Foto: http://ahistoriadosseios.blogspot.com/
ROSÁLIA MILSZTAJN
Rosália Milsztajn é carioca, poeta, médica psiquiatra formada pela UFRJ. Exerce atualmente a psicanálise, tendo feito sua formação pela Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro.
Especializou-se em Literatura Brasileira pela PUC-Rio. É autora das obras de poesia "Aqui Dentro de Mim" e "A História dos Seios".
Foi idealizadora de alguns eventos de poesia em livrarias do Rio de Janeiro e já teve seus poemas publicados em diversas antologias, revistas e jornais. Em 1999 venceu o Prêmio SESC de Poesia do Estado do Rio de Janeiro.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista semestral de poesia. ANO 9 – NÚMERO 14. AGOSTO 2001. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2001. 222 p. ilus. col. Editor geral Marco Lucchesi. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda.
Ser
Ser para outro
Ser
Sem ser Auschwitz
Dachau
Sou
Holocausto
Cicatriz
Herdeira
Ou flor
Sou ?
Mulher
Criança
Homem
Todos eram.
Furto
A pressa
Se apressa
Em ser
Sua fúria
Do futuro
Suga o sangue
A seguir, o poema publicado na Folhinha Poética – 2012:
MULHERES
Mulheres, mulheres
mães, não só as mães
filhas, primas, tias, irmãs, avós, sobrinhas
todas são suspeitas
Peitos, peitos, ó, peitos
Por que nascem com peitos
as mulheres?
Entregam tudo
de bom grado
Prazerosamente,
porque todo mundo tem que entregar um dia
intrigante, porém verdadeiro
Não, não são mais inteligentes
Eu juro
eu prometo
Elas são assim de um jeito
Comoventes
comoventes
Como virgens
como cortesãs em Caravaggio
ou cubistas coloridas no fragmento
de Picasso.
Aquela que chora a que ri
A que não sabe para onde olha
onde vai
o que vai fazer
o que está pensando?
E outras que não chegaram a ser musas
pela escassez das tintas
(ou artistas)?
Trazemos a imortalidade
entre as pernas
nós mulheres
Nos seios o véu de estrelas lácteas
nós mulheres
trazemos a provisão
Nós mulheres trazemos a inscrição de tudo
que está por acontecer
O vir a ser e a solidão
A seguir, o poema publicado na Folhinha Poética – 2012:
MULHERES
Mulheres, mulheres
mães, não só as mães
filhas, primas, tias, irmãs, avós, sobrinhas
todas são suspeitas
Peitos, peitos, ó, peitos
Por que nascem com peitos
as mulheres?
Entregam tudo
de bom grado
Prazerosamente,
porque todo mundo tem que entregar um dia
intrigante, porém verdadeiro
Não, não são mais inteligentes
Eu juro
eu prometo
Elas são assim de um jeito
Comoventes
comoventes
Como virgens
como cortesãs em Caravaggio
ou cubistas coloridas no fragmento
de Picasso.
Aquela que chora a que ri
A que não sabe para onde olha
onde vai
o que vai fazer
o que está pensando?
E outras que não chegaram a ser musas
pela escassez das tintas
(ou artistas)?
Trazemos a imortalidade
entre as pernas
nós mulheres
Nos seios o véu de estrelas lácteas
nós mulheres
trazemos a provisão
Nós mulheres trazemos a inscrição de tudo
que está por acontecer
O vir a ser e a solidão
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ROSALI MILSZTAIN. Puro cristal. Rio de Janeiro: 7Letras, 2021.
85 p. ISBN 978-65-5995-154-0. Ex. bib. Salomão Sousa.
Mar rouco
Para Gabriela
O mar
Palimpsesto de vozes
Em seu ruído é canção de afogados
Refugiados, perseguidos, escravos
O mar lavadeira de sofrimentos
Banhados sem ti
Encardem teu som
Tua voz rouca
Teu marulhar
Choramingo dos esquecidos
Segue anêmico das ondas que batem no cais do mundo
Que não se deixa alcançar
O amor cobra
O amor cobra o que não se pode e não se tem
Arreganha as entranhas
Lacera cerne do ser
Que amor é esse que não pode amar
Porque só em par o amor se faz
E sem plenitude o amor é plano
Voa sem rumo ao vento
Em vão
Você acha
Você acha que não te abate
que triunfou
Mas não
O que passou não passa
Fica em estado de pedra, ou melhor,
argila dura à espera de ser moldada por algum
[acontecimento libertador
A vida não admite rasuras
A chuva fina e fria
A chuva fina e fria
caía em meus braços com facas afiadas
Na pele, a peneira, não coava
o puro dilatado pela culpa ancestral
— em sua borda — florescia a punição
E as dobras doíam, doíam
a gripe depois da posse
o organismo avariado,
o abismo
Despreparada para mais uma
hipocondria
*
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Página publicada em agosto de 2023
Página publicada em junho de 2018
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