CARLOS NEJAR
Estamos efetivamente diante de um dos grandes nomes da poesia brasileira contemporânea. Sabia de sua existência mas só travei contato com a sua vasta produção literária recentemente. Uma falha. Gosto de tudo que ele escreve mas tenho uma predileção muito especial por Ordenações (Porto Alegre: Editora Globo, 1970).
leia o ensaio: CARLOS NEJAR - por ANTONIO MIRANDA
COLETÂNEA VIAGEM PELA ESCRITA. Vol. V. Homenagem ao acadêmico Carlos Nejar. Volta Redonda, RJ: Gráfica e Editora Irmão Drumond, 2019. 106 p. 15 x 21 cm. Apresentação por Jean Carlos Gomes. Inclui além da antologia de poetas, textos sobre Nejar escritos por Alexei Bueno, Anderson Braga Horta, Antonio Carlos Secchin, Antonio Miranda, Antonio Torres, Geraldo Carneiro, Luiz Otávio Oliani, Nuno Rau e Angeli Rose.
De
CÂNTICO
Limarás tua esperança
até que a mó se desgaste;
mesmo sem mó, limarás
contra a sorte e o desespero.
Até que tudo seja
mais doloroso e profundo.
Limarás sem mãos ou braços
com o coração resoluto.
Conhecerá a esperança,
após a morte de tudo.
A IDADE
Falou e disse um pássaro,
dois sóis, uma pequena estrela.
Falou para que calássemos
e disse amor, penúria, brevidade.
E disse disse disse
a idade da eternidade.
LANÇADA A CANDIDATURA DO POETA CARLOS NEJAR
AO PRÊMIO NOBEL
CARLOS NEJAR, ocupante da Cadeira no. 4, da Casa de Machado de Assis, um dos maiores poetas da atualidade, concorre ao Prêmio Nobel de Literatura 2017.
Luiz Carlos Verzoni Nejar, mais conhecido como Carlos Nejar, é um poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
Veja também: CARLOS NEJAR: A DESCOBERTA DO HOMEM, por WILSON CHAGAS – ENSAIOS
Veja o E-Book do poema "SOLTOS DE IMENSIDÃO:
https://issuu.com/antoniomiranda/docs/carlos_nejar
NEJAR, Carlos. Soltos de imensidão. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, 2015. 34 p. ilus. col. 20x13,5 cm. Edição artesanal, limitada. Editor: Edson Guedes de Moraes. Ex. bibl. Antonio Miranda
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Contato
Não contratei com a vida.
O que ela me liga
é uma conquista de viver,
é uma fúria aprendida,
mas que gosta de ventar em mim.
Nunca segui cláusulas,
normas de existir.
Deixo que outros as cumpram
ou descumpram,
em artigo de morte ou vício.
Deixo que os contratantes
tentem apanhar a vida
em desídia;
ou busquem leva-la
aos ombros, na garupa
dos próprios escombros.
Não contratei com a vida.
Se ela me deu temores, desespero,
não me queixo, nem combato.
Não uso a legítima defesa
para impedir seu parto;
que ela nasça em mim,
cresça e se desfaça
Culpa não tenho
deste amor em desgraça,
deste amor sem casamento,
padrinhos, festas oficiais
e oferendas.
Não contratei;
o estado de graça
é castigá-la
com merecimento,
desamarrá-la das horas,
matá-la em nós.
E continuar vivendo.
Retorno
Voltei da morte,
órfão.
Desci as escadas
do empório;
entre os móveis
e os suspensórios,
minha alma escorre.
Que alma?
Voltei da morte;
nada enxergo
senão a vida;
nada receio
de seus conselhos.
Tudo me intriga
e sou tão velho
nesta medida.
Voltei da morte,
tão cheio de arte
e de requintes
que todo afinco
no amor é parte.
Voltei da morte.
Larga a viagem
de meus confrontos.
Espelho torto,
vejo-me nela.
posta num canto.
Que alma é esta,
feita de engodos
e de florestas?
Nascida há pouco,
morta num pasmo,
ressuscitada,
deixada ao largo?
Voltei da morte,
voltei a salvo
do julgamento
e outros contágios,
achando em tudo
diverso modo,
diverso enleio
e o parentesco
vazio de enredo.
Voltei da morte
tão estrangeiro
na sua ordem,
descontraído,
míope no esforço
de compreendê-la,
estando morto.
