Fonte: /www.sidarta.blogger.com.br
LEONARDO FROES
Poeta e tradutor. Seus livros de poesia mais recentes são Chinês com sono e clones de inglês (2005), Vertigens (1998) e Argumentos Invisíveis (1995, ganhador do Prêmio Jabuti 1996).
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
FRÓES, Leonardo. Trilha – Poemas 1968-2015. Rio de Janeiro: Beco do Açougue, 2015. 136 p. 15x19 cm. capa dura. ISBN 978-85-7920-174-5 Apresentação: Sergio Cohn. Ex. bibl. part. Salomão Sousa.
“Os anos 1960 foram dos mais interessantes para a poesia brasileira. Após as experiências das vanguardas tardias da década anterior, há um retorno para o verso e a poesia lírica, como centro da atuação dos poetas jovens. Em ambos os casos, esse retorno não é simples reação, mas informado pelas experiências anteriores e buscando novas formas de expressão, condizentes com o momento. Ao gosto de uma geração que fincava o pé numa contracultura ainda nascente, os poemas trouxeram um tom crescente de irreverência e provocação, além de retratarem com bastante vigor as experimentações existenciais que marcaram aquele tempo. Temas como a ecologia, sexualidade livre, vida comunitária e expansão da consciência ocupam os textos de forma vibrante.” (...) “E aqui talvez esteja uma chave para a compreensão da obra de Fróes: a sua poesia está no trato sensível, de como um indivíduo lida com a estranheza do mundo, muitas vezes incorporando ela, no olhar e na expressão.”
Aqui reproduzimos três poemas entre os mais curtos, mas aconselhamos uma visita ao livro inteiro...
O APANHADOR NO CAMPO
Fruta e mulher no mesmo pé de caqui
no qual espantando os passarinhos eu trepo
para apanhar como um garoto a fruta
e apreciar, comendo-a lá no alto, a mulher
que ficou lá embaixo me esperando subir
e agora vejo se mexendo entre as folhas,
com seus olhos de mel, seus ombros secos,
enquanto me contorciono todo subindo
entre línguas de sol, roçar os galhos,
para alcançar e arremessar para ela,
no ponto mais extremo, o caqui mais doce.
CONTEMPLAÇÃO DOS SEIOS DAS BETERRABAS
manhã de chuva banheira
na horta sabiás
cantando
em volta
de uma enorme figueira
cujas raízes abraçam
uma pedra enorme
que parece
um ovo
de musgo cristalizado
depositado pela própria
árvore galinácea
fenomenal
parada entre os canteiros
de alface
e depois uma tira
de terra vermelha
na qual despontam afundados
os seios quase roxos
das beterrabas
O IMPÉRIO DAS FORMIGAS
O império das formigas. A vaca
olha de longe o efêmero passante.
Os passarinhos atravessam
a estrada estreita, quieta e sinuosa
que segue o rio pelo vale.
O silêncio aglutina as criaturas
e os menores ruídos.
Vê-se a proliferação das espécies
nos menores meandros.
Mundo inimagináveis se criam.
Mundos desaparecem
nas bocadas da vaca no capim generoso.
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SONO LIVRE
Cada vida na varanda
quando eu deito na morte
irmão das almas
Calmas caras caladas
olham pelo travesseiro de banda
que é a minha nuca
A calma das caras loucas
imprime sentido a tudo
olhos estrelados
piscam no travesseiro-cérebro
Durmo na grade
do princípio obscuro,
vou virando pedra e livre
vou virando um cisco
ESTAR ESTANDO
A impressão de estar, o lento
espanto que se repete. Aqui e onde, eis como
povôo ao mesmo tempo dois espaços
ou, mais que isso, passo a noite inteira
vivendo as sensações de um fragmento
que me é próprio, ou é-me o corpo todo,
e de repente vai sem deixar marca
entre o que foi e o há de ser. Deslizo
nessa fronteira vã que não separa
nada e ninguém, passado nem presente, simples
e uniforme
faixa de areia da qual jorram palavras,
visões, retratos, intenções. É sempre agora
e nunca, sempre sono e manhã, sempre uma coisa
que num jogo dual se nulifica
para sobrar de nós sempre esse caldo
de frustração e medo - ou de esperança.
