Imagem em: /futibabrasileiro.blogspot.com , mas retrabalhada por Nildo.
FUTEBOL E POESIA
coordenação de
MARCONI SCARINCI
Na oportunidade em que o Brasil foi escolhido para ser a sede do Copa do Mundo de 2014 é a hora certa de revelar poemas de poetas brasileiros sobre o tema da paixão nacional. Página aberta para novos poemas e autores de qualidade em próximas atualizações....
ANIBAL BEÇA - FERREIRA GULLAR - GLAUCO MATTOSO - JOÃO BOSCO/ADIR BLANC - JOÃO CABRAL DE MELO NETO -JOSÉ VIRGILIO GONÇALVES - MARTINHO DA VILA - MIGUEL GUSTAVO - MILTON NASCIMENTO/FERNANDO BRANT - MORAES MOREIRA - NICOLAS BEHR - VINICIUS DE MORAES
Leia também o ensaio: ICONE DA BOLA UNE POVOS – O FUTEBOL SOB O HOLOFORE DE UM ENIGMA, por Alice Spindola – Ensaio (clicar para acessar...)
VEJA TAMBEM: LUIZ ANTÓNIO SIMAS
FERNANDO PINTO
Veja: COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL >>>
Cartões-postais de época, da coleção A.M.
BATINI, Tito. Cantai o gol em coral. Trilogia do esporte maior. Desenhos de
Aldemir Martins, Manoel Martins, Clovis Graciano, Ison, Carlos Scliar.
São Paulo: Edição do Autor, s.d. [década de 1970 ] “ Tito Batini “ Futebol e poesia.
Ex. bibl. Antonio Miranda
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https://www.youtube.com/watch?v=5UHz0sQKBK8
MULHER INDIGESTA
Noel Rosa (1932)
Mas que mulher indigesta, indigesta!
Merece um tijolo na testa
Merece um tijolo na testa
Esta mulher não namora
Também não deixa ninguém namorar
É um bom *center-half pra marcar
Pois não deixa a*linha chutar
Mas que mulher indigesta, indigesta!
E quando se manifesta
O que merece é entrar no açoite
Ela é mais indigesta do que prato
De salada de pepino à meia noite
Mas que mulher indigesta, indigesta!
Esta mulher ladina
Toma dinheiro, é até chantagista
Arrancou-me três dentes de platina
E foi logo vender no dentista
*Center-half = Centro médio, volante, cabeça de área
*Linha = Ataque [Antiga formação de ataque formada por cinco jogadores:
ponta-direita, meia-direita, center-forward (centro-avante), meia-esquerda,
e ponta-esquerda].
JORGE, José Guilherme de Araujo. Tempo será. Rio de Janeiro: Record, 1986. 240 p. x cm.. Capa: Nélson Macedo. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Éder Aleixo de Assis mais conhecido como Éder
ou ainda Éder Aleixo, (Vespasiano, 25 de maio de 1957).
O GOL DE ÉDER
(O terceiro gol brasileiro contra a Escócia no campeonato mundial
de futebol na Espanha, 1982)
É uma asa ou um pé?
Súbito,
como num rápido balé,
sobre o palco de grama
ele avança.
Corre, dribla, voa
ou dança?
A bola é um misterioso imã
que o atrai,
e ele a toca de leve, e ela, em suave
parábola,
lá vai...
Como se a trave fosse um ramo
onde pousar;
é um pássaro que sobe e docemente
se aninha nas redes
devagar...
O goleiro não crê no que vê,
e acompanha se voo, desolado,
preso ao chão,
enquanto em coro, num glorioso grito
de gol
explode a multidão!
?
PURO GAMA
Poema de Giovani Iemini
Em meio às árvores retorcidas
Do planalto escarpado
No profundo púrpura do céu de Brasília
Vem o periquito do cerrado
Trazendo conquista e esperança
Voando alto, onde alcança a vista
Orgulhando meu peito
Em pujança
O Gama é o
nosso povo
teus torcedores em bando
tão fiel e forte como unido
seguiremos te cantando
nosso brado em alarido
O Gamão é o
Nosso amor
Brado é grito
Alarido é Algazarra
FUTEBOL
Poema de CASSIANO RICARDO
O pequenino vagabundo joga bola
e si correndo atrás da bola
que salta e rola.
Já quebrou quase todas as vidraças
inclusive a vidraça azul daquela casa
onde o sol parecia um arco-íris em brasa.
Os postes estão hirtos de tanto medo.
(O pequenino vagabundo não é brinquedo...)
E quando o pequenino vagabundo
cheio de sol, passa correndo entre os garotos,
de blusa verde-amarela e sapatos rotos,
aparece de pronto um guarda policial,
o homem mais barrigudo deste mundo,
com os seus botões feitos de ouro convencional,
e zás! Carrega-lhe a bola!
“Estes marotos
precisam de escola...”
O pequenino vagabundo guarda nos olhos,
durante a noite toda a figura hedionda
do guarda metido na enorme farda
com aquele casaco comprido todo chovido
de botões amarelos.
E a sua inocência improvisa os mais lindos castelos;
e vê, pela vidraça,
a lua redonda que passa, imensa,
como uma bola jogada no céu.
“É aquele Deus, com certeza,
de que a vovó tanto fala.
Aquele deus, amigo das crianças,
que tem uma bola branca cor de opala
e tem outra bola vermelha cor do sol;
que está jogando noite e dia futebol
e que chutou a lua agora mesmo
por trás do muro e, de manhã, por trás do morro,
chuta o sol...”
GARRINCHA, por Rubens Gerchman (gravura)
CELEBRANDO GARRINCHA
Anibal Beça
Celebrando Garrincha,
o santo inventor da ginga
Para Antonio Carlos Secchin
Frente a frente
4 colunas
de dois templos em ebulição:
raios arqueados
oscilam
ossos
músculos
nervos
pernas em balanço:
arquitetura móvel
para o pêndulo da sur-
presa.
Não se sabe ao certo
- dono de um mundo em rotação
verde
rolado no plano pleno de desejos -
a direção
daquele equilibrando a esfera
a fera
perseguida
Se para a direita
ou
para a esquerda
se para trás
ou pelo vão
que se arre-
ganha
à frente
(abóbada de igreja livre
para a passagem do andor
com seu santo rotundo)
No frêmito feroz
olhos vivos e
lentes onduladas
se congelam no cristal
da ânsia espectável
Súbito
pára
e
dispara
navegante da luz
em direção ao corpo
só-
lido
num fio evanescente
de malabarismo alumbrado
o espectro do clown
Parte
com ela
a esfera
a fera
aos olhos de espanto
de feras de outra esfera:
Vai
Não Vai
Foi
O ANJO DAS PERNAS TORTAS
Vinicius de Moraes
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: — Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
GARRINCHA
Com as pernas tortas, ele era o maior, o rei da multidão,
driblava Toninho, driblava Zezinho, driblava João;
Ele era alado, um ser estrelado, tinha asas nos pés,
às vezes, em jogo, ele era fogo, deixava pra trás mais de dez.
Ah! Garrincha! Menino de ouro! Maior jogador!
Onde estás agora, que não pegas na bola, que não mostras o
teu amor?
Onde está o teu jeito sincero, o teu jogar gracioso?
Onde está, gênio, o teu drible alegre e famoso?
Garrincha, alegria do povo, dádiva de Deus,
deixavas alegre qualquer povo: gregos, romanos ou hebreus;
Ele era encapetado, parecia drogado, mas era apenas o seu dom,
quando corria no campo e chutava a bola, o povo ouvia o seu som.
Ó rei do futebol! Por que te afogaste num vício destruidor?
Por que deixaste o povo em pranto, sentindo tanto dor?
Ó Garrincha! Tu és o princípio e o fim do futebol,
tu és a aurora e tu és o final.
Dorme, Garrincha; dorme, estrela, dorme em paz, pois teu
brilho nunca sumirá!
Pois enquanto existir uma bola, enquanto existir alegria,
tu viverás.
Dorme em paz, alado campeão.
*
VEJA e LEIA outros poetas de MINAS GERAIS em nosso Portal de Poesia:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html
Página publicada em julho de 2021
RIVELINO – por Aldemir Martins
UM CAMINHO PARA ONTEM
[ memórias do Copa de 1950 ]
Poema de Antonio Miranda
Um caminho para ontem, sem volta.
Amanhã é hoje, é nunca.
Uma vaca estacionada na avenida,
eu voando sobre os telhados, luzes,
estantes vazias, mamãe lamentando
aquela existência mínima, estancada.
Meu pai assistindo a luta de boxe
na TV em preto-e-branco.
Papai de pijama, o chinelo envergonhado,
havia mais anúncios que programas na TV!
Eu me refugiava no quarto e sonhava;
da janela avistava paredes, desconsolos,
o Maracanã, balões flutuando, chuva.
“Chuva me chama, o horizonte é uma
interrogante que ainda vou desvendar”.
Meu pai me levou, ainda adolescente,
ao Maracanã. O Brasil perdeu a Copa!
Meu pai chorou, eu torcia pelo Uruguai.
Não entendi porque trocaram de lado,
e continuaram o mesmo jogo, ao contrário.
Ao contrário era eu, ainda adolescente,
beijando-me no espelho, apaixonado.
Depois me dividi com os outros.
Cartão postal (Máximo postal filatélico) comemorativo da Copa do Mundo de 1958
A SELEÇÃO
Poema de Carlos Drummond de Andrade
Vai Rildo, não vai Amarildo?
Vão Pelé e, que bom. Mané,
o menino gaúcho Alcino
e nosso veterano Dino,
Altair, rima de Oldair,
ecoando na ponta: Ivair,
e na quadra do gol: Valdir.
Fábio, o que não pode faltar,
e também não pode Gilmar,
como, entre os santos dos santos,
o patriarca Djalma Santos,
sem esquecer o Djalma Dias
e, entre mil e uma noites, Dias.
Mas se a Comissão não se zanga,
quero ver, em Everton, Manga.
É canhoto, e daí? Fefeu,
quando chuta, nunca perdeu.
A chance que lhe foi roubada,
desta vez a tenha Parada.
Paraná, invicto guerreiro
para guerrear como aqui, lá.
Olhando pró chão, Jairzinho
é como joga legalzinho.
Não abro mão de Nado e Zito,
nem fique o Brito por não dito.
Ditão, é claro, por que não?
e o mineiríssimo Tostão,
o grande Silva, corintiana
glória e mais o áspero Fontana,
Dudu, Edu... e vou juntando
bons nomes ao nome de Orlando,
para chegar até Bellini
em cujas mãos a taça tine.
Célio, Servílio: suaves eles
já completados por Fidélis.
Edson, Denilson e Murilo,
cada um com seu próprio estilo.
Um lugar para Paulo Henrique
enquanto digo a Flávio: fique!
Com Paulo Borges bem na ponta
eu conto, e sei que você conta.
Na lateral, Carlos Alberto
estou certo que vai dar certo.
Acham tampinha Ubirajara?
Valor não se mede por vara.
Até parece de encomenda:
Leônidas, nome que é legenda.
E se Gérson do Botafogo
entra no campo, ganha o jogo.
Não podia esquecer o Lima
e seu chute de muita estima.
Com tudo isso e mais Rinaldo
e o canarinho de Ziraldo,
quarenta e seis, se conto bem
— um time igual eu nunca vi
em Europa, França e Belém —
que barbada seria o Tri,
hein?
(Correio da Manhã, 03-04-1966)
Cartão-postal da coleção A.M.
INSTALAÇÃO NA SQS 408
Poema de Angélica Torres Lima
Enforcado um rato
num galho de ipê
com fita
verde-amarela:
era o dois
do sete
de dois mil
e seis:
Parreira de viúvas
do passo torto
(sem Garrincha perto)
agora rói do fracasso
o osso.
Pobre zagueiro
artilheiro
pobre goleiro...
todos te querem
golaço colosso!
02.07.2006
LEÔNIDAS, por Rubens Gerchman (gravura)
GOL
Ferreira Gullar
A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a para
no ar
depois
como o joelho
a dispõe à meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.