Voltei, a tempo
e, a contragosto.
Crença
Ainda serei eterno.
Não sei quando.
Sei que a sombra se alonga
e eu me alongo,
bólide na erva.
Ainda serei eterno.
Tenho ânsias cativas
no caderno. Cortejo
de símbolos, navios
e nunca mais me encerro
no meu fio.
Ainda serei eterno.
O mês finda, o ano,
o recomeço.
E o fraterno em mim
quer campo, monte, algibe.
Mas sou pequeno
para tanto aceno.
Metáforas me prendem
o eterno
que se pretende isento.
Numa dobra me escondo;
Noutra, deito.
Os nomes me percorrem no poente.
Sou sobrevivente
de alguma alta esfera
que saia de si mesma
e é primavera.
O eterno ainda será viável
como o sol, o dia,
o vento;
misturado ao que me entende
e transborda.
Misturado ao permanente
que me sobra.
De
Carlos Nejar
CANTICUS
Jaboatão, PE: Editora Guararapes – EGM, 2006.
sanfonado, s.p. .
Longo poema com 388 versos, em edição especial.
CANTICUS
(fragmento do poema)
As coisas vêm
quando mais
as flores vêem
com a vistas dos mortos
nos jacintos,
de cuja natureza
verdeceram:
do húmus
para fora,
no tangível.
E Deus sabe
vir
mais lento,
mais preciso.
E as coisas
vêm e flores,
cílios são
do paraíso.
E amor te posso
ver,
porque há paixão
ao nível de tuas plantas
e das grandes raízes. De resto
inteiro, o teu amor
me sabe e venho,
vou e as flores
Vêem dos olhos
o rumor de Deus.
Que sabes, tu,
Informe chão,
que nada sabes,
nem guardas
– mesmo a sombra —
do viajor?
(...)
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Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y traducción de Xosé Lois García
Santiago de Compostela: Edición Loiovento, 2001.
DE LONGO CURSO
Para Elza
Minha alma descansa
na tua alma,
onde a luz jamais
desativada:
é um navio de longo
curso pela água.
Redonda a luz e nós
atracamos na foz
com o fundo calmo.
Em mim te almas
E te amando, eu almo.
O CEGO DA GUITARRA
(GOYA)
Cego com os olhos
e morto. Cegos
os ouvidos. Cegos os olhos
de remota lembrança.
Nariz adunco e morto.
Chapéu entornado
E morto. Sob a capa,
Mortalha. Morto
morto morto.
Mas a guitarra
salta, a guitarra
letrada e casta
jorra e alegria
de um povo
em torno.
A guitarra é o cego.
A guitarra é o cego.
A guitarra tem os olhos
acesos.
AOS AMIGOS E INIMIGOS
De amigos e inimigos
fui servido,
agora estamos unidos,
atrelados ao degredo.
Nunca fui o escolhido
onde os deuses me puseram.
Nem sou deles, sou de mim
e dos íntimos infernos.
Não.
Não me entreguem aos mortos,
os filhos que me pariram
e plasmei com meus remorsos
no seu mágico convívio.
De amigo e inimigos
fui servido
e com tão finada vida
e alegados motivos,
que ao dar por eles, já partira
e quando dei por mim, não estava vivo.
Donações, 1969.
NOSSA SABEDORIA
Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.
Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.
E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros.
Árvore do Mundo, 1977
NEJAR, Carlos. Poesia reunida I: Amizade do Mundo. Osasco, SP: Novo Século Editora, 2009. 672 p. 16,5x23,5 cm. Capa: Guilherme Xavier. ISBN 978-85-7679-232-1 “Carlos Nejar” Ex. bibl. Antonio Miranda
O homem e as coisas
As coisas não se submetem
à nossa vestidura;
na máscara que somos
as coisas nos conjuram.
Por que não escutá-las,
tão sáfaras e puras,
como flores ou larvas,
estranhas criaturas?
Por que desprezá-las
no sopro que as transmuda
com os olhos de favas,
fechados na espessura?
Por que não escutá-las
na linguagem mais dura,
comprimidas as asas
na testa que as vincula?
Despimos a armadura
e a viseira diurna;
a linguagem resvala
onde as coisas se apuram.
Recônditas e escravas
na cava da palavra,
são fiandeiras escuras
ou áspides sequiosas.
As coisas não se submetem
à nossa vestidura.
