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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


DIRCEU QUINTANILHA

DIRCEU QUINTANILHA

 

Nasceu no Rio de Janeiro a 17 de julho de 1918, de mãe France e pai brasileiro (Bertha Aubertie e Raphael Quintanilha), iniciou bem cedos suas atividades literárias. Bacharelou-se em Ciências e Letras no Externato Pedro II, formando-se depois em Medicina. Foi diretor do Instituto de Pesquisas Educacionais _ INEP. Colaborador de revistas literárias, é autor de uma obra que, mesmo não sendo popular, é reconhecida pelos especialistas.
 

LÍRICA

         Esta coragem lírica
vem de longe.

Vem do nada:
— Árvore desfolhada
árido solo.

Vem da irreversível seca
e da sede —
côdea mínima de pão
anti-cristão.

Este lirismo é alimento
e coragem
                   de mentir.


A NOITE

No exato momento do grito
janelas e portas
amedrontadas,
fecham-se —
na noite do grito.

Na noite interna dos trincos
paredes, petrechos,
móveis-sombra,
vestem-se de silêncio.

Homens-mulheres-família
encolhem-se como vermes:
 — Estátuas
onde o sangue flui, o gelado —
em desamparo.

No exato momento do grito
noturno.


TRIBUTO I

Este imposto
que me cobram
em dobro será revertido.

Frio papel no projeto
com leitura
em praça medieval.

Preço de sobrevivência
onde nome,
sensibilidade,
nada valem.

Entano,
mal sabem
do antiqüíssimo imposto
já pago:
— Esse que a vida impõe

e saldamos em dobro
até morrer.


MISSAL TESTAMENTÁRIO – II

Deixar todos os retratos
bem guardados>

A história do passado
pesa demais
no repasse
dos flagrantes
antiqüíssimos.

Ademais,
nada mais resta fazer
com tudo isso.


HABITE=SE

Ser
árvore quieta.

Deixar
que pequenas coisas
nos abracem:
— Abraçá-las.

Ser
artesãos de um Universo:
 — Fincar as cercas
de fronteiras invisíveis.

Proprietários, enfim,
daquilo que ninguém
pode sonhar por nós.

=====================================================================

De
Dirceu Quintanilha
A Outra face do tempo

Rio de Jaenrio:  Irmãos Pongetti, 1953.  46 p.

 

IV
CONFISSÃO


Secos os mares imaginários:
— Superfície líquida, áspera por vezes,
Em verde e espumas.
Horizonte geométrico de azul côncavo
E pássaro ausente.
Mares de veleiros e sonhos antigos
Na delimitação da sala.

Secos também os mares da existência:
— Amor e ódio, teu corpo distante,
Gestos, recusa e posse:
— Teu riso de sol
E tuas mãos beijadas.

Secas as árvores de copas férteis,
Agarrando o céu nos dedos finos
De galhos nus.



V
POEMA


Inútil tentar:
— Chegamos sob este signo irremediável
De viver e depois chorar.

Inútil tentar:
— Daí-me a art de perdurar na descoberta
E eu vos farei eterna.

Melhor sonhar:
— Afasto-me de inelutáveis verdades
E vos esqueço — oh! negro instante! —
Quando não mais direi
Nem serei
Nem estarei entre vós
Em comuníssimas conversas diárias.

 

QUINTANILHA, Dirceu.  Pá de cal.  Rio de Janeiro: Fontana, 1980.   59 p.    12x21 cm.   Capa: Cristo amarelo, de Gauguin.   “ Dirceu Quintanilha “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

A NOITE

 

No exato momento do grito

janelas e portas

amedrontadas,

fecham-se —

na noite do grito.

 

Na noite interna dos trincos

paredes, petrechos,

móveis-sombra,

vestem-se de silêncio.

 

Homens-mulheres-família

encolhem-se como vermes:

— Estátuas

onde o sangue flui, gelado —

em desamparo.

 

No exato momento do grito

noturno.  

 

QUINTANILHA, Dirceu.  A Ilha do Tempo.  Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1963.  40 p.   “ Dirceu Quintanilha “  Ex. bibl. Antonio Miranda


A ILHA

 

ILHA de desesperanças !

Meus dedos constroem luar e memória,

Tateando a procura impossível:

— São nossas mágoas, rendilhadas de prata,

Na suave espuma de águas desfeitas,

São nossas mágoas cantando no mar.

 

Lamento humano sem tréguas oceânicas,

Sou eu, bem-amada, quem rola nas ondas,

E me desfaço em jorros de crista-amarguras,

Dissolvendo-me no cais, pedras e praias,

Em queixumes e murmúrios profundos.

 

Sou eu, bem-amada, nas noites vazias,

Em espectro de solidão e coqueiros esguios,

Acercando-me de manso, na carícia do vento.

 

Sou eu, bem-amada, em luar realizado,

Banhando de prata este mar de suicidas.

 

QUINTANILHA, DirceuPoesia.   Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra,  1976. 95 p.   9,5x15 cm    “ Dirceu Quintanilha “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

          Tanto atraso neste encontro.

          *

          A morte do amigo
          encheu de vazio
          o eco impossível
          de sua voz.

          *       

          Morte solene
              em casemira escura.
          Ser álbum de retratos,
          presença na varanda
          entre a família sobrevivente.

 

QUINTANILHA, Dirceu.  Tempo Interior.  15 anos de poesia.  Rio de Janeiro: Revista Branca, 1959.  200 p.   “ Dirceu Quintanilha “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

DA JANELA ABERTA

 

Fria tarde esta de garoa.

As águas estenderam sobre as casas

Um véu branco de chuva indecisa.

 

Silhuetas tristes que se apagam.

Melancolia no pequeno mundo submerso.

 

Horas prolongadas.

Há sempre recordações, as mais antigas,

Nestas horas prolongadas que são séculos.

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2008; ampliada e republicada em nov. 2010; ampliada e republicada em fevereiro de 2015.



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