BATINI, Tito. Cantai o gol em coral. Trilogia do esporte maior. Desenhos de Aldemir Martins, Manoel Martins, Clovis Graciano, Ison, Carlos Scliar. São Paulo: Edição do Autor, s.d. [década de 1970 ] “ Tito Batini “ Futebol e poesia. Ex. bibl. Antonio Miranda
7 POEMAS DE SÉRGIO DE CASTRO PINTO
PINTO, Sérgio de Castro. A flor do gol. São Paulo: Escrituras Editora, 2014. 96 p. 14x20,3 cm. ISBN 978-85-7531-625-2 Capa: Milton Nóbrega “Sérgio de Castro Pinto” Ex. na bibl. Antonio Miranda
DIDI
À memória de Elzo Franca, amigo e primo.
didi bate a falta com efeito.
o goleiro adversário é puro espanto:
vê a bola de couro
me-ta-mor-fo-se-ar-se
em uma folha seca
do mais triste outono.
a torcida faz a festa.
e a bola não é mais a bola,
a redonda, o balão, a esfera,
não é mais folha seca,
mas a semente, o goivo,
a flor do gol explodindo em primavera.
VAVÁ: O LEÃO DA COPA
"Parecia fácil para Schrojt, mas a boina não tapou o sol devida-
mente e, com isso, o goleiro soltou a bola no pé direito de Vavá, que saiu comemorando o ultimo gol no mundial do Chile contra a Checoslováquia".
(Da internet)
o sol puxou
os raios
da cabeça
descabelou-se
amarelou
perdeu a cor
ante o brilho
da fulva juba
e da garra afiada
do leão artilheiro
que encandeou
o arqueiro
da Checoslováquia
com fome
de... goooooooollllll!
JAIRZINHO:
O FURACÃO DA COPA
furacão tornado brisa
estufando a rede
do adversário
e o peito pátrio da torcida
LEÔNIDAS
ciclista
da bicicleta
que és,
abola
pedalas
com os pés
e de ponta-
-cabeça
levitas:
beija-flor
que sorve
o néctar do gol
e embriaga a torcida.
GARRINCHA (l)
quando garrincha dribla, fica.
o adversário retém
na memória
a imagem da bola
entre os parênteses
das pernas tortas.
quando garrincha dribla, fica.
o adversário crava
na memória
a imagem da bola
qual uma seta
no retesado arco
das pernas tortas.
quando garrincha dribla, fica
o adversário
pra contar a história
de uma camisa
cujo sete às costas
conduzia a bola
qual uma seta
no retesado arco
das pernas tortas.
GARRINCHA (II)
se não driblas, o alajnbrado
é a tela de um viveiro
onde te fazes prisioneiro.
se driblas, és um mágico
a liberar os muitos pássaros
do teu nome
enquanto os cartolas dão tratos à bola
e te fintam fora do gramado.
hoje, onde o pássaro que foste?
no ar entre aéreo e sonado
com que desfilas as tuas penas
na alegoria de um carro?
0s dois poemas sobre Garrincha pertencem ao livro Domicílio em
trânsito e outros poemas. Editora Civilização Brasileira/INL, Rio de
Janeiro, 1983.
VITORIOSO FLAMENGO
Moraes Moreira*
A gaitinha vai tocar
Como no tempo de Ari Barroso
Pra comemorar mais um gol
Desse meu vitorioso Flamengo
Esse Flamengo de agora
Faz lembrar aquele do tri
Quem conhece a sua história, diz
Assim eu nunca vi
Tem quem jogue com a cabeça
Usando a intuição
E é bom que sempre aconteça
Na hora da decisão
Tem quem tem raça e tem fé
Quem mantém a tradição
E acima de tudo
Rubro-negro de coração
E a galera cana
Flamengo eu sou te fã
Grito de gol levana
Sacode o Maracanã
* Música lançada em 1978 para comemorar a conquista do
campeonato carioca.
“OS GIGANTES DA COPA 7O: Rogério, Capitão Coutinho, Parreira, Félix, Joel, Leão, Fontana, Brito, Clodoaldo, Zagalo, Chirol, Mário Américo, Rivelino, Carlos Alberto, Baldocchi, Piazza, Everaldo, Paulo César, Tostão, Marco Antonio, Ado, Edu, Zé Maria, Dario, Gerson, Roberto, Jair, Pelé e Nocaute Jack. Foto PLACAR. Cartão-postal da col. A.M.
COM CAMISA, SEM CAMISA
(Fragmento de poema de
Carlos Drummond de Andrade_
Daqui por diante vou "sentir" a Copa.
Você, meu irmãozinho, topa? — Topo.
Desisto de ensinar a João Saldanha
o que ele sabe mais do que eu: a manha,
a experiência, a garra, o sentimento
do esporte, no macio e no violento,
enfim, tudo de bravo que lhe invejo.
Sem ele é que a vaca vai pró brejo.
Se todo torcedor se mete a técnico,
o futebol se vira em pirotécnico
show de bombinhas e de busca-pés
que não estouram. Quantos mil Peles
trago no bolso do colete (sem
colete, é claro). Aposto que ninguém
como o papai dirige em sonho, mas
vamos deixar time e Saldanha em paz.
Melhor ajuda quem não atrapalha
o lutador no campo de batalha.
Viva Tostão, Fontana e Rivelino,
viva esse escrete, e que ele jogue fino!
(Jornal do Brasil, 14-03-1970)
PELÉ – por Rubens Gerchman (gravura)
COPA DO MUNDO DE 70
Carlos Drummond de Andrade
I - Meu coração no México
Meu coração não joga nem conhece
as artes de jogar. Bate distante
da bola nos estádios, que alucina
o torcedor, escravo de seu clube.
Vive comigo, e em mim, os meus cuidados.
Hoje, porém, acordo, e eis que me estranho:
que é de meu coração? Está no México,
voou certeiro, sem me consultar,
instalou-se, discreto, num cantinho
qualquer, entre bandeiras tremulantes,
microfones, charangas, ovações,
e de repente, sem que eu mesmo saiba
como ficou assim, ele se exalta
e vira coração de torcedor,
torce, retorce e se distorce todo,
grita: Brasil! Com fúria e com amor.
9 de maio de 1970
Cartão postal comemorativo.
II - Momento feliz
Com o arremesso das feras
e o cálculo das formigas
a seleção avança
negaceia
recua
envolve.
É longe e em mim.
Sou o estádio de Jalisco, triturado
de chuteiras, a grama sofredora
a bola mosqueada e caprichosa.
Assistir? Não assisto. Estou jogando.
No baralho de gestos, na maranha
na contusão da coxa
na dor do gol perdido
na volta do relógio e na linha de sombra
que vai crescendo e esse tento não vem
ou vem mas é contrário... e se renova
em lesta lesma de replay.
Eu não merecia ser varado
por esse tiro frouxo sem destino.
Meus 11 atletas
são 11 meninos fustigados
por um Deus fútil que comanda a sorte.
E preciso lutar contra o Deus fútil,
fazer tudo de novo: formiguinha
rasgando seu caminho na espessura
do cimento do muro.
Então crescem os homens. Cada um
é toda a luta, sério. E é todo arte.
Uma geometria astuciosa
aérea, musical, de corpos sábios
a se entenderem, membros polifônicos
de um corpo só, belo e suado. Rio,
rio de dor feliz, recompensada
com Tostão a criar e Jair terminando
a fecunda jogada.
E gooooooooool na garganta florida
rouca exausta, gol no peito meu aberto
gol na minha rua nos terraços
nos bares nas bandeiras nos morteiros
gol
na girandolarrugem das girândolas gol
na chuva de papeizinhos celebrando
por conta própria no ar: cada papel,
riso de dança distribuído
pelo país inteiro em festa de abraçar
e beijar e cantar
é gol legal é gol natal é gol de mel e sol.
Ninguém me prende mais, jogo por mil
jogo em Pele o sempre rei republicano
o povo feito atleta na poesia
do jogo mágico.
Sou Rivelino, a lâmina do nome
cobrando, fina, a falta.
Sou Clodoaldo rima de Everaldo.
Sou Brito e sua viva cabeçada,
com Gérson e Piazza me acrescento
de forças novas. Com orgulho certo
me faço capitão Carlos Alberto.
Félix, defendo e abarco
em meu abraço a bola e salvo o arco.
Como foi que esquentou assim o jogo?
Que energias dobradas afloraram
do banco de reservas interiores?
Um rio passa em mim ou sou o mar atlântico
Passando pela cancha e se espraiando
por toda a minha gente reunida
num só vídeo, infinito, num ser único?
De repente o Brasil ficou unido
contente de existir, trocando a morte
o ódio, a pobreza, a doença, o atraso triste
por um momento puro de grandeza
e afirmação no esporte.
Vencer com honra e graça
com beleza e humildade
é ser maduro e merecer a vida,
ato de criação, ato de amor.
A Zagalo, zagal prudente,
e a seus homens de campo e bastidor
fica devendo a minha gente
este minuto de felicidade.
20 de maio de 1970.
GERSON – por Rubens Gerchman (gravura)
BRASIL, ZIL, ZIL
Moraes Moreira*
O povo é que tá dando olé
Bola de pé em pé
Onde ele tá eu tô
Na frente da TV se encanta
E na garganta
Um grito de gol,
A nossa equipe se completa
É campeã é tetra
É a seleção
Deus é um brasileiro nato
E o penta tá no papo
Tá na nossa mão
Basta a gente entrar em campo
Receber o santo
O santo de Mané
Reze pra que se revele
No pêlo e na pele
Um novo Pelé
Oh meu Brasil
Zil, zil, zil
Arrepia arrasa
Acende essa brasa
Brasil
Este samba, feito com Tavinho Paes para
embalar a vitória do Brasil na copa do Mundo
de 2002.
“PELÉ”, por VIK MUNIZ
CERIMONIAL
Poema de Luis Turiba
Coloquem Imagine na vitrola
retirem—lhe o coração em frangalhos
e enterrem—no enrolado
na bandeira do Flamengo
Quanto ao resto
corpo — subproduto da vida
qualquer cerimônia (simples) cabe
Afinal
a morte é sempre um gol de placa
aos 45 minutos
do segundo tempo da existência.
No mais: —foi bom ponta-de-lança
Comemorem pois
nada disso lhe pertence mais
TOSTÃO – por Rubens Gerchman (gravura)
IMPEDIMENTO
Poema de Eduardo Murta
Sonhei com a Mãe África
Visitei sue sbaús seculares
E lá inda repousavam
Fantasmas dos colonizadores
Ossos sem pelourinho
Bolas jogadas pra escanteio
E a paquidérmica incompreensão humana
Do qué é
Matar no peito
Só me despertem
Quando for
Momento de gol
Extraído de : ADRIANO MENEZES et al... Belo Horizonte: Scriptum, 2010.
PELÉ
Poema de José Virgílio Gonçalves
O moleque
dá um breque
e um salamaleque
de mestre-sala.
Mole, mole,
o moleque
desabala.
Ele é pé.
Ele é pele.
P.E.L.E. (soletrar)
O negro Pelé.
no topo
para dj rappa, Japão e rappin hood
auto-estima é a gente
gostar de gente
como a gente é
ter as pernas tortas do garrincha
ser o sol de bicicleta do Pelé
se olhar no espelho
transformar a dor do porão do navio negreiro
em samba, ragga, rap, dub
perceber que a alegria e a lágrima
de ser negro, mulato, ianomâmi, lusitano
me deixa mais belo, mais zumbi, mais guerreiro
sem auto-estima
não arrumo nem a rima
MONUMENTO AO PELÉ – Três Corações, MG
Cartão-postal da Casa José Condino, transformado em Máximo Postal com selo dos Correios de 1985 celebrando o XII Campeonato Mundial de Futebol – México 86. Col. A.M
Cartão postal comemorativo.
CANTIGA DO REI PELÉ
Poema de Affonso Ávila
na era do rei que ainda o é
tudo ao redor dava pé
surfava-se alta maré
subia em bolsa o café
do bolso moeda ao sopé
bahia jorrava e-
tróleo água chovia até
no sertão do canindé
rodovias hidrelé-
tricas eram cré em cré
são bernadro santo andré
da indústria o melhor filé
erguiam em comtrape-
lo aos corvos e à mà fé
no cerrado a fincapé
um sorridente pajé
construía a nova sé
sem servidão ou galé
empregado qualquer zé
tinha onde pôr o boné
prosa de rosa poe-
sia bossa nova re-
finavam toque de axé
mas da galera o evoé
era a alegria do fute-
bol o gol de placa o olé
drible curto de mané
nos johns e o rei da sué-
cia aplaudindo o caburé
milico deu golpe eh eh
pau comeu com chipanzé
depois fodeu a ralé
falastrão com rapapé
ao dos banqueiros curé
fez a globo fricassé
da cultura e a marcha-à-ré
tomou conta do terre-
no traficante à libré
corrupção apagão atché!
agora é ir-se à galilé
da matriz de são josé
e rezar a deus maomé
a outros cultos de javé
ou mesmo no candomblé
que voltem sorriso e fé
ao reino do rei pelé
Extraído de : ADRIANO MENEZES et al... Belo Horizonte: Scriptum, 2010.
