Foto de Ana Paula Prado
PAULA VALÉRIA ANDRADE
Nasceu no Rio de Janeiro. Quando criança, respirou literatura, no meio literário carioca. Cursou Filosofia na PUC e formou-se em Desenho Industrial, Comunicação Visual e Educação Artística, Aos 19 anos mudou-se para São Paulo, onde criou raízes.
Trabalha há 16 anos com cenografia e figurinos para TV, películas e teatro, com prémios APCA, Apetesp e Mambembe. Escritora desde menina, foi prémio Jabuti - Câmara Brasileira do Livro - aos 21 anos. Tem 6 livros infantis publicados, todos eles com exposições de suas ilustrações na Itália, Holanda e Alemanha. Participou da Antologia
Poetrix, com Alice Ruiz, Ricardo Alfaya e mais 44 poetas. Publicou A Arte em Todos os Sentidos, livro didático pré-universitário, pela editora éo Brasil. Desde 1998 é colunista em websites e escreve sobre arte, teatro e literatura. Morou em Berlim, Londres, São Paulo, Austin, São Francisco e Los Angeles, onde reside há mais de dois anos. Ama a língua portuguesa, com certeza. Foi premiada em terceiro lugar no concurso Jogos Florais, Palavras e Música - 2003, em Portugal, com o poema "Mirar Miro", na categoria Poesia Lírica.
ANDRADE, Paula Valéria. Ìris digital. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. 107 p. 14x21 cm. ISBN 85-7531-158-1 Capa: da autora, a partir de objeto caixa de vidro, foto e agulhas, da artista Renata Barros, em foto negativo/positivo. Col. A.M.
National Gallery
Cristo loiro alemano,
Cristo ruivo judeu.
Cristo moreno romano.
Em quantas cores
fazem o Cristo,
em mundano?
Do fim ao fim
O que contorna enrola o que tá dentro.
Picasse tirou o contorno para ver o centro.
O centro é o que vem de dentro para fora.
O centro é uma bola de fogo do mundo que rola.
O miolo é recheio do centro.
O miolo do pão se não se come agora,
passa da hora.
As minhocas são como o miolo que cai no rio.
As minhocas substituem o miolo e ficam no fio.
O fio divide o começo e o fim.
O fim é o lado do fio que não diz sim.
O fim é quando acaba o pão.
O fim é o que se vai embora.
O fim é o lado de lá do fio que diz sim ao não.
O fim quando chega não tem hora.
[Londres,93]
Mídia(o)cridade
0 cri-cri-cri
da mídia(o)cridade
exulta sempre
a maldade
a falsa verdade
no meio de meias
verdades
(algumas alheias)
algumas delas (belas)
mentiras
que (vampirescamente) anseias
para degustar
o que ceias.
Antropofágico ofício do vício.
Adrenalina correndo veias.
Carroça de frutas
Carroça de frutas
Tangerina laranja menina
Abacate verde imaturo
Banana yellowlouro do maduro bacana
Foco zoom: trem passa na ferrovia
ponte de ferro sustenta a via
(sob o velho cinza chumbo)
Entre ônibus, fumaças, carros
a beleza das cores vibra se opondo ao que
traduz
no carrinho-de-mão que o moreno baiano
conduz.
NOVO DECAMERON. Antologia poética. Org. Rodrigo Starling, 2021. 235 p. ISBN 978-65-994-783-7-6-1
Ex. bibl. Antonio Miranda
NECROPOLÍTICA DA PANDEMIA II
Um céu de helicópteros,
Sobrevoa o topo da cabeça.
Ambulâncias em sirenes
Estridentes por esquinas do bairro
Saio somente ao repor alimentos
Estresso os tímpanos
Negacionistas,
Andam sem máscaras,
Como moscas,
Pelas ruas da cidade.
Proferem palavras podre,
de um narcisismo perverso,
ao gosto do retrocesso.
Clandestinas festas nas madrugadas de arromba,
Perfazem 4 mil mortos ao dia.
Clandestinos barbeiros abrem as portas na esquina,
600 valas novas ao dia, só na capital.
A inauguração de um nunca visto, cemitério vertical,
Desumana conta sem igual.
1.300 leitos em ocupação esgotada, ao dia,
Macro aborto do micro cidadão sem opção.
Tudo à deriva e à revelia.
Vejo tudo da janela.
Parou. Parou com tudo.
Lockdown. Fase vermelha.
Vaga é a centelha,
de esperança quando a vida se vai.
E derrama, tudo aquilo,
de bonito revelado (muitas vezes perdido).
Em vidas e mais vidas deixadas,
No caminho de cada um.
Destino. Sobrevivência, ou morte.
Se cuida! Reza. E se ajoelha, a própria sorte.
ANTOLOGIA POETRIX , 5 / organizador Goulart Gomes. São Paulo: Scortecci, 2017. ISBN 978-85-366-5212-2
Ex. biblioteca de ANTONIO MIRANDA
TEMPORALIDADE
Tempo tem que
faz e desfaz,
a menos de a mais.
*
PAISAGENS DE VIAGEM
Trago cá dentro, imagens:
cenas, visuais bagagens e o
avesso de tanta roupagem.
*
JOGO SEMÂNTICO
Brincar e revisitar palavras
Ludo vocal do voo ovo em espiral
Não é pá e nem mera meia lavra.
*
MOMENTO SEDENTO
Então, quando chega a hora?
Só sei — se bem sei – que a vida,
se faz aqui e agora.
*
EXPLOSÃO DE EMOÇÃO
Beijo roubado no portão,
música no acorde do coração:
Amor bate na porta da aorta torta.
*
SONHOS E IDEAIS
Somos muitas vezes banais,
Largados como batatas no quintais.
E se não fazemos nada, vivemos sem mais.
*
ZELO NO ELO
flor sozinha não faz primavera
sozinho, passarinho voa sem revoada
união não é opção, mas força sagrada.
*
VOCAÇÃO: TÃO PULSAÇÃO!
Ás vezes pensamos ser morta,
atrofiada, uma habilidade inata.
E eis que, ressurge anos depois inalterada.
*
AMEI COM NUNCA DANTES
Instantes distantes,
Respiro seus livros na estante.
Uma estante colorida, é arco-íris da vida.
*
DESTINO SEM TINO
Viver de sonhar
amar, navegar
Caminhar sem (ter) pressa, e chegar.
*
DESAFINA na BOA!
Às vezes é tão bom,
ser assim meio,
que, fora do tom!
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TRANSPIRAR E LAVAR
Lavar da célula a sinapse
do teu cheiro, teu jeito, memórias
e roteiros, desse teu corpo inteiro.
*
VEJA E LEIA outros poetas do POEMATRIX em nosso Portal:
Página publicada em março de 2024.
*
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em dezembro de 2021
Página publicada em março de 2013
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