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RICARDO MÁXIMO

Professor de Sociologia e Filosofia da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.  É autor do livro O Século XXI como Antídoto, Editora Antares, tendo participado de várias antologias poéticas e do Jornal Poesia Viva. Publicou pela Editora Uapê o livro de poesiaCantos Erectos, uma sátira ao mundo atual, violento e consumista.

“Fixei no espírito a imagem de um poeta para quem o fogo da paixão é a matéria-prima da escrita.” Alfredo Bosi

 Eu o ponho entre as melhores coisas que me calhou ler desde há alguns longos anos.” José Saramago, Prêmio Nobel

A seguir, alguns exemplos de sua poesia fescenina e também de sua veia social.
Quem quiser mais, vá ao blog do autor:
http://ricardomaximo.blogspot.com/

RICARDO MÁXIMO

               DUAS AMÉRICAS
 
                Há uma América do norte
                E outra América do mórbido

                Uma é América latrocina
                Outra América Latina

                Uma América acelerada
                Outra a celerada e paulatina

                Uma América da águia
                Outra América da íngua

                Uma América do mango
                Outra América da míngua

                Uma América legal
                Outra América legista

                Uma América do ludo
                Outra América do luto

                Uma América de cacifes
                Outra América de caciques

                Uma América o ócio
                Outra América do bócio

                Uma América da Cia
                Outra América do cio

                Uma América de saciados
                Outra América de Sacis

                Uma América de crepes
                Outra América de crupes

                 Uma América de escritórios
                 Outra América de excretórios
 
                 Uma América sentinela
                 Outra América sentina
 
                 Uma América do Pentágono
                 Outra América das poliagonias
 
                 Há uma América do Norte
                 Deus salgue esta América.
                 Outra América da morgue:
                 salvem-na os que pudermos.

(De Cantos Erectos)

 

 

CRISTÓVÃO ONIROCÉFALO

 

O que atribuiu-se sofrer em língua vária

o poligólgota

condutor

de Cristos como quistos

de imaginários como leprosários

de redemoinhos como de reais moídos

Cristóvão onirocéfalo

colosso da inverossimilhança

exorta

às testemunhas e temerários

aos trêfegos e aos trágicos

a observarem

um minuto negasilente

todo um minuto de analgesia

quando o virem passar

pugilando as águas

com sua estirpe

de píncaros e epifanias!

 

 

(De Cantos Erectos)

De
CANTOS  PRENHES


CANTOS PRENHES

Os cantos estão grávidos
E já mostram as pernas abertas
As faces gozosas
Comovida alma
E o colo fecundo
Quem conta um canto
Aumenta o encanto
De apostar no mundo

VÊNUS URINÁRIA

Vênus Urinária
Vênus nascida da espuma
Do ato:
Não se enxugue
Não a enxugue
E deixe que eu sugue
As gotinhas do jato


DE OLHAR A PINO

Então eu falei
Como o olhar a pino
Segure bem a haste
A fim de que a flor
Possa cumprir sem falta
Seu grave destino

 

DO VELHO CAULE

Podes julgar estranho
Podes arremedar
Mas o que quer minh´alma
É o meu caule pronto
A te amamentar

FLOR DE COMER

Não era flor
Que se cheirasse
Era flor que se provasse
Era flor que se comesse
Não iria provar?
Não iria comer?
Comi porque provei
E não ficou
Pétala sobre pétala
Que não enrubescesse
Ao contar às outras flores
Nossas histórias


A UNDÉCIMA MULHER

Uma mulher repleta de mulher
Uma mulher como um conjunto
De onze
Adensa o que em mim
Tem de ser rijo
E a carne alavancada
Vira bronze

COXARIUM

Ó coxas roliças, noviças, castiças,
Porque tendes tudo a perder
Se não abrir-vos
Coxas de todo o meu submundo
Desuní-vos, coxas movediças
E deixai que vos adentre sem pena
A dura força deste poema


CRONOS, MINHA ÉGUA

O tempo é minha égua
Escrava de meu juízo
E antes
Bem antes que me pastem os vermes
Eu o sodomizo

 

ASNOS-ANOS

Ano após ano
Asno após asno
Tropas de humanos
Delegam suas almas
Chacoalham seus sinos:
Encabrestados e asininos

 

Página publicada em dezembro de 2008

 


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