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CARTÕES-POSTAIS DE RAÍ E DUNGA, 1994.
Col. 1994
SONETO PARA O JOGO BRUTO
Glauco Matttoso
Zagueiro violento, ele é batata:
carrinhos dá por trás, empurra, soca...
Feliz foi o cronista que o retrata:
"pega, em cada enxadada, uma minhoca".
Se falha a marcação com que combata
um ótimo atacante, ele já troca
o jogo limpo pelo pau da pata...
Quem é que, à sua frente, não pipoca?
Caído o centroavante, mete a chanca
na cara do coitado e, na retranca,
seu time vai mantendo o resultado...
Placar que não saiu do zero a zero
e, como falta um árbitro severo,
bem alto o zagueirão ergue o solado...
Cartão pos "inteiro postal" com selo comemorativo.
SONETO 50 FUTEBOLÍSTICO
Glauco Mattoso
Machismo é futebol e amor aos pés.
São machos adorando pés de macho,
e nesse mundo mágico me acho
em meio aos fãs de algum camisa dez.
Invejo os massagistas dos Pelés
nos lúdicos momentos de relaxo,
servindo-lhes de chanca e de capacho,
levando a língua ali, do chão no rés.
É lógico que um cego como eu
não pode convocar o titular
dum time brasileiro ou europeu.
Contento-me em chupar o polegar
do pé de quem ainda não venceu
sequer a mais local preliminar.
Cartão-postal: Márcio Santos – Copa do Mundo 1994 USA
SONETO 231 MAJORITÁRIO
Glauco Mattoso
Mengão ou Coringão, qual a torcida
mais roxa e numerosa do país?
Do verde o que seria, assim se diz,
se fosse do amarelo a preferida?
Governo, oposição, qual a medida
que vai quantificar tantos brasis?
A voz que vem das urnas contradiz
a popularidade reduzida.
Por mais que façam fé nos fãs ufanos,
o fato é que a torcida corintiana
não é maior que os anticorintianos.
Quanto ao poder, o povo não se engana.
Errado vota até por muitos anos.
Um dia, o saco cheio vence a grana.
CRUZEIRO : TETRA CAMPEÃO MINEIRO 65-66-67-68.
Cartão-postal da col. A.M.
SOLUÇÃO
Poema de Carlos Drummond de Andrade
O papagaio atleticano
não vai calar o gol do Galo,
e não é justo nenhum plano
que tenha em mira silenciá-lo.
Evitem, pois, brigas forenses.
Outro projeto, mais certeiro,
aqui proponho aos cruzeirenses:
É ensinar: "Gol do Cruzeiro"
a um papagaio de igual força.
Haja, entre os dois, uma peleja
em que cada mineiro torça,
e, entre foguetes e cerveja,
o papagaio vitorioso
proclamado seja campeão
desse grato esporte verboso
de que sente falta a nação.
(Jornal do Brasil, 23/09/1972)
RONALDINHO, por Aldemir Martins
SONETO 239 CONCENTRADO
Glauco Mattoso
Nas travas da chuteira já ralei
a língua torcedora e retorcida
depois duma dramática partida
de várzea, onde um Pelé pelejou rei.
Subúrbio é futebol de fútil lei:
"vantagem" é seu nome, e se apelida
"do cão", porque não late, e sua mordida
castiga o perdedor menos Dinei.
A bola antigamente era de meia,
mas hoje é uma cabeça decepada.
Capar, outra jogada que campeia.
Contudo, o estuprador não perde nada.
Aquele que escreveu, agora leia!
Na cela ganha e leva na pelada.
PALMEIRAS 1993 – CAMPEÃO PAULISTA
Em pé: Mazinho, Roberto Carlos, César Sampaio, Tonhão, Sérgio, Antonio Carlos. Agachados: Edmundo, Daniel, Evair, Edilson e Zinho. Cartão-postal col. A.M.
SONETO 844 DA PORCENTAGEM
Glauco Mattoso
Agora todo craque tem "agente",
se não "procurador" ou "empresário",
que o passe lhe leiloa, seu salário
calcula e tira um tanto que o sustente.
Contratos têm, às vezes, tanta gente
metendo a mão, que cada proprietário
fraciona sua parte num Romário,
Garrincha ou Ronaldinho adolescente.
O pé que chuta mais pertence ao time.
A perna do outro pé fica emprestada
e vale mais se o cara faz regime.
A rola entre juízes foi rifada.
A bunda, acostumada a quem a mime,
dois donos tem: papai e a namorada.
Foto: Arquivo pessoal do Zixco
GOL ANULADO
Letra e música: João Bosco / Aldir Blanc
Quando você gritou: Mengo!
No segundo gol do Zico
Tirei sem pensar o cinto
E bati até cansar.
Três anos vivendo juntos
E eu sempre disse contente:
Minha preta é uma rainha
Porque não teme o batente
Se garante na cozinha
E ainda é Vasco doente.
Daquele gol ate hoje
O meu rádio está desligado
Como se irradiasse
O silêncio do amor terminado.
Eu aprendi que a alegria
De quem está apaixonado
É como a falsa euforia
De um gol anulado.
SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE
CAMPEÃO MUNDIAL INTER-CLUBES 1992. BI-CAMPEÃO DA TAÇA LIBERTADORES DE AMÉRICA 92/93. Cartão-postal. No reverso, reprodução dos autógrafos de todos os jogadores. Col. A.M.
UM DIA APÓS O OUTRO
Poema de Leonardo Araújo
Aos quarenta e cinco do segundo tempo
o goleiro vencido, a bola, sempre faceira,
resvala na trava e não entra (todos vêem),
e você diz: "porra, hoje não é meu dia!"
Mas, de repente, ela volta, amiga e redonda,
o goleiro ainda no chão, você bate de novo, altivo,
a bola vai, descreve um belo arco, a rede acolhe,
e você diz: "que gol lingo, porra, mereço!"
Fora do jogo, quando você menos esperqa,
um raio piedoso cai bem ao seu lado
e você, inerte, nada diz (ninguém vê).
Passado o susto, você cai em si e diz,
"esse bateu na trave, porra, que sorte!"
E você segue, nem alegre nem triste,
como se nada tivesse acontecido<
mas com um crto vazio (ou alívio) no peito.
Extraído de : ADRIANO MENEZES et al... Belo Horizonte: Scriptum, 2010.
ZICO
poema visual de
al-chaer
(Goiânia – Goiás)
Fonte: http://portalsg.ne10.uol.com.br/
AOS ATLETAS
Carlos Drummond de Andrade
Os poetas haviam composto suas odes
para saudar atletas vencedores.
A conquista brilhava entre dois toques.
Era frágil e grácil
fazer da glória ancila de nós todos.
Hoje,
manuscritos picados em soluço
chovem do terraço chuva de irrisão.
Mas eu, poeta da derrota, me levanto
sem revolta e sem pranto
para saudar os atletas vencidos.
Que importa hajam perdido?
Que importa o não-ter-sido?
Que me importa uma taça por três vezes,
se duas a provei para sentir,
coleante, n.o fundo, o malicioso
Mercúrio de sua perda no futuro?
É preciso xingar o Gordo e o Magro?
E o médico e o treinador e o massagista?
Que vil tristeza, essa
a espalhar-se em rancor, e não em canto
ao capricho dos deuses e da bola
que brinca no gramado
em contínua promessa
e fez um anjo e faz um ogre de Feola?
Nem valia ter ganho
a esquiva copa
e dar a volta olímpica no estádio
se fosse para tê-la em nossa copa
ternamente prenda de família
a inscrever no inventário
na coluna de mitos e baixelas
que à vizinhança humilha,
quando a taça tem asas, e, voando,
no jogo livre e sempre novo que se aprende,
a este e aquele vai-se derramando.
Oi, meu flavo canarinho,
capricha nesse trilo
tanto mais doce quanto mais tranquilo
onde estiver Bellini ou Jairzinho,
o engenhoso Tostão, o sempre Djalma Santos,
e Pele e Gilmar,
qualquer dos que em Britânia conheceram
depois da hora radiosa
a hora dura do esporte,
sem a qual não há prémio que conforte,
pois perder é tocar alguma coisa
mais além da vitória, é encontrar-se
naquele ponto onde começa tudo
a nascer do perdido, lentamente.
Canta, canta, canarinho,
a sorte lançada entre
o laboratório de erros
e o labirinto de surpresas,
canta o conhecimento do limite,
a madura experiência a brotar da rota esperança.
Nem heróis argivos nem párias,
voltam os homens — estropiados
mas lúcidos, na justa dimensão.
Souvenirs na bagagem misturados:
o dia-sim, o dia-não.
O dia-nâo completa o dia-sim
na perfeita medalha. Hoje completos
sáo os atletas que saúdo:
nas mãos vazias eles trazem tudo
que dobra a fortaleza da alma forte.
24 de julho de 1966.
CALANGO VASCAINO
Letra de Martínho da Vila
Eu quis namorar a pobre
Pobretão não quis deixar
Só queria moço rico
Pra com ela namorar
Eu quis namorar a rica
Henricão não quis deixar
Pois sonhou com moço nobre
Pra com ela se casar
Tentei namorar a preta
O negão não quis deixar
Tinha que ser moço louro
Pra eu poder chegar pra lá
Tentei namorar a loira
Seu loiro não quis deixar
Tinha que ser bem moreno
. Pra poder miscigenar
To sem consolo
Ninguém vem me consolar
Vou cantando meu calango
Que é pra vida melhorar
O meu calango
Que é pra vida melhorar
E minha única alegria
E ver meu vasco jogar
Minha alegria
É ver o vasco jogar
Eu to cansado de derrota
Mas não vou me entregar
É de derrota
Mas não vou me entregar
E se a morte é um descanso
Eu não quero descansar.
Poema visual de LUIS LIMA
Cartão-postal
O TORCEDOR DO AMÉRICA F. C.
João Cabral de Melo Neto
O desábito de vencer
não cria o calo da vitória;
não dá à vitória o fio cego
nem lhe cansa as molas nervosas.
Guarda-a sem mofo: coisa fresca,
pele sensível, núbil, nova,
ácida à língua qual cajá,
salto do sol no Cais da Aurora.
ADEMIR DA GUIA
João Cabral de Melo Neto
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.
Cartão-postal: Branco – Copa do Mundo 1994 USA
DE UM JOGADOR BRASILEIRO
A UM TÉCNICO ESPANHOL
João Cabral de Melo Neto
Não é a bola alguma carta
que se leva de casa em casa:
é antes telegrama que vai
de onde o atiram ao onde cai.
Parado, o brasileiro a faz
ir onde há-de, sem leva e traz;
com aritméticas de circo
ele a faz ir onde é preciso;
em telegrama, que é sem tempo
ele a faz ir ao mais extremo.
Não corre: ele sabe que a bola,
Telegrama, mais que corre voa.
Cartão-postal: Mauro Silva – Copa do Mundo 1994 USA
O FUTEBOL BRASILEIRO
EVOCADO DA EUROPA
João Cabral de Melo Neto
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e, embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.
Cartão-postal: Romário
( POEMA DE NICOLAS BEHR )
nem tudo
que é torto
é errado
veja as pernas
do garrincha
e as árvores
do cerrado
O ANJO DE PERNAS TORTAS
Vinicius de Moraes
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento,
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés – um pé de vento!
Num só transporte, a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
GARRINCHA x GARRANCHOS... por TT Catalão
Cartão Postal “Futebol”, com pintura de Carlito Menezes de Souza, da Terra Postcards, 1998.
EM PRETO E BRANCO
Poema de Álvaro Marcos Teles
Não interessam roupas, livros e anseios;
Não quero conversar, ouvir e não leio.
Não importa degustar novos amores;
Nem reviver protagonismo ou rancores.
Desprezo ruas, automóveis, casas e casais;
Ignoro empregados, patrões, paletó e aventais.
Se é líquido, ao vivo, sólido ou gravado;
Real, sincero, criativo ou sugestionado.
Hoje, só hoje, tenho apenas um pensamento;
É vistoso, alegre, refrescante como o vento.
Hoje quero avistar torcida, saborear o jogo;
Hoje, minha gente, só quero saber do Botafogo.
Cartão-postal
ELEGIA PARA UM ANJO
Poema de Pedro Tierra
dedicado a Manoel dos Santos
"Garrincha.", o anjo de pernas tortas
no dia de sua morte.
