FABRÍCIO CARPINEJAR
Fabrício Carpi Nejar (Caxias do Sul, 23 de outubro de 1972), ou Fabricio Carpinejar, como passou a assinar a partir de 1998, é um poeta, cronista e jornalista brasileiro.
Ingressou em 1990 no curso de jornalismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde formou-se em 1995. Pela mesma instituição tornou-se mestre em Literatura Brasileira, em 2001.
Lançou As solas do sol, em 1998. A partir desse momento une seus sobrenomes e passa a assinar: Carpinejar.
Em 2003 publicou, pela editora Companhia das Letras, a antologia Caixa de sapatos, que lhe conferiu notoriedade nacional.
Publicou quarenta e três livros entre poesia, crônicas, infanto-juvenis e reportagem, detentor de mais de 20 prêmios literários. Atua como comentarista do programa Encontro com Fátima Bernardes da Rede Globo e colunista dos jornais Zero Hora e blog no O Globo. Conduziu o programa Palavra Livre na Rádio Itatiaia por um ano (2017-2018) e foi comentarista da Radio Gaucha por quatro anos. Durante dez anos, de 2001 a 2011, trabalhou na Unisinos, onde foi professor e coordenador de curso e idealizou as graduações de Formação de Produtores e Agentes Literários e Formação de Produtores e Músicos de Rock.
Fragmento de biografia e foto extraídos de: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fabr%C3%ADcio_Carpinejar
Fabrício Carpi Nejar é hoje um dos poetas e críticos jovens de maior reconhecimento em todo o país. Vive em São Leopoldo, Rio Grande do Sul.
“... Carpinejar vem se afirmando na cena cultural brasileira em razão de um valor cada vez mais raro na literatura em geral e na poesia em particular: a experiência — entendida aqui como matéria bruta que a escrita poética transfigura, sem todavia esquecer aquilo que pôs em movimento a “a máquina de trovar” (segundo a expressão de Antonio Machado). / Ao mesmo tempo, esse registro lírico dramatiza com angústia — mas também com boa dose de ironia — a impossibilidade de vivência, traduzindo assim nossa época de massacre da subjetividade”. MANOEL DA COSTA PINTO
Em colaboração com ALFORJA- REVISTA DE POESÍA, publicada por nosso amigo e poeta José Angel Leyva. Texto selecionado originalmente por Floriano Martins, publicado no n. XIX, Ciudad de México, invierno 2001.
Visite: http://www.alforjapoesia.com/
O poeta CARPINEJAR oferecendo uma oficina de poesia durante a I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA, dia 3 a 7 de setembro de 2008 na Biblioteca Nacional.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
O mundo aparece demasiado explicado.
Teu jeito calado indica esperança,
mas quem diz que não é remorso?
Sou fiel aos hábitos; tu, aos mistérios.
Não coincidimos nossa lealdade.
Suporto, sobrevives.
O que adianta transbordar
se não dás conta do mínimo?
O que adianta me retrair
se não percebo o invisível?
* * *
Não ter sido compreendido
condenou-me a assumir verdades
que desconhecia, filhos que
não eram de minha boca,
compromissos que não quis ir.
Ao longo da fala,
abri correspondências alheias.
A ausência de clareza
me perturbou a viver de favor
em meu corpo.
* * *
Não me inquieto
quando não recebo as respostas
das perguntas que não fiz.
Eu me conformei
em reservar alguma coisa
de ti para saber depois.
Um pouco de nosso amor
será póstumo.
É recomendável
não descobrir todos os segredos.
* * *
Para a morte, sofre de um problema.
Não estou todo em um único lugar.
* * *
Os dias no verão
são cadeiras
para fora da casa.
Armar o ar,
desempalhar
a luz e deslizar
na esponja noturna da grama.
Ponha esse sol de janeiro
em minha conta.
* * *
Alguém dentro de mim
mente para me proteger.
Não sei quem tem razão
sobre meus desastres.
Se permaneci em excesso
e não varei a outra margem.
Se me deixei fora por muito tempo
e esqueci o endereço.
Quando estamos próximos de dizer
é que não estamos mais aqui.
* * *
Não conto meus pesadelos ao acordar.
Não termino mais uma frase inteira.
O começo de uma conversa é difícil
Depois mais difícil se toma
quando ela aconteceu
sem começar.
Extraídos de COMO NO CÉU; e, LIVRO DE VISITAS. (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005).
De
Fabrício Carpinejar
Cinco Marias
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010
128 p. ISBN 978-85-286-1055-0
Saiu mais um livro do Carpinejar pela Bertand. Vale a pena conferir. Ele é sempre inovador, sua poesia flutua entre o coloquial e o reflexivo, é senhor de seu estilo. Reproduzimos um poema, para não ferir as regras, a título de promoção.
