LEDA MIRANDA HÜHNE
Nasceu em Natal, Rio Grande do Norte em 1934. Poetisa, romancista, contista e ensaísta, mestra em Filosofia pela UFRJ e doutora em Letras pela PUC do Rio de Janeiro. Dirige a editora Uapê, organiza livros didáticos, o Jornal Poesia Viva e revistas. A temática social, voltada para a apreensão da terra e do homem brasileiros, está presente na maior parte de sua obra literária.
EXILADOS
NO ALTO - BRILHOS DE INCÊNDIO
LABAREDAS RAJADAS FOGARÉU
LAMBE MANCHA VERMELHA MATARIA
DES-FLORESTA BRASIL AÇU
INCÊNDIO LAVRA DEVORA FLORA
ENTERRA SOLO BICHOS SEMENTES
IARAS JACIRAS BOTOS COR DE RÓSEA
NO BAIXO - ÍNDIO AURORA LEVANTA
SUSTO -ACORDA NO DESCAMPADO
CAMPO LISO VERDE ESPIGADO
HASTES DE LANÇAS DOURADAS
VERDE CAMPO OCA MALOCA GADO
CERCADOS DE ARAME FARPADO
IGARAPÉS ARROTANDO VENENOS
CAPANGAS FUZIS CARABINAS
CACIQUE SE PINTA RUBRO URUCUM
CHAMA A TRIBO CANTA GRITA CHAMA
TUPÃ SE APRONTA E SE PÕE A DANÇAR
TORNEIO
MONTE DE BANDEIRAS PISADAS CARROÇAS CARRUAGENS
RESTOS DE PANOS ESVERDEADOS ESTANDARTES PISADOS
SELOS RASGADOS ESGOTOS CANOS ROMPIDOS GOSMA E BÍLIS
AMARELADAS GOELAS EM FESTA PIRUETAS DEVORISMOS
OSSATURA GUARDADA EM CAMADAS DE BORRAS
DE CAFÉ BAGAÇO DE CANA FILETES DE OURO
E UM SOL DE MARMÓREA ESCONDER TODA A TRILHA
DE MASSACRES NO TOQUE DE MELOSOS E DESLAVADOS
HINOS UFANISTAS CANTOS DE PALMEIRAS E SABIÁS
MARCHAS EM DESFILES DE ESCOLAS DE SAMBA
DESEMPREGO
ÁRVORE ESQUELÉTICA
NO LENHO
UM PEÃO NU
CRUCIFICADO
PÉS ESFOLADOS
MÃOS EM SANGUE
PICADAS
NARINAS BUFANDO
ROXAS
OLHOS LAMBIDOS
VAZADOS
-UM CRISTO SEM TRABALHO
NOVA ERA
PUXANDO DEVAGAR OS SEUS BURRICOS
ARRASTANDO DESTREMBELADAS CARROÇAS
DEVAGAR PASSOS DOS CATADORES DE PAPEL
O TROPEL SUMIU E A PAISAGEM - SOM
DA ROTINA DEU VEZ A RONCOS AZUCRINANTES
CAMINHÕES TUFÕES FIOS TRITURADORES
CATADORES DE PAPEL À MARGEM DA RUA
CAPTURADOS PELAS GARRAS OFICIEIRAS
CENÁRIO DE CINEMA MAGIA NOSTALGIA
POESIA VIVA. Ano 13 – No. 39 –Maio de 2009.
Rio de Janeiro: UAPÊ Espaço Cultural Barra Ltda.
Editora Uape@terra.com.br
MISCIGENAÇÃO
DOMINGO DE CARNAVAL
NECROTÉRIO
SOM DE GONGOS
TAMBORINS E PANDEIROS
CHEGA ÍNDIA
CHEGA CABOCLO
CHEGA BRANCA AZEDA
CHEGA PRETINHA
ETIQUETADOS
BRAÇOS E PERNAS
MARCADOS
ESTRANHAS SIGLAS
TODOS DEITADOS
EM SEGURANÇA
ARRUMADOS
GÉLIDAS GAVETAS
TODOS ANÔNIMOS
ESQUECIDOS
A CAIR NAS CAIXAS
DO PAU-BRASIL
(Livro Brasilaçu.)
POESIA VIVA. Ano 14 – No. 38–Novembro de 2008
Rio de Janeiro: UAPÊ Espaço Cultural Barra Ltda.
Editora Uape@terra.com.br Ex. bibl. Antonio Miranda
COTIDIANO
Argolas nos pés
Argolas nas mãos
sem ímpeto
de largar
fio da partida
Quem se encontra
nas grades
a espreita fica
à orlas fundas
subterrâneas
Quem se encontra
na gaiola
canta o exílio
esperando voos
infinitas nuvens
Argolas nas mãos
Argolas nos pés
cadeado escancarado
nenhum apelo
a se livrar do cativeiro
*
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grande_norte/rio_grande_norte.html
Página ampliada e republicada em janeiro 2022
Página publicada em fevereiro de 2009; Página ampliada em setembro de 2020
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