Alguns se puseram em cortejo
e foram lhe oferecer asas.
asas de múltiplas cores.
asas rubras, brancas,
negras,
asas gris,
asas-delta voando
na asa do vídeo.
de nada lhe serviriam
asas, a você
que de anjo trabalhara
há tantos anos
— sob os olhos do povo —
no fulgor absoluto
das tardes de domingo
e magia .
asas, você usava,
e claras e leves
como voo de garça e pluma,
asas de fogo,
aquela que salta na explosão marota
dos colibris.
asas moldadas com penas humildes
de aves domésticas,
cera a carinho.
asas engomadas pela fantasia
de um carnaval pobre
do interior
e coladas magicamente,
com a matéria intensa dos sonhos
sobre suas costas.
e você voou sob o sol dos estádios,
ribalta e labirinto de todos os enganos.
Outros lhe trouxeram flores.
pálidas flores formais,
tão distantes da viva invenção
das flores leves
rabiscadas entre as pernas dos laterais
e o delírio de seus irmãos
das gerais.
esquecidos de tantas coisas,
esquecidos de você,
não lhe trouxeram passarinhos.
por isso aqui se vela.
e pesa esse silêncio contrafeito
ou insiste nas bocas
o cadáver de um idioma
que você recusou.
você preferiu o idioma dos canários,
curiós, pintassilgos, sabiás
e outros retalhos do arco-íris
que hoje voam sobre sua ausência.
mergulho
— menino descalço —
nos olhos de meu Povo
e te vejo,
contra a gramática,
como um espelho
agora partido em mil pedaços
que te dividem
e dividindo
te multiplicam nos olhos
e na angústia dos 90 minutos
de vida que sempre nos restarão.
90 minutos são o metro que mede a vida.
a tua,
a minha,
a vida da multidão.
Nesse espelho humilde
de banheiro público
tua vida reflete a vida
de todos nós
os passarinhos, os poetas, os bê-
bados, vagabundos, inocentes, jo-
gadpres, virgens, putas ancestrais
— dessa que iniciaram pais e fi-
lhos nas artes infinitas de amar
e esquecer —, os desempregados<
marreteiros, malandros sem eira
nem beira, os infelizes.
metido na roupa dos anônimos
você quebrou a vidraça
da consciência dos que esqueceram
o inesquecível:
a caprichosa parábola do teu drible.
com o astuto nome de
MANOEL DA SILVA
você driblou a morte,
a hipocrisia
e mesmo o amor
dos que te amaram e desamaram
porque são exatamente teus irmãos<
na glória,
no inferno intraduzível
do álcool,
no esquecimento:
essa ferrugem que rói
noturnamente
nossa alegria e nossas misérias.
1/83 De Inventar o fogo
Foto: Seleção Brasileira de 1958
AQUI É O PAÍS DO FUTEBOL
Letra e música de Milton Nascimento/ Fernando Bradt
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão aqui e o país do futebol
O fundo deste país ao longo das avendias
Ambos de terra e grama, Brasil só é futebol
Noventa minutos de emoção e alegria
Esqueça a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
E tudo? Fica lá fora
Inferno:? Fica lá fora
As dores? Ficam lá fora.
Clube Atlético Mineiro “GALO” em cartão postal da Mercator de 1977.
GALO
Poema de Adriana Versiani
No princípio era o colo e chorava no berço e tatuava na sombra e amava mais que
a mãe e sobre todas as coisas e antes de mais nada e com todas as palavras,
GALO
No princípio era o verbo e chorava no campo e tatuava nas costas e amava mais
que a Júlia e sobre todas as coisas e antes de mais nada e com todas as palavras.
GALO
No princípio era a bola e chorava na várzea e tatuava na grama e amava mais
que todas as coisas e antes de mais nada e apesar de todas as palavras.
Extraído de : ADRIANO MENEZES et al... Belo Horizonte: Scriptum, 2010.
Foto: Seleção Brasileira de 1970
PRÁ FRENTE BRASIL
Letra de Miguel Gustavo
Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil
Do meu coração
Todos juntos, vamos
Pra frente Brasil
Salve a Seleção
De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração.
COPA DO MUNDO DE 70
I / MEU CORAÇÃO NO MÉXICO
Poema de Carlos Drummond de Andrade
Meu coração não joga nem conhece
as artes de jogar. Bate distante
da bola nos estádios, que alucina
o torcedor, escravo de seu clube.
Vive comigo, e em mim, os meus cuidados.
Hoje, porém, acordo, e eis que me estranho:
Que é de meu coração? Está no México,
voou certeiro, sem me consultar,
instalou-se, discreto, num cantinho
qualquer, entre bandeiras tremulantes,
microfones, charangas, ovações,
e de repente, sem que eu mesmo saiba
como ficou assim, ele se exalta
e vira coração de torcedor,
torce, retorce e se distorce todo,
grita: Brasil! com fúria e com amor.
Jornal do Brasil, 09/06/70
VIOLA (cartão-postal de 1994) / JORGINHO (cartão-postal de 1994)
FUTEBOL
Poema de Carlos Drummond de Andrade
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São vôos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
In Poesia errante
JOSÉ SABÓIA, pintura a óleo (1983). Galeria de arte BANERJ.
Cartão-postal.
SOLUÇÃO
Poema de Carlos Drummond de Andrade
O papagaio atleticano
não vai calar o gol do Galo,
e não é justo nenhum plano
que tenha em mira silenciá-lo.
Evitem, pois, brigas forenses.
Outro projeto, mais certeiro,
aqui proponho aos cruzeirenses:
É ensinar: "Gol do Cruzeiro"
a um papagaio de igual força.
Haja, entre os dois, uma peleja
em que cada mineiro torça,
e, entre foguetes e cerveja,
o papagaio vitorioso
proclamado seja campeão
desse grato esporte verboso
de que sente falta a nação.
Jornal do Brasil, 23/09/72
Tafarel. Fonte: http://magnomoreira.blogspot.com.br
GOLEIRO
Poema de Jorge Alberto Nabut
ave brava entre as traves
olhares rasgados
leme desatado
bate o goleiro os pés no chão
num impulso de voo
vibram as coxas seus músculos elásticos
rompem as chuteiras a parceria do solo
e no espaço a geometria dos traços
desenha a caligrafia dos braços
a resenha do corpo, seus cálculos
em direção ao voo, ao chute
luvas desatadas no azul
tocam a esfera-esfinge
(e a decifram na sua posse bacante)
rompem o risco atarefado da bola
o plano arriscado pelo atacante
o speaker tropeça nas palavras, nas surpresas
a torcida engasga o grito de gol
o marcador desativa sua numeração psicodélica
flash!
permanece o goleiro na foto
no itinerário amoroso
possuindo com fôlego a bola
homem-bola
estirado sobre a tarde amordaçada de domingo
até que sintam os torcedores o bocejo da noite
e calmamente se recolham
aliviada
a torcida abandona o estádio
Edinho, jogador do Fluminense. Fonte:
http://www.sidneyrezende.com
ÁLBUM DE FIGURINHAS
Poema de Jorge Alberto Nabut
I
um pássaro explode ao levantar voo
locutores se metralham com palavras ensurdecedoras
carcaças de chuteiras abrem os ossos à ferrugem
o sol urina urros de fogo
fogueiras ardem e devoram estampas dos jogadores
os vitrais da infância
no templo-estádio a violência
encalha o diálogo da bola
II
suores e cristais
Heleno de Freitas aplica pontapé na caveira/bola
- Hamlet?-
um orixá dança nas pernas de Garrincha
na W-3 Bellini ergue o orgulho nacional
Zé Sérgio entorna cerveja - sacralidade
... disfarçado de Jesus
mudo Edmundo rima com mundo
Edinho
Perácio
Nunes
Viola
Gilmar
Ado
na trajetória do chute
decifro na escalação do time
a invenção do gol
|
PONTA DE LANÇA AFRICANO (Umbabarauma)
Jorge Ben Jor
Umbabarauma, homem gol
Joga bola, joga bola jogador
Joga bola, quero jogar bola, corocondô
Pula, cai, levanta, mete gol
Volta, cabeceia, chuta e agradece
Olha que a cidade toda ficou vazia
Nessa tarde de domingo
Só para lhe ver jogar
Umbabarauma, homem gol
Joga bola jogador
Joga bola corocondô
Rere, rere, rere, rere, jogador
Rere, rere, rere, corocondô
Tererê, tererê, tererê, tererê,
Homem gol
Umbabarauma,
Quero ver você jogar
Umbabarauma,
quero ver você marcar
A galera quer sorrir
A galera quer cantar
A galera tá feliz
Ela quer comemorar
Umbabarauma,
Umbabarauma.
Umbabarauma,
Quero ver você jogar
Umbabarauma,
Quero ver você marcar
Arerê, arerê, arerê babá
Arerê, arerê, arerê babá
Ponta de lança africano
Quero ver, quero ver
A rede balançar
A galera quer sorrir
A galera quer cantar
A galera tá feliz
Ela quer comemorar
Umbabarauma, homem gol
IIV CAMPEONATO MUNDIAL DE FUTEBOL
Taça Jules Rimet junho de 1950 Brasil
“Inteiro postal” com selo e carimbo da época
em cartão-postal – cortesia Laboratória]o Torlay.
ODE AOS CAMPEÕES DO MUNDO
Poema de Manoel Caetano de Mello
Maracanã em 50, anfiteatro da derrota de um povo,
que para ali acorrera a assistir ao embriago dos nossos,
enquanto ouviam no rádio os milhões o correr da[partida
Apoteose transferia nas lágrimas tristes e palmas
aos vencedores e bravos guerreiros da equipe uruguaia
58 de novo nos leva ao calor da disputa
agora em campos molhados da lousa Suécia que encanta
Primeiro a Áustria vencida, depois a Inglaterra não cede,
e o empate premia o poder das esquadras em luta
Foram baldados os esforços dos nossos, a rede está incólume,
porque MacDonald, o arqueiro, os potentes disparos apara
Mas o astucioso Feeola com a Rússia coloca Pelé,
cuja presença agressiva incentiva os dois goals de Vavá
e abre com génio o caminho das redes do arqueiro galês
Por esse tempo a fama dos nossos correra a Europa
e no Brasil outro vinho de vida reanima esta gente
(que não se deixa embriagar, com a lembrança das mágoas passadas
Para a partida com a França Gilmar que ainda era invencível
baqueia aos pés de Fontaine, porém os brasileiros respondem
e no final obtêm a vitória que os francos abate
Vem afinal a partida que o cetro do mundo dará
O adversário ainda invicto é a própria Suécia que encanta
que comparece com o Rei e incentiva os heróis da peleja
e mal começa a partida os- suecos conseguem o objetivo
roas sem desânimo os nossos se lançam à. dura batalha
as flechas correm no campo (em camisas de verde e amarelo
Este é Garrincha que dribla em tropel, o "Manoel Pernas Tortas",
e lança um tiro a Vavá que .acompanha o perfil do horizonte
logo em corrida o avante arremessa e é "gôôôôôl... de Vavá" !
(Ao pé do rádio estes olhos as lágrimas choram com honra
O mesmo lance se segue e outro goal o avante consegue
e os noventa minutos os atletas morenos consagram
O arauto Nelson sob a forma do velho Nesíor justifica
essa conquista dos louros mundiais: "De Didi não pendia
a camiseta dos outros, mas via-o vestido de manto
de imperador etíope de rancho em passeio triunfal".
Glória a Santos, o Nilton, o Djalma, e Orlando, e Zagalo,
Vavá, Garrincha, Gilmar, e Pele, o dos chutes alados,
Zito, Didi e Hideraldo Bellini, o domador de cavalos,
e aos outros todos que antes com alma também porfiaram
ou construíram o espetáculo com amor, pelos seus bastidores
São os heróis brasileiros que deram-nos esta vitória
que foi gerada entretanto nas dores do Maracanã
Rio, 1958
RONALDO (cartão-postal de 1994) Jogador do ano FIFA 1996
CORDEL DO FUTEBOL (Breve Introdução)
GUSTAVO DOURADO
Pelé, Garrincha, Didi
São gênios do futebol
Ronaldo e Ronaldinho
São estrelas do arrebol
Futebol multipoesia:
Gira a bola como um sol...
Garrincha feito o Brasil
Com suas contradições
O craque de pernas tortas
Fez fluir mil emoções
Alegrou nosso Brasil
Balançou os corações...