Minha parte feliz não era fiel.
Estou conspirando
sem me dar conta,
na conversa do trem, ao telefone,
no bar, escrevendo.
Num canto da rua, existe alguém sob suspeita.
Do outro, à espreita.
Sobram enganos para incinerar o que me cerca.
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De
UM TERNO DE PÁSSAROS AO SUL
Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2008.
ISBN 978-85-286-1313-1
As rochas encontram
asas na espuma.
Nenhuma despedida recompensa
a fidelidade da casa.
Como tua memória devolverá
as ruas emprestadas
para atalhar a infância?
Qual o eclipse, o calendário,
que vai emborcar
a nostalgia do futuro?
Quem inventará o fogo
sem as feições do criador?
Volta ao pampa, pai,
estamos amor-tecidos
na água tensa
do charco.
Protege as têmporas
com a palma da mão esquerda
a luz noturna é traiçoeira.
Não nos serve
o encantamento da aurora.
Volta, a farinha
e a carne seca
esfriam na gamela.
Tua risada denuncia
o desespero.
As respostas vieram
antes das perguntas.
Sim, a cicatriz da alvorada
influencia a inclinação
dos galhos.
Sim, desatei a cabeleira da guitarra
e o bojo do instrumento
parecia a pupila
de um homicida.
Sim, o dia do regresso.
Obedecias unicamente
ao instinto de ressuscitar,
cintilando
uma enseada ao longe.
Traçavas com mistério
versículos e frases,
as cordas da embarcação
no interior do frasco.
Transparente do combate,
viril em sua fragilidade,
recolhido no exílio
de estar pleno de si.
Tua respiração
nos escombros,
o pulso disciplinado,
afinado como um plano.
Levanta do fino trato
com os finados.
A chama engana sua altura
ao pavio que a sustenta.
Viajas como o olhar do regresso,
chegas com o olhar da despedida.
O dia recusa a inocência,
tem o gosto de sol nos cabelos.
*
O pão fica acorda apenas
um dia em nossa fome.
O pão e o fogo
são do mesmo trigo.
Volta a pampa, pai.
A sombra está presa
Ao pescoço.
O sangue anoitece.
Anoitece
debaixo da pele
para amanhecer
os músculos da terra.
*
A palavra é falível
posta em outra boca:
o horizonte deitou
o fuzil dos pássaros.
Volta , pai, que a fundura
não está nos passos,
a tapera dispersa
a caça e o paradeiro
das pegadas.
A queda atalha a subida,
o homem permanece
uma pronúncia inacabada.
CAPRINEJAR, Fabricio. Biografia de uma Árvore. 2ª. edição. São Paulo: Escrituras, 2002. 194p. ISBN 85-7531-041-0Capa e projeto gráfico: Ricardo Siqueira. Col. Bibl. Antonio Miranda
III. Fome de Insetos
(fragmento)
AS MANIAS SÃO VISTAS COMO DEFEITOS.
Depois, traços da personalidade.
Com a separação, transformadas em virtudes.
Calcificado, o ouro não derrete mais.
A aliança já é um osso no dedo.
Ter se acostumado um com outro
não significa que avançamos.
Somos residências geminadas
se correspondendo pelos muros.
Fabricio Carpinejar e Antonio Miranda no 1º Festival de Poesia de Goyaz,
23 ao 26 de março de 2006 |
CARPINEJAR, Fabricio. Amor à moda antiga. Caxias do Sul, RS: Belas-Letras, 2016. 112 p. ilus (fotos do autor) 15x22 cm. sobrecapa. ISBN 978-85-8174-286-1 “Fabricio Carpinejar” Ex. bibl. Antonio Miranda
Livro escrito em uma Olivetti Lettera 1982 , textos logo revisados á mão e incluídos no livro como originais, três deles reproduzidos a seguir, para dar um ideia do conteúdo da obra.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Trad. de Martha Leñero y José Manuel Mateo
Foto extraída de:
MORDZINSKI, Daniel. A literatura na lente de Daniel Mordzinski. Textos de Adriana Lisboa e Victor Andresco. São Paulo: SESI-SP editora, 2015. 412 p. ilus. col. ISBN 978-82075-604-2 Textos em português e castelhano. Ex. bibl. Antonio Miranda
Un trío de pájaros al sur
(fragmento)
Ninguna herida
cortaba tus pesadillas.
Cuando a media vida te viste
por una selva oscura, me quedé
a conversar con tus camisas,
y me calé las boinas
que encendían tus cabellos.
Tenía siete anos exactos
y una Luna cómplice jugaba
carreras conmigo.
Me demoré entre la ropa
Alineada
como un ejército en revista,
para intentar
que al menos una prenda
delatara tu deserción.
Cuando a media vida te viste
por una selva oscura, me quedé
alimentando el acuario
de las corbatas.
