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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

VALENTIM MAGALHÃES

VALENTIM MAGALHÃES



Filho homônimo de Antônio Valentim da Costa Magalhães e de D. Maria Custódia Alves Meira. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde ingressara em 1877. Ali colabora para os periódicos acadêmicos "Revista de Direito e Letras", "Labarum" e "República", este último de Lúcio de Mendonça. Ainda nesta cidade publicou três obras: "Idéias de Moço", "Grito na Terra" e "General Osório", este último em parceria com Silva Jardim, além de seu primeiro livro, intitulado "Cantos e Lutas". Ali também casou-se, em 1880.

Voltando para o Rio, dedica-se ao jornalismo, dirigindo o periódico "A Semana" (fundado em 1885), que torna-se o veículo dos jovens escritores da época, além da propaganda abolicionista e republicana, sendo um período de marcadas agitações culturais e políticas, estando Valentim Magalhães no proscênio dessas lutas todas. Sobre sua participação, regitrou Euclides da Cunha, que o sucedeu na Academia: "A geração de que ele foi a figura mais representativa, devia ser o que foi: fecunda, inquieta, brilhantemente anárquica, tonteando no desequilíbrio de um progresso mental precipitado a destoar de um estado emocional que não poderia mudar com a mesma rapidez".

Seu grande envolvimento com as causas que defendia não lhe permitiram uma maior produção literária, sendo comum entre os críticos que seu papel foi o de divulgar os demais escritores nacionais.

Ficou célebre pelas inúmeras polêmicas criadas, que redundaram em ataques e desafetos, bem como pelas defesas que dele faziam os amigos.

Durante o Encilhamento, falsa prosperidade econômica que se seguiu à Proclamação da República por obra do seu confrade Rui Barbosa, então feito Ministro das Finanças, Valentim dedicou-se ao lucro rápido, fundando uma companhia e, logo mais, como todos, vindo à falência.

Sobre seu papel na memória futura, então ainda presenciando os reveses, declarou:

"A princípio fui gênio; mais tarde cousa nenhuma. Hoje César, amanhã João Fernandes…"

Registra Manuel Bandeira que o autor participara, ao lado de Teófilo Dias, Artur Azevedo, Fontoura Xavier e outros, da chamada "Batalha do Parnaso", uma reação ao romantismo, iniciada ainda na década de 1860, e que ganhou força com a agitação promovida por Artur de Oliveira. Este misto de boêmio e intelectual conhecera em Paris os intelectuais parnasianos, e influenciara os autores brasileiros.  Fonte: http://pt.wikipedia.org/


Íntimo

 

Esta alegria loura, corajosa,

Que é como um grande escudo, de ouro feito,

E faz que à Vida a escada pedregosa

Eu suba sem pavor, calmo e direito,

Me vem da tua boca perfumosa,

Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:

Constelando-o de beijos cor de rosa,

Ungindo-o de um sorriso satisfeito…

A imaculada pomba da Ventura

Espreita-nos, o verde olhar abrindo,

Aninhada em teu cesto de costura;

Trina um canário na gaiola, inquieto;

A cambraia sutil feres, sorrindo,

E eu, sorrindo, desenho este soneto.

 

 

TORTURA

Ante a mesquita d´áureos minaretes
açoitam dois telingas a traidora:
as vergastas, sutis como floretes,
sibilam sobre a carne tentadora.

À vibração das varas, estremecem
seus níveos membros firmes, delicados,
e, nos espasmos do sofrer, parecem
das contorções do gozo eletrizados.

Geme aos golpes, que as carnes lhe retalham,
e aberta a rósea boca, os olhos belos
pérolas vertem, que seu peito orvalham;

dobram-se as curvas, soltam-se os cabelos,
e do alvo colo, amargurado e exangue,
— como esparsos rubis — goteja o sangue


 

 

De
Valentim Magalhães
Rimario
1878-1899 
Paris: Ailhaud & Cia, 1900.  248 p

     (mantivemos a ortografia original dos poemas)


À mãe

Martyr, que a dôr santificou, a dôr
De ver morrer alguem que de ti veio,
Reclca o mar das lagrimas no seio
E não amaldiçoes nosso amor.

Elle era un céo na terra, de astros cheio,
D´astros de estranho e raro esplandor;
Nesse vergel de luz, de flôr em flôr,
Voámos felizes num feliz enleio.

Mas veio um dia, ha um anno, a ladra Morte
E nos levou a flor de mais perfume.
A estrella de mais pura claridão.

Ao nosso amor perdôa! Ouve, e sê forte:
Tambem a mim me abafa este negrume
E entanto ainda me bate o coração!

         Lisboa, Fevererio - 24 - 1895

 

Renascimento

Já não luto, bem vês; fôra loucura
Tentar deter de um rio a correnteza.
Rendo-me , pois, à tua formosura,
Pois mais forte não sou que a Natureza.

Seja qual fôr — ventura ou desventura —
)E já me não affilge esta incerteza),
Seja qual fôr o fim d´esta loucura,
Venceu-me a tua candida belleza.

Sou teu, pertenço-te, adorada minha.
Vem dos teus olhos para mim o dia,
Como do sol antigamente vinha.

Só de te amar me alegro e me contento:
E a minha vida, outr´ora erma e sombria,
Brilha e floresce num renascimento.

 

 

MAIO DE 1888:  Poesia distribuídas ao povo, no Rio de Janeiro, em comemoração à Lei de 13 de maio de 1888 / Edição, apresentação e notas de José Américo Miranda:        pesquisa realizada por Thais Velloso Cougo Pimentel, Regina Helena Alves da Silva, Luis D. H. Arnauto.  Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1999.   220 p.  (Coleção Afrânio Peixoto, 45 )
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        Poema sobre a Abolição da Escravatura:

 

 

 

A REDENTORA

Quanta luz pelo céu! quanto riso na terra!
Vibram por toda parte os clarins da alegria.
A noite secular do crime se descerra
E nasce um novo dia!

Ó dia há muito tempo em ânsias esperado,
Em gemidos de dor, na angústia e na aflição,
Alvoresceste, enfim! Como vens demorado,
Ó sol da Redenção!

Tua luz é vermelha: emergiste do sangue!
É úmido o teu brilho; umedeceu-t´o pranto!
Ergue-se, enfim, à vida o escravo— o pária exangue...
Fez-se o gemido — canto!

Da escravidão o oceano, horrífico de dores,
Ei-los, subitamente amainado, a cantar,
E a liberdade vem, sobre um baixel de flores,
Vogando nesse mar...

Ao leme, a dirigí-lo, uma mulher, banhada
Em cheio pelo sol, sorrindo à Natureza,
Que, em torno, em luz e viço e cantos, agitada,
A aclama: É uma princesa.

 

       Tem dos lírios a alvura e tem cabelos de ouro,
Mas sobre eles, não fulge o diadema real.
Ao seu gesto de amor, ergue-se alegre cor,
Soa um hino triunfal.

É a deusa da justiça, a Musa dos aflitos,
— Mãe de Misericórdia, estrela matutina,
Que da raça de Cam ouviu os ais e os gritos,
Viu a fúria assassina.

E desceu sobre o mar da miséria infinita
Pra a luz da Liberdade a essa raça trazer.
Sede bendita, pois, para sempre bendita,
Grande e santa mulher!
 

 

 

* 

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Página publicada em fevereiro de 2021


Página publicada em novembro de 2010

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