Enciclopédia do Futebol
Nilton Santos genial
Heleno, Zagalo e Gérson
Jairzinho sem-igual...
A folha seca de Didi:
Foi lance fenomenal...
Friedenreich...Quarentinha
Vavá, Zico e Givanildo
Rivelino, Edu, Zizinho
Rivaldo, Tostão e Rildo
Bebeto, Pepe, Romário
Carlos Alberto...Amarildo
Zito, Roberto, Dario
Flávio, Dirceu e Reinaldo
Leônidas e Ademir
Manga, Dida e Everaldo
Roberto Carlos...Cafú:
E o mestre Clodoaldo...
Pelé Rei do Futebol
Não nascerá outro igual
Fez com a bola alquimia
Samba, tango e carnaval
Com Garrincha faz a dupla:
No Estádio Universal...
www.gustavodourado.com.br
Cartão-postal "Brasil - Honuras", impresso em Madri pela Gráfica 3-O., década de 80 do século XX.
FUTEBOL, POIS É...
Poema de Antonio Miranda
Lá vem a ala das baianas,
das sotainas, pais-de-santo,
lá vem a comissão de frente,
bispos, ministros, parentes,
personagens sinistros,
crentes.
A pátria de chuteíras,
de cócoras,
descendo a ladeira,
dando rasteira, capoeira.
Nossa Senhora de Aparecida!
Padre Cícero!
Rei Pelé!
(fragmento do livro-poema Brasil, Brasis,
Brasília: Thesaurus, 1999. p. 16)
Cartão-postal "Brasil - Chile", impresso em Madri pela Gráfica 3-O., década de 80 do século XX.
CÍRCULO VICIOSO
Bailando sem jogar, gemia o Macalé:
— Quem me dera que fosse o preto Moacir,
que vive no Flamengo, estrela a reluzir!
Mas a estrela, fitando em Santos o Pelé:
— Pudesse eu copiar o bom praça de pré,
um cobra que jamais encontrará faquir,
sempre a driblar, a ir e vir, chutando a rir!
Porém, Pelé, fitando o mar sem muita fé:
— Ah se eu tivesse aquela bossa de tourada
que faz de qualquer touro o joão de seu Mané!
Mas o Mané deixando, triste, uma pelada:
—Pois não troco Pau Grande por Madri, Pelé,
e mesmo o Botafogo muito já me enfada...
Por que não nasci eu um simples Macalé?
Paulo Mendes Campos
Cartão postal com imagem do Kaká
oficial d Realmadrid, edição Grupo ERIK.
É Uma Partida de Futebol
(Nando Reis / Samuel Rosa)
Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer um gol
Quem não sonhou ser um jogador de futebol?
A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda, é uma partida de futebol
Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar
A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola eu vejo o sol
Está rolando agora, é uma partida de futebol
O meio campo é o lugar dos craques
Que vão levando o time todo pró ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol
O goleiro é um homem de elástico
Só os dois zagueiros tem a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol
Cartão postal do BEBETO, caricatura
Voa Canarinho
(Nono / Memeco)
Voa, canarinho voa
Mostra pra esse povo que és um rei
Voa, canarinho voa
Mostra lá na França o que eu já sei
Verde, amarelo, azul e branco
Forma o pavilhão do meu país
O verde toma conta do meu canto
Amarelo, azul e branco
Fazem meu povo feliz
E o meu povo toma conta do cenário
Faz vibrar o meu canário
Enaltece o que ele faz
Bola rolando e o mundo se encantando
Com a galera delirando
Toma aí e quero mais
Cartão postal do PELÉ, edição italiana da
La Gazzetta dello Sport, propaganda da MIM]TI DEL CALCIO
Pra Frente Brasil
(Miguel Gustavo)
Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil
Do meu coração
Todos juntos, vamos
Pra frente Brasil
Salve a Seleção
De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração
Cartão postal com caricatura de MAURO SILVA
O Futebol
(Chico Buarque)
Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca
Parafusar algum João
Na lateral
Não, quando é fatal
Para avisar a fita enfim
Quando não é
Sim, no contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha
Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas, que rei sou eu?
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da ideia quando ginga
(Para Mane para Didi para Mane
Mane para Didi para Mane
para Didi para Pagão
para Pele e Canhoteiro)
Cartão postal do KAKÁ, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Um a Um
(Carlinhos Brown / Mansa Monte / Arnaldo Antunes)
Eu não quero ganhar
Eu quero chegar junto
Sem perder
Eu quero um a um
Com você
No fundo não vê
Que eu só quero dar prazer
Me ensina a fazer
Canção com você
Em dois
Corpo a corpo
Me perder
Ganhar você
Muito além do tempo regulamentar
Esse jogo não vai acabar
Ê bom de se jogar
Nós dois
Um a um
Cartão postal de RONALDINHO GAUCHO, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)
(Jorge Benjor)
Umbabarauma
Homem gol
Joga bola, joga bola
Corocondô
Joga bola, joga bola
Jogador
Pula, pula
Cai, levanta
Sobe e desce
Corre, chuta, abre espaço
Vibra e agradece
Olha que a cidade
Toda ficou vazia
Nessa tarde bonita
Só pra te ver jogar
Joga bola
Jogador
Joga bola
Corocondô
Rere, rere, rere
Jogador
Rere, rere, rere
Corocondô
Tererê, tererê, tererê, tererê
Homem gol
Esta é a história de Umbabarauma
O ponta-de-lança africano
O ponta-de-lança decidido
Umbabarauma
Estilingue Ronaldinho, de Rubens Gerchman.
Cartão postal de RONALDO, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Aqui é o Pais do Futebol
(Milton Nascimento / Fernando Brant)
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
Olha o sambão aqui é o pais do futebol
O fundo deste país ao longo das avenidas
Ambos de terra e grama. Brasil só é futebol
Noventa minutos de emoção e alegria
Esqueça a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
E tudo? Fica lá fora
Inferno? Fica lá fora
As dores? Ficam lá fora
Cartão postal homenagem ao estádio do Maracanã
da MARACANÃ FASHION DESIGN
Beto Bom de Bola
(Sérgio Ricardo)
Como bate batucada
Beto bate bola
Beto é o bom da molecada
E vai fazendo escola
Tira de letra a pelada
Com bola de meia
Disse adeus a namorada
A lua é bola cheia
A cigana viu azar
E Beto não deu bola
E aceitou a proteção
Do primeiro cartola
Nas manchetes de jornal
Bebeto entrou de sola
Extra!
Um novo craque nacional
Bebeto, bom de bola
É, é, é ou não é?
Bebeto bom de bola
E foi pra Copa buscar a glória
E fez feliz a nação no maior lance da história
Atenção! Beto com a bola
Avança o furacão
Zero a zero no placar
E grande a confusão
Vai levando a Leonor
Rompendo a marcação
Driblou dois e agora invade
A zona do agrião-
Deu um chute na canela
E vai parar no chão
Se levanta inda com a bola
Domina o balão
Capengando dribla o beque
Que petardo, ..pimba
Gooooooool!
E foi beijar o véu da noiva
Brasil campeão!
É, é, é ou não ê?
Brasil, bi-campeão!
E foi-se a Copa e foi-se a glória
E a nação se esqueceu do maior craque da história
Quando bate a nostalgia
Bate noite escura
Mãos no bolso e a cabeça
Baixa, sem procura
Beto vai chutando pedra
Cheio de amargura
Num terreno tão baldio
Quanto a vida é dura
Onde outrora foi seu campo
De uma aurora pura
Chão batido, pé descalço
Mas sem desventura
Contusão, esquecimento
Glória não perdura
Se por um lado o bem se acaba
O mal também tem cura
É, é, é ou não é?
O mal também tem cura
Homem não chora por fim de glória
Dá seu recado enquanto durar sua história
Cartão postal de CAFÚ, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Samba e Futebol
(Sérgio Santos / Paulo César Pinheiro)
Quem é bom de samba é que nem craque de futebol
Acaba com a marcação quando pega na bola
Balança que vai, mais não vai, dribla dois, dá lençol
E bota o parceiro na cara do gol
Um samba bem feito é que nem dar um show na final
Tocando com jeito entre as pernas de quem vem de sola
Mandando no peito de quem põe no chão, mete o pau
E faz gol de bico e sacode a geral
O samba tá nos pés de Zicos e Pelés
Virou camisa 10 da seleção
E a ginga de Mane Garrincha, então?
É o samba mais puro que vem do coração
Quem é bom de bola e quem é bom de samba
Tem muito orgulho de ser campeão
Quem é bom de bola, também é bom de samba
Quem é bom de samba, também é bom de bola
Quem pega na bola e é bom já nasce bamba
E o craque no samba não aprendeu na escola
Cartão postal de ROBINHO, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Balé de Berlim
(Gilberto Gil)
Nossa seleção chega a Berlim
Numa perna só
Moleque saci
Uma perna só jogando por tantos milhões
De corações de curumins
Uma perna só pra tantos olhos e pulmões
Tantos estômagos e rins
Tantos fígados
Nossa seleção chega a Berlim
Traz um protetor
Senhor do Bonfim
Traz um protetor no amor que integra essa nação
Amor de pai, de mãe, de irmão
Traz um protetor no amor ao mar, amor ao sol
Amor aos dias de verão
E o carnaval
O carnaval não mata a fome
Nem mata a sede o São João
Mas nem só de pão vive o homem
Por isso viva a seleção
Nossa seleção chega a Berlim
Perder ou ganhar
Será sempre assim
Será sempre a vibração no ar, no ar o ardor
Meu coração de torcedor
Guardará sempre a lembrança de uma ilusão
E o nome de um jogador
Beckenbauer
Bauer
Barbosa
Bobo
Bobby Charlton
Puskas
Bellini
Eto'o
Viva Pele!
Viva Mane!
Cartão postal de ROBERTO CARLOS, propaganda do
Santander Banespa (Jokerman Postais Publicitários)
Eu Quero Ver Gol
(Falcão / Xandâo / O Rappa)
Batuque, balanço, swing, praia e carnaval
Hoje no pé do morro tem ensaio geral
Eu quero ver gol, eu quero ver gol
Não precisa ser de placa, eu quero ver gol
Dois dias sem dormir chega domingo de manhã
Fica difícil passar sem um banho de mar
Tem a distância, a lotação, tumulto e então
To no Favelinha, peguei fora da linha
Méier-Copacabana até o bonde real
No ponto final o rebu é total
Pular pela janela pró bonde é normal
Zuando no asfalto, zuando na areia
Quando chegar na agua vou me acabar
Quando chegar na água, jacaré o que vai dar
Porque eu quero ver gol, eu quero ver gol
Não precisa ser de placa, eu quero ver gol
Tem limão, tem mate, melancia fatiada
O Globo sal e doce. Dragão Chinês
To no rango desde das 2 e a lombra bateu
O jogo é às 5 e eu sou mais o meu
To com a geral no bolso e garanti o meu lugar
Vou torcer, vou xingar, pró meu time ganhar
Cartão Postal comemorativo do Bicampeão
PALMEIRAS 93 – 94
Reis da Bola
(Pepeu / Morais / Galvâo)
Esses onze aí, esse onze aï
Esses onze aí, esse onze aí
Vem do jogo de rua, da bola de meia
É anos e anos de futebol
Correndo na veia, sabe o que é
Fazer que vai por aqui
Como uma flecha passou
É o drible, é Jair
É o drible, é Jair aí
E pulo, abraço e beijo
É todo mundo louco
É água, é água, é água
É água de coco
É fé, é raça, é crânio
É todo mundo louco
Brasil brincou, é bola no filó
Brasil brincou, é bola no filó
São os reis da bola
Garantindo alegria
O seu povo sabe o que é
Fazer que vai por aqui
Como uma flecha passou
Tudo isso por que
Somos da terra
Do Rei Pelé
“Máximo-postal” (postal, selo comemorativo e carimbo dos Correios)
de celebração do TETRACAMPEÃO DO MUNDO
Só Se Não For Brasileiro Nessa Hora
(Galvão / Moraes Moreira)
Desde lá
Quando me furaram a primeira bola no meio da rua
Na minha terra, quer dizer. Juazeiro
Onde se dá o mesmo, tem pituaçú
Ho ho ho
A vizinha tem vidraças?
