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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

THÉO DRUMMOND

 

Nasceu no Rio de Janeiro em 1927. Poeta, jornalista e publicitário.

 

“A poesia com um lirismo aberto que guarda tanta experiência vivida e cumulada...” LEDO IVO

 

“Foi com enorme prazer que recebi e li os volumes da poesia que me enviou. Agradeço pelos bons momentos que me foram proporcionados”.  HELOÍSA BUARQUE DE HOLLANDA

 

Livros do autor:  Tempo de Poesia (1990), Palavras de Outono (1992), Vôo de Nuvens (1993), Versos Antigos (1995), Caçador de Estrelas (1997), As Pegadas de Deus (1998), Vrindavam (1999), Dedetize sua vida! (2000), Adeus a mim (2001).

 

 

De

ADEUS A MIM

Rio de Janeiro: Editoração, 2002 

 

... e então, meu pensamento linear,

Entende que o horizonte é um falso muro

Posto que há nada para separar...

 

 

ANTECIPAÇÃO

 

Durmo para que o tempo passe logo.

O sono é igual à morte antecipada.

Nele me afundo e finjo que me drogo

e a vida passa e não me afeta em nada.

 

Encurto o tempo de viver, me afogo

no sono, seja dia ou madrugada.

Se acaso acordo ao deus do sono rogo

não deixe a solidão minha acordada.

 

E assim pulando o tempo por saber

que indiferente ao sono que não vem

dormir é um treino em busca do morrer.

 

Não tenho mais os pensamentos loucos

Que — se acordada — toa a mente tem,

pois prefiro dormir, morrer aos poucos.

 

SABEDORIA

 

Não aceito desafios.

Prefiro conciliar.

Aprendi que guerras

são sempre duras,

e o vencedor,

inebriado pela vitória

e com seu nome

saudado pela turba,

não percebe que,

entre os que agora

o aplaudem,

um — pelo menos —

já trama derrubá-lo.

 

 

MEDO

 

Não sei o que vai me acontecer,

Sei que será o que tiver de ser.

Sinto, no entanto, um grande desconforto,

qual se olhasse um caixão e eu fosse o morto.

Esta aflição nunca me deixará,

meu medo deve ser do que virá,

que não sei o que é, quando vai ser.

 

Nada há mais cruel que o não saber.

 

 

ADEUS A MIM

 

Adeus à minha casa tão querida

que à sua paz há anos me entreguei.

Adeus à verde grama, à flor nascida

em profusão na terra em que as plantei.

 

Adeus mangueiras, festa colorida

das manhãs de que nunca esquecerei.

Adeus cachoeira gélida e escondida

que me banhava em noites que acordei.

 

Adeus às coisas todas que eu amava,

aos latidos dos cães quando chegava,

adeus ao cheiro forte do jasmim

 

Adeus aos beija-flores, às cigarras,

romperam-se, afinal, tantas amarras,

adeus tempo feliz, adeus a mim!

 

 

A INESPERADA

 

De consciência tranqüila

quando chegar minha hora

e a Inesperada

vier buscar-me,

terei, no meu testamento,

tudo bem determinado

sobre o que fazer de mim.

Num documento autenticado

e com firma reconhecida,

terei doado meu coração,

minhas córneas, meus pulmões,

fígado, estômago,

e o mais que ainda tenha serventia.

Dando a mão a Inesperada

írei seguí-la sem medo,

e irei para onde ela for

até chegar ao final do caminho.

Então — pois não doei minha língua —

lhe direi, sorrindo vitorioso

e com uma ponta de deboche:

“Inesperada, enganei-te,

vim contigo, mas não todo!”

 

 

 

DRUMMOND, Théo.  100 sonetos.  Rio de Janeiro: Caravansarai, 2006.  112 p.  14x21 cm.     ISBN 85-8962-16-X

 

 

Indagação

 

Quando dizes as coisas que me dizes,

naquele tom de raiva disfarçada,

ignorando o tempo em que felizes,

palavra alguma seca era trocada;

 

quando me agrides como se os deslizes

nada mais fossem que a propositada

maneira de buscar fazer das crises

dores mais fundas do que punhalada;

 

quando me encaras cheia de arrogância,

como se tudo fosse culpa minha

para tornar maior nossa distância,

 

eu me pergunto, com profundo espanto,

porque morreu o amor que a gente tinha

e a gente se enganou que amava tanto.

 

 

 

 

 

 

Página publicada em junho de 2011



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