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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HILDA MACHADO

 

Rio de Janeiro, 1951 - São Paulo, 2007) foi uma poeta e cineasta brasileira.

Diretora de cinema formada pela Escuela Internacional de Cine y Television, foi autora do curta-metragem Joílson Marcou (1987), que lhe valeu os prêmios de melhor direção nos festivais de cinema de Gramado, Recife e Rio de Janeiro. Fez mestrado em Artes na USP e doutorado em História Social na UFRJ. Foi professora da UFF.

Foi presa pela ditadura militar em 1978.

Ao longo de sua vida publicou apenas dois poemas, Miscasting e Cabo Frio, ambos na revista Inimigo Rumor. Somente em 2017, dez anos após a sua morte, foi publicado um livro registrado por ela em 1997 na Fundação Biblioteca Nacional.

Fonte: pt.wikipedia.org

 

MACHADO, Hilda.  Nuvens. Apresentação de Ricardo Domeneck.  São Paulo: Editora 34, 2018.  96 p.  14 x 21 cm.  Imagem da capa: Leonilson. Capa: Bracher & Malta Produção Gráfica. Apresentação na orelha do livro: Flora Sussekind. ISBN 978-85-7326-690-0
Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

Este livro é precioso. Não só pela reunião de textos que introduz na literatura brasileira contemporânea uma poeta cuja produção, em vida, só chegou a pouquíssimos leitores, mas enquanto registro do impacto que um poema pode ter, que o diálogo silencioso entre dois poetas pode ter. Neste caso, o impacto de um poema de Hilda Machado — "Miscasting" — sobre outro poeta — Ricardo Domeneck, que reconheceu, desde a sua primeira leitura, a singularidade dessa voz, o que o levaria a se perguntar quem seria essa es­critora (que infelizmente descobrimos tardiamente) e, em seguida, a retraçar a sua trajetória e procurar novos textos, reunidos aqui, depois de alguns anos de busca.
Flora Sussekind

 

 

NUVEM  

 

babado de organdi
floco de algodão
carneirinho regredido p
rimeira comunhão

 

beleza que é o cúmulo

 

 

 

 

MISCASTING  

 

"So you think salvation lies in pretending?"

                                          Paul Bowles

 

 

estou entregando o cargo

onde é que assino

retorno outros pertences

um pavilhão em ruínas

o glorioso crepúsculo na praia

e a personagem de mulher

mais Julieta que Justine

adeus ardor

adeus afrontas

estou entregando o cargo

onde é que assino

 

há 77 dias deixei na portaria

o remo de cativo nas galés de Argélia

uma garrafa de vodka vazia
cinco meses de luxúria

despido o luto

na esquina

um ovo

feliz ano novo

bem vindo outro

como é que abre esse champanhe

 como se ri

 

mas o cavaleiro de espadas voltou a galope

armou a sua armadilha

cisco no olho da caolha
a sua vitória de Pirro
cidades fortificadas
mil torres
escaladas por memórias inimigas
eu, a amada
eu, a sábia
eu, a traída

 

agora finalmente estou renunciando ao pacto
rasgo o contrato
devolvo a fita
me vendeu gato por lebre
paródia por filme francês
a atriz coadjuvante é uma canastra
a cena da queda é o mesmo castelo de cartas
o herói chega dizendo ter perdido a chave
a barba de mais de três dias

 

vim devolver o homem
assino onde
o peito desse cavaleiro não é de aço
sua armadura é um galão de tinta inútil
similar paraguaio
fraco abusado
soufflé falhado e palavra fútil

 

seu peito de cavalheiro
é porta sem campainha
telefone que não responde
só tropeça em velhos recados
positivo
câmbio
não adianta insistir
onde não há ninguém em casa

 

os joelhos ainda esfolados
lambendo os dedos
procuro por compressas frias
oh céu brilhante do exílio
que terra
que tribo

produziu o Teatrinho Troll colado à minha boca
onde é que fica essa tomada
onde desliga

 

INIMIGO RUMOR – revista de poesia.  Número 16 – 1º SEMESTRE 2004. Editores: Carlito Azevedo,  Augusto Massi.   Rio de Janeiro, RJ:  Viveiros de Castro Editora, 2004.  176  p. 
ISSN  1415-9767.                          Ex. biblioteca de Antonio Miranda



CABO FRIO

nuvens passageiras
miragens peregrinas enfunadas pelo Nordeste
queda de folhagem
muda retórica

O sudoeste dá rédeas à repulsa
nuvens erráticas devoram rivais
Orfeu despedaçado por bacantes drapejadas de vapor

Em dia sem vento
a falta de engenho permite
purezas de sabão e macieiras em flor
talco no chão do banheiro
sorvete marca Aristófanes

Mas quase sempre ele pisa seus véus

Duas mãos de cinza desmaiado
sobre fundo esmaltado é perícia
renda
luxo magnífico e corrupto
realização elegante de algum mandarim
leque de plumas de avestruz tintas de rosa
levemente agitado diante da luz

 

*

Página publicada e ampliada em dezembro de 2023

 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2019


 

 

 
 
 
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