Tem, sim sinhô
Aos meus olhos bola, rua, campo
Sigo jogando porque eu que sei o que sofro
E me rebolo para continuar menino
Como a rua que continua uma pelada
Que a vida que há do menino atrás da bola
Pára carro, pára tudo
Quando já não há tempo
Pára pito, pára grito
E o menino deixa a vida pela bola
Só se não for brasileiro nessa hora
Cartão-postal
Meio-de-Campo
(Gilberto Gil)
Prezado amigo Afonsinho
Eu contínuo aqui mesmo
Aperfeiçoando o imperfeito
Dando um tempo, dando um jeito
Desprezando a perfeição
Que a perfeição é uma meta
Defendida pelo goleiro
Que joga na seleção
E eu não sou Pele nem nada
Se muito for, eu sou um Tostão
Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão
Texto bordado em torno da peça: ... Quando eu era pequeno meu pai me
levava sempre pra ver ele jogando no campinho. O sonho do meu pai era ser
jogador de futebol.. Ai ele morreu com um tiro da polícia, na guerra do morro.
— Tava vindo do trabalho... Nunca mais eu quis saber de futebol, de mais nada.
Cresci revoltado, sangue frio, entrei pró crime... Meu pai era tudo pra mini...
Baseado no depoimento de adolescente internado em instituição por infringir as leis (RJ)
Cartão-postal
E o Juiz Apitou
(Wilson Baptista / António Almeida)
Eu tiro o domingo para descansar
Mas não descansei
Que louco fui eu
Regressei do futebol
Todo queimado de sol
O Flamengo perdeu
Pro Botafogo
Amanhã vou trabalhar
Meu patrão é Vascaíno
E de mim vai zombar
Foram noventa minutos
Que eu torci como louco
Até ficar rouco
Nandinho passa a Zizinho
Zizinho serve a Pirilo
Que preparou pra chutar
Aí o juiz apitou
O tempo regulamentar
Que azar!
Cartão-postal
Rei do Futebol
(Wilson Baptista / J. de Castro)
Brasil, Brasil, terra do samba e do sol
Foi no peito e na raça
Tu és o rei do futebol: 5 a 2
Didi, Pele, Vavá
Garrincha, Zagallo e Gilmar
Onze professores
Souberam vencer com ardor.
Brasil chegou a hora de mostrar ao mundo seu valor
Cartão-postal
Fio Maravilha
(Jorge Benjor)
Foi um gol de anjo
Um verdadeiro gol de placa
Que a magnética agradecida assim cantava
Fio maravilha nós gostamos de você
Fio maravilha faz mais um pra gente ver
E novamente ele chegou com inspiração
Com muito amor, com emoção, com explosão e gol
Sacudindo a torcida aos trinta e três minutos
Do segundo tempo
Depois de fazer uma jogada celestial em gol
Tabelou, driblou dois zagueiros
De um toque e driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol
Foi um gol de classe
Onde ele mostrou sua malícia e sua raça
Foi um gol de anjo
Um verdadeiro gol de placa
Que a galera agradecida assim cantava
Fio maravilha nós gostamos de você
Fio maravilha faz mais um pra gente ver
Cartão-postal
Calango Vascaino
(Martinho da Vila)
Eu quis namorar a pobre
Pobretão não quis deixar
Só queria moço rico
Pra com ela namorar
Eu quis namorar a rica
Henricão não quis deixar
Pois sonhou com moço nobre
Pra com ela se casar
Tentei namorar a preta
O negâo não quis deixar
Tinha que ser moço louro
Pra eu poder chegar pra lá
Tentei namorar a loira
Seu loiro não quis deixar
Tinha que ser bem moreno
Pra poder miscigenar
To sem consolo
Ninguém vem me consolar
Vou cantando meu calango
Que é pra vida melhorar
O meu calango
Que é pra vida melhorar
E minha única alegria
É ver meu vasco jogar
Minha alegria
É ver o vasco jogar
Eu to cansado de derrota
Mas não vou me entregar
É de derrota
Mas não vou me entregar
E se a morte é um descanso
Eu não quero descansar
Cartão-postal
Zagueiro
(Jorge Benjor)
Arrepia zagueiro, zagueiro
Limpa a área zagueiro, zagueiro
Sai jogando zagueiro, zagueiro
Ele é um bom zagueiro
É o anjo da guarda da defesa
Mas para ser um bom zagueiro
Não pode ser muito sentimental
Tem que ser sutil e elegante
Ter sangue frio acreditar em si e ser leal
Zagueiro tem que ser malandro
Quando tiver perigo com a bola no chão
Pensar rápido e rasteiro
Ou sai jogando ou joga a bola pró mato
Pois o jogo é de campeonato
Tem que ser ciumento e ganhar todas a divididas
E não deixar sobras pra ninguém
Tem que ser o rei o dono da área
Nessa guerra maravilhosa de 90 minutos
De 90 minutos
Zagueiro
Cartão-postal
Brasil Campeão
(Pepeu Gomes / Moraes Moreira)
Parece uma dança
Nos pés da esperança
Uma balão de couro
Baila, baila
Seleção de ouro
Nos campos da Itália
Vai lá, não vacila
Baila, baila, brilha
A dona da arte na competição
É moda chapa arte nossa seleçâo
Já dizem até que Deus é brasileiro
E torce pelo nosso time
Por isso é que o mundo inteiro
Treme, treme, treme
Em Roma vai dar Romano
Você precisa aprender
No ABC de Bebeto e Careca
Tem gol de letra, vem ver
O nosso time é completo
E haja coração
Anos noventa, dois mil
Eu quero ver Brasil
Brasil campeão
Deixa baixar o Nero
Vem pegar fogo, Nero
No jogo, na vida inteira
É fogo torcida brasileira
VEJAM TAMBÉM O CORDEL DO NANDO:
http://tributoaocordel.blogspot.com.br/2011/12/cordel-doutor-socrates-um-jogador.html
http://blogln.ning.com/profiles/blogs/um-poema-para-o-dr-s-crates
http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com.br/2012/02/poesia-necessaria-xvi-socrates.html
http://carcara-ivab.blogspot.com.br/2011/12/um-poema-para-o-dr-socrates.htmlhttp://tributoaocordel.blogspot.com.br/2011/12/cordel-doutor-socrates-um-jogador.html
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“MOTIVOS DO RIO DE JANEIRO – FUTEBOL”
Óleo sobre tela 2,30x3,65 m . Autor: MERCIER, Acervo BANERJ. Cartão-postal col. A.M.
CÍRCULO VICIOSO
Vagando sem ganhar, dizia o vagabundo:
—“Quem me dera que eu fosse aquela loura Estela,
Que os homens pagam tanto para nua vê-la!”
Mas a Estela, mostrando um ciúme profundo:
—“Pudesse eu copiar o meu parente Edmundo,
Craque famoso, cobra que, a fazer tabela,
Contempla, suspiroso, a glória amada e bela!”
Mas Edmundo, fintando e indo à linha de fundo:
—“Mísero! tivesse eu uma verde-amarela
Faixa de Presidente: poder, mando, o mundo!!!...”
E o Presidente, com descrença e voz singela:
—“Pesa-me muito, muito, o cargo nauseabundo...
Enfara-me esta vida cheia de cautela...
Por que não nasci eu um simples vagabundo?”
Napoleão Valadares
COMETA
O mundo quis ver Halley desta vez.
Disseram tanto que era um esplendor
maior que a lua e que tinha a “tez”
brilhante e viva de astro encantador.
Mas ele, errante e zombeteiro, fez
dos homens bobos. Veio e foi-se, a pôr
olhos ansiosos numa luz sem cor,
frustrados com a sua pequenez.
É que Garrincha, lá no céu, feliz,
tendo saudade dos estádios, quis
vir no cometa. E o velho ponteiro,
olhando cá na terra a multidão,
fez que veio e voltou. “— É tudo joão.”
E driblou novamente o mundo inteiro.
Napoleão Valadares
Poema visual extraído de:
CUNHA, Leo. XXII!!! 22 brincadeiras de linhas e letras. Ilustrações Graça Lima, Bruno Gomes, Reinaldo Lee. São Paulo: Paulinas, 2003. s.p. (Coleção livros divertidos) 17X16,5 cm. ISBN 85-356-1037-5 Col. A.M.
MÁRCIO SAMPAIO
POEMA PARA DARIO – 1972
(Dario, “peito-de-aço”, artilheiro, camisa 9 do Clube Atlético Mineiro). Futebol e Poesia
SONETO ESPORTIVO
por Charles Gentil
O jogo o tal juiz jura que apita
Palpita da torcida o coração
Persegue o jogador e assim irrita
Encena mesmo a dar até cartão
Isento da isenção ! Árbitro péssimo !
O jogo só no campo é bem jogado
Apela o tal juiz a cada décimo
De tempo que no tempo é renovado
A bola quando joga o tal juiz
É mero, meritíssimo, detalhe !.
Engana com apito e diz-que-diz
Tal árbitro tirano que só veta
No jogo ao jogador que quer que falhe
Mas, Gooool !!!, belo gingado, que poeta!
DE TRIVELA
Poema de ANTONIO CARLOS LUCENA (TOUCHÊ
Ilustração Flávio Del Carlo_
Linguiça
o craque do campinho
alisa a pelota
como sua vida
com todo o cuidado.
Sempre gingando
no assédio dos beques
e driblando
a fome, o sufoco
e (sobre) vivendo
nos gols de placa.
[ GERCHMAN, Rubens ] Gerchman. São Paulo: J. J. Carol editora, 2007. 88 p. (Coleção Portfolio Brasil,20x26 cm. Ilus. col. ISBN 978-8589376-33-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
Neste livro do grande artista Rubens Gerchman aparecem estas pinturas celebrando o futebol brasileiro:
Rio 1978
Flamengo Tri-Campeão
Acrílico e óleo s/tela
Rio 1970
“Brasil Tri-Campeão”
Acrílico s/tela
Rio 1997
Flamengo / Domingos da Guia
Acrílico s/tela - 150 x 150 cm.
Rio 1997
Gilmar
Acrílico s/tela – 70x130 cm.
COPA DO MUNDO DE 2014 NO BRASIL
Foto: http://www.arquivos.diariodeararuna.com.br/ . Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br/
Neymar sem camisa.., vestir a camisa da Seleção.
Salvador – Belo Horizonte - Natal
A NÍVEL DE
João Bosco e Aldir Blanc
Vanderley e Odilon
São muito unidos
E vão pró Maracanã
Todo domingo
Criticando o casamento
E o papo mostra
Que o casamento anda uma bosta...
Yolanda e Adelina
São muito unidas
E se fazem companhia
Todo domingo
Que os maridos vão pro jogo.
Yolanda aposta
Que assim a nível de proposta
O casamento anda uma bosta
E Adelina não discorda.
Estruturou-se um troca-troca
E os quatro: hum-hum... oquêi... tá bom... é...
Só que Odilon, não pegando bem a coisa,
Agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
Vanderley e Odilon
Bem mais unidos
Empataram um capital
E estão montando
Restaurante natural
Cuja proposta
E cada um come o que gosta.
Yolanda e Adelina
Bem mais unidas
Acham viver um barato
E pra provar
Tão fazendo artesanato
E pela amostra
Yolanda aposta na resposta.
E Adelina não discorda
Que pinta e borda com o que gosta.
E positiva essa proposta
De quatro: hum-hum... oquêi... tá bom... é...
Só que Odilon
Ensopapa o Vanderley com ciúme
E Adelina dá na cara de Yoyô...
Vanderley e Odilon
Yolanda e Adelina
Cada um faz o que gosta
E o relacionamento... continua a mesma bosta!
Curitiba – Fortaleza - Cuiabá
GOLEIRO (EU VOU LHE AVISAR)
Jorge Ben Jor
Eu vou lhe avisar
Goleiro náo pode falhar
Não pode ficar com fome
Na hora de jogar
Senão, um frango aqui, um frango ali,
Um frango acolá
Já vai tarde mais um articulador respeitado
Com a autoridade baleada,
O peso do destino
Na mira da lei, na marca do penalty
O fim de um charm,
Discreto e nublado
Trivial
Alguém esqueceu a bola de cristal
Que delícia de malícia a espera da guerra
Ele sonha com o paraíso
E tenta a sorte nos números,
Pensando nela
Disposto a tudo, bate cabeça,
Bate tambor
Numa trama milionária e perigosa
Ele quer o Jardim do Éden
Trivial
Novamente esqueceram a bola de cristal
Eu vou lhe avisar
Goleiro não pode falhar
Não pode ficar com fome
Na hora de jogar
Senão, um frango aqui, um frango ali,
Um frango acolá
Porto Alegre – São Paulo - Recife
GOL!
Armando Freitas Filho
Sol de um segundo
no último minuto
no alto do campo adverso
vaindo na grama do combate.
