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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GUERRA-DUVAL


 

Adalberto Guerra Duval, foi o introdutor do verso livre no Brasil foi Guerra-Duval (1900) _ durante o período simbolista. Se várias das composições de Palavras que o Vento Leva... podem deixar margem a dúvida sobre as reais intenções do Poeta, uma poesia como "Castelos no Ar" elimina todas as vacilações, pois tem versos definidamente livres:

de 9, 12, 13, 14, 15 e 16 sílabas com ritmo interno bem diverso daqueles que seriam de esperar ou diferentes uns dos outros, em limite igual. As linhas "no parque, alabastros de ninfas e mármores de musas", e "trêmulos e tímidos os dedos vão rasgando as sedas", embora de 15 silabas, são diferentemente acentuadas, a primeira na 2ª , 5ª , 8ª, - e  11ª e 15ª silabas, a segunda na 1ª ,

5ª , 9ª , 13am e 15ª ; os versos de 14 silabas "no jardim as rosas brancas são pálidas reclusas", "e a legenda sutil de Leda e do Cisne divino" são acentuados o primeiro na 3ª , 5ª ; 7ª , 10ª  e 14ª  o segundo na 3ª , 6ª , 8ª , 11ª  e 14ª ; os versos de 9 silabas são de ritmo trocaico, etc., e tudo isso indica que suas composições nao eram puramente heterométricas, mas o próprio verso livre, bastante adiantado e só ultrapassado em pleno Modernismo, na dissolução do ritmo. Na verdade, Guerra-Duval não apenas foi o introdutor do verso livre, mas também um virtuoso da métrica, que usou versos longos e curtos segundo técnicas diversas e com igual perícia; essa perícia transparece por exemplo de sua utilização do verso de 9 silabas, que ora obedece a técnica romântica do hiato entre os hemistíquios, ora a da sinalefa, ora refoge avulsamente a qualquer dos esquemas de acento na 4ª  silaba. Guerra-Duval tem também dois poemas em prosa de

curiosa feitura: "0 Poeta Canta" e "Nomen".

 

Nasceu Adalberto Guerra-Duval em Porto Alegre, em 31 de maio de 1872, e graduou-se em Direito por São Paulo, 1892. Foi secretario do periódico Rua do Ouvidor e publicou versos pelas revistas da época. Em 1905 entrou na carreira diplomática, servindo em capitais como Roma, Buenos Aires, Assunção, Londres,

Haia, Berlim, Lisboa e Roma de novo, onde se aposentou como embaixador, em 1938. Faleceu em Petrópolis, em 15 de janeiro de 1947.

A poesia de Guerra-Duval trai influência européia — de Maeterlink, segundo aponta Murici — e levemente do simbolismo português: há epígrafes de Eugénio de Castro em seu livro.

 

Obra: Palavras que o Vento Levou... Bruxelas: Oficinas de Ad. Mertens, 1900

 

PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, in  POESIA SIMBOLISTA Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965, p.139-146.

 

 

CASTELOS N0 AR

 

A vida é o sonho de um sonho sonhado.

                                               FICHTE

 

Sonhos, noites, lagos noturnos e luares;

                                      olhos, olhares...

 

Quando o luar dos teus olhos aos meus olhos desce

a minh'alma empalidece;

todo eu fico a tremer,

         e tu passas sem me ver,

no teu lento passo acompassado...

Ao ver-te passar, eu sinto que me crescem asas,

e leve de culpa e de pecado

ponho-me a voar, a voar,

numa volúpia nova, pelo azul dos ares,

— pelo Reino dos Luares, —

acima das misérias e das casas

té encontrar pelo caminho

um dos meus Castelos no Ar...

Lá, se tu quisesses, pela primavera,

íamos fazer o nosso ninho.

 

(Minha Sombra Azul, cor de Quimera,

quando o luar dos teus olhos os meus olhos banha,

na noite da minh'alma entra uma luz estranha.)

0 meu alcácer é um fantástico tesoiro,

um palácio astral mitrado dum zimbório d'oiro:

no parque, alabastros de ninfas e mármores de musas,

 

no jardim, as rosas brancas são pálidas reclusas,

e as sanguíneas papoilas

um bando saudável de rústicas moçoilas;

dentro, numa sala imensa,

em quadros murais da Renascença,

vivem sonetos do Aretino

e a legenda sutil de Leda e do Cisne divino.

Quando o olhar dos teus olhos me veste de luar

dentro da minh'alma ha um Cisne a cantar.)

 

Nessa câmera d'arte erótica e pagã,

por uma plúmea e nupcial manhã,

o meu amor espera-te. E com que desejo,

com que sede te espera!

 

No primeiro longo, longo beijo

bebe-te o hálito floral de primavera,

e é como se bebesse logo.

 

(Quando o luar dos teus olhos os meus olhos toca,

a minh'alma beija-te na boca.)

 

Nos meus olhos crepitam labaredas;

todo eu, ardendo, quero amar-te logo;

trêmulos e tímidos os dedos vão rasgando as sedas,

as musselinas lívidas esparsas,

penugem ventral de garças, —

translúcidas e brancas,

fogem pela curva clássica das ancas;

como um estandarte desfraldas o cabelo:

cai a noite sem luar no meu castelo,

e sob o novilúnio da tua cabeleira

é d'âmbar o teu corpo, Trigueira,

sincero e sem pejos,

todo vestido de beijos!...

 

(Quando o luar dos teus olhos vence todos os luares

no lago da minh'alina abrem os sonhos, como nenúfares.)