Disposições gerais
A primeira lei é o medo,
que é maior
se vem mais cedo.
A segunda lei é o espanto,
que só desova na cova.
A terceira lei oprime,
mas não se conhece o nome.
A quarta lei é o ódio,
que se exaure quando morde.
As demais
sobrevivem
com as virtudes
teologais.
Visíveis, invisíveis,
o emprego das faculdades
se consagra no calar.
E por que não,
se a fome
de atar palavras
engoliu-as na saliva
e as fez escravas?
NEJAR, Carlos. Poesia reunida II: Jovem Eternidade. Osasco, SP: Novo Século Editora, 2009. 720 p. 16,5x23,5 cm. Capa: Guilherme Xavier. ISBN 978-85-7679-233-8 “Carlos Nejar” Ex. bibl. Antonio Miranda
V Costume
Uma voz me chamou
para o colégio.
E eu me acostumara
àquelas vozes
e elas me guiavam
consoláveis, absortas.
E me acompanhavam
onde eu fosse,
ligadas a este corpo
transitando.
7 Ambíguas testemunhas
Estou ocupado
com a minha morte
e ela se ocupa em mim,
como se fôssemos
ambíguas testemunhas
de viagem.
E houvesse outros lugares:
os ausentes pairavam
neste círculo preciso
de lembrança e abandono.
Vinham vozes em torno
que clamavam
outras mortes
no homem.
NEJAR, Carlos. Zao. Desenhos Eliana B. Brandão. São Paulo: Melhoramentos, 1988. 48 p. ilus. Col. A.M. (EA)
NEJAR, Carlos. Casa dos arreios. Ensaio introdutório de Nelly Novaes Coelho. Porto Alegre, RS: Editora Globo; Brasília: Instituto Nacional do Livro – INL, 1973. 104 p. (Sagitário) 14x21 cm. “ Carlos Nejar “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Deriva
Cuidando ou não
as coisas vão.
Quem 'se dispõe
a socorrê-las'?
Cuidando ou não
as coisas vão.
Perde a razão
quem nelas creia.
Perde o motivo
da explosão;
o amor sem elas
não se alteia.
Cuidando ou não
as coisas vão.
No amor a amada
não tem peias.
No amor as coisas
sempre vão;
perde a razão
quem nelas creia.
Carlos Nejar em 1973.
Progenitura
Uma data, um rebate
de avanço: criatura, rasura
com seu burel de espanto.
Criatura sem sol ou chuva,
há tanto esperada, regrada,
criatura ou nada.
Nasceste ao desaprumo
de alegorias muitas.
Nasceste como as frutas
na estação mais curta.
Luva na mesa, soco,
alto o teu grito
nas constelações
que avultam
entre os vivos e os fartos.
Nasceste
e viver é por demais solene,
salto sem leme ou tombo.
Uma data e tudo escorre, caixa
de escândalo. Uma data
e a vida transborda — criatura
por todas as tuas voltas.
Nasceste à solta
como as marés e as frotas.
NEJAR, Carlos. Vozes do Brasil. Auto de romaria. Prefácio de Ant^nio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1984. 105 p. 14x21 cm. Capa: Gian Calvi. “ Carlos Nejar “ Ex. bibl. Antonio Miranda
“Carlos Nejar é um poeta dramático da vertente de Claudel. Sabe ser ao mesmo tempo lírico e dramático. Regional e universal. Telúrico e cósmico. Quem exprime de fato melhor do que ele esse lirismo brasileiro, que é nota diferencial do nosso povo? O povo do Brasil não tem sentido lógico, mas essa magia, essa primazia da afetividade e da intuição.”
ANTÔNIO CARLOS VILLAÇA
Coro de várias vozes
— Cada maré que some,
cada maré que se perde,
não é a forma do homem
nem tampouco a sua sede.
— É a maré que lhe sorve
na morte, a maré do ganho.
— Vida mais vida
nos ossos,
vida mais forte
no sonho.
— Subindo, subindo
ao leito.
— É sonho
o que fica
ao pé
deste rio.
— Maré crescendo.
***
— Quando o Brasil levantar
sobre os cavalos da brisa,
os verdejantes cavalos.
— Quando o Brasil levantar
as crinas da aurora, as lisas
tramelas da aurora
às portas.
— Há um tempo jovem,
um tempo
que vai feliz acender
as borboletas do peito.