Pedí privacidad a las polillas.
Vestí tu camisa,
y me ví copiando el ritmo
de sus pliegues,
la respiración copiosa,
de mi propio
y definitivo padre.
Segunda elegía
Ser íntegro cuesta caro.
Me dividí por no dividirme.
Atrás de la apariencia, hay una pizca de miseria,
es el gusto por las sobras.
Parto en expedición hacia las pruebas de que viví.
Excavo boletines, cartas, álbumes
—el gesto reaccionario de mi letra de gancho.
EI pasado tiene sentido si permanece en desorden.
La verdad organizada es una mentira.
El musgo envanece las reliquias. Los dedos retiran las telarañas,
y asisto al revuelo de insectos que se vieron atrapados.
Huyo de la claridad, resplandece el polvo.
El par de rodillas permanece inmóvil como una roca.
Reviso el testamento, alisando la textura
como un gramático de la seda.
Descubro mi herencia de tajo.
No tengo lo que ansiaba
y tropiezo con objetos desposeídos de lógica
que me encuentran antes de que los busque.
Mi vida cabe en una caja de zapatos.
Coleccionaba trozos de madera
Coleccionaba trozos de madera: figuras
adornadas con la punta menuda del cortaplumas.
Alá estaba una de las sobrevivientes, borrosa,
cerca de las medallas escolares
y de los tornillos llorosos de herrumbre.
Un autorretrato no sería tan fidedigno.
Era yo aquella grieta del piso roto, la costra y la podre.
Cuántas fueron las pequeñeces que no combinaron
con el conjunto y, a falta de armonía
se quedaron en el sótano de ]a infancia?
Y si faltó valor para vivir con ellas
faltó coraje para expulsadas definitivamente.
Somos el dolor de lo que herimos.
No aprendemos a desaprender.
No heredamos nada, ni la palabra heredamos.
El desván tiene vida propia
y conoce nuestros juegos.
Lo que rehusamos en la cena es hoy nuestro bocado.
Todo puede fermentar: la piel, los pasos, el olor del brazo.
Todo puede nacer sin el mérito del grito,
como un murmullo o el estallido de un abrazo.
Todo puede nacer, aunque sofocado.
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Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. Trad. de Xosé Lois García
Las rocas encuentran
alas en la espuma.
Ninguna despedida compensa
la fidelidad de la casa.
¿Cómo devolverá tu memoria
las calles prestadas
para interrumpir la infância?
¿Qué eclipse, o calendario,
va a mitigar
la nostalgia del futuro?
¿Quién inventará el fuego
sin el estilo del creador?
Vuelve a la Pampa, padre,
estamos amor-tecidos
en el agua tensa
del charco.
Protege sus sienes
con la palma de la mano izquierda,
la luz nocturna es traicionera.
No nos sirve
el remédio de la aurora.
Vuelve, la harina
y la carne seca
esfrían en la tinaja.
Tu carcajada denuncia
la desesperación.
Las respuestas llegaron
antes que las preguntas.
Si, la cicatriz del Alba
influye en la inclinación
de las ramas.
Si, desate la cabellera de la guitarra
y el entorno del instrumento
parecia la pupila
de un homicida.
Si, el día del regreso.
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: ANOS 90. Seleção e
prefácio Paulo Ferraz; direção Edla van Steen. São Paulo:
Global, 2011. (Coleção Roteiro da Poesia Brasileira)
ISBN 978-85-260-1156-4 Ex. bibl. Salomão Sousa
Metade do que sou inventei na infância
a outra metade, a infância tratou de inventar.
Presado pela vida, penso naquela hóstia
colada ao céu da boca.
O esforço da língua em desenrolar o corpo,
equilibrá-lo como uma aspirina, sem mastigá-lo.
Por que as crianças não foram
educadas a duvidar de ti?
Atendi o pedido dos pais
de não conversar com estranhos
e deixe de me escutar.
Biografia de uma árvore (2002)
O cotidiano é um modo de acordar.
Desatenta por obrigação,
uma chaleira ferve
e me coloca em risco.
Cinco Marias (20040
Não te compreender
não me fez te amar menos.
Completo as palavras cruzadas
com a ajuda dos resultados.
Leio um livro
que não é lançamento.
Roubo a cerveja separada
para a visita.
Assisto a um filme no escuro.
Telefono sem pretexto.
Os bolsos de meu casaco
formam um diário.
Não sofro de pudor
e desfalco minha pobreza.
Esforço-me agora
para desaprender.
VEJA e LEIA outros poetas do RIO GRANDE DO SUL em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grade_sul/rio_grande_sul.html
Página ampliada e republicada em junho de 2022
Página ampliada e republicada em dezembro de 2007; ampliada e republicada em maio de 2014. Ampliada em novembro de 2017.
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