 

 

 

A poesia, que tem linhas até de 16 silabas, adota um dos recursos d6 simbolismo europeu: o verso livre (detinidamente livre e não meramente heteromélrico, como o chamado verso livre "clássico", simples junção numa poesia de versos regulares de medidas diferentes). A análise rítmica dos versos mais longos de "Caslelo no Ar", a partir de 9 silabas, indica a ausência de padrões uniformes ou regulares. Guerra-Duval é assim o nosso primeiro cultor do verso-livre simbolista, e usa-o com desenvoltura bem maior do que a heterometria inicial de alguns dos próprios modernistas.    Idem, p. 140

 

 

ANGELUS

 

(Cirros esparsos como lírios raros

andam no Ar opalejante, frouxo;

o Céu é um campo de lilases claros,

e o Sol é um grande crisantemo roxo.)

 

Melancolia d'Ave-Maria,

sino que tange recorda e plange...

 

Penas, Suspiros, Ecos, Passados...

Sinos soluçam acompassados;

 

o som se queixa, suspira e passa:

Ave, Maria, cheia de graça;

 

Senhora, d'olhos tão esmoleres,

bendita sede sobre as mulheres;

 

ó Santa Virgem d'Aparecida,

porta de prata da Outra Vida,

 

Jesus é o fruto do Vosso ventre:

bendito o Fruto, bendito o Ventre!

 

Torre d'aljófar e de marfim,

Santa Maria, orai por mim;

 

A Arca da Graça, Flor de Ciclámen,

abri na hora da minha morte. Amém.

 

A Voz, que fala, tão triste fala

que a mágoa ambiente nas almas cala;

 

p'los montes longes um sino bala,

e urna saudade, flébil, s'exala;

 

bebe-se a mágoa aos lentos sorvos,
e em cada perito crocitam corvos...

Penas, Suspiros, Ecos, Passados...
Sinos soluçam acompassados
magos do Som...



— Eu, que sou mau, se eu fora bom..



Alguns dos tiques românticos ressurgem na “música” simbolista: a primeira quadra ostenta decassílabos somente sáficos.  Idem, p. 142

 

 

SONETO D'OUTONO

 

Grandes panos grisalhos... Folhas mortas

nos esqueletos d'árvores d'outono...

A Morte e o Frio andam batendo as portas,

e o Vento ulula como um cão sem dono.

 

(Pelos outonos, minha Primavera,

padeço as agonias ambientes,

e há no meu peito alguém que desespera...

— Por que há de haver outonos e poentes!)

 

Nesta paisagem lívida de spleen

a Alegria expirou dentro de mim;

e o Sol, o loiro Sol do meu país!

 

Morreu de tédio pelo outono gris...

— Como a nódoa d'azeite que s'espalma,

a Tristeza manchou toda a minh'almal

 

 

 

Durante o simbolismo teve plena aceitação o asserto de Amiel segundo o qual "uma paisagem é um estado de alma".  Idem, p0. 143

 

 

 

VERSOS DA NOITE MÁ

 

En las tinieblas cómplices perpetra

— la vieja Eternidad alguna infamia.

                                  L. LUGONES

 

Desmaiam alegrias e açucenas,

primaveras e rosas rosícler;

já autuneja o verde das verbenas

e o perfume pueril do vetiver.

 

Abrem os goivos tristes, goivos roxos,

como o viúvo pio roxo de mochos;

roreja sonolenta, lenta a chuva,

— triste noivado roxo de viúva...

 

A Noite cega, a imensa Noite impura

cobre a Luxúria e o Crime pelos mundos.

(A sombra desleal da Noite escura

lembra os teus olhos fúnebres, profundos!)

 

No campanário da última esperança

dobra a mortos o sino da Lembrança.

..................................................

 

— É noite de assassinos esta noite,

E a minh'alma não tem onde se acoite!

 

 

Autuneja: mais um vocábulo no rol dos neologismos simbolistas. No

verso 7, sonolenta, lenta, recordação de Eugênio de Castro

Pio, monossílabo.     Idem, p. 144

 

 

 

SONETO DO OLHAR

 

(Para os teus olhos, para os teus olhares

o Soneto bordado de saudade

e a lisonja das silabas de seda.)

 

Pelo céu, pela noite, pelos mares,

Via-láctea de amor e claridade —

o teu olhar é plácida alameda,

 

onde a minh'alma, anêmica e doente,

anda bebendo o ar da vida nova,

nesse quebranto do convalescente

que fugiu ao mistério duma cova.

 

(Já estive à morte, sendo assim tão moço.,

— Tarde de calma e de melancolia

é o teu olhar; e, quando me olhas, ouço

tocar dentro de mim Ave-Maria.

 

 

 

É um soneto de tercetos a frente, forma não raro usada nossos parnasianos. De origem baudelairiana.  Idem, p. 145

 

 

PORQUE O MEU BRAÇO

                   É ENCORDOADO EM MÚSCULOS

 

Porque o meu braço é encordoado em músculos

E pareço talhado para a lida,

Ninguém crê nos meus íntimos crepúsculos. . .

- Vocês não sabem que eu nasci suicida?

 

E levantei-me cedo e fui viajar. . .

Por mais que andasse não saí do mundo,

Por mais que andasse, ia comigo, a andar,

A sombra de um desgosto vagamundo.

 

E para que viajar? O esforço é inútil.

A desventura é a túnica inconsútil:

A carne é dolorosa, a carne é triste.

 

Uma viagem só, para o Nirvana,

Que nesta longa travessia humana

Vi o avesso de tudo quanto existe!

 

 


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