PAISAGEM VOANDO PARA O ORGASMO
Trens sonolentos resfolegam
na gare do escuro rostos antigos se alumbram
e nos sorriem discreta-
mente a razão se estilhaça os sentidos
se destapam os cheiros se condensam os sabores
se associam ao cuspe a vida nos penetra o vento
nos penteia e espalha
por coloridas areias os dias nos dividem
os horários nos limitam a memória escasseia o mar
devolve ondas vazias
em que já fomos levados
nas noites frias de outrora o outro espia o outro espera o outro
nos sedimenta em nosso desvario
e ensina um corpo à solidão
o outro ampara a nossa queda beija
nossos pudores e a boca
sempre entupida de espanto o canto explode
o gato canta a cama range o ar se fende o riso
nos comunica o gosto diferente
desse gesto largado o riso alarga eleva desarruma as gavetas
de nossa servidão coitidiana.
MISSAL SEM CERIMÔNIA
Certo ar de falência, certa estrela
na testa, certa sorte bifronte, certos
objetos entesourados
no fundo de uma mala, certa mágoa
ambígua, o som de certos ambientes, a
impressão incerta de estar numa
travessia sem freios, a defesa
de certos itens na lembrança
caolha, certos
calafrios sem causa, o grau
de inocência e tristeza em certas horas
sombrias, a importância de certos
detalhes, a pergunta não-feita e sua certa
resposta incerta, o brilho
anterior a certos sinais dados
pela palavra espanto.
Extraído de FRÓES, Leonardo. ESQUECI DE AVISAR QUE ESTOU VIVO. Rio de Janeiro: Artenova; Brasília: INL, 1973. 46 p.
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Retrato do autor: Eurico Abreu, óleo 1961
METACOMEDIA
a boca da rua aberta comia amor e pipoca
depois ia cuspir um cavalo na cabeça da fila
fálica do sono dos ônibus com olhos-engates
gozadamente se cumprimentando sorrindo
na crina da velocidade sem meta, e motos
raspavam na brecha roxa da nicotina contida
em cada beijo de sorvete-soquéte uma vitrine
de meias tardes fantas meias tintas vontades
adocicadas de passar escorrer iluminar
de pipoca gratuita o mar das caras
fechadas de madames-fachadas que também
ali seriam derretidas virando
uma esquina e papéis, cavalo e motos, rótulos
puxados para Jogo esquecer qualquer lugar
na platéia da boca: aplausos falas urros
sarros corridos entre os carros e a lua
vigésima de neoplástico imposta aos pés doídos
de todos os que estavam vagindo
vagando
vertendo, do mistério do céu, seu pó mais fino
que não tinha função e no entanto moldava
essa nossa comédia que é o pão dos divinos.
EU E OS CABIDES DO DESTINO
tudo cedo parado: e eu novamente confuso
usando a roupa de um fantasma tremido suando
de andar por dentro de uma árvore aberta
muito imprecisa e sem qualquer novidade
que fosse idêntica às dentadas do sono
ou aos cabides do destino abalados
pelo sinal de alguém entrando tremido
gemer no meu desejo dançado assim que eu
próprio pensando amargurado o mastigue
sentidamente absoluto e marcado usando
o tição da roupa etérea de um tardo
fantasma juvenil que me devora também
suando de andar no caule ambíguo dos meus
braços longos e rasos
rasos e longos
na tentativa de virar uma árvore onde
antes havia simplesmente essa dúvida
de dar ou receber os meus frutos
que são pessoas fugitivas do acaso.
A POESIA E A MATANÇA DOS MOSQUITOS
Cada poema original que escrevo à máquina contém pelo menos 2 ou 3
cadáveres de mosquitos esfregados no rolo.
Isso porque escrevo muito de madrugada com a luz acesa .
Antes de amanhecer eu apago para espiar a mutação de cores.
Meu editor um dia vai receber a coleção completa.
Parece que Pablo Neruda colecionava por sua vez caramujos.
Uma senhora que me visitou outro dia achou que tenho alma de artista.
Como as pessoas são boas observadoras agora.
Os meus cachorros latem muito de noite quando estou escrevendo.
Eu acho isso muito chato porque fico tenso.
Às vezes eu penso que vai sair do mato um macacão enorme.
