VANIA AZAMOR
Vania Cristina Azamor Pinto nasceu no Rio, vive em Teresópolis desde 2009, e é economista do Governo do Estado do Rio de Janeiro. É autora dos livros de poesia Olhar mineral (2003) e Facas da manhã (1997) e Cristal rutilado (2011), e participou na coletânea Caixa de prismas (1992). Teve poemas publicados na revista Poesia Sempre da Biblioteca Nacional, nos jornais Poesia Viva, Panorama da Palavra, e Rio Letras.
Extraído de
POESIA SEMPRE. ANO 8 . NÚMERO 13 – DEZEMBRO 2000. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. ISBN85-901646-1-6 Editor Executivo Ivan Junqueira. Ex. bib. Antonio Miranda.
Paixão
Seria amizade
não fosse desejo
Seria agonia
não fosse coragem
Seria ruído
não fosse essa música
Seria blasfêmia
não fosse sagrado
Seria cimento
não fosse esse verde
Se assim não fosse
Te chamaria cal
aço
metal
e a mim chamariam nada.
Filhos do paraíso
Quando toda ambição é um para de sapatos
bolhas nos pés não impedem bolas de sabão
A divisão de segredos, sapatos e afeto
faz vencer maratonas onde o prêmio é amor
Pequenos pés trazem o mundo às mãos
(num útero já habita um ser
num verso já existe o poema)
Para a sopa rala um calor
para o silêncio a comunhão
na esperança um jardim.
A irmandade descalça remete ao paraíso.
Uma eternidade e um dia
Saio do cinema com medo da loucura
Se vencer esta noite, chegarei à velhice?
Me equilibro numa lâmina afiada
sem ao menos saber quanto dura o amanhã.
Nem um poema inacabado
nem essa réstia de luz
me devolvem um dia de verão.
A solidão habita em quem não foi perdoado.
Página publicada em maio de 2018
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