— Com a corda do sol retesa
vai o Brasil levantar
relâmpagos e cerejas
— O Brasil vai levantar.
Serão águas, andorinhas
pelo céu, na pontaria.
Ou será semente o dia
com o fio que endureceu?
— Vai levantar. O Brasil
vai levantar suas léguas
com as espigas,
a sua idade com o mar.
— Sobre os cavalos da brisa,
os verdejantes cavalos
quando o Brasil acordar.
ANTOLOGIA POÉTICA DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Alberto da Costa e Silva. Antonio Carlos Secchin. Antonio Cícero. Carlos Nejar. Domício Proença Filho. Geraldo Carneiro. Geraldo Holanda Cavalcanti. Marco Lucchesi. Brasília: Câmara dos Deputados, 2020. 204 p. ISBN 978-65-87317-06-9
Ex. bibl. Antonio Miranda
Gaveta das estrelas
(crônica de um desastre)
A uma tempestade não se afaga
quando se vai por dentro.
Como se o século todo se incendiasse
e os gritos ficassem roendo
outros gritos subindo, descendo.
E ensurdecesse de dor a América,
mãe atrás dos filhos, mãe parindo
a eternidade de escombros, chuva
e areia. Mãe sozinha à beira de um rio
e do mundo. Todos os gemidos vêm
do fundo do teu poço, mãe! As chamas
não têm pátria, como as patas
deste animal no homem que, sem data,
é o ódio, o ódio, gafanhotos, vômito.
De um momento a outro, milhares
de almas se aninham, pombas da morte
sem pombal e a morte é doida
que caminha errante e não sabe onde
pousar sua cabeça. A hecatombe
come em tua mesa de ossos. Se o ódio
não tem mais natureza, nem de semente
nasce. Vem das baionetas, das pilhagens
do sol, antes do meio-dia. Aviões
não são olhos, nem ouvidos
e batem, morcegos acendidos
nos corpos e destroços. Mãe-humanidade,
por que as bestas à tona vêm do homem,
quando podem tornar para as cavernas,
ou meter-se nas gavetas das estrelas
e sumir? Nenhuma falta fazem à vida,
cesta de água e nada. Mão–humanidade,
tua dor se esvai, fumaça de almas,
ninhadas de voragens e filhotes
de escuridão chorando. Nenhuma
terra sabe falar das ruínas, por
se guardar nelas. Nenhuma mãe
ousa gravara na lápide este crime,
que o sepulcro de cinzas não resume.
É o que restou do homem?
(Nova Iorque, 11 de setembro de 2001)
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TEXTOS EN ESPAÑOL
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. y traducción de Xosé Lois García
Santiago de Compostela: Edición Loiovento, 2001.
DE LARGO CURSO
Para Elza
Mi alma descansa
en tu alma,
donde la luz está jamás
desactivada:
es un navio de largo
curso por el água.
Redonda la luz y nosotros
atracamos en la desembocadura
con el fondo sosegado.
En mí revives
y amándote, yo revivo.
Melhores Poemas, 1997
EL CIEGO DE LA GUITARRA
(GOYA)
Ciego con ojos
y muerto. Ciegos
los oídos. Con los ojos
de remoto recuerdo.
Nariz curvada y muerta.
Sombrero ladeado
y muerto. Bajo la capa
mortaja. Muerto
muerto muerto.
Pero la guitarra
salta, la guitarra
letrada y casta
mana la alegría
de un pueblo
alrededor.
La guitarra es el ciego.
La guitarra es el ciego.
La guitarra tiene los ojos
ardientes.
Melhores Poemas, 1997
A LOS AMIGOS Y ENEMIGOS
De amigos y enemigos
fui servido,
ahora estamos unidos,
prendidos al destierro.
Nunca fui el escogido
donde los dioses me pusieron.
Ni soy de ellos, soy mío
y de los íntimos infiernos.
No.
No me entreguen a los muertos,
los hijos que me parieron
y plasmé con mis remordimientos
en su mágico convivir.
De amigos y enemigos
fui servido
y con tan rematada vida
y alegados motivos,
que al dar com ellos, ya marchara
y cuando dí conmigo, no estaba vivo.
Donações, 1969.
SABIDURÍA
Nuesra sabiduría es la de los ríos.
No tenemos otra.
Persistir. Ir con los rios,
ola a ola.
Los peces cruzan nuestros rostros vacíos.