Extraídos de FROES, Leonardo. ASSIM MISSA. Rio de Janeiro: Xanadu, 1986. 78 p.
De
ARGUMENTOS INVISÍVEIS
Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
ISBN 85-325-0576-7
“Todo grande poeta — e Leonardo Fróes, sem favor algum, é um deles — se renova na repetição, no aprofundamento de seus temas e problemas, na cristalização de sua linguagem e de seu estilo.” Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras
DIA DE DILÚVIO
Quando chove assim tão seguidamente na serra
e começa a pingar água na casa e a goteira
cresce e a pia entope e alaga o chão,
quando não cessa esse barulho insistente
de água penetrando em tudo e rolando,
sinto uma desproteção total violenta
e eu mesmo sendo dissolvido também
nessa casa alagada, não me acho
enquanto solidez: vou flutuando
como onda inconstante na correnteza.
UM PASTEL CHEIO DE DEDOS
Antes de chegar a Jardel, parei para comer um pastel
do qual, quando mordi, saíram pernas bonitas
de garotas fritas, mais um caroço de azeitona que comi também
sem pensar que loucura
um pastel erótico sentimental com cerveja que espremia
não só as pernas como também braços e cabelos no balcão do bar
eu não sabia se pedia um pano um balaio
comecei a ficar encabulado de tantas de uma só mordida
não sabia se botava no bolso ou se distribuía na rua
deus do céu que situação penosa
corpos em quantidade escorrendo do recheio de queijo
pela comissura dos lábios,
e eu, em terra estranha, tendo de parecer que era apenas
um idiota se babando com pastel fresco.
Indicado por Wagner Barja. Maio 2007
De
OS IRREAIS
poemas
Rio de Janeiro: Impressões do Brasil;
Leonardo da Vinci Livraria, 1997
(Edição especial de 100 exemplares)
AMBIÇÕES DE ASSOMBRAÇÕES
Incertos os galhos tortos, você
vê, armam-se como esqueletos
de silenciosa e fria carnadura
como se, no escuro, de cada galho
surgissem numerosas pessoas
vendo você observá-las na sua
desabitada languidez vegetal
de pessoas nuas resinosas
querendo corporificar sem poder
gestos aflitos, ritos solitários
músicas de imperceptível tremor
e, naturalmente, a semente da morte
inoculada por cada criatura
no seu próprio olho desmesurado.
RADIAL X
Surto absurdo absorto
ânsia de presença maciça
massa musical momentânea
tonalidades dispersivas da luz
musculatura brutalidade candura
durações do pensamento no éter
formoso remorso da geometria
quebra de situações pontuais
espelhos sutis homologados
sismografias dissolutas
ânimo indeterminado dos ares
voracidade das vontades.
De
VERTIGENS
Obra reunida (1968-1998)
Rio de Janeiro: Rocco, 1998
“Uma das vidas de acesso mais ricas à obra de Leonardo Fróes é a sua obsessão carinhosa pela Natureza. O poeta se sabe — como Kant — “um pau torto que jamais endireita” (“Pernoitório”, Anjo tigrado) exibe em seus textos, um corpo-a-caorpo com a realidade metafísica do homem: paricialidade e perpexidade. Mas, ao mesmo tempo, a alarga até um confronto, respeitoso, com o Absoluto da Natureza. Se Deus pôde ser “uma casa de marimbondos”, “uma árvore”, “uma flor que se movimenta” ou até “um cão danado” (“Justificação de Deus”, Sibilitz), é porque a Natureza, em Fróes, detém a chave dos impasses humanos”. José Thomaz Brum
MISSAL SEM CERIMÔNIA
Certo ar de falência, certa estrela
na testa, certa sorte bifronte, certos
objetos entesourados
no fundo de uma mala, certa mágoa
ambígua, o som de certos ambientes, a
impressão incerta de estar numa
travessia sem freios, a defesa
de certos itens na lembrança
caolha, certos
calafrios sem causa, o grau
de inocência e tristeza em certas horas
sombrias, a importância de certos
detalhes, a pergunta não-feita e sua certa
resposta incerta, o brilho
anterior a certos sinais dados
pela palavra espanto.