Mata, queima e fura
o alvo do dia inimigo
que não consegue nascer
sair do zero, da sombra
da nuvem que cobre
o centro, o contra-ataque
do coração contrário
agônico e calado
cercado de gritos.
Brasília – Manaus – Rio de Janeiro
MARACANÃ
Armando Freitas Filho
O círculo cinza
cinge o campo:
cinto de ferro
abraço de pedra.
Curvas calculadas
no cimento: cruas
marquises marcadas
as rampas se arrumam.
Rimas ritmos rumos
rodeiam o estádio
estático à escuta:
elipse sem lapso
degraus granulados
de concreto armado.
Plantadas a prumo
as multidões aturdidas
as torcidas em tumulto
no atordoante alvoroço
na balbúrdia de brados
na batalha de braços
bandeiras e bocas
desfraldadas, abertas.
O gramado se franze
inflama as arqui
bancadas balançam
as flâmulas ágeis
com a ginga do jogo
que gera um gesto
geral um grito — gol!
Detalhe do CARTAZ da exposição ENTRE COPAS ARTE BRASILEIRA 1950-2014, no Museu Nacional da República, curadoria de Wagner Barja, de 11 de junho a 27 de julho de 2014.
MAIS POEMAS DE
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
FUTEBOL
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
(De Poesia errante)
FOI-SE A COPA?
Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.
Faltou inflação de pontos?
Perdura inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.
O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
a Copa da Liberdade.
(Jornal do Brasil, 24/06/1978)
Fonte: http://globoesporte.globo.com/
FUTEBOL E CONTESTAÇÃO
Pois é, Copa do Mundo não é mais unanimidade. Uma pena. Desta vez, veio com protestos, passeatas em contra, e até violência e baderna. Triste! Mas, mais triste parece ser a realidade do país... Obras prometidas, mal acabadas ou adiadas, superfaturadas, enquanto o país continua padecendo suas mazelas. Nada que justifique vandalismo e repressão!!!
Não podemos deixar de registrar também a insatisfação, apesar da certeza de que o país vai vibrar e torcer pela Seleção, na hora do sufoco!!!
A COPA ESPOLIADA
(de Zeh Gustavo)
Copa do Mundo não se faz com hospitais.
Ronaldo Mafiômeno
I
Certo está o megalômano burguês-jogador, empresarião,
pseudo-herói de gana balofa, grana incontável no bolso-banco.
Danem-se o reclamante o vândalo a estudantada o manifestador
– que lhes baixem o sarrafo! E deem também no trabalhador!
Que virem só carniças, brada o bufão.
Copa do Mundo se faz com Fifa, sem culpa,
país à rifa, povo na curra ou na cova
(aí depende do estrato social!).
Copa do Mundo se faz com upepê a prensar com os andrajos,
upa, neguinho! na malandragem, inferno aos enfermos e,
se necessário, porrada em quem educa, para que aprendam.
Ao museu com a ginga, a gira, a gíria, o xingo, o chute.
Copa do Mundo não é pra viração, é rolo sério!
Não mais Preguinhos, Garrinchas, Didis, Barbosas, derrotas.
Jamais Romários e suas romarias críticas
por outros torneios.
Qualquer multa é a alma que paga.
II
Um sigladeio sem fim toma conta das cidades-sede.
O asfalto cede a uma trama de bê-erres, trans, vê-eles,
um canteiro de obras, túneis, oba-obas, tanques.
Pedestres não são bem-vindos. Nem pobres.
Que passeiem para lá!
A zanga, entretanto, chega às ruas principais.
Pedras, sprays, fumaça, bombas, greves mancham a bela paisagem
ofertada pela regra-venda que serve de tapa-olhos
mas não tampa o tanto de buracos que se podem cravar
num peito desamarrado.
Pernas que ainda driblam precisam ser urgentemente
ceifadas e os braços que carreguem bebês e foices, podados.
Tem que botar ordem nesta casa!
Policiais desenvolvem uma tática apimentada,
organizam-se como uma boa zaga.
No treinamento avisaram: sem covardia!
Partam pra cima dos terroristas!
Pau nessa putada!
III
Somos neoíndios assaltados, removidos, descartáveis
em nossa aldeia periférica. Nossa várzea tornou-se
grama sintética. Nossos desejos foram pilhados.
Ora moramos em um território vago, que ocupamos.
Somos a bola fora da cena, anfitriões nômades do
próprio espetáculo, espelhácido de nós mesmos.
Nossa vuvuzela não passa de uma corneta.
A festa foi implantada, transe induzido por mutretralhas
contrabandeadas, num trânsito feroz de muambas e tretas.
IV
Por ofício do processo civilizatório, convém eliminar
o perfume velho, o ranço do tempo, os templos de saudade oca,
as identidadezinhas desse pessoal sem vínculo com o
progresso que vem com suas vidraças reluzentes,
sua ilha de calor que afaga, seu fogo para o consumo
que nos impulsiona.
Vai abaixo, Maraca! Desencarna. Descansa.
Em seu lugar reinará um arenão fake,
clone coxinha, padrão cópia.
Meninos antigos, barba grisalhada em sonhos
úmidos de lembranças inúteis, aproveitem
e se retirem também. O ingresso aqui vai ser caro.
Seu troco não dá nem pro lanche!
Os fantasmas que caminhem por seus corredores,
seus arredores. Memória, ao contrário da Naique,
não dá camisa a ninguém.
V
Gostamos de futebol. O futebol é que não gosta mais de nós.
Vivemos um Maracanazo particular, só nosso.
Este Maracanazo se iniciou com o fechamento da geral,
passou por reformas que diminuíram as arquibancadas
e culminou com a derrubada de tudo.
O elefantão é de elite, não de elos.
Ele exclui, não junta.
Restamos, mudos. Depois mudados, também.
A poeira que subiu, depois desceu,
agora grita, se agita, se espalha, age, briga.
Nosso berrante farfalha o eco
do que fomos e precisamos voltar a ser.
Ou do que sequer tivemos a chance de nos tornar.
Oprimiram, bateram, suprimiram.
Temos – ou somos – as cartas.
Se no baralho mandam de cima, nos sobra o fazer barulho.
Passou da hora de cortar o monte,
pegar o morto e mostrar quem dispõe de melhor mão.
Pôr a mesa ao alto, por debaixo!
VI
Anônima a gente passa.
O show continua sendo transmitido pela telecisão.
O jogo não é jogado, o jugo é imposto,
pisa e massacra de modo silente cada rosto.
É gol! Vamos comemorar, com a pulga atrás
das orelhas. A malta, encolhida, pula no vazio.
só carcaça.
Com raça, o escrete luta, vibra. Quer a taça
da Copa espoliada pela banca rota, troféu de sabor perdido
por conta do tino-monstro do tamanho do negócio.
Tímido, o povo não se arreganha. Fresteja,
num saber peculiar, até o que dá por desacontecido,
essa tal de Copa que não teve. Seria pedir muito que calassem
os sorrisos possíveis!
Perto deles, quase invisível, um grupo se prepara para outra peleja.
Máscaras em prontidão, tecem na base do assim-seja
o trajeto da próxima contenda.
Qual cabeças num circo trágico e íntimo,
a bola vai rolar pelos campos, em estádios amarelados.
Que se estendam os tapetes molhados
de suor, enfeitados de confete, sujos de sangue.
Voa, canarinho, voa!
Poema inédito de Zeh Gustavo. In: www.facebook.com/zehzeira
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Fonte: esportes.r7.com
SELEÇÃO
(prognostico de final feliz)
Poema do Barão de Pindaré Jr., heterônimo...
O Felipão durante a concentração
separou os jogadores: seleção oficial
e seleção reserva foram ao treinamento.
Que constrangimento!
No primeiro tempo, o time reserva
derrotou o principal por 2x0...
Tudo bem. Muito bem bem bem....
Deu as instruções e voltaram ao confronto.
Desaponto e nhenhenhém.. Enfiaram
mais 3 g000ls de forma triunfal.
Perfeição, garantiu o Felipão
e trocou, para o enfrentamento seguinte,
os melhores da reserva para a seleção principal
e, garantiu, melhor assim: afinal
é assim que se escala uma equipe de resultados...
Que vexame!!!
A equipe de reserva enfiou 7 g0000000ls...
Fantástico, garantiu o Felipão. Então,
vamos trocar as camisas: reservas viram
seleção principal. Pragmatismo e realismo,
asseverou. Errou de novo.
O time reserva humilhou: 9 a 0...
Agora, sim, chegamos ao fim...
Vamos sortear e formar a seleção.
Ou não... melhor ainda:
a oficial vai para a competição
no primeiro tempo, a reserva no segundo.
É o fim do mundo!!!
Mas... com o jeitinho brasileiro,
ganharemos o HEXA, para o susto
da equipe adversária, perplexa.
26/05/2014
VITÓRIA!!! BOLA NA TRAVE
6 “HAI-QUÊ (S)” DE ANTONIO MIRANDA
PRA LÁ PRA CÁ
o jogador tenta, mas
não dá
PASSO CALÇO
neste jogar a esmo, só
percalço
COMEÇAR CONCLUIR
até onde for
eu vou
FAVORECE ESMORECE
até sem querer
acontece
A TEMPO EM CAMPO
não tem mais jogador,
só tem bola
TENTA TANTO
e com a ajuda da trave,
deu certo
28-06-2014
Artista: Marco Angeli, Neymar, 2014
CONTRASSENSO
Luiz Otávio Oliani
entre escanteios
tiros de meta
ataque
e zaga
olhos vidrados
se a bola rola
no país das chuteiras
o povo grita
é gol
jogadores ensaiam o Hino
Nacional...
na torcida
(des)engravatados
só querem saber
da fome
de futebol
*poema escrito especialmente para a ANTOLOGIA BOA DE BOLA, Oficina, Rio de Janeiro, 2014, por ocasião da Copa do Mundo no Brasil.
GOLL!!!
Poema do Barão de Pindaré Júnior
Quando eu era garoto
(bem maroto, por certo)
meu pai queria me enquadrar:
ele gostava de futebol
eu também deveria gostar...
Perto de casa tinha um campo
para a pelada da garotada.
Ele me presenteou com o uniforme
completo: calção, chuteira..
Tudo dentro dos conformes...
Conformado, sem entusiasmo
eu me fantasiei e fui a campo.
Eu corria muito... fugindo da bola.
Gritavam: olha a bola!!! Olha!!!
Ela caiu no meu pé.. Chuta, chuta!!!
Meio biruta eu dei um pontapé...
Golllllllll!!!! Foi o meu primeiro
e último gol:
contra!...
Brasília, 25/12/2014
REMINISCÊNCIA DE UM TORCEDOR
João Carlos Taveira
Garrincha de pernas tortas
fazia certas jogadas...
Os dribles desconcertantes
eram valetes de espadas.
E a plateia embasbacada,
sem saber o que fazer,
se ria nervosamente
ou chorava de prazer.
O Brasil o viu sonhando
com pássaros nas estrelas.
O certo é que só brincava
quando teimava em não vê-las.
Um dia, o mundo inteiro
se curvou estupefato
ao conhecer o gigante
no início do campeonato.
Era a Copa de Pelé,
um menino de pé cheio,
que jogava pelo meio
e por isso virou rei...
Mas Garrincha também foi
majestade em seu ofício.
Não se duvide, que é lei
fazer gol como exercício
de um simples jogo de corpo.
Esse moço teve o nome
Manuel Francisco dos Santos
inscrito no que não some:
o chão dos astros de escol,
nossos reis do futebol.
Brasília, 7 de julho de 2014.
Fotos: http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/
ISTO NÃO É FUTEBOL
Barão de Pindaré Jr.
A Colômbia vinha de uma campanha vitoriosa,
gloriosa, correta, surpreendente, quem desmente?
Jovens patriotas, alegres, entusiastas!
Quem orientou o de(s)feito do Zuñiga?!
Foi o técnico ou foi o instinto?
Desminto o mal feito: satisfeito
com a celebração final: Isto sim é futebol!!
Mas haveremos de!!! Gol! Goooooooool!!!
Foto: http://veja.abril.com.br/
ORÇAMENTO OCCULTO [4944]
Poema de ANTONIO MIRANDA
Ao menos, no Brazil, alguém já pensa
que a Coppa não traz nada que approveite
ao nosso crescimento. Bello enfeite
serão esses estádios! E compensa?
Qual nada! O que circula pela imprensa
é pouco. Si de pedra tirar leite,
ainda vae gastar, para deleite
da FIFA, o paiz uma somma immensa!