Intactos pasaremos bajo la corriente
hecha por nosotros y nustro desespero.
Pasaremos transparentes.
Y nos moveremos,
río dentro del río,
cuerpo dentro del cuerpo,
como antiguos veleros.
Árvore do Mundo, 1977
De
LA EDAD DE LA AURORA
- Fundación del Brasil
Versión española y prefacio
Virgilio López Lemus
São Paulo: Ateliê Editorial, 2004
ISBN 85-7480-224-7
“La Edad de la Aurora no podia ser un libro fácil. No está concebido como lectura sentimental o como sola percepción poético-sensorial del mundo, sino que por ser eje del concepto poético capitalizador de la palabra (de otra manera heredero del de Maiïarmé), reviste complejidades intelectivas. Esta formado por tres libros o por tres poemas largos que advierten componentes épicos junto al interés lirico primordial. Posee trayectoria, de manera que no sólo importa el espacio sino también la dimensión temporal. La palabra no resulta una pasiva fuerza coformadora de la poesía, sino que aparece en su condición activa, descriptiva y a la par sustancial, sustantiva. El mundo no gira en torno a la palabra sino que es la poesía del mundo la que se desprende o brota de su existencia; la palabra conforma y deforma, redime y mata, tiene cualidad per se en tanto poesia. Carlos Nejar no teme entroncarse con el mundo expresivo surrealista, con el lenguaje a veces profético y otras declarnatorio, con los mensajes intimistas del amor en medio de la condición social del hombre. Formalmente, pareciera poesia "tradicionalista", incluso si esa tradición viene de las vanguardias, sobre todo en Brasil, tierra del auge de la poesía visual y de otros formalismos del siglo XX. Pero el poeta Nejar sabe ir más allá del aliento de las formas, que, por tales, son externas, para buscar esencias que, por serlo, implican interioridad, ánimo de exploración de lo que está detrás de las apariencias de la realidad. Todo esto conduce a la conformación de un discurso poético complejo, que pasa de la sencilla estructura gramatical a la tropologizacin que por momentos oscurece el lenguaje, lo hermetiza. VIRGILIO LÓPEZ LEMUS
Apresentamos apenas alguns fragmentos desta obra excepcional de Carlos Nejar, com um convite para que visitem o livro original, inteiro, na certeza de que apenas a leitura completa será capaz de revelar a riqueza da criação do poeta que hoje figura entre os membros da Academia Brasileira de Letras.
IV SERAFIN Y ALBA
1.
Serafin miraba
la noche
velera.
Y las ancoras lémures
se oxidaban.
Un racimo de nieblas tintas
mezclando las huertas
de labios mudos.
La Palabra, fosforece.
Verde.
Como si trancase
a la primavera.
En el olfato.
Y amar poseía
los girasoles todos
en el habla.
Allí, la noche no conversaba.
Ni mordía
los higos-fonemas.
2.
Comenzó a hacer agua
la noche,
quilla
fondeando.
La popa en su nariz
metido
en el cuello
de cielos bebidos,
tenía los pies
hinchados.
Y atravie-
san a la isla,
desmayándose.
Perdiendo
sangre.
3.
Serafin, por el trinar
de la selva,
ad
vertido:
la muerte allegándose.
Escuchaba a sus zapatos
viejos.
Y a las solteronas dunas.
Vio toda la muerte.
4.
Una operación contra el enemigo.
¿Árbol a ser
talado?
Zángano-viento
¿era de noche?
¿Dónde hay caballos-resuellos,
mayores que ella?
¿La derribada con el hacha,
la sierra?
¿de zorra?
En la Palabra, la puntería.
Libertad,
¿también árbol?
¡La dice!
5.
Nombrar a la muerte
por el inerte nombre.
Serafin ordeno,
(la garrocha-vocablo
apuntada):
“¡Yo te deshago!”
Por la Palabra,
veia a la muerte
enloquecer,
iba dejando
las fuerzas.
Como si largase fuera
las ropas.
Tumbaba a la muerte
descalza.
Y de espaldas.
VEJA e LEIA outros poetas do RIO GRANDE DO SUL em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grade_sul/rio_grande_sul.html
Página ampliada e republicada em dezembro de 2007; ampliada e republicada em outubro de 2009. Ampliada e republicada em novembro de 2014. Ampliada em maio de 2019; AMPLIADA e republicada em dezembro de 2020
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