RELAÇÕES DE ESTRANHAMENTO
A enxó o giz o grilo o cinzeiro
a cruz a carcaça a desova
a honra os retratos a herança o remorso
a usura o anzol o sono
e sua pesca de anseios afogados
no açude da infância o gosto
de sono das palavras
que nos ferem a mente o riso o vômito
a lâmpada o fosso o paraíso os espelhos
que de repente derramam nossos olhos
pela face barbeada de um estranho.
ABERTO PARA OS DEDOS DE DEUS
se eu fizer pelo menos a manhã começar
dos meus cabelos e tirar mais um pouco
da última fatia e não ficar lamentando
a primeira oportunidade perdida, e se eu não der
bola para os preconceitos que me reduzem até
eu mesmo achar que sendo um ser humano eu me explico
na complicação cósmica desses bagaços distantes
que são tão simples,
se eu realmente não puser mais o pé na fantasia
do dia que está à minha espera e represa
tantas demonologias ferozes que eu esqueço de olhar,
se eu não ficar completamente maluco
por isso e o desejo de cumprimentar
deus em pessoa.
PREOCUPAÇÕES PALACIANAS
Mulheres muitas carregando pesados
papéis e leves grampeadores passam
com ar febril dos mais atarefados.
Soldados
perfilam-se nos corredores.
Senhores
entram apoiados em negras
malinhas trepidantes e paletós quadrados.
A secretária atura desaforos e cala. O boy
espreme espinhas pela sala, com sono.
Há uma pilha de pastas em cada mesa.
Em cada coração, um vazio.
A hora do café no copinho
de plástico é a salvação da lavoura.
“Sem dúvida, Fróes é um dos meus poetas favoritos. A um tempo substantivo e divagante, desconcertante e até anti-metafórico no sentido da contradição e do humour (leiam, acima, o excelente poema “Preocupações palacianas”...), com sentido sempre desdobrável e nunca óbvio. Consegue ser simples por sofisticadas texturas.” Antonio Miranda
FROES, Leonardo. Sibilitz. Rio de Janeiro: Editorial Alhambra, 1981. 96 p. 14x21 cm. Diagramação e capa: Maria Luiza Ferguson. Col. Bibl. Antonio Miranda.
PASSAMANARAGEM
O passado — que não existe — é talvez
minha única invenção gloriosa. Por ele eu crio algumas linhas
que me iludem na dissolução
da hora presente sem finalidade.
Por não lembrar de mais nada, exatamente como foi,
eu falsifico uma pessoa
que tende a ser melhor do que eu sou
e a agir brilhantemente
em qualquer aperto.
Minha ideia de mim é como a história
de um país que se idolatra em seus morros
enforcados ilustres.
Afirmo ter estado nas paisagens do armário
que sonhei ou são
mas não encontro jamais uma das caras possíveis
por essa peregrinação da cabeça
em minhas sendas.
Só a hora presente é o meu país sem progresso
e sem grandeza.
Só as aves entendem
o que estou olhando ao longe
sem pensar mas sentindo
minha insignificância perfeita.
FROES, Leonardo. Esqueci de avisar que estou vivo. Rio de Janeiro:Artenova; Brasília: INL, 1973. 46 p. 14x21 cm. Em ocnvêio com o Instituto Nacional do Livro – MEC. Col. Bibl. Antonio Miranda.
AFIRMAÇÕES ANTES DE TIRAR A ROUPA
]á teceram treliçam, já
aviaram aviões. O rio
secou (já) e no seu leito
há mágoa, pedras dágua. Já
há megatons no necrotério, gula
no golfe apático do sexo.
lá há ira na aragem, risco
no cruzar a ponte, vergonha
de entrar nessa dança sem parceiro
que vai alta e solene, já sinistros
dedos dedoduram meu silêncio, já
há um borrão manchando a vista
quando vejo a manhã.
já discuto, já creio, já enjambo
as palavras com jeito, já desisto,
já me aprumo e prossigo.
lá engraço, já juro, já noto
aplausos e apupos, já greta me garbo
no filme do infindo, já suo
de pensar em suecas, deito-me
e no meu catre tropical
já me coço e caçoo.
TEXTO EN ESPAÑOL
Traducción de Hector Carreto
FUE A QUEMAR LIBROS VIEJOS Y
EN LA VALIJA HALLÓ UN COLIBRÍ
Silencio.