Depois, se sucateia tudo! A grana
que agora é desviada bem maior
será que o sucatão que nos ufana!
Então, algo se appura. Mas de cor
sabemos: dará pizza de banana!
Perder lá na Allemanha era melhor!
Foto: http://www.paixaocanarinha.com.br/
HEXAGERO, AFINAL
Barão de Pindaré Jr.
O Brasil “ganhou” 7x1
da Alemanha:
vergonha, vertigem, voragem.
6 gols de diferença!!! O Brasil chegou
ao HEXA, pelo avesso.
Revés Inusitado
Poema de Jarbas Junior
Como culpar o sol
pela sombra da derrota?
Foi um eclipse total.
Enigma do futebol.
Surpresa que assombra.
Iceberg na nossa rota.
O moinho de vento
venceu quantos gigantes
quixotescos, Cervantes?
Consola que sentimento
sombrio de tristeza
compartilhado conosco
em semelhante proeza?
Espetáculo tosco:
perder humilhado!
Seguir logo para o outro
lado oposto da façanha
no triunfo da Alemanha!
“Vivemos uma crise no nosso esporte mais amado, chegamos ao auge dela. Acha que isso é problema só dos jogadores ou do Felipão? Nem de longe.
Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros!” Deputado Romário de Souza Faria
Fonte: Facebook do Romário
bola para quem te
tem medo
adentra excogitas e
vais
entrecortar sentenças
ao res do centro
que não é meio
mas sei da retangular
porta seio
ubíquo ordenhando somas
sonhos sumos
subterfúgios
a corte e explosão
se treme a rede
a grosso ataque
troque truque
por combate
que cedo
é a província
cuja pátria
esquecimento
(Zenilton Gayoso, 09.07.014)
Fonte: http://www.vavel.com/pt
A TRAVE, AGAIN & AGAIN
Barão de Pindaré Jr.
Argentina, enfrentando a Holanda
jogou com 12 jogadores!!!!!!!!!!!!
Passe pra lá, passe pra cá,
tango, valsa, rap... sem rapidez...
Na decisão por pênaltis
mas, porém... quem acertou,
finalmente,
depois da defesa do bravo holandês,
no rebote,
—com a ajuda do 12º jogador— foi A TRAVE!!!
Dois cartões postais da Copa do Mundo da FIFA de Brasil 2014, publicados pelo Itaú, o "Banco Oficial da Copa".
CORDEL DA COPA 2014 NAS ONDAS DO HUMOR
Autor: Antonio Barreto- Santa Bárbara/BA
1
A respeito dessa Copa
Já foi tudo comentado
Não podemos contestar
O sucesso alcançado
Mas agora o que importa
É humor pra todo lado!
2
A torcida foi chamada
Para dar sua opinião
A respeito do Brasil
Treinado por Felipão,
Então veja a voz do povo
Dessa sofrida Nação:
3
— Desde a colonização,
Haja turista sortudo!
Estrangeiro quando aporta
Aqui em Porto Seguro
Dá uma sorte danada
E da gente “ganha” tudo!
4
— Lá na Granja Comary
Só faltou Pedro Bial,
Pois o clima ali dentro
Era exatamente igual
Ao programa BBB
Nas ondas do baixo astral!
5
— O Bial ali na Granja
Criaria o “paredão”.
Do goleiro ao atacante,
Haja eliminação.
E o primeiro a cair fora
Era mesmo o Felipão!
6
— Já vi coisa nesse mundo
De apagar o candeeiro,
Inclusive tartaruga
Caminhando bem ligeiro
Mas 3 gols em 6 minutos
Nem a Volks, companheiro!
7
— O papa Francisco disse:
“Essa taça é da gente,
Tenho fé na Argentina,
Nosso time é valente”.
Respondeu o Papa Bento:
“Sabe nada inocente!”
8
— No ano 2018
Não teremos dissabores
Porque Dilma vai criar
Pra alegrar os torcedores
Um projeto bem cubano:
Programa Mais Jogadores!
9
— O governo de São Paulo
Certamente deu bobeira
Não aproveitou as lágrimas
Da torcida brasileira
Pra suprir a falta d’água
Da represa Cantareira!
10
— Se o time de Scolari
Disputar o Brasileirão
Apanha do Vitorinha
Do Bahia, do Fogão
E briga pra não cair
Pra Segunda Divisão!
11
— Felipão matou a pau
Fazendo papel de ator:
Comercial de cerveja,
Celular, computador,
Cueca, fralda, calcinha…
Só faltou de vibrador!
12
— O Neymar foi atendido
Num hospitalzinho do SUS
Por um dr. do Mais Médicos
(Isto eu juro por Jesus)
Que receitou dipirona
E chazinho de mastruz!
13
— A Seleção Brasileira
É um time de bundão
A começar pelo Hulk
Exibindo o “traseirão”
Tal Valesca Poposuda
Rebolando no salão!
14
— A dentada do Suárez
Virou moda, um colosso!
Se a amante lhe morder
Não fique em alvoroço
Diga que foi lá no baba
A mordida em seu pescoço!
15
— Coitada da psicóloga
Da Seleção Brasileira
Que estimulou a equipe
Mais amor na sua chuteira
Porém não orientou
O uso da mamadeira!
16
— Goleada como essa
7 gols à luz do dia
Só pra time grandioso
Que a todos contagia
A exemplo do Brasil
E também do meu Bahia!
17
— Para o torcedor esperto
Nunca falta gaiatice,
Com a derrota da Argentina
Um baiano logo disse:
Parece até meu Vitória
Pra ter sina de ser VICE!
18
— O maior vexame nosso
Não foi essa Copa não.
O vexame verdadeiro
Da história da Nação
A gente nunca esquece
Porque foi a escravidão!
19
— O lepo-lepo alemão
Lá dentro do Mineiraço
Evitou nossa final
Dentro do Maracanaço
Por causa do mal esquema
Do teimoso Felipaço.
20
— Lembro do vizinho Pablo
Um hermano bem ordeiro
Que na base do humor
Foi taxativo e certeiro:
Nosso papa é argentino
E o ADEUS é brasileiro!
21
— O Fred dentro de campo
Parecia um desvalido.
Do início até o fim
O tempo todo perdido
Fez apenas um golzinho
Assim mesmo impedido!
22
— Coitadinha da Argentina
Que nadou cheia de gana
Parecendo até mesmo
O Satã chupando cana.
Mas por fim morreu na praia:
Praia de Copacabana!
23
— O Zuñiga da Colômbia
Não precisa se culpar
Pois a falta violenta
Aplicada no Neymar
Evitou a decepção
Que o craque iria passar.
24
— Nos 7 a 1 da Alemanha,
Vá pra puta que pariu!
Só teve um momento bom
Que o brasileiro viu:
Justo no segundo tempo
Quando Fred então saiu!
25
— Quem já perdeu a saúde,
A vergonha, a moral,
O bom senso, a inspiração,
A ética, o “escambau”,
Perder a Copa do Mundo
Eu acho que não faz mal!
26
— Na Palestina, Israel
Nunca deixa de lambança…
Esqueceram o futebol
Para promover matança
Cujo alvo dessa vez
Não foi bola: foi criança.
27
Os donos da CBF
Verdadeiros “sabichões”
Não querem sair dos 7
Prosseguem nas maldições
Porque Dunga é o nome
De um daqueles 7 anões!
28
Maradona lá no Rio
Só cheirando o seu rapé
Sonhando ser mais que Deus
E melhor do que Pelé
Vendo os alemães dizendo:
Em vocês eu dou olé!
29
— Sabemos que é o galo
Que treina dentro da rinha.
Quem treina lá no chiqueiro
Deve ser uma porquinha.
E quem treina numa “Granja”?
Certamente é a galinha!
30
— No jogo contra a Argentina
A Holanda vacilou
Pois o goleiro ideal
O Van Gaal não colocou:
Não botou o Krull na reta
E a Argentina ganhou!
31
— Ao Hobben, meus parabéns,
O melhor do Mundial
Deu aula de futebol
Num bonito e alto astral
Mas a FIFA foi injusta
Vendo em Messi o maioral.
32
— Muito cuidado, eleitor
Com os abutres de plantão
Querendo tirar proveito
Da sofrida seleção…
Até Romário quer ser
Um Senador da Nação!
33
— Nem Luciano do Valle
Nem Osmar de Oliveira
Aqui ficaram para ver
A seleção pipoqueira
Que causou tanta vergonha
À torcida brasileira.
34
Pra quem leu este cordel
Anote no seu caderno
O que disse o Felipão
Nosso treinador fraterno:
“Se você gostou, gostou,
Não gostou: vá pro inferno!!!”
FIM
Salvador, 10 de julho de 2014
CIRNE, Moacy. Maraca Maracanã que te quero Fluminense. Natal, RN: Sebo Vermelho, 2013. 91 p, 13x18 cm
VERSÃO
Troca-se um livro de josé lins do rego
ou um disco de ary barroso,
por sonhos tricolores,
à base de magia,
tragédia e poesia, ao som
de madrigais barrocos e
renascentistas. Tratar com
moacy cirne, seridoense e
fluminense, no bairro de
laranjeiras, na cidade do rio,
ou no bairro de lago nova,
Na cidade de natal.
Veja também: Epopeia nacional brasileira em 10 cantos de
Ésio Kleber Siilvério de Sousa. LIVRO DE
ÉSIO KLEBER SILVÉRIO SOUSA
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KATIANE RAISA SERVELHERE,
escreveu este poema aos catorze anos, em 1996, mas gosta de escrever desde os oito anos. Participa de saraus e festas com declamações e interpretações.
A BOLA E O MUNDO
A bola é um mundo
de paz e encanto
seja nas ruas
seja nos campos
seja em estádios
em qualquer canto...
Cada bem que fizermos
será sempre um bom começo
será sempre um novo estímulo
Na certeza
de que na vida
acertamos, erramos
caímos, recomeçamos...
E quando acontece o gol
a galera grita
se agita
se fortalece...
E tudo na vida é assim
com a bola aos pés
vamos suar a camisa
tornar o mundo melhor...
E na vitória,
não seremos nós os melhores
e os outros os piores...
Terá sido porque
lutamos
E resgatamos a consciência
de que é preciso lutar
sempre
Sempre... eternos “craques”!
Um minuto para pensar
Poema de TELMA COSTA
(Homenagem a Paulo Fernando Rodrigues da Cruz, o Paulinho, Técnico da Seleção Brasileira de Futebol de 7-Paralisados Cerebrais. Por sua determinação, dedicação e generosidade, tantos anos acreditando no trabalho desses atletas)
Ver um atleta para-olímpico competir,
Ou vencer,
É, no mínimo, uma aula a aprender.
Aula de garra,
Superação,
Reação,
Beleza
E muita grandeza! Em cada categoria,
Superando os limites da mente e do corpo,
Conquistam suas medalhas
Com absoluta determinação
E maravilhosa obsessão!
É provável que ao ligar a TV
O expectador desavisado
Possa ficar arrasado.
Mas se gastar mais um tempo e entender a meta,
Vai ver surpreso que o bastão em questão
É o de sua própria condição.
E vai ver, estarrecido, que tantos atletas ali
Estão dando aula, pra nós, aqui!
Um minuto de silêncio, senhores,
Pra pensar nesses fatores:
Na vitória contra o cronometro,
O preconceito,
A auto-piedade
E a baixa estima.
Um minuto pra pensar
Na razão de reclamarmos
Tanto portão pouco.
— Onde está o meu otimismo, há tanto perdido?
Meu otimismo atrevido, desaparecido?
Onde está minha determinação?
O que fiz com minha aptidão?
Minha vocação?
Eu, paralítica dos meus sonhos,
Amputada dos meus planos...
O que estou fazendo
Pra superar minhas próprias desgraças,
Minhas mordaças,
Autocensuras,
Minhas próprias desventuras?
O que faço pra superar o mal que me atinge
E transformar em bem que me redima?!
... De repente me apercebo que me preocupo
Com tantas pequenas coisas
No meu pequeno mundo de tanta coisa inglória,
Enquanto esses atletas estão se superando
E fazendo história!
Fonte: literaturanaarquibancada.com
O ANJO DAS PERNAS TORTAS
Poema de Vincius de Moraes
A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés — um pé-de-vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende:? — Goooooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!
Rio, 1962
Página publicada inicialmente em dezembro de 2010. Em construção e atualização: maio de 2014, junho 2014...JULHO.. fev. 2015; AMPLIADA em outubro 2020 / página ampliada em junho de 2021
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