ROGERIO SKYLAB
Rogério Skylab é nome artístico de Rogerio Tolomei Teixeira, carioca, músico, autor de sete álbuns (Fora da Grei, Skulab I, II, III, IV, VI e VI). Estudou Direito e Letras e graduou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
“ Rogério Skylab retrata a vida como ele quer, reconstruindo novos sentimentos para antigas cicatrizes.” Lobão
“Bizarro, inconfundível, louco, genial. Muito já se falou sobre Rogerio Skylab.“
(Na contracapa do livro)
SKYLAB, Rogerio. Debaixo das rodas de um automóvel. Rio de Janeiro: Roccor, 2006. 167 p. 13x21 cm. ISBN 85-325-2100-2 “ Rogerio Skylab “ Ex. bibl. Antonio Miranda
VITRINES DE DOMINGO
Moro entre coisas extremas
num quarto de pensão impossível.
Ontem cedo matei dois ratos.
Aí está minha metafísica.
Sou um poeta errado.
Consumi muito de minha vida
deitado na cama e me masturbando.
Escrevo só para fazer de conta que vivi.
Olho pela janela do quarto
as vitrines fechadas da cidade.
Amanhã estarão repleta de luzes,
mas hoje adormecem como se ninguém as visse.
E mostram-se taciturnas, absurdas,
essas vitrines de domingo que eu olho tanto.
FERIADO NACIONAL
Eis mais um feriado.
O comércio fechou as portas,
as escolas interromperam as aulas,
e os pequeno-burgueses foram a suas casas de veraneio.
Aqui fiquei eu.
Cara a cara com o feriado.
Sem vitrines coloridas
e sem a rotina de mais um dia de trabalho.
Inapelavelmente nu e só.
Não pude ir à biblioteca
porque estava fechada.
Não pude ouvir buzina
e nem cheirar fumaça de óleo diesel.
Olhei para mim e achei horrível.
UMA DIVINDADE
Saio pelas ruas exalando charme.
Muitas pessoas me olham.
Faço de conta que não as vejo.
Desprezo todos os Homens.
Estou usando uma camisa Yes Brasil,
óculos Ray-Ban e mochila da Company.
Brilho no sol da manhã.
Tornei-me uma divindade.
Fui para o Rio Sul.
Olhei as vitrines, as vendedoras,
e subi, desci várias vezes.
Cheguei a sorrir pra uma passante
— mas isso foi uma extravagância.
Pudesse perpetuar esse instante.
RIO SUL
Caminho pelo Rio Sul.
Essas são as minha trilhas.
Não passo por paisagens bucólicas
nem ando mais entre multidões na rua.
Estaciono o carro na garagem.
Desço as escadas rolantes.
Vou comprar um videocacete.
Por que não Por que não?
Estou hoje sem pensamento.
Tenho estado sempre assim.
Agora passa uma jovem.
Olhamo-nos sem nenhum calor.
Somos puros fantasmas.
Nada mais nos atinge.
CAFÉ DA MANHÃ
Esperávamos tanto um do outro.
Imaginávamos até uma chuva eterna..
Dessa vez tudo há de ser diferente
— foi o que tacitamente nos dissemos.
Cheguei a balbuciar algumas palavras
— todas elas dispensáveis —
na vã esperança de fixar
o volátil e o sem nome.
Terminado o gozo, porém,
viramos cada um pro lado
e dormimos o sono dos justos.
De manhã, acordamos com os passarinhos,
não trocamos uma palavra,
tomamos café e nunca mais nos vimos.
Página publicada em dezembro de 2008
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