Entre los fantasmas descubrí un colibrí muerto de frío.
Contar el caso también me da mucho frío.
Mas mi muerte – silencio – no estaba.
Entonces quemé el moho de las situaciones.
Por si fuera poco en la tarde yo jugaría con el alcohol del incesto.
Todas las llamas chispeaban;
admiré sobre todo la resistencia de los papeles atizados.
En ese fuego por mí quedaban muchas preguntas. Silencio.
Ninguna respuesta provisional me satisfizo.
Los fantasmas dirían que ésa era mi condición.
Las tías conversaban cerca,
pero no estaban, silencio,
y en playa la momia pronunciaba presentimientos
que intuí después.
Ahora las aspas del poeta alemán
la eternidad del poeta francés;
todo eso quemé.
Quemé la maleta repleta de libros e inventé la palabra
praticolombinasana. Naturalmente, con eso no resolví gran cosa.
Silencio. No se resolvió mucho,
Naturalmente.
Poema extraído de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA, México, n. XIX invierno 2001, de una edición dedicada al Brasil, con selección de Floriano Martins.
FROES, Leonardo. Assim. Capa de Eduardo Barreto c/ foto de Regina Lustosa. Petrópolis, RJ: Xanadu, 1986. 78 p. 16 X 23 cm....
Ex. bibl Antonio Miranda, doação do livreiro Jose Jorge Leite de Brito.
BANDEJA, DESTINO, DESEJO
Aproximam de minha mão a bandeja
que ao invés de copos
contém taças que são cabeças
cheias de vinho até a testa,
e fico sem saber onde devo
pegar, temo beber pessoas
diferentes da minha ideia de cara
que a princípio só estava num coquetel.
Vejo essas cabeças rodando
com o líquido espesso
dos seus sonhos peculiares
através dos olhos.
Caras que se contaminam
ou no balanço da bandeja
permanecem intocáveis
apesar de tão próximas.
FEITIÇO FANTOCHE
Os meus papéis estão cansados
de mim. A minha vida está partida em derrotas
vitórias retornos e alucinações. Meu cérebro estancou há séculos
quando uma parte de mim viu uma estrela caindo
dentro de um chapéu que não era. Eu não existo
nem sou bem tenho tempo nem espero escrever
as brancas confissões de ninguém na cela em branco
onde apenas outra parte de mim pensou morar como um urso.
Eu simplesmente estou chegando de um ponto
dispenso antes
e partindo para um ponto depois
que é talvez o mesmo. Eu mordo a borda de um vulcão de desejos
que não se realizam nem cedem
e só transformam seu calor em palavras
de cuja consistência eu duvido. Eu não me enxergo
não ajo, sou agido,
sigo as molas do corpo e a noite rola
por cima da ilusão do que eu penso
puxando para onde bem quer os meus cordões de fantoche.
Mesmo assim, de vez em quando, eu sei voar como um louco
abrir o embrulhos do presente agora
na hora de olhar um boi na janela
e por ele ou por mim passar sorrindo
sem qualquer finalidade mascando
os pratos que também me devoram
quando eu acho que vou comer qualquer coisa.
EU E OS CABIDES DO DESTINO
tudo cedo parada e eu novamente confuso
usando a roupa de um fantasma tremido suando
de andar por dentro de uma árvore aberta
muito imprecisa e sem qualquer novidade
que fosse idêntica à dentadas do sono
ou aos cabides do destino abalados
pelo sinal de alguém entrando tremido
gemer no meu desejo dançado assim que eu
próprio pensando amargurado o mastigue
sentidamente absoluto e marcado usando
o tição da roupa etérea de um tardo
fantasma juvenil que me devora também
suando de andar no caule ambíguo dos meus
braços longos e rasos
rasos e longos
na tentativa de virar uma árvore onde
antes havia simplesmente essa dúvida
de dar ou receber os meus frutos
que são pessoas fugitivas do acaso.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/rio_de_janeiro.html
Página ampliada e republicada em janeiro de 2022
Página ampliada e republicada em janeiro de 2009. Página ampliada e republicada em fevereiro de 2009 e em março de 2014. Ampliada em setembro de 2017. |