cheias de manchas azuis

Mas a porta foi aberta
uma janela também
o vento entrou por elas
eu entrei atrás do vento
olhei por todos os lados
procurei quartos e salas
a casa estava deserta
lá não havia ninguém

O vento que entrou comigo
decerto um vento menino
brincou com um jornal antigo
folheou velhas revistas
atiradas nas cadeiras
soprou poeiras dos móveis
fez redemoinho no chão

Talvez que por milagre
o relógio trabalhava
em toda parte da casa
a moldura de silêncio
que circundava as pancadas
uniformes
compassadas
despertou-me uma pergunta:
Com nós
aquela casa não teria um coração?

Não sei
porém eu sentia
que qualquer coisa pulsava
qualquer coisa acompanhava
o sangue nas minhas veias
Perguntei-me:
Que seria?
Junto de mim não havia nada
a casa estava fechada
os lustres cheios de teias
os móveis empoeirados
há muito não vem ninguém
e esse algo pulsando?
talvez eu estivesse certo
quando
há pouco
pensava
que os batidos que escutava
nasciam do coração
que essa velha casa tem

Era uma casa sozinha
sem gritos
sem gargalhadas
sem vozes dentro das salas
sem louças batendo louças
sem passos pela escadas
era uma casa deserta
lá não havia ninguém.

 

 

*

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Página publicada em setembro de 2022

 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2020

 


 